Página inicialDo meio natural ao meio técnico-científico informacional!
Por Rafael da Silva Tangerina
A história do território brasileiro é a soma e a síntese das histórias de suas regiões no contexto da política nacional e internacional. Milton Santos nos esclarece que o espaço geográfico acumula defasagens e superposições de divisões do trabalho no âmbito social e territorial. De um ponto de vista genético, as variáveis do espaço são assincrônicas, mas em cada lugar elas funcionam sincronicamente e tendem a ser assim também quanto ao todo. Daí as descontinuidades que permitiriam explicar as diversidades regionais ou seus desequilíbrios.
Para Santos e Silveira, períodos são pedaços de tempo definidos por características que interagem e asseguram o movimento do tempo. Periodizações de economistas e sociólogos podem ser ricas e inspiradoras, mas com freqüência são insuficientes, pois raramente tomam em consideração a materialidade e o dinamismo do território. A base das periodizações não é constituída apenas pelas relações sociais. Estas não bastam como dado explicativo, porque não se dão num vácuo. É preciso pensar paralelamente às técnicas como formas de fazer e de regular a vida, mas ao mesmo tempo, como cristalização em objetos geográficos, pois estes também têm um papel de controle devido ao seu tempo próprio, que modula os demais tempos.
Santos e Silveira destacam ainda que, ao longo da história da organização do território brasileiro, três grandes momentos poderiam ser identificados: os meios naturais, os meios técnicos e o meio técnico-cientifico-informacional. Por intermédio de suas técnicas diversas no tempo e nos lugares, a sociedade foi construindo uma história dos usos do território nacional.
Divisão regional do Brasil por Milton Santos. |
O primeiro período é marcado pelos tempos lentos da natureza comandando as ações humanas de diversos grupos indígenas e pela instalação dos europeus. A unidade, então, era dada pela natureza, e a presença humana buscava adaptar-se aos sistemas naturais.
Uma segunda fase é a dos diversos meios técnicos, que gradualmente buscam atenuar o “império” da natureza. Esta segunda fase foi caracterizada pelas técnicas pré-máquina e as técnicas da máquina, assim como pelos primórdios da urbanização interior e pela formação de uma “Região Concentrada” – região constituída pelos estados do Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
As indústrias no Brasil. |
O terceiro grande período é a construção e a difusão do meio técnico-cientifico-informacional. Cabe aqui, diferenciar uma primeira fase na década de 70, com a revolução das telecomunicações, pois é nesse momento que o meio técnico-cientifico-informacional se difunde. Mas esse novo meio geográfico permanece circunscrito a algumas áreas. Já com a globalização atual, informação e finanças passam a configurar a nova geografia, distinguindo os lugares segundo a presença ou escassez das novas variáveis-chave.
Com o meio técnico-cientifico-informacional, agravam-se as diferenças regionais e aumenta a importância da Região Concentrada com a hegemonia paulista, contudo, estamos verificando nos últimos anos a ocupação de áreas periféricas com produções modernas.
REFERÊNCIAS:
SANTOS, Milton, SILVEIRA, Maria Laura. O Brasil: território e sociedade no início do século XXI. Rio de Janeiro: Record, 2001.
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Os seres humanos estão sempre utilizando o meio em que vivem, sobretudo os elementos disponíveis na natureza, seja no seu consumo direto, seja para a sua transformação em mercadorias ou produtos manufaturados. Para isso, ele utiliza as diferentes técnicas, que envolvem as formas e os instrumentos utilizados para melhor produzir e transformar o espaço geográfico.
Desse modo, se a utilização das técnicas é uma questão fundamental para a transformação do espaço, a forma como tais técnicas evoluem e modificam-se ao longo do tempo também produz consequências diretas nas estruturas espaciais que envolvem as sociedades. Por esse motivo, estabelece-se uma periodização do meio desde a sua gradativa transformação pelas atividades humanas, indo desde o meio natural, passando pelo meio técnico e finalmente alcançando o meio técnico-científico-informacional — classificação concebida pelo finado geógrafo brasileiro Milton Santos em várias de suas obras publicadas.
