Por quê o luto é important3e

O luto é um processo de angústia que todos os seres humanos passam durante a vida. Na maioria das vezes é associado à perda de um ente querido, mas não está relacionado apenas a morte. O que varia é a intensidade e como cada um irá lidar com os sentimentos. 

Dessa maneira, o luto não é um transtorno ou doença, mas sim, uma reação a uma perda impactante. A expressão do luto pode ocorrer por manifestações físicas, como o choro, e emocionais, como tristeza, raiva e ansiedade. 

Contudo, nem sempre este processo precisa ser marcado por uma desestrutura emocional. Muitas vezes, pode ser vivenciado em silêncio. Mas, isso não significa que a pessoa não esteja sofrendo com a perda. As pessoas lidam de formas diferentes com os problemas, cada um tem sua particularidade.

Além disso, segundo especialistas, a viver o luto é fundamental, pois quando o reprimimos, pode se tornar algo patológico. Ou seja, em vez de sofrermos por um período de um ano, podemos enfrentar a angústia por muito mais tempo, desenvolvendo sentimentos profundos de tristeza e até mesmo depressão.

Fases do luto

De acordo com alguns estudos, existem estágios do luto. Que são eles:

  • Negação: Durante essa fase a pessoa evitar falar sobre o assunto, acredita que não está acontecendo anda e usa sua estrutura emocional para lutar contra a morte;
  • Raiva: A raiva é uma fase necessária no processo de luta. Há sentimentos de ira, questionamentos e revolta, expressados de forma inquieta e chorosa.
  • Barganha: Antes de perder alguém, muitas pessoas acabam pensando em fazer qualquer coisa para que isso não acontece. Por exemplo, dizer a si mesmo ou a entidades religiosas “Eu nunca mais ficarei bravo com meu marido se ele viver” e assim por diante. Após a perda, a barganha surge para não ter que lidar com o sentimento, onde o desejo é sempre voltar no tempo.
  • Depressão: A depressão se desenvolve quando o nível de tristeza está profundo e não há mais força emocional para lutar contra a perda e o fim.
  • Aceitação: Após toda a dor e sofrimento, vem a aceitação. Assim, a vontade de voltar a realizar as atividades diárias e o prazer por viver retornam. Mesmo que a dor ainda esteja ali, é possível seguir em frente.

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Como lidar

Uma das melhores opções para lidar com o luto é com psicoterapia. Isso porque perder um ente querido é um evento estressor e o tratamento ajuda a reorganizar seus pensamentos e sentimentos resultantes da dor e sofrimento.

Durante as sessões, o paciente irá desabafar e o terapeuta irá avaliar suas preocupações, trazendo a tona os sentimentos de bloqueio. Para que assim, seja possível trabalhar a capacidade de se readaptar a uma nova realidade.

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Além disso, também há algumas tarefas que podem contribuir nesse processo:

  • Tenha um tempo para si mesmo ;
  • Aceite seus sentimentos e saiba que o luto é um processo;
  • Converse e passe um tempo com amigos e familiares;
  • Não se isole;
  • Pratique exercícios regularmente, coma bem e durma o suficiente para permanecer saudável e energizado.

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Sobre o autor

Julia Moraes

Jornalista e repórter da Vitat. Especialista em fitness, saúde mental e emocional.

Viver o luto significa reaprender a viver apesar da perdas que sofremos, apesar de serem difíceis de enfrentar e superar. Há quem vivencie o luto com maior ou menor dificuldade. Para superar qualquer perda, temos que viver o luto, passando por um processo, que pode ser consciente ou não. Este processo é inevitavelmente doloroso, traz dor e tristeza, sentimentos que podem ser muito intensos, principalmente quando se perde alguém muito próximo.

Naturalmente, a dor que sentimos perante uma perda depende do tipo de ligação que tínhamos com a pessoa que perdemos e como essa perda afeta a nossa vida. Esta dor, apesar de difícil, é normal e deve ser aceite para não ficarmos “presos”, sem conseguirmos avançar na vida. Esta dor faz parte do processo de luto.

O que é o luto

O luto é um processo natural acompanhado por diversas reações emocionais, mentais e físicas que manifestamos quando perdemos algo, ou alguém significativo, até conseguirmos retomar a vida. Viver o luto, passando por este processo, é necessário e fundamental para superar a perda e preencher o vazio deixado por ela. O luto é o esforço de todo o nosso organismo (mente e corpo) em viver depois de uma perda, em que o mesmo se refaz e reinventar de forma a seguir em frente.

Conhecer mais sobre as caraterísticas do luto ajuda-nos a vivê-lo de uma forma saudável e também ajuda-nos a perceber como podemos apoiar pessoas próximas que estejam a passar por este processo. No entanto, este conhecimento não é imprescindível. Há pessoas que conseguem viver o luto de uma forma automática e inconsciente.

