Evandro do dendê foi inspirado em quem

RIO - Fernando Gomes de Freitas, o Fernandinho Guarabu, de 40 anos, foi morto na manhã desta quinta-feira durante uma operação da Polícia Militar no Morro do Dendê, na Ilha do Governador, na Zona Norte do Rio. Há 15 anos no comando da venda de drogas na comunidade, ele foi o traficante que por mais tempo ocupou essa posição em uma favela do Rio. Até abril deste ano, havia contra ele 14 mandados de prisão expedidos pela Justiça por tráfico de drogas, homicídio e outros crimes. Entretanto, Guarabu nunca foi detido - embora tenha sido alvo de diversos cercos na última década.

- Vamos voltar até encontrar ele. Esse reinado vai acabar - afirmou o chefe da Delegacia de Combate às Drogas após uma operação no Morro do Dendê realizada em 2008.

Investigações do Ministério Público do Rio e da Secretaria Estadual de Polícia Civil indicam que Guarabu se associou a milicianos há cerca de três anos para cobrar taxas de motoristas de vans e kombis na Ilha do Governador. Ao todo, o traficante tinha 13 linhas sob seu controle, às quais lhe pagavam semanalmente uma taxa para poderem operar na região. O valor cobrado de cada motorista era R$ 330. Estima-se que a exploração de 500 cooperativados tenha rendido à quadrilha R$ 27 milhões entre 2013 e 2017.

Ainda em 2008, Guarabu faturava apenas com a exploração do chamado "gatonet" cerca de R$ 1,4 milhão por ano e outros R$ 2,8 milhões com a cobrança de pedágio das vans que circulavam na Ilha, que já acontecia à época.

Já trabalhos conduzidos pelo Grupo de Ação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público revelaram que o bandido forçava pescadores da Baía de Guanabara a transportar armas e drogas. Guarabu chegou a criar um depósito temporário para os itens na Ilha Seca, perto do bairro da Ribeira, na Ilha do Governador. Ele também é acusado de cobrar taxas dos comerciantes que vendiam botijões de gás e dos fornecedores de serviços clandestinos de TV a cabo e internet na região.

Em junho de 2007, um tiroteio entre membros do bando de Guarabu e policiais causou o fechamento de uma das pistas do Aeroporto Internacional Tom Jobim. Foi a primeira vez que isso aconteceu devido a uma ocorrência policial. Cinco anos depois, os motoqueiros foram proibidos de circular de capacete na Ilha, por conta do medo do traficante de ter sua área invadida por um bando rival.

Intolerância religiosa

Fernandinho Guarabu frequentava a Assembleia de Deus Ministério Monte Sinai desde 2006 e tinha uma tatuagem com o nome de Jesus Cristo no antebraço direito, além de várias bíblias em casa. Em 2013, quem fosse visto andando de branco pela favela era "convidado a sair" pelos bandidos que controlavam a área.

De acordo com relatos, Guarabu ordenou que dizeres bíblicos fossem escritos nos muros da favela, determinou o fechamento de 10 terreiros que existiam na área e proibiu qualquer manifestação relacionada a umbanda ou candomblé na comunidade.

- Fernandinho proibiu terreiro mesmo. Ele diz que traz energia negativa na favela - disse à polícia à época um olheiro do tráfico preso pela polícia.

O traficante controlava a venda de drogas na região desde meados de 2004, quando assumiu as bocas de fumo do Dendê após uma guerra iniciada em outubro de 2003 e que resultou na morte de mais de 30 pessoas. À época, houve um racha entre os bandidos ligados a Romildo Souza Costa, o Miltinho do Dendê, responsável pelo tráfico na área até então.

Nome vem de localidade da região

O nome Guarabu é utilizado pelos moradores da Ilha do Governador para se referir ao bairro oficialmente conhecido como Jardim Carioca, onde cerca de 25 mil pessoas vivem em aproximadamente 4 mil imóveis - de acordo com dados da prefeitura. Também há uma comunidade com esse nome na região. A área delimitada por Estrada do Galeão, Estrada da Cacuia, Avenida Maestro Paulo Silva e pelo bairro do Tauá tem quatro escolas municipais e abriga o Morro do Dendê.

