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Movimento Operário é um termo que se refere à organização coletiva de trabalhadores para a defesa de seus próprios interesses, particularmente (mas não apenas) através da implementação de leis específicas para reger as relações de trabalho. Em sentido amplo, abrange o conjunto dos fatos políticos e organizacionais relacionados ao mundo do trabalho e à vida política, social e econômica dos trabalhadores.[1]
Revoltados grupos de artesãos atacavam as fábricas, quebrando as máquinas. Desse mesmo tipo também foi a reação dos operários jogados na miséria pelas primeiras crises de desemprego. Depois de algum tempo, os operários começaram a perceber que o problema não estava nas fábricas, nem nas máquinas em si, mas sim na forma como a burguesia havia organizado os meios de produção. No início do século XIX, na Inglaterra, o movimento dos trabalhadores fez-se sentir por meio de demonstrações de massa, como motins e petições. Foi nesse século que os sindicatos surgiram como uma nova força no cenário político.
A primeira luta de caráter político, empreendida pelos operários ingleses, foi a conquista do direito de voto. Nessa luta, o movimento operário contou inicialmente com o apoio da burguesia, uma vez que esta classe não podia enviar seus deputados para a câmara dos Comuns, que estava nas mãos dos latifundiários. A revolução de 1830 na França, acabou dando um grande impulso a esse movimento. Em 1832, o Parlamento promulgou uma reforma do sistema eleitoral (Reform Act), beneficiando a burguesia, mas negando qualquer benefício aos operários na época.
Sufrágio universal[editar | editar código-fonte]
Em 1836, desencadeou-se uma crise industrial e comercial que lançou à rua milhares de operários. Organizou-se então a Associação dos Operários para a luta pelo Sufrágio Universal. Sufrágio foi o fim do voto censitário para todos os homens, (mulheres ainda não podiam votar). No ano seguinte essa associação elaborou uma extensa petição (Carta do Povo) para ser enviada ao Parlamento; surgiu o movimento denominado cartismo. Reivindicava-se o Sufrágio Universal, a igualdade dos distritos eleitorais, a supressão do censo exigido dos candidatos do Parlamento (que limitava essa possibilidade somente a burguesia rica e à nobreza), voto secreto, eleições anuais e salário para os membros do Parlamento (antes, somente os ricos possuíam condições de exercer a atividade política sem receber).
De 1838 em diante, o movimento cartista espalhou-se por toda a Inglaterra, ganhando a adesão maciça dos trabalhadores e ampliando a pauta de reivindicações nitidamente operárias: limitação da jornada de trabalho, abolição da Lei dos Pobres e fim das casas operárias.
Entretanto, os dirigentes cartistas se dividiram quanto ao método a ser utilizado para alcançar seus objetivos. Alguns achavam que a Carta deveria ser conquistada em aliança com a burguesia e unicamente através de meios pacíficos, chamado de (Socialismo Científico por Karl Marx). Outros, influenciados por Karl Marx e Engels, defendiam a luta armada, ou seja, diziam que não há um meio pacífico para isso. Essa divisão seria a principal causa da derrota do movimento cartista. Apesar disso, graças à influência desse movimento, os operários conseguiram uma série de vitórias como a redução da jornada de trabalho para dez horas, a proteção ao trabalho de mulheres e crianças, a reforma do código penal e a regulamentação das associações políticas.
Essas reformas abrangiam toda a vida social, consolidando a ordem burguesa. Os sindicatos foram fortalecidos, a liberdade de opinião foi regulamentada e o sistema de cooperativas defendido.
Referências
- ↑ BRAVO, Gian Mario. Movimento operário. In: BOBBIO, Norberto. Dicionário de política. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1998, p. 781.
Ligações externas[editar | editar código-fonte]
- «Movimento operário no século XIX»
- «Movimento operário e ideologias revolucionárias»
- «A 1ª Internacional na história do movimento operário europeu» (PDF)
Além dos lucros e da produtividade movida a vapor na Revolução Industrial, as relações sociais e de trabalho também passaram por profundas transformações com consequências únicas. Iremos discutir tudo isso nesta aula de História.