Quando falamos em viver o luto tendemos a associar ao processo que se segue à morte de um ente querido, e este é provavelmente o luto mais doloroso. No entanto, qualquer situação que nos faça viver a perda de algo ou alguém significativo leva a um processo de luto. São várias as experiências que podem constituir uma perda significativa, como quando estamos perante o fim de uma relação amorosa, quando perdemos um animal de estimação, quando perdemos um emprego, um estilo de vida, um ideal, etc. Assim, para além da morte, situações como divórcios, doenças, desemprego e até a reforma da atividade profissional podem implicar um processo de luto.

A forma como cada pessoa reage à perda é diferente e depende da sua faixa etária, personalidade e estrutura emocional, e do tipo de vínculo estabelecido. Contudo, existe um padrão que é comum. Vários autores propuseram modelos que descrevem fases no processo de luto. Elisabeth Kübler-Ross, psiquiatra suíça, ao estudar como pessoas lidavam com perdas pessoais trágicas, desde a morte de um ente querido, a uma doença terminal ou a um divórcio, percebeu que existiam 5 estágios comuns pelos quais a maior parte das pessoas passava. Com base nestas observações, descreve estes estágios ou fases, que são: a negação, a raiva, a negociação, a depressão e a aceitação. Nem todas as pessoas passam por estas 5 fases e quem as passa nem sempre as vivencia nesta ordem. Cada pessoa faz o seu próprio percurso no processo de luto, podendo ou não manifestar as caraterísticas mais frequentes de cada fase apresentada.

Mulher a viver o luto

As 5 fases do luto propostas por Kübler-Ross

A negação – geralmente aparece logo após a noticia de perda. Provoca um grande choque (“isto não pode estar a acontecer”), uma reação de não acreditar (“eu não consigo acreditar”) e uma dor imensa que parece irreal. É comum a pessoa isolar-se e não querer falar sobre o assunto. Surge como um mecanismo de defesa, não acreditar na situação e não ter de lidar com ela, o que ajuda a amortecer temporariamente a dor, permitindo uma separação psicológica e emocional da realidade traumática, para depois assimilarmos os acontecimentos pouco a pouco.

Normalmente é um mecanismo de defesa temporário, que é substituído por uma aceitação parcial. No entanto, algumas pessoas podem ficar presas nesta fase de negação, principalmente quando se trata da morte de alguém muito próximo e fingem para si próprias que o ente querido ainda está vivo, o que leva a um luto patológico.  

A raiva – esta etapa surge perante a impossibilidade de negar a realidade. A pessoa deixa de negar a perda, não a aceita, reagindo com um sentimento de revolta. A raiva pode ser dirigida à pessoa que perdemos (porque nos abandonou), a outras pessoas (aos médicos, aos enfermeiros, etc.), à sociedade, à vida, a Deus, etc. Podemos até sentir raiva de nós próprios (“porque não vim mais cedo’’, “porque não fiz…”).

A dor pode ser tão grande que consideramos a perda uma injustiça da vida e questionamos o porquê e qual o sentido da vida. É normal pensar: “Porquê comigo? Não é justo!” Neste estágio, a parte emotiva acorda porque sentir raiva permite iniciar um processo emocional. Os sentimentos despertam através da dor. Esta permissão em sentir vai-nos ajudar a recuperar.

A negociação – na etapa anterior, os sentimentos começaram a despertar, ainda que  manifestando-se através da dor. Algumas pessoas evoluem para este estágio em que fantasiam que podem reverter a perda através de algum processo ou solução. É uma das fases mais desconhecida e mais curta em que se tenta negociar para que a perda não seja verdade, tenta-se fazer algum tipo de acordo que faça com que as coisas se revertam. É comum haver um forte apelo religioso, pensar que pedindo com fé a perda será desfeita.

Para isso fazem-se promessas, geralmente em segredo. Quando a perda se refere à morte de alguém, pode-se tentar negociar com Deus ou com o que se acredita. Se for, por exemplo, quando termina uma relação amorosa, pode-se tentar negociar com a outra pessoa e pedir que não se afaste, mesmo que continuem apenas como amigos.

A depressão – acontece quando a pessoa toma consciência que a perda é inevitável, que não é uma ilusão ou algo negociável. A forma de reagir a esta perceção depende muito de cada pessoa, mas é comum surgirem sentimentos profundos de tristeza, angústia, medo, vazio e impotência. A pessoa sente-se esgotada, apática e qualquer tarefa torna-se complicada. A pessoa pode pensar: “Estou tão triste. Porque devo preocupar-me com outras coisa?” e pode até pensar que mais valia morrer. Esta fase é muito dura, mas simboliza que a pessoa caiu em si e que está a começar a aceitar a realidade, mesmo que ainda de forma não saudável. 

