O que os portugueses buscavam na costa africana?

O Projeto Colonial Escravista de Portugal na África

Na primeira metade do século XV os europeus portugueses realizaram as primeiras expedições de exploração na costa atlântica do continente africano a partir da ocupação de Ceuta em 1415. Essas expedições financiadas pelos reis cristãos associados a mercadores tinham o principal objetivo de chegar às minas de ouro que era comercializado pelos povos tuaregues e berberes do norte da África. Além disso, buscavam um caminho para as Índias que permitissem quebrar o controle dos comerciantes italianos sobre o mar Mediterrâneo. As mercadorias que chegavam do Oriente, como tecidos e especiarias, eram as mais lucrativas, e o ouro, que Portugal não tinha, era fundamental nessas trocas.

No entanto, cabe ressaltar que a idéia de um reino fundado no cristianismo fazia com que os governantes portugueses assumissem a missão de converter ao catolicismo os povos considerados pagãos, isto é, que não reconheciam a religião católica. A expansão das fronteiras portuguesas a partir da conquista dos mares e o domínio e a exploração da costa africana e americana ia sendo justificada com o domínio sobre os povos e as terras por estarem levando a eles a palavra de Deus e a possibilidade de salvação das almas. Além de lucrar com o comércio, Portugal se fortalecia diante da Igreja e diante de Deus.

O cristianismo legitimou o poder europeu na exploração da costa africana e no caso da África e do Brasil, o de Portugal, na medida em que os portugueses aportavam na costa atlântica africana, negociavam com as populações locais e seqüestravam as pessoas que chegavam às praias, levando-as aos seus navios para serem vendidas como escravas. Tal ato era justificado pelo fato de que os africanos eram considerados como povos infiéis, ou seja, seguidores de Maomé, considerados inimigos e, portanto, podiam ser escravizados. Já os povos não islamizados, não eram inimigos mas, considerados como pagãos ou ignorantes da leis de Deus, que  também podiam ser escravizados, e se convertessem ao cristianismo podiam ter a chance de salvar suas almas na outra vida.

E assim deu-se o inicio da colonização, com a ocupação dos  territórios das ilhas desabitadas como Cabo Verde e São Tomé, cuja população foi constituída basicamente por africanos, de procedências diversas e subordinados aos portugueses e mestiços que nelas nasciam,   diferentemente das ilhas de Açores e Madeira, ocupadas anteriormente por imigrantes portugueses que para lá migraram e introduziram a plantação da cana de açúcar.

No fim do século XV, já havia plantações de cana e engenhos de açúcar nessas ilhas e, assim como Luanda, foram estabelecidos aí quartéis-generais, pontos estratégicos, de onde os portugueses atuaram no comércio de escravos com as sociedades africanas.

Nessa região, com plantas importadas como a cana sacarina trazida da Índia e adaptada nas ilhas dos Açores e Madeira e com as tecnologias adaptadas ao novo meio-ambiente, os empresários portugueses elaboram o modelo de produção econômica do engenho produtor de açúcar, que foi a base da exploração colonial a partir do século XVI. Os portugueses foram os pioneiros na exploração da costa atlântica africana, seguidos depois por ingleses, franceses, holandeses, como também na montagem de um sistema de produção de açúcar, baseado no trabalho escravo que se espalhou por toda a América.

Os homens e mulheres africanos transplantados para o Brasil na condição de escravos vieram, sobretudo, de duas regiões do continente africano: a costa da Mina e a costa de Angola, foram as regiões que mais se envolveram no tráfico transatlântico de escravos, ambas comerciando seres humanos capturados inicialmente na costa litorânea e, posteriormente no interior do continente.

O que os portugueses buscavam na costa africana?
As feitorias portuguesas eram entrepostos comerciais fortificados que buscavam lucro através de metais preciosos e especiarias. Créditos: Francisco Anzola / Montagem: Eudes Bezerra.

As feitorias eram entrepostos comerciais fortificados que buscavam lucro através de metais preciosos e especiarias. Os portugueses foram os pioneiros nesse modelo mercantil que contava com acordos realizados com diversos reis e rainhas de reinos africanos poderosos.

Sem penetrar profundamente no território africano, os portugueses foram estabelecendo na costa uma série de feitorias, que eram postos fortificados de comércio; isso indicava a existência de uma situação em que as trocas comerciais eram precárias, exigindo a garantia das armas. (FAUSTO, 2015, p. 27)

Nota: Algumas partes podem soar repetitivas para algumas pessoas, mas é intencional (para melhor assimilar as informações).

Boa leitura!

