Por que a cidade de Cubatão ganhou destaque como a maior poluidora entre 1970 e 1980?

Localizada no sopé da Serra do Mar, de onde jesuítas, comerciantes, tropeiros, autoridades do reino tomavam fôlego para atingir o Planalto, Cubatão tornou-se essencialmente um lugar de passagem, obtendo assim um papel de destaque no cenário da Baixada Santista, do Estado de São Paulo e do Brasil. O Porto Geral de Cubatão teve a sua origem na primeira metade do século XVIII. Ao seu lado desenvolveu-se um povoado, por muito tempo conhecido por essa denominação. Era ali que as cargas e mercadorias trocavam as balsas que vinham do porto pelo lombo das mulas que formavam as tropas que subiam a Serra do Mar.

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Por pouco tempo (1833-1841) o povoado esteve elevado à categoria de município, período após o qual foi anexado a Santos, mantendo-se praticamente estagnado até a década de 1920, quando surgiram as obras da Usina da Light e da Companhia Santista de Papel. Após 1940, houve a construção da Via Anchieta, culminando com a implantação da Refinaria Presidente Bernardes, inaugurada em 1955, e da Companhia Siderúrgica Paulista, a Cosipa (atual Usiminas), em 1959. A emancipação político-administrativa da cidade ocorreu em 9 de abril de 1949.

Com o passar dos anos, a Cubatão foi se transformando, ganhando indústrias, fruto do desenvolvimento industrial paulistano e paulista, bem como dos investimentos federais.

Nenhum plano orientou a instalação do parque industrial cubatense, porém. As fábricas foram se localizando ao sabor das vantagens imobiliárias ou pré-requisitos necessários às suas operações (perto ou longe de um núcleo urbano, a favor ou contra as correntes de vento, perto ou longe de cursos d’água, etc) e, no decorrer dos anos, começaram a surgir sérios problemas ambientais, com a poluição do ar, água e solo do Município.

Dezoito das atuais 24 indústrias que formam o Pólo de Cubatão foram implantadas no período de 1955 a 1975. Duas dessas indústrias, Ultrafértil e Cosipa, possuem terminais portuários, onde recebem matérias-primas e embarcam seus produtos acabados. Além da geração de empregos, a concentração industrial de Cubatão trouxe resultados importantes do ponto de vista financeiro e do fortalecimento da capacidade tributária municipal. A base de sustentação do Município é, portanto, a arrecadação do ICMS, ficando o IPTU, o ISS e outros tributos diretos em segundo plano, se comparado com o quadro dos demais municípios da Baixada Santista. 

Município é exemplo mundial de recuperação ambiental

Cubatão já foi conhecida mundialmente como “Vale da Morte”, sendo apontada pela ONU como o município mais poluído do mundo. Hoje, esta é uma realidade diferente. O Município é visto como exemplo de planejamento e consciência socioambiental.

Na década de 50, deu-se início a um processo acelerado de industrialização do Brasil e Cubatão, até então, era um paraíso verde. Cercada pela Mata Atlântica, a cidade era rica em recursos naturais, mas estava estrategicamente localizada entre a Capital e do Porto de Santos.

Dez anos depois, Cubatão contava com 18 grandes indústrias. O intenso volume em que trabalhavam começou a gerar consequências catastróficas visíveis e preocupantes: o ar da Cidade na época era denso, possuía cheiro e cor. 30 mil toneladas de poluentes eram lançadas por mês no ar, peixes e pássaros sumiram da poluição de Cubatão, mas o estado só começou a intervir quando os danos à saúde da população começaram a demonstrar números alarmantes. Crianças nasciam mortas, outras apresentavam graves problemas neurológicos e anencefalia e Cubatão era líder em casos de problemas respiratórios no país.

O Estado fez um mapeamento e um estudo das causas da poluição na cidade e, com isso, a partir de 1983 foi implantado um plano de recuperação ambiental. Em 1989, as 320 fontes poluentes que existiam na época já estavam controladas. A volta do guará-vermelho, pássaro típico da região, foi o marco de que a qualidade de vida voltava à cidade. Em 1992, Cubatão foi apontada pela ONU como Símbolo de Recuperação Ambiental, tendo 98% do nível de poluentes controlados.

SANTOS E CUBATÃO - Cubatão foi a primeira cidade do país a se industrializar. Foi o símbolo da transformação do Brasil rural no Brasil industrial na década de 50. A cidade foi escolhida porque reunia vários atributos. Ficava num vale protegido pela Serra do Mar (o que mais tarde se revelou um pesadelo por dificultar a dispersão de poluentes), tinha abundância de água (a usina Henry Borden foi inaugurada em 1926), e estava no meio do caminho entre o planalto e o porto de Santos, já o maior do país.

Em 1955 foi inaugurada a Refinaria Presidente Bernardes, da Petrobras, e na década seguinte a Cosipa, que atraíram uma série de indústrias que passaram a usar seus subprodutos como insumos ou combustível.

A construção do parque industrial atraiu gente principalmente dos Estados do Norte, Nordeste, e do sul de Minas Gerais. Estima-se que 70% da mão de obra era de fora. Os migrantes passaram a morar nos arredores das futuras unidades industriais — uma delas a Vila Parisi, que chegou a ter milhares de habitantes antes de a população ser removida.