Podemos pensar que esta dor tão intensa nunca vai passar, ou que nunca vamos conseguir lidar com ela. Mas, na verdade, só depois de vivermos esta fase poderá haver reconstrução. Só depois de se sentir a dor é que se poderá superar a perda, ou seja, querer viver apesar da perda.

A aceitação – esta é a fase final do luto e surge quando a pessoa aceita a perda, aprende a conviver com a dor da ausência de quem ou do que perdeu. Com o tempo recupera a capacidade de sentir a alegria, fica mais fortes e consegue encarar a perda. Agora, a pessoa assimila a perda e compreende que a sua vida continua.

Ajuda do psicólogo no processo de luto

A ajuda de um psicólogo no processo de luto

Há quem pense que aceitar a morte de um ente querido é esquecê-lo, mas não é assim. É recordá-lo e conseguir viver em paz apesar da sua ausência. É valorizar o ter partilhado a vida com ele e saber que as memórias ficarão sempre connosco. Continuarão a haver momentos de maior saudade, mas serão vividos serenamente.

Apesar de causar sofrimento, o luto é um processo que temos de viver até ao fim, quando sofremos uma perda, para não se tornar patológico. O luto normal tem princípio, meio e fim e serve a favor da saúde.

No entanto, há situações em que a pessoa fica presa numa fase, sem conseguir avançar e realizar todas as tarefas do luto. Nestas situações o processo normal de luto não é realizado, e desenvolve-se um luto patológico, que interfere negativamente na vida e nos relacionamentos. Devemos estar atentos a sintomas que sugerem num luto patológico tais como: tristeza profunda e isolamento social prolongados, ideações suicidas, alucinações ou ideias delirantes, insônia permanente. Nestas situações é imprescindível a ajuda especializada de um psicólogo e/ou psiquiatra.

Mas, mesmo para quem vive um luto normal, um psicólogo pode ajudar, tornando o processo menos doloroso. A consulta de psicologia proporciona um espaço onde a pessoa pode expressar a sua dor, reconhecer e entender as suas reações e assim ir aliviando a angústia. Uma angústia não negada, compreendida e bem acolhida tende a gerar a possibilidade da pessoa se refazer. Sabendo que cada pessoa manifesta a sua dor de forma individualizada, tendo em conta o contexto da pessoa, do momento de vida, do impacto da perda, o psicólogo ajuda cada um a descobrir dentro de si a maneira particular de viver o luto, encontrar o que dá sentido à sua vida e conseguir reconstruí-la.

Assim, no processo de luto, o psicólogo pode intervir fazendo aconselhamento ou terapia.  O aconselhamento está relacionado com suporte e prevenção, ajudando a pessoa a lidar com o luto de uma forma adaptativa e preservar a sua saúde física e emocional. A terapia relaciona-se com o luto disfuncional ou patológico. O objetivo da terapia é identificar e resolver os conflitos de separação que impediram a pessoa de fazer um luto normal, e ajudá-la a completar as tarefas do luto que não foram realizadas e a ultrapassar as fases do luto onde a pessoa está estagnada.

Perante uma perda, devemos viver o luto para depois conseguirmos seguir em frente. Para isso devemos dar a nós próprios tempo e permissão para o vivermos. Quer a negação maníaca de uma perda, quer o arrastar para sempre a dor de uma perda do passado, são lutos que não são feitos e levam a vidas estagnadas.

Silvia Felizardo / Psicóloga Clínica

© PsicoAjuda – Psicoterapia certa para si, Leiria

Sobre o Autor

Sílvia Felizardo

Psicóloga clínica e colaboradora da PsicoAjuda como autora de artigos e publicações. Especialista em Psicologia Clínica e da Saúde pela Ordem dos Psicólogos. Licenciatura pré-Bolonha em Psicologia Clínica pela Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Lisboa. Membro da Ordem dos Psicólogos.

Porque é importante viver o luto?

Diante do acontecimento da morte, o trabalho de luto consiste em o indivíduo suportar a perda. Por ser um trabalho, exige tempo, é preciso que a pessoa se permita sofrer ao vivenciar este evento desagradável. Para alguns casos, o lidar com a perda pode se tornar um trabalho de luto complicado.

O que acontece quando a pessoa não vive o luto?

Se não vivermos o luto até o fim, a gente não elabora, e impede que o processo se encerre — diz Bianca Dantas, psicanalista de saúde mental do Centro de Atenção Psicossocial Franco Basaglia, em Botafogo. Na maior parte das vezes, entendemos o luto como um processo detonado pela morte de alguém próximo.

O que o luto nos ensina?

A morte nos desorganiza, nos deprime, mas o luto torna-se uma passagem necessária e uma condição indispensável para que a pessoa, aos poucos, possa retornar às suas atividades, reorganizar-se física e emocionalmente, reaprendendo a viver e a conviver com todas as mudanças que a morte provocou em sua vida.

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