A industrialização inglesa foi o início de um processo de transformação global em termos sociais, culturais, econômicos, políticos e ecológicos, sem precedentes. O investimento da burguesia na otimização da produção fabril tinha um objetivo claro: a maximização de lucros. Esse processo teve um custo humano muito alto: homens, mulheres, crianças e idosos moviam essa economia trabalhando em exaustivas jornadas diárias de até 14 horas, com remuneração escassa e constantemente sujeitos a acidentes de trabalho. Foi nesses contexto que surgiram vários movimentos operários.
Diante dos olhos capitalistas estes sujeitos não tinham grande valor, apesar de serem essenciais para o processo industrial. Isso porque sempre havia pobres e miseráveis vindos do campo procurando trabalho e poderiam substituir aqueles insatisfeitos ou mutilados.
Movimentos operários no século XIX
Diante de tamanha exploração, os operários ingleses passaram a se organizar para contestar as condições de vida e trabalho que levavam. Buscavam não só jornadas de trabalho menores e melhoria nos ambientes de trabalho, mas também exigiam maior poder de participação nas decisões políticas. Veremos alguns destes movimentos operários a seguir.
Ludismo
O nome deste movimento pode ser associado a história de um operário de nome Ned Ludd, que teria quebrado os teares de seu patrão em um momento de revolta. A história da figura de Ludd é controversa, mas o ludismo foi uma manifestação bem real. Grupos de trabalhadores revoltados com o maquinário industrial organizavam a invasão de fábricas e destruíam estes equipamentos.
A razão para isso era de pura rebelião: as máquinas eram investimentos que substituíam a mão de obra humana. Isso tirava empregos dos trabalhadores em nome da produtividade, além de acelerar o ritmo de trabalho e provocar acidentes. Porém, os ludistas não lograram maior sucesso, pois as máquinas podiam ser substituídas por outras, não atingindo o verdadeiro cerne daquela situação: as relações sociais de trabalho.
Cartismo
O movimento cartista ganhou notoriedade por entender que a pressão política era o meio viável para transformações reais da vida dos trabalhadores britânicos. O nome deste movimento operário advém do documento intitulado Carta do Povo, elaborado por Fergus O’Connor e William Lovett. Este documento foi apresentado ao Parlamento Inglês em 1838 contendo as seguintes reivindicações:
1) Direito de voto para todos os homens maiores de 21 anos;
2) Igualdade de representação para todos os distritos eleitorais;
3) Voto secreto;
4) Eleições todos os anos para o Parlamento;
5) Fim do censo eleitoral, que estipulava uma riqueza necessária para compor a Câmara dos Comuns;
6) Remuneração das funções parlamentares, para que operários pobres também pudessem ocupar cargos políticos.
A legislação da Inglaterra ainda limitava a participação política entre homens tendo como base suas posses. Se essa desigualdade de direitos já era uma barreira enorme a ser superada, no caso das mulheres ela era muito maior, pois precisavam reivindicar seus direitos contra a burguesia e contra os homens de sua própria classe social.
Os cartistas lograram grande apoio popular, obtido através da divulgação de suas ideias. Conseguiram conquistas como limitação do trabalho infantil e redução da jornada de trabalho. Porém, com o passar do tempo, seus membros não conseguiram manter a vitalidade do movimento e ele acabou desaparecendo. Contudo, sua organização serviu de inspiração para outros trabalhadores da Europa que passaram a reivindicar direitos iguais e a lutar por melhores condições de vida.
Trade Unions (Sindicatos)
A mais conhecida organização de trabalhadores de qualquer categoria profissional é o sindicato. Nele, empregados se organizam para que juntos possam ter um peso maior na hora de negociar com o patronato. Formas semelhantes de atuações de trabalhadores são conhecidas antes mesmo da Revolução Industrial, mas é neste momento que elas vão ser mais popularizadas.
Como dissemos anteriormente, naquele contexto, os indivíduos eram praticamente desprezíveis para os industriais ingleses. Mas a partir do momento que todos decidissem se organizar em movimentos operários, cruzar os braços, interromper a produção e fechar a fábrica, os prejuízos iriam se acumular. No pensamento capitalista tempo é dinheiro, e as greves organizadas pelo sindicato significavam uma quebra da lógica liberal.