Meio natural
O meio natural seria o estágio inicial do processo de produção das atividades humanas. Nesse longo período que marcou o início e a formação das primeiras civilizações, bem como o avanço de todas as sociedades pré-industriais ou não industrializadas, as práticas sociais eram inteiramente dependentes do meio natural.
Nesse sentido, a interferência do ser humano sobre o ambiente era de pouco impacto, de forma que era mais a natureza que condicionava as práticas econômicas, e não o contrário. Dessa maneira, a capacidade de recomposição da natureza era maior, haja vista que a capacidade do homem de ocupar e promover alterações em um amplo espaço era relativamente limitada.
Mas isso não impediu que práticas importantes ainda hoje utilizadas fossem desenvolvidas. Assim, várias técnicas agrícolas e também pecuárias foram elaboradas, muitas delas ainda vistas como formas de preservar os solos, tais como o terraceamento. As técnicas da pecuária também passaram pelo mesmo ideário.
A utilização do meio natural foi marcante em sociedades tradicionais
Meio técnico
Com o passar do tempo, as técnicas e os objetos técnicos foram sendo mais bem desenvolvidos à medida que o conhecimento humano expandia-se, o que propiciou a formação das bases que consolidaram a ascensão do meio técnico, cujo marco principal envolveu as duas primeiras revoluções industriais. Com isso, o espaço transformou-se em um espaço mecanizado, dotado de uma gama cada vez mais ampla de bens artificiais e mecanizados, em vez de simplesmente culturais.
Dessa forma, o ser humano ganhou uma renovada capacidade de enfrentar e, em alguns casos, de manter certo controle sobre as leis da natureza, com uma maior possibilidade de transformá-la em larga escala. Tal processo foi operacionalizado pelo emprego de instrumentos, estes, segundo Milton Santos, “já não são prolongamentos do seu corpo, mas que representam prolongamentos do território, verdadeiras próteses”¹.
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O meio técnico consolidou-se com o avanço da industrialização pelo mundo
Meio técnico-científico-informacional
Atualmente, diz-se que estamos vivenciando não mais um meio puramente mecanizado ou tecnicista, mas um meio também marcado pela maior presença das descobertas científicas e das tecnologias da informação, o meio técnico-científico-informacional. Ele representa, sobretudo, o período que se manifestou de maneira mais acabada a partir dos anos 1970 como consequência da Terceira Revolução Industrial, também conhecida como Revolução Técnico-Científica-Informacional.
O principal marco desse momento é a união entre ciência e técnica pautada sob os auspícios do mercado. Não que já não houvesse uma aproximação entre as produções científicas e as evoluções das técnicas, mas somente agora tal inserção encontra-se em um sentido de complementaridade, de extensão de uma em relação à outra. Nesse ínterim, todo objeto é técnico e informacional ao mesmo tempo, pois carrega em si uma ampla estrutura de informações.
Tal avanço permitiu a consolidação do processo de globalização, mais bem compreendido como uma mundialização da difusão de técnicas e objetos, parâmetro que possui a informação como a principal energia motora de seu funcionamento. Tal fator proporciona alterações não só do espaço geográfico em si, mas da forma como o percebemos e lidamos com ele.
O meio técnico-científico-informacional envolve a difusão de técnicas focadas na informação
Por fim, e não menos importante, é importante compreender que tais transformações não se manifestam pelo mundo de maneira homogênea, isto é, não se consolidaram em todas as partes do planeta de maneira igualitária. Aliás, o desenvolvimento das diferentes técnicas em um número restrito de localidades permitiu o avanço das desigualdades e a intensificação das relações de dependência política e econômica entre os diferentes espaços.
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¹ SANTOS, M. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: Ed. Hucitec, 1996. p.158.
Por Me. Rodolfo Alves Pena