As transformações do papel da mulher na contemporaneidade

   A mulher conseguiu seu espaço social timidamente por volta da década de 70. Uma posição ainda vista pela janela do imaginário. Trabalhando inicialmente em casa, com atividades ainda peculiares à mulher tradicional, as funções de confeiteira e doceira eram as principais atividades laborativas exercidas como fonte de renda complementar para sua família. Em casa, cuidando dos filhos e simultaneamente fazendo seus quitutes e bolos para venda, da “janela,” voltava seu olhar para um futuro profissional mais qualificado e ainda distante.

Por muito tempo, a mulher se viu como mera espectadora do cenário laborativo. A cultura machista era predominante no mercado de trabalho, na esfera pública e política, estando a mulher na margem de tudo.
Se não estivesse lucrando“no forno e no fogão”, a submissão histórica a levava para o espaço escolar.

O magistério era um espaço majoritariamente feminino, confirmando o papel da mulher como educadora e reforçando um discurso opressor e masculino. Neste sentido, o papel da mulher sob o enfoque profissional, ainda trazia consigo o discurso enraizado do gênero, ou seja, os papeis típicos do lar (cozinhar e educar dos filhos), eram direcionados ao mercado de trabalho.

A construção do conceito de uma nova mulher não foi tarefa fácil. Foi preciso recriar sua própria história no contexto social.  Na última década, o deslocamento das fronteiras culturais, direcionou o papel da mulher a um processo de autonomia e libertação. O empoderamento da mulher desestabilizou o conceito cultural patriarcal, centralizando na mulher contemporânea inúmeras identidades.

A mulher como sujeito independente foi fruto da crise do cenário moderno, em que o homem centralizava para si as principais identidades sociais. No enfoque da história contemporânea, a mulher exerce sua pluralidade de identidades como mãe, esposa, profissional e sujeito político atuante.

Para a construção de minha identidade como sujeito social, a presença marcante de uma mulher com “características tradicionais” foi fundamental. Única filha do ventre de Dona Edleuza, não a impediu que fosse mãe de inúmeros filhos. Conhecida como “Mamãe Vivi” pelos seus filhos de coração, foi responsável pela minha transformação em “mulher contemporânea”.

Culturalmente fui deslocada do papel de mulher tradicional (papel exercido por ela) à mulher contemporânea. Este deslocamento de identidade, fez comque eu experimentasse papéis propriamente masculinos em meu contexto social (universidade e espaços políticos).

Minha mãe soube exercitar o rompimento de fronteiras culturais, ao alargar seu posicionamento de mulher tradicional e remeter-me à uma nova esfera contemporânea. Curiosa esta quebra de paradigma, inteligentemente realizada por minha mãe, ao romper com valores culturais, transferidos tradicionalmente à ela.

Sob outro contexto, não poderia deixar de citar uma mulher que mesmo enfrentando às dificuldades de seu tempo, posicionou-se à frente de seu espaço histórico. Serys Slhessarenko exerceu as identidades de mãe, avó, professora e militante política.

Conciliando as atividades domesticas com as sociais ao longo de sua vida. Foi fundadora do Partido dos Trabalhadores em Mato Grosso na década de 80, e também foi a primeira e única mulher senadora pelo Estado de Mato Grosso. Com determinação de uma garota de 20 anos, sua militância politica é atuante até os dias de hoje no PRB, seu atual partido.

O deslocamento do papel da mulher é visto atualmente com bastante frequência. Mesmo que não seja em sua totalidade, paulatinamente ela vem ocupando seu espaço na sociedade. Neste olhar, comemorar uma data específica para a mulher é algo que deveria ser superado diariamente.

O Dia da Mulher deve ser hoje, amanhã e depois de amanhã. Todos os dias nasce um homem, do ventre de uma mulher! A alimentação primária de qualquer lactante provém dos seios femininos.Na condução dos primeiros passos do bebê, por ali estará uma mulher, sendo ela na figura da mãe ou da babá. Enfim, poderia citar inúmeros apontamentos, em que seria de maior valia a presença feminina.

Da moderna à contemporânea quero externar minhas considerações à todas as mulheres. Parabéns a mim e a todas nós!

  *Wellen Candido Lopes é Advogada em Mato Grosso, Pedagoga, Doutora em Ciências Sociais, também Porta Voz/Presidente Estadual do Partido Rede Sustentabilidade (REDE/MT).

setembro 09, 2019in Bella Gestante 12659

Um breve panorama histórico pode esclarecer o que envolve o universo feminino a partir dos sentidos construídos nos discursos sociais. Foram séculos de repressão, de controle do comportamento feminino e de submissão. As mulheres que ousavam inovar e se libertar, chamadas de feministas, foram muitas vezes taxadas como loucas, masculinizadas ou invejosas da masculinidade do homem. O fato das mulheres terem evoluído e se inserido na sociedade cada vez mais, na minha visão, quer dizer que ainda poderemos evoluir muito.                       

Ao longo das últimas décadas, a mulher contemporânea vem acrescentando novas funções ao seu estilo de vida, assumindo, por exemplo, posições no mercado de trabalho, antes só ocupadas por homens. Influenciadas pelos movimentos feministas, pela economia, pela tecnologia e pela pílula anticoncepcional, que deu maior liberdade sexual às mulheres, elas passaram a protelar a maternidade e a exercer maior dedicação ao mundo do trabalho.

Atualmente, percebo no consultório mulheres hiperconectadas com seus smartphones, ansiosas e com a atenção fragmentada e dispersa. Em linhas gerais, se pudesse desenhar um retrato dessa mulher contemporânea, diria que estão muito mais independentes e que descobriram que não existe um roteiro pré-definido do que fazer com a própria vida. Há uma multiplicidade de papéis; mulher, mãe, esposa, filha, profissional, estudante, empreendedora, artista ou tudo isso ao mesmo tempo.

Há um excesso de tarefas e excesso de cobranças para a mulher contemporânea na tentativa de conciliação de maternidade e carreira, bem-estar e amor. É a época dos recasamentos e da maternidade tardia, devido à inserção no mercado de trabalho (maternidade como opção e não obrigação). Elas estão sexualmente mais livres, fugindo dos relacionamentos abusivos, mais conscientes delas mesmas, em busca de mais sororidade e menos julgamento. Entre aquelas que trabalham dentro e fora de casa podem sentir estresse e sofrimento por não conseguirem se dedicar tanto como “deveriam” a todos esses campos da vida. Muitas mães experimentam sentimento de culpa e de insuficiência por não conseguirem passar tanto tempo como gostariam com os filhos.         

Para uma mulher que concilia maternidade e carreira, a terapia é essencial para tratar os sintomas ansiosos ou depressivos advindos do esgotamento físico e mental. As mulheres precisam de uma boa dose de generosidade com elas mesmas, amor próprio, respeitar os próprios limites, cuidar da saúde do corpo e da mente. É importante desacelerar o ritmo para que possa criar algum tempo para si mesma; para estar para cuidar de tantas coisas, é preciso se cuidar primeiro.

Anabelle Condé é Psicóloga (IBMR) e Comunicóloga (PUC-Rio). Especialista com Pós-Graduação em Psicologia Clínica no Instituto Carioca de Gestalt-terapia, Extensão em Terapia Familiar no Esfera Espaço de Psicologia Integrada, realizando Extensão em Sexualidade Humana no Espaço Terapêutico Psi. Atuação clínica voltada para mulheres, autoestima, relacionamentos e casais. Ela atende no Bella às quintas-feiras. Para mais informações sobre consultas, entre em contato pelos telefones 2530-4779/2537-8980/99140-7211.

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