Como eram transportadas as canas de açúcar

Vagão sobre trilhos, utilizado no transporte de cana de açúcar e puxado por uma parelha de burro, em Porto Feliz / Acervo do Professor Roberto Prestes de Souza

A foto já castigada pela ação implacável do tempo é da segunda metade do século dezenove e mostra um vagão sobre trilhos, utilizado no transporte de cana de açúcar e puxado por uma parelha de burros. Os antigos moradores de Porto Feliz contavam que essa linha férrea existiu desde o Núcleo Colonial Rodrigo Silva até o Engenho Central, passando pela atual Rua Newton Prado, que naquela época tinha a denominação de Rua Sorocaba.

A cana de açúcar transportada provinha da Colônia Rodrigo Silva, reduto das famílias belgas que vieram residir nesta cidade para trabalhar na lavoura, em substituição à mão de obra escrava. As primeiras famílias belgas chegaram a Porto Feliz entre maio de 1888 e maio de 1889 e tiveram as despesas com o transporte custeadas pelo governo brasileiro.

Todavia e muito antes desse tempo, no período compreendido entre 1790 e 1830, Porto Feliz já registrava mais de uma centena de pequenos Engenhos produtores de açúcar bem como de aguardente e, juntamente com as cidades de Itu e Campinas, controlava a produção açucareira da então Capitania de São Paulo. A Colônia Rodrigo Silva foi consolidada em uma área de terras com cerca de 1601 hectares, adquirida pelo Governo do Brasil, e recebeu essa denominação para homenagear o ilustre homem público Rodrigo Augusto da Silva, nascido em Santo Amaro no dia 7 de dezembro de 1833 e falecido no Rio de Janeiro em 17 de outubro de 1889.

Foi Deputado Provincial, Deputado Geral, Senador do Império Brasileiro, Ministro da Agricultura, Ministro dos Transportes e Ministro das Relações Exteriores do Brasil. Importante ressaltar, por outro lado, que o Engenho Central de Porto Feliz, propriamente dito, foi inaugurado no dia 28 de outubro de 1878 e foi o primeiro do Estado de São Paulo e o terceiro do Brasil. Sua construção revolucionou a produção de açúcar em toda a região e contribuiu para a consolidação de um importante ciclo na economia do nosso município

O Engenho Central de Porto Feliz funcionou por mais de 100 (cem) anos como uma unidade de produção da Companhia União São Paulo e, depois de passar por diversas transformações foi, infelizmente, desativado em 1991. A linha férrea mostrada na foto vinha desde a Colônia Rodrigo Silva, cortando as vias urbanas principais da cidade, inclusive o atual Largo da Penha, e terminava no Engenho Central. Ao que se sabe a referida estrada de ferro perdurou até o ano de 1905, quando passou a gerar problemas em relação ao trânsito de veículos, razão pela qual foi definitivamente desativada. Foi um dia na história passada / Desta gente que alegre se diz / Bandeirantes que daqui partiram / Encheram de glórias o Porto Feliz! (Foto: Acervo do Professor Roberto Prestes de Souza).

O engenho de açúcar designa o local onde era produzido o açúcar durante o período colonial.

Estes engenhos surgem no século XVI, quando se inicia o plantio da cana de açúcar no Brasil.

Possuíam um edificações para a moagem de cana de açúcar, locais para transformar o caldo em melado e rapadura, capela, casa para os proprietários e a senzala para os escravizados.

As primeiras mudas de cana de açúcar chegaram de Portugal em meados do século XVI. Os portugueses já possuíam técnicas de plantio, pois a cultivavam e fabricavam o produto na ilha da Madeira e nos Açores.

Estrutura dos engenhos coloniais

O engenho colonial era um grande complexo dividido em diversas partes:

  • Canavial: onde a cana de açúcar era cultivada;
  • Moenda: local para moer a planta e extrair o caldo. A moenda funcionava movida por tração animal, água (moinho) ou ainda a força humana dos próprios escravizados.
  • Casa das Caldeiras: espaço usado para ferver o caldo da cana de açúcar em buracos cavados no solo. O resultado, um líquido espeço, eram então fervido em tachos de cobre.
  • Casa das Fornalhas: uma espécie de cozinha que abrigava grandes fornos que aqueciam o produto e o transformavam em melaço de cana.
  • Casa de Purgar: ali ficavam as formas com o caldo cristalizado, chamados pão de açúcar. Após seis a oito dias eram retirados dos moldes, refinados e prontos para serem comercializados.
  • Plantações: Além dos canaviais, havia as plantações de subsistência (hortas), em que eram cultivados frutas, verduras e legumes destinados à alimentação dos moradores do engenho.
  • Casa Grande: representava o centro do poder dos engenhos, sendo o local onde habitava o proprietário da terra e sua família. Apesar do nome imponente, nem todas as casas eram grandes.
  • Senzala: locais que abrigavam as pessoas escravizadas e onde não havia nenhum tipo de conforto e dormiam no chão de terra batida. Durante a noite eram acorrentados para evitar fugas
  • Capela: construção feita para celebrar os ritos religiosos dos habitantes do engenho, sobretudo, dos portugueses. Ali ocorriam as missas e as principais manifestações católicas como o batismo, casamentos, novenas, etc. Vale lembrar que os escravizados muitas vezes eram obrigados a participarem dos cultos.
  • Casas de Trabalhadores Livres: pequenas e simples habitações onde viviam os trabalhadores livres do engenho. Geralmente eram empregados especializados como carpinteiros, mestre de açúcar, etc.
  • Curral: abrigava os animais usados nos engenhos, seja para o transporte (produtos e pessoas), nas moendas de tração animal ou para alimentação da população.
Como eram transportadas as canas de açúcar
Moenda movida por tração animal e pessoas escravizadas. Engenho de açúcar, de Guilherme Piso, 1648

Funcionamento dos engenhos coloniais

Primeiro, as canas eram cultivadas em grandes extensões de terra (latifúndios), depois colhidas e levadas para a moenda, local em que era produzido caldo de cana.

Após esse processo, o produto era levado para as caldeiras e, em seguida, para a fornalha. Por conseguinte, o melaço da cana era colocado em formas e uma vez cristalizado era conhecido como pão de açúcar. Finalmente, era refinado na casa de purgar e ensacado para ser transportado.

Parte dele, e sobretudo do açúcar mascavo (que não passava pelo processo de refino) era destinado ao comércio interno. No entanto, a maior parte da produção era enviada para abastecer o mercado europeu.

Devido a sua estrutura e a grande quantidade de mão de obra, os engenhos eram considerados “pequenas cidades”. No final do século XVII, já existiam cerca de 500 engenhos no Brasil, sobretudo na região nordeste.

A partir do século XVIII, o açúcar entrou em decadência, com a concorrência realizada por britânicos, holandeses e franceses nas suas colônicas do Caribe.

Além disso, foram descobertas jazidas de ouro, que deram início ao Ciclo do Ouro no Brasil e, aos poucos, vários engenhos de açúcar foram desativados.

O trabalho dos escravizados nos engenhos

As pessoas escravizadas representavam a principal mão de obra nos engenhos açucareiros (cerca de 80%) e não recebiam salários. Embora a maior parte fosses oriundos da África, muitos escravizados indígenas atuaram nos engenhos coloniais.

Além de trabalharem longas jornadas, viviam em péssimas condições, vestiam trapos, eram açoitados pelos capatazes e se alimentavam muito mal. Trabalhavam tanto na produção da cana, como nas casas senhoriais, ocupando-se da cozinha, faxina, criação dos filhos do senhor, etc.

Saiba mais sobre o tema, com a leitura dos artigos:

  • Capitanias Hereditárias
  • Brasil Colônia
  • Ciclo da Cana-de-Açúcar
  • Escravidão no Brasil
  • Escravidão Indígena no Brasil Colonial

Como eram transportadas as canas de açúcar

Bacharelada e Licenciada em História, pela PUC-RJ. Especialista em Relações Internacionais, pelo Unilasalle-RJ. Mestre em História da América Latina e União Europeia pela Universidade de Alcalá, Espanha.

Qual era a mão de obra utilizada na época de cana

Os engenhos eram unidades produtivas que estruturaram boa parte da sociedade colonial. Eram instalados em latifúndios, concedidos a donatários pelo Império Português por meio sistema de sesmarias. A mão de obra utilizada era predominantemente escravagista.

Como era o processo de cana

Funcionamento dos engenhos coloniais Primeiro, as canas eram cultivadas em grandes extensões de terra (latifúndios), depois colhidas e levadas para a moenda, local em que era produzido caldo de cana. Após esse processo, o produto era levado para as caldeiras e, em seguida, para a fornalha.

Como era realizado o corte de cana

Tradicionalmente a colheita de cana-de-açúcar foi feita a mão, mas passou por rápida mudança para a colheita mecânica na última década, sobretudo em função de legislação que restringe o uso da queimada [Braunbeck e Magalhães (2010)].

Como funciona um engenho de cana

O engenho, a grande propriedade produtora de açúcar, era constituído, basicamente, por dois grandes setores: o agrícola - formado pelos canaviais -, e o de beneficiamento - a casa-do-engenho, onde a cana-de-açúcar era transformada em açúcar e aguardente.