Onze anos atrás, o Complexo do Dendê já era apontado pela polícia como maior ponto de venda de drogas da Ilha do Governador. À época, cadernos com a contabilidade do tráfico localizados na região indicavam movimentação de mais de R$ 230 mil pelo tráfico, que operava com três pontos de venda. Em uma sexta-feira, a venda de cocaína e maconha chegava a gerar R$ 8.400 para os bandidos.

Em 16 de maio de 2014, PMs do 17º batalhão sequestraram dois grupos de traficantes, um deles com dois homens oriundos do Morro do Dendê. Os militares exigiram R$ 300 mil para libertação dos bandidos, que saíam da Ilha do Governador em um Ecosport vermelho no momento do rapto. Guarabu negociou o resgaste dos comparsas.

O crime foi descoberto e, em 9 de outubro daquele ano, o comandante do batalhão Dayzer Maciel e 16 agentes lotados na unidade foram presos na operação Ave de Rapina, feita pela PM em parceria com o Ministério Público. Além do sequestro, eles foram acusados de envolvimento com o tráfico de drogas.

Denúncia resultou em operação

A operação policial que resultou na morte de Guarabu foi fruto de uma denúncia de que bandidos se reuniriam na comunidade recebida pela PM. Agentes dos batalhões de Operações Especiais (Bope), de Polícia de Choque (BpChq), de Ações com Cães (BAC) e do Grupamento aeromóvel (GAM) participaram da ação, com equipes no Morro do Dendê e nas comunidades Praia do Rosa e Guarabu.

Batizada de "Repugnare criminis" (Para lutar contra o crime, em latim), ela resultou na apreensão de um fuzil, quatro pistolas, granadas, drogas, carregadores, radiotransmissores e também cadernos com anotações do tráfico até as 9h. Além dos bandidos, dois PMs acusados de envolvimento com o tráfico são alvos de mandados de busca e apreensão a serem cumpridos pela operação.

Atualmente, o Disque-Denúncia oferecia recompensa de R$ 30 mil por informações que levassem à prisão de Guarabu. Até março de 2017, o valor era de R$ 10 mil, mas foi triplicado após uma investigação no ano seguinte revelar que o traficante pagava propina a, pelo menos, 19 PMs do 17º Batalhão (Ilha do Governador).

No último mês de novembro, o traficante foi apontado como mandante da morte do major Alan de Luna Freire, que servia no batalhão da Ilha e foi executado com com mais de 20 tiros quando saía de casa, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. No começo daquele mês, Luna participara de uma operação na comunidade, junto com a Polícia Civil, na qual dois seguranças do bandido foram mortos.

Quem foi o Evandro do Dendê na vida real?

Marcelo Soares de Medeiros, mais conhecido por Marcelo PQD, é um traficante de drogas e armas do Rio de Janeiro.

De quem é a história de Impuros?

A trama de Impuros se passa no Rio de Janeiro, em meados dos anos 90. Nesse interím, acompanhamos Evandro do Dendê, um jovem da favela carioca que tem como objetivo, chegar aos 18 anos ganhando o próprio dinheiro de forma honesta. Mas, tudo muda quando seu irmão – que é traficante – é morto por policiais.

Quem comanda a favela do Dendê?

Criminalidade. Um dos complexos de favelas mais perigosos do Rio de Janeiro, é dominada pelo tráfico de drogas. Foi comandado durante décadas pelos traficantes Marcelo PQD, e Fernandinho Guarabu. O território está nas mãos de outros traficantes, desde a prisão de PQD.

Qual é a facção do Morro do Dendê?

Histórico. Marcos Vinicius dos Santos, o Chapola é ligado à facção Comando Vermelho e faz parte do tráfico de drogas que no Morro do Dendê, na Ilha do Governador, Zona Norte do Rio de Janeiro.