TÓPICOS SOBRE AS FEITORIAS PORTUGUESAS

1. O que eram as feitorias?
2. A instalação de feitorias pelos portugueses
3. Relação dos monarcas portugueses e africanos
4. Feitorias na costa africana rumo às Índias
5. Feitorias portuguesas nas ilhas do Oceano Atlântico
6. O que eram as especiarias?
Referências

1. O QUE ERAM AS FEITORIAS?

As feitorias eram estabelecimentos comerciais, geralmente fortificados, e estabelecidos em regiões costeiras com fácil entrada e saída de embarcações, sendo o que hoje seria parecido com uma zona portuária.

Eram gerenciadas pelos feitores (nobres de confiança do rei) que comercializavam produtos com os comerciantes e traficantes da localidade.

Tratavam-se também de armazéns onde as mercadorias — especiarias e, se possível, ouro — eram estocados em grandes quantidades até o embarque em navios para o seu devido rumo.

Ainda, muitas feitorias passaram a comercializar escravos no extremamente lucrativo tráfico negreiro internacional, abastecendo diversas metrópoles (potências europeias) para os mais devidos fins de ordem mercantilista.

Sejam especiarias sejam metais preciosos, as feitorias foram sendo construídas e mantidas com propósitos comerciais que mudaram ao longo do tempo, como a inclusão do tráfico negreiro a partir de 1441 para Europa e posteriormente para América numa escalada estratosférica no século XVI e XVII.

Forte de São Jorge na atual Gana. Antes de ser convertido em um forte pelos holandeses, foi uma feitoria criada por Portugal em 1482 que ficou conhecida como A Mina, na qual o ouro era a parte mais cobiçada pelos portugueses (e demais potências europeias). Créditos: Francisco Anzola.

2. A INSTALAÇÃO DE FEITORIAS PELOS PORTUGUESES

Os portugueses foram os pioneiros na criação e movimentação de feitorias, visto o seu papel de destaque e pioneirismo na era das Grandes Navegações a partir do século XV.

Além do funcionamento habitual, também representavam pontos de apoio nos quais os comerciantes (burgueses) tinham seus interesses mais bem preservados e protegidos em localidades distantes.

A proteção primordial das feitorias ficava por conta da Coroa portuguesa que fazia acordos com os monarcas africanos das localidades onde as feitorias eram instaladas para segurança e viabilização do comércio entre as partes.

Igualmente, procurava-se evitar confrontos armados visto que o objetivo de Portugal era chegar às Índias e não travar uma guerra em diversas localidades da África.

3. RELAÇÃO DOS MONARCAS PORTUGUESES E AFRICANOS

De certa forma, eram pacíficas e os portugueses bajularam bastante com inúmeros e constantes presentes para reis e rainhas da África Atlântica, para manter o empreendimento (as feitorias).

O comércio, por sua vez, acabava sendo proveitoso para ambos os lados, incluindo o comércio de africanos escravizados em guerras, dívidas ou criminosos (mesma forma de escravidão tida em boa parte do período da República Romana, por exemplo).

Os portugueses, os pioneiros nas feitorias ao longo da costa africana, “entregavam” diversos presentes aos reinos africanos que poucas vezes ou mesmo nada são mencionados, como se não existissem reinos complexos e poderosíssimos na África.

Os impérios do Mali e de Songai, por exemplo, eram reinos seculares que se sucederam, respectivamente, e que já haviam sucedido outro poderoso reino — o Império de Gana —, tendo o Império de Songai perdurado até fins do século XVII.

Interessante ressaltar mais uma vez que as feitorias portuguesas nunca adentravam o interior dos continentes, evitando, assim, expedições mais custosas e possíveis desentendimentos com a população local (marinheiro bêbado faz besteira…).

O Império do Congo era uma potência formidável, complexa e possuía acordos comerciais com diversas cidades, incluindo algumas europeias, que beneficiaram ambos os lados (ao menos inicialmente — até a ascensão definitiva das potências europeias). Créditos: autoria desconhecida.

4. FEITORIAS NA COSTA AFRICANA RUMO ÀS ÍNDIAS

Os portugueses possuíam os mais diversos motivos para chegar às chamadas Índias, como as baixas arrecadações de impostos à Coroa e uma Europa incrivelmente destroçada desde a Crise do Século XIV.

Também havia a incapacidade de concorrer diretamente com cidades riquíssimas e poderosas como, por exemplo, Veneza, e por isso buscaram contornar o continente africano.

O contorno da África, o que não era nem de longe fácil ou barato, tornou-se lucrativo através das diversas feitorias na costa do gigantesco continente, tornando as distâncias cada vez “menores” ao mesmo passo em que a Coroa e os seus financiadores lucravam.

A cada feitoria estabelecida, mais longe a Coroa ibérica alcançava e muitos frutos começaram a ser colhidos ainda no século XV, como algumas das famosas especiarias (o marfim, por exemplo, algo que à época seria de monopólio dos árabes através da venda no Egito).

