Etapa 2: Vamos problematizar as várias referências para a revolta de escravos do Haiti. Os estudantes devem ser separados em grupos pequenos, no máximo quatro estudantes. E a leitura pode ocorrer de forma coletiva, antes de serem realizadas individualmente.
Leia e analise os documentos abaixo.
Texto 2
O bom Deus fez o sol
que nos ilumina lá do alto
que levanta o mar
e faz rugir o trovão
Escutem bem vocês
O Bom Deus escondido numa nuvem nos olha
Ele vê o que fazem os Brancos
O Deus dos Brancos pede o crime
O vosso quer o Bem.
Mas se o Deus que está tão longe
lhes ordena a vingança
Ele dirigirá nossos passos
Ele nos assistirá
Desprezem a imagem do Deus dos Brancos
que tem sede de nossas lagrimas
Escutem a
liberdade que fala a nosso coração
Fonte: Sacerdote Buckman, cativo jamaicano, sacerdote vodu e marron*,na noite de 22 de agosto de 1891, no momento em que antecedeu a revolta escrava. Apud MOREL, Marco. A Revolução do Haiti e o Brasil escravista – o que não deve ser dito. SP: Pacco, 2017. p.89
*Marron: Equivalente a quilombola ou cativo que foge para viver em uma comunidade afastada das cidades e espaços de trabalho e
controle dos senhores. O termo derivado da expressão marronage – nome da experiência de rebelião escrava no Haiti, formando comunidades que resistiam a escravização.
Texto 3
As primeiras lideranças dos escravos que se libertavam, como Toussaint Louverture, Jean-Jacques Dessalines e Henri Christophe, eram abertamente adeptas da forma de governo monárquica. Sob esse ângulo, a Revolução Francesa era percebida como adversária dos escravizados que iniciavam
a luta revolucionária (…)
Dechaussée (Descalço), detido e interrogado pelo colono Leclerc em agosto de 1791, após falar em defesa do rei Luís XVI, afirmou que o projeto de insurreição era conhecido por todos os negros da colônia: queimar as plantações, degolar os brancos e se apropriarem do país.
Durante o ano de 1792, continua intensa – dramaticamente intensa e violenta – a guerra entre negros e brancos, entre brancos e mulatos (…) Em setembro, chegaram a São Domingos
três comissários enviados pela Convenção Nacional para implantar o direito de igualdade entre brancos, mulatos e negros livres, decretados em abril. Ou seja, mantinha-se o escravismo. (…)
O acompanhamento dos episódios reitera a afirmação de que foi a Revolução do Haiti que efetivou e empurrou a Revolução francesa para a abolição da escravidão – dissipando a ideia de que as ideias francesas iluminaram a colônia unilateralmente. O conflito irrompe entre as tropas colônias: o general
Galbaud, colono, tenta destituir os comissários enviados pela Convenção e, malsucedido abandona a Ilha com numerosos soldados e outros colonos, em 20 de junho de 1793. No dia seguinte, Sonthonax decreta a anistia para todos os escravos revoltados: medida, na verdade, inócua, pois os antigos escravizados já se assenhoram do território (…)
Entre 29 de agosto e 27 de setembro de 1793, o mesmo Sonthomax, na condição de representante do governo francês e premido pela avalanche de
acontecimentos, proclama a abolição da escravidão. No que recebe o imediato apoio de Toussaint Louverture. As mudanças se precipitam. Ao receber a notícia da abolição da escravatura na colônia, a Convenção Nacional, em Paris, decreta a mesma abolição em todas as colônias, em 4 de fevereiro de 1794.
Fonte: MOREL, Marco. A Revolução do Haiti e o Brasil escravista – o que não deve ser dito. SP: Pacco, 2017. p.104-106.
Texto 4
“Irmãos e amigos. Eu sou Toussaint Louverture; meu nome talvez seja conhecido de vocês. Eu realizo a vingança de minha raça. Quero que a liberdade e a igualdade reinem a São Domingos. Eu trabalho para faze-la existir. Uni-vos, irmãos, e combatam comigo pela mesma causa. Arranquem comigo as raízes da árvore da escravidão”.
Fonte: Falaatribuída à Toussaint Louverture, escravo liberto que se tornou principal líder revolucionário, em 1793 ApudMOREL, Marco. A Revolução do Haiti e o Brasil escravista – o que não deve ser dito. SP: Pacco, 2017. p.39.
- Marco Morel é professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) escreveu o livro A Revolução do Haiti e o Brasil escravista (2017). Ele é enfático em argumentar que a Revolução do Haiti não constituiu uma mera reprodução de ideias iluministas. As ideias dos filósofos no século XVIII criticavam o antigo regime (absolutismo), apregoavam a razão contra os preconceitos e dogmas religiosos cristãos, e defendiam a liberdade individual, igualdade civil e propriedade privada. Muitos filósofos e liberais não viam contradição entre a defesa da liberdade individual e a manutenção escravidão. Analise os documentos e descreva como cada documento ajuda a compreender as motivações da Revolução do Haiti.
- Escreva uma narrativa explicando a argumentação de Marco Morel: “a Revolução do Haiti empurrou e efetivou a abolição da escravatura”.
- “Em 1802, Napoleão reabilitou a escravidão nas colônias francesas, proibiu a entrada de negros e mulatos na França e prendeu as lideranças da revolução haitiana…”. Pesquise como os atos da frase anterior levaram a retomada dos protestos e a proclamação da Independência do Haiti em 1804. Após realizar a pesquisa, escreva dois parágrafos narrando a Independência do Haiti, dando continuidade ao texto acima.