No início da década de 80 as pessoas conviviam com o aumento de doenças pulmonares. Mas o ponto de inflexão foi a percepção do elevado número de crianças recém-nascidas com anencefalia (sem cérebro). “Chegou um momento em que o coveiro do cemitério de Cubatão se recusou a enterrar as crianças com anencefalia, ele ficou muito assustado. Graças à percepção desse homem, Cubatão ganhou atenção nacional e internacionalmente”, diz o biomédico Paulo César Naoum. Ele foi um dos responsáveis por associar a poluição à alta incidência de anencefalia no município, em 1983.

Naoum avaliou quase 500 amostras de sangue da população e constatou que 35% delas estavam intoxicadas por poluentes. Essa intoxicação se manifestava por um aumento do nível de uma hemoglobina alterada chamada metahemoglobina. Baseado nessa constatação ele lançou a hipótese. Se uma mulher tivesse aquele nível de metahemoglobina no primeiro mês de gestação, não chegaria oxigênio suficiente para o desenvolvimento das células do embrião. “Não chegando oxigênio, as células não se dividem. Não se dividindo, não o cérebro não se forma. Foi uma constatação científica rasa e sem contestação”, lembra Naoum, pós-doutor em bioquímica clínica pela Universidade de Cambridge, Inglaterra, e ex-diretor da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de São José do Rio Preto (SP).

A partir daquele momento todo mundo ficou preocupado. “Levamos esses dados em congressos científicos, publicamos em revistas científicas importantes e fizemos chegar às mãos das redes de televisão e jornais”, diz Naoum.

Em 1983 as emissões de material particulado no polo industrial chegavam a alucinantes 363 mil toneladas ao ano, quase mil toneladas por dia. Eram constantes os episódios críticos de poluição do ar na área industrial, que extrapolavam a casa dos 500 mcg/m3 (estado de emergência) por dia. O padrão de qualidade da legislação brasileira para o intervalo de 24 horas é de 150 mcg/m3. Um documentário de uma TV francesa traduziu ao mundo o que isso significava: as crianças da Vila Parisi nunca haviam visto flores nem borboletas, o que deu ao bairro a alcunha de Vale da Morte.

O então governador Franco Montoro criou o programa de controle da poluição ambiental em Cubatão, dividido em projetos, começando com o controle de fontes de poluição do ar, água e solo de maior potencial poluidor, classificadas como primárias, entre 1983 e 1994. As empresas passaram a usar os mesmos filtros das correspondentes no exterior, instalaram lavadores de gases e unidades para tratar efluentes pluviais. Há 20 anos, na Eco 92, a ONU outorgava o selo verde a Cubatão, elegendo a cidade como exemplo de recuperação ambiental.

Segundo a Cetesb, hoje os volumes de emissão de material particulado, o primeiro poluente a ser atacado, são 99% menores em relação aos níveis de 30 anos atrás.

As indústrias já investiram cerca de US$ 1 bilhão em tecnologia para reduzir, controlar e monitorar 320 fontes de poluição. Na década de 80, havia mil reclamações por ano. Hoje são menos de 70. E as licenças de operação passaram a ser renovadas a cada dois anos.

Quando encampou a Cosipa, em 1993, a Usiminas colocou em prática um plano de atualização tecnológica. Os investimentos superaram US$ 480 milhões em equipamentos para controle de resíduos, emissões atmosféricas e efluentes líquidos. Os maquinários instalados reduziram as emissões atmosféricas em mais de 95%. A modernização  logrou à empresa uma série de conquistas, entre as quais o ISO 14001, em 1999, que atesta os mais elevados níveis de gestão ambiental. Outro exemplo: a Petrocoque, que produz coque de petróleo calcinado, destinou

R$ 150 milhões em equipamentos e investe outros R$ 600 mil na manutenção dos sistemas.

(Fernanda Pires | Para o Valor)

Porque Cubatão se destacou como cidade de maior poluição atmosférica entre 1970 e 1980?

11- Por que Cubatão se destacou como cidade de maior poluição atmosférica entre 1970 e 1980? Porque além de ser altamente industrializada, o relevo dificulta a circulação atmosférica, pois a cidade se localiza ao lado da Serra do Mar.

Porque Cubatão foi considerada a cidade mais poluída do mundo?

"Cubatão está localizada em um vale e cercada pela Serra do Mar. A topografia daqui cria um bolsão que não deixa as emissões (de gases) chegarem a um patamar mais alto na atmosfera", explica Marcos Cipriano, da Cetesb. Por isso, pesquisadores descrevem a cidade como "caldeirão" e "estufa".

O que aconteceu em Cubatão em 1980?

Um dos casos mais conhecidos de consequências ambientais negativas da industrialização aconteceu em Cubatão na década de 1980, onde a instalação de indústrias de petróleo, fertilizantes, metais e diversas outras áreas de atuação, sem um controle da emissão de gases, gerou condições extremas de poluição atmosférica e ...

Como a cidade de Cubatão conseguiu vencer a poluição?

Recomeço. O governo do estado convocou a CETESB para que fizesse um mapeamento e estudo das causas da poluição na cidade litorânea, com isso, a partir de 1983 foi implantado um plano de recuperação ambiental. Governantes, industriais e população passaram a trabalhar em conjunto pela recuperação da saúde local.