A maior economia da África Subsaariana celebra 60 anos de independência. A ex-colónia britânica vive uma produnda crise económica e social e ainda é muito dependente do petróleo. Mas há promessas de mudança.
A Nigéria tornou-se independente a 1 de outubro de 1960. Hoje, o gigante africano vive uma profunda crise económica, financeira, sanitária e social. Os preços dos combustíveis atingiram níveis recordes em setembro, subindo cerca de 15%. A desigualdade está acentuada num país onde cerca de 40% de 202 milhões de habitantes vivem abaixo da linha da pobreza.
A economia nigeriana é dependente do principal produto de exportação do país - o petróleo -, mas o Estado não é capaz de tirar proveito das riquezas naturais para melhorar a vida dos cidadãos. Quatro das cinco refinarias de transformação do petróleo em gasóleo, gasolina e óleo são estatais. Todas as refinarias do Estado nigeriano estão fechadas desde janeiro, por falta de condições para a produção.
O nigeriano Ahmad Umar é especialista em petróleo e diz que o problema no setor "vai além da corrupção". "O fundamental é a falta de vontade política da liderança do país para assegurar que estas refinarias funcionem. Se houver vontade política, e quiserem realmente que estas refinarias funcionem, elas funcionarão".
O presidente Muhammadu Buhari prometeu diversificar a economia da Nigéria
Umar explica que a ideia de que o Governo não tem mão nos negócios é "uma falácia". "Temos, por exemplo, a Saudi Aramco, que é 100% propriedade do Governo, exceto que recentemente ofereceu ações no mercado e funcionou, e hoje é um dos planos mais valorizados do mundo. Por isso, há claramente falta de vontade política por parte do Governo, e é por isso que estas refinarias não estão a funcionar", argumenta o especialista.
Preços a aumentar
Nos 60 anos da Nigéria independente, não foram apenas os preços dos combustíveis que aumentaram. O custo da eletricidade duplicou. O preço dos produtos da primeira necessidade também disparou no mercado desde que o Governo fechou o país para combater o contrabando.
E com a crise sanitária provocada pela pandemia de Covid-19, o Estado cortou o subsídio de cerca de 2,6 mil milhões de dólares para financiar os custos de combustíveis.
O especialista em economia Ignatius Chukwu concorda que à pandemia veio a agravar a situação. "A administração do Presidente Muhammadu Buhari chegou de imediato com a mentalidade de diversificar a economia, e imediatamente assumiu o controlo da situação".
"A primeira coisa que aconteceu", explica Chukwu, "foi que entrámos em recessão, por isso, lutaram contra a recessão durante dois anos, só que estavam prestes a começar a ganhar crescimento positivo, saindo do negativo para o equilíbrio, do equilíbrio para positivo até 1,5%, na esperança de que passassem para 2,5% este ano, e tudo veio abaixo devido a pandemia. O petróleo foi a principal vítima. Para mim tem sido difícil, mas a questão é: existe uma mente para a diversificação? Sim, vejo uma intenção muito grande de diversificar".
Muitas pessoas ainda vivem da agricultura na Nigéria
Diversificação económica
Para o dia da independência, esta quinta-feira, vários ativistas convocaram protestos a nível nacional contra o aumento do preço de combustíveis na Nigéria. Entretanto, as autoridades lutam para aumentar as receitas e alavancar a economia, após a queda do preço do petróleo no mercado internacional. Em fevereiro o Governo aumentou o IVA para 7,5% e 5% para as receitas fiscais, visto como um dos mais baixos do mundo.
O analista político considera que o país precisa diversificar a sua economia, tal como no passado, e deixar de depender só do petróleo. "Há cerca de 40 anos, quando alguns de nós estávamos nas escolas primárias, o valor de um naira, moeda local, era quase equivalente a um dólar, no mercado. Hoje, estamos a falar de quase 500 nairas por um dólar. A indústria têxtil, por exemplo, está praticamente morta, não há nada parecido. Várias empresas não estão a funcionar hoje em dia. Têm estado em situação de falência. Foram praticamente destruídas", alerta Ignatius Chukwu.
Segundo ste analista, "o setor ferroviário costumava ser uma indústria vibrante na primeira e segunda república". "E a agricultura, no passado, exportava algodão. Estamos hoje a exportar amendoim, café e cacau que têm pouco alcance económico", conlcui.
A agência de notação financeira Fitch Ratings melhorou a Perspetiva de Evolução da maior economia da África subsaariana, a Nigéria, de Negativa para Estável e manteve a opinião sobre a qualidade de crédito soberano em B. A Fitch prevê uma recessão de 3% na Nigéria este ano, ligeiramente pior que a média de -2,6% dos países com o mesmo nível de avaliação do 'rating', mas antevê um crescimento de 1,3% em 2021 e de 3% no ano seguinte, partindo do princípio que as perturbações originadas pela pandemia abrandem e que os preços petrolíferos recuperem.
Nigéria: Dar e receber para sobreviver
Alguma autonomia
Os alimentos e os produtos doados nem sempre são os desejados. Dinheiro e trabalhos remunerados são raros no campo de refugiados de Bakasi, no nordeste da Nigéria. Com a troca de produtos, os refugiados encontraram uma maneira de satisfazer as suas necessidades.
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Dinheiro significa corrupção
"Nós não ganhamos dinheiro. Por isso é que fazemos as trocas", explica Umaru Usman Kaski. O refugiado quer trocar um molho de lenha no valor de 50 nairas (cerca de 11 cêntimos de euro) por alimentos para a família de oito membros. Muitos residentes preferiam receber dinheiro. Mas o risco é grande porque a corrupção na rede de distribuição do campo é generalizada.
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Arroz em troca de farinha
Falmata Madu (à dir.) troca arroz pela farinha de milho de Hadisa Adamu. As refugiadas fazem parte dos dois milhões de pessoas que fugiram do Boko Haram. Uns refugiaram-se no interior do país, outros no estrangeiro. Há mais de oito anos que o grupo terrorista aterroriza o nordeste da Nigéria, onde quer estabelecer um califado. Segundo a ONU, esta é uma das piores crises humanitárias mundiais.
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Milhares de refugiados
Há 670.000 refugiados nos vários campos espalhados pelo nordeste da Nigéria. No campo de Bakasi, nos arredores da cidade de Maiduguri, capital do estado de Borno, vivem 21 mil pessoas. Em troca do seu milho, Falmata Ahmadu recebe folhas de amaranto de Musa Ali Wala.
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"Não havia mais nada"
Abdulwahal Abdulla não gosta muito de peixe. Mas as pequenas tilápias foram a única coisa que conseguiu comprar porque os produtos são muitos escassos. Em vez do peixe seco, que custou 150 nairas (cerca de 36 cêntimos de euro), o refugiado de 50 anos, que vive no campo de Bakasi há três anos, preferia ter comprado óleo.
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Necessidades alteram-se
Nasiru Buba (à dir.) comprou detergente com o dinheiro que conseguiu a trabalhar como porteiro na cidade. Na altura, não precisava de nada especial. Agora precisa urgentemente de amendoins, mas já não tem dinheiro. "A minha mulher acabou de ter um bébé, mas não tem leite", diz Buba. Acredita-se que os amendoins estimulam a produção de leite.
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Violência sem fim à vista
Maiduguri é considerada o berço do Boko Haram e centro de violência. Em finais de dezembro de 2017, pelo menos nove pessoas morreram num ataque do grupo terrorista na capital do estado de Borno. Face a este cenário, é pouco provável que os refugiados deixem o campo de Bakasi em breve. Por enquanto, a troca direta de bens deverá continuar.