Um dos grandes desafios ao comércio no mar Mediterrâneo se impôs aos rugidos das Grã-Bombarbas do Império Turco Otomano que em 1453 venceram as aparentemente invencíveis muralhas de Constantinopla, bloqueando ou monopolizando o comércio entre a Europa e o Oriente. Créditos: Fausto Zonaro.

5. FEITORIAS PORTUGUESAS NAS ILHAS DO OCEANO ATLÂNTICO

Bem menos comentadas nesse aspecto, os portugueses também buscaram se empenhar na instalação de feitorias mais bem defendidas em ilhas e arquipélagos com proximidade ora de Portugal ora da costa africana ora dos dois.

Nesses redutos mais isolados, era possível fazer o plantio em larga escala utilizando mão de obra escrava, o que serviu de testes para os futuros empreendimentos maiores de Portugal (e as potências europeias que observavam atentamente).

Entre as ilhas e os arquipélagos, destacam-se as diversas ilhas que foram consecutivamente dominadas por Portugal, como:

  • Ilhas da Madeira em 1420;
  • Ilhas dos Açores por volta de 1427;
  • Ilhas do Cabo Verde em 1460; e
  • Ilha de São Tomé a partir de 1471.

A Ilha de São Tomé (atualmente denominada a República Democrática de São Tomé e Príncipe), localizada no Golfo da Guiné, se tornaria um dos principais pontos de comércio de africanos escravizados a serviço da Coroa portuguesa.

São Tomé, por sua posição estratégica, comercializava levas e mais levas de pessoas escravizadas para trabalharem na América e na Europa, principalmente a partir do século XVII com a decadência do ciclo açucareiro no Brasil.

O tráfico negreiro, na chamada Segunda Escravidão, quando as cores passariam a ser condenatórias. Isto é, a escravidão, diferentemente de tempos atrás, passaria a ter cores que estigmatizariam negros, indígenas, aborígenes e outros grupos durante séculos e que ainda permeia nosso mundo atual. Créditos: autoria desconhecida.

6. O QUE ERAM AS ESPECIARIAS?

Em poucas palavras, as especiarias eram quaisquer coisas raras na Europa Ocidental. Isto é, enquanto se mantivesse o status raridade, poderia ser considerada uma especiaria.

Exemplos clássicos de especiarias:

  • Pimentas;
  • Café;
  • Noz-moscada;
  • Gengibre;
  • Canela; e
  • Cravo.

Para se ter uma ideia, a cana de açúcar foi uma especiaria que com o passar do tempo se tornou algo comum, deixando de pertencer ao seleto (e lucrativo) grupo de especiarias, quando os holandeses suplantaram a produção portuguesa.

O mesmo se poderia falar do tão explorado Pau-Brasil, extraído logo no início da colônia portuguesa do Brasil.

REFERÊNCIA(S):

BRAICK, Patrícia Ramos; MOTA, Myriam Becho. História: das cavernas ao terceiro milênio. 3ª ed. reform. e atual. São Paulo: Moderna, 2007.

FAUSTO, Boris; FAUSTO, Sérgio (colab). História do Brasil. 14ª ed. atual. e ampl., 2º reimpr. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2015.

SCHWARCZ, Lilia Moritz; STARLING, Heloisa Murgel. Brasil: uma biografia. 1ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.

SILVA, Alberto da Costa e. A Enxada e a lança: a África antes dos portugueses. 5ed. rev. e ampl.. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2011.

IMAGEM(NS):
Buscou-se informações para creditar a(s) imagem(ns), contudo, nada foi encontrado. Caso saiba, por gentileza, entrar em contato: [email protected]

O que os portugueses buscavam no continente africano?

O primeiro lugar que os portugueses chegam no continente africano foi em Ceuta, no Norte, em 1415. Em princípio estabeleceram comércio com os povos da região. Os interesses portugueses nesse momento eram principalmente encontrar uma nova rota para as Índias e produtos rentáveis para o mercado europeu.

Qual era o principal objetivo dos portugueses ao explorar a costa africana?

Périplo Africano é o nome de uma série de viagens realizadas pelos portugueses no século XV, inicialmente pelo Mar Mediterrâneo, mas sobretudo pela costa da África. O objetivo era encontrar um caminho alternativo para chegar às Índias e poder trazer os produtos sem ter que comprá-los em Gênova ou Veneza.

O que os europeus procuravam no continente africano?

Desde o século XV, os principais interesses dos europeus na África eram o acesso a mão de obra escrava e a compra de alguns produtos, como o ouro e o marfim.

Quais eram os principais interesses dos portugueses ao iniciarem a navegação ao redor do litoral africano?

Depois de Ceuta, uma série de outras expedições oceânicas foram realizadas, e a prioridade portuguesa foi a de explorar a costa do continente africano. Isso porque os portugueses desejavam encontrar, por meio da costa africana, uma rota que os permitisse alcançar as Índias.