Podemos discutir a globalização na ótica de seus efeitos ou defeitos, do ponto de vista da fartura e da riqueza ou da miséria e pobreza, onde o rico fortalece sua fortuna e o pobre afunda na sua penúria. Essas são algumas reflexões que emergiram após leitura do artigo “Globalização, pobreza e saúde”, uma análise crítica do filme “Encontro com Milton Santos: o mundo global visto do lado de cá” e debate do livro “A globalização e as ciências sociais”, com alunos e professores de doutorado em enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Brasil-.
Globalização é um processo econômico, social e cultural que se estabeleceu nas últimas duas ou três décadas e diz respeito intensificação das relações sociais que unem países distantes, promovendo a rápida disseminação de eventos locais para todo o mundo. No entanto, este processo ainda é bastante criticado por autores e organizações. As desigualdades instaladas de forma quase irreversível nos países em desenvolvimento nos faz refletir sobre até que ponto é aceitável as discrepâncias econômicas, políticas e culturais entre seres humanos, levando em conta os aspectos éticos e morais-.
A governança global liderada por poucos atores que retém uma grande fatia econômica contribui para maiores disparidades entre as nações. Alguns exemplos de lutas sociais contra a globalização ocorridas na Bolívia, na África, na Argentina, no próprio Brasil e outros países fazem perceber o mundo capitalista que se disseminou entre os povos e sociedade. Assistir a luta diária das famílias para se sustentar e levar comida para casa reflete a intensidade na qual as desigualdades acabaram se tornando nocivas ao indivíduo, principalmente, no contexto da pobreza e do combate à fome-.
Nesse sentido, a necessidade de transformar o mundo e reduzir as desigualdades promoveu um plano de ação ousado, contendo dezessete objetivos de desenvolvimento sustentável, 169 metas e 241 indicadores, todos interconectados e interdependentes. Essa nova agenda proposta pela Assembléia Geral das Nações Unidas deve ser implementada por todos os países até 2030, tornando-se uma prioridade mundial. O primeiro objetivo, acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares, corrobora com as iniquidades sociais e de saúde e nos faz refletir sobre a real situação de vida que torna esta condição multidimensional nas raízes de seu conceito. Pare e pense: ainda temos 836 milhões de pessoas que vivem na extrema pobreza. Que planeta é esse que queremos para o próximo? Quais são os direitos humanos diante do mundo multinacional, globalizado e capitalista?.
Os outros objetivos relacionados ao desenvolvimento sustentável dizem respeito a assegurar vida saudável, a educação inclusiva e equitativa, a alcançar a igualdade de gênero (valorizando a mulher), a assegurar saneamento básico e energia à população, a promover crescimento econômico e reduzir as desigualdades, entre outros (). Todas essas prioridades puderam ser identificadas através do filme Encontro com Milton Santos e foram corroboradas no texto de Buss quando afirmou que a globalização tem empobrecido países e ampliado a pobreza, a exclusão e as iniquidades econômicas e sociais. De fato, são fatores que influenciam negativamente os sistemas resilientes, impactando na saúde do indivíduo, família e coletividade,.
Fonte: United Nations, 2018.
Figura 1 Os 17 (dezessete) objetivos de desenvolvimento sustentável.
Além disso, as guerras e conflitos por disputas econômicas, as doenças emergentes e reemergentes, as drogas ilícitas que ganham o mundo, as Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST’s) e o HIV/Aids que debilita o indivíduo, além da mortalidade materna promovem um pensamento crítico sobre o verdadeiro sentido da Constituição Federal Brasileira mediante a globalização. Neste contexto, é imprescindível citar o Art. 196 quando diz que “saúde é direito de todos e dever do estado, garantindo mediante políticas sociais e econômicas [...] para promoção, proteção e recuperação”. Trata-se de uma utopia ou realidade?,,.
Outro exemplo diz respeito à desigualdade social relacionada às empresas multinacionais, como por exemplo, a Boeing 777 e a Nike, que faturam alto com suas vendas pelo mundo e quem as produz, recebe o mínimo do mínimo. Salienta-se a “louca” divisão social do grupo dos que não comem e do grupo dos que não dormem com receio da revolta dos que não comem. O fato é que enquanto não houver luta contra a globalização injusta, pela equidade na saúde, pela paz mundial e pela diminuição das desigualdades, os conflitos se intensificarão de uma forma patológica, como já vem acontecendo nas últimas décadas, onde a economia permanecerá no poder de poucas figuras movidas por interesses próprios e os pobres permanecerão ganhando o suficiente apenas para se sustentarem com o básico. É possível ofertar saúde e bem estar diante deste contexto?-,,.