Pelo fato de muitos industriais influenciarem nas decisões do Parlamento Inglês, – isso quando eles mesmos não ocupavam cadeiras no Ministério –, os sindicatos, greves e paralisações foram criminalizados e combatidos por muito tempo. Para garantir a repressão dos movimentos operários, foi utilizado o poder coercitivo da polícia, que invadia reuniões e dissipava manifestações com violência.
Apesar de serem duramente combatidos, os sindicatos não desapareceram. Lutando para sobreviver, passaram a ganhar força, tanto na Europa como nos Estados Unidos, onde na região norte fazia sua própria Revolução Industrial.
Inclusive, o dia 1º de Maio é celebrado em memória aos trabalhadores que morreram no confronto com policiais em Chicago em meio a uma greve geral. Ainda assim, a exploração da mão de obra infantil e as desigualdades salariais entre homens e mulheres continuaram a existir legalmente até o século XX na maioria dos países ocidentais.
Contribuições Socialistas e Anarquistas
Na história do trabalho durante o século XIX é impensável não mencionar os movimentos socialista e anarquista no contextos dos movimentos operários de luta pela transformação social da realidade de trabalhadoras e trabalhadores. São figuras de referência destas correntes Karl Marx e Mikhail Bakunin, respectivamente.
Marx e Friederich Engels foram intelectuais que ficaram conhecidos na história como socialistas científicos. A terminologia advém do fato de estes pensadores elaborarem uma análise da história da humanidade baseada nas relações de trabalho e proporem caminhos para a transformação da realidade dos trabalhadores europeus.
Para eles, em termos gerais, a história sempre se modificou quando uma massa de pessoas exploradas no trabalho se revoltava contra a ação de seus exploradores. Para Marx e Engels isso era evidente, pois os escravizados na antiguidade lutavam contra seus senhores, os servos feudais e a burguesia contestaram os privilégios da aristocracia e do clero, e agora restava aos proletários lutarem contra os proprietários industriais.
O comunismo defendido pelos autores seria um estágio em que não haveria mais classes sociais e cada família seria responsável pela sua própria economia. Os homens deveriam tomar consciência da sua condição de explorados e iniciar uma luta de classes contra seus patrões.
Ao tomarem o poder, Marx explica que os homens haveriam de instaurar uma Ditadura do Proletariado, onde os trabalhadores manteriam controle das fábricas e repartiriam toda a produção igualmente entre os trabalhadores.
Só depois desta etapa, também chamada de socialismo, é que a humanidade chegaria na plenitude do comunismo. Não é por acaso que suas ideias não agradaram nenhum um pouco a burguesia e os estadistas de sua época. No entanto, a influência destes pensadores mobilizou a ação de operários e são objetos de estudo até hoje.
Por outro lado, os anarquistas, influenciados por Mikhail Bakunin e Pierre Proudhon, distinguiam-se dos socialistas por defenderem que qualquer forma de hierarquia e poder iria se consolidar em opressão. Além de lutarem contra o poder religioso e o poder do Estado, também contestavam o poder nas relações de trabalho.
Também defendiam uma sociedade sem classes na qual o indivíduo seria livre da opressão, mas discordavam dos socialistas quanto aos meios para se atingir essa realidade. Defendiam que uma ditadura do proletariado seria uma possibilidade para alguém usurpar o poder e jamais permitir sua dissolução. O pensamento anarquista ainda influencia pessoas no mundo inteiro. No Brasil, se atribui a eles a influência da primeira greve geral em 1917.
Videoaula sobre doutrinas sociais
Para terminar sua revisão sobre os movimentos operários que surgiram a partir da Revolução Industrial, assista à videoaula abaixo!
Exercícios sobre movimentos operários
Para terminar, resolva os exercícios abaixo com questões selecionadas pelo nosso professor!
Sobre o(a) autor(a):
Os textos acima foram preparados pelo professor Angelo Antônio de Aguiar. Angelo é graduado em história pela Universidade Federal de Santa Catarina, mestrando em ensino de história na mesma instituição e dá aulas de história na Grande Florianópolis desde 2016.