Quais foram as principais medidas estabelecidas na Constituição de 1791?

A fase da Convenção Nacional da Revolução Francesa marca a tomada de poder a ser realizada pelas camadas populares francesas. Nesse período a tomada das armas para a participação na Batalha de Valmy e a insatisfação dada pelos resultados da monarquia constitucional motivou a convocação de uma Convenção Nacional. Essa nova instituição haveria de elaborar uma nova carta constituinte que viesse a superar os limites do regime anterior.

Refletindo a agitação da época a Convenção foi formada por uma maioria de jacobinos, setor que representava a pequena burguesia e os sans-culottes. Além disso, haviam os girondinos, partido contrário à radicalização do processo revolucionário e defensor das conquistas que prestigiavam os interesses políticos e econômicos da parcela mais abastada da burguesia. Foi a partir desses dois grupos, um mais exaltado e outro conservador, dos quais herdamos os conceitos políticos de “direita” e “esquerda”.

Demonstrando a natureza insurgente dessa nova fase, a Convenção decidiu criar um novo calendário que fixava o dia 22 de setembro de 1792 como o primeiro dia do ano I da República. Abandonando a contagem de tempo instituída pelo calendário cristão, a nova metragem do tempo seria medida por meio de diferentes ciclos agrícolas e naturais. Na verdade, tal medida simbolizava somente a primeira e menor das reviravoltas a serem determinadas pela Convenção.

Em suas primeiras atividades, o novo regime republicano descobriu uma série de documentos que comprovavam as negociações do rei Luis XVI junto à monarquia austríaca para que fosse possível combater o processo revolucionário francês. Em pouco tempo, um processo judicial acusou o rei da França de traição e, mediante grande pressão popular, o os membros da Convenção decidiram condená-lo à guilhotina no dia 21de janeiro de 1793.

A divulgação da notícia pela Europa motivou as monarquias do continente a formarem novas forças que combatessem o quadro político francês. Inglaterra, Áustria, Holanda, Prússia, Espanha, Sardenha e Rússia se mobiliaram em torno da Primeira Coligação. Internamente, os problemas econômicos e as contendas políticas permitiram a formação de uma revolta anti-republicana, estimuladas pelos nobres, por vários habitantes da região da Vendéia.

Para contornar a difícil situação, os membros da Convenção realizaram o decreto de “pátria em perigo” e, logo em seguida, criaram um órgão encarregado da defesa e da ordem interna conhecido como Comitê de Salvação Pública. Para atender os populares permitiu a criação do sufrágio universal, anulou os direitos feudais remanescentes, permitiu a formação de pequenas propriedades e tabelou o preço de todos os gêneros de primeira necessidade.

Entre outras medidas, esse novo governo também defendeu a criação da escola primeira pública e gratuita, a regulação dos salários, o direito de greve e o combate ao estado de miséria que atingisse qualquer cidadão. Apesar de buscar soluções, as medidas tomadas por esse novo regime não conseguiam suportar a crise que atingia a República por quase todos os lados. Dessa forma, entre 1793 e 1794, a perseguição sistemática dos traidores do ideal revolucionário marcou a fase do Terror dentro da revolução.

Enquanto o Comitê de Salvação Nacional buscava resolver os problemas internos, o Tribunal Revolucionário perseguia e condenava à morte qualquer um que viesse a ser visto como desleal à revolução. A ação desenfreada desse órgão instigou vários setores políticos a se voltarem contra um governo capaz de guilhotinar todo aquele que não concordasse com o governo. Não por acaso, mais de 15 mil pessoas, entre girondinos e jacobinos, foram condenadas à morte.

O caos instalado pela atuação política de figuras como Maximilien Robespierre e Saint-Just acabou enfraquecendo o apoio anteriormente concedido pelos sans-culottes. A desordem, a ameaça inimiga e a miséria logo se voltariam contra aqueles que promoviam o derramamento de sangue em nome da revolução. Foi nesse contexto que os oponentes às alas radicais se uniram e conseguiram, em 24 de julho de 1794, derrubar os líderes da convenção.

Tal fato viria a ficar reconhecido como a “reação termidoriana”, que teve o nome inspirado no mês corrente em que aconteceu tal reviravolta política. Com a condenação e morte de Robespierre e Saint-Just os membros da alta burguesia acharam meios para reassumir os destinos da Revolução Francesa. Em pouco tempo, as medidas jacobinas foram anuladas e uma nova constituição – a Constituição do Ano III – deu origem a um novo órgão executivo: o Diretório.

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Inspirada na declaração da independência americana de 1776 e no espírito filosófico do século XVII, a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789 marca o fim do Antigo Regime e o início de uma nova era. Expressamente visada pela Constituição da Vª República, hoje ela faz parte de nossos textos de referência.

A história

A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, juntamente com os decretos de 4 e 11 de agosto de 1789 sobre a supressão dos direitos feudais, é um dos textos fundamentais voltados pela Assembléia Nacional Constituinte, formada em decorrência da reunião dos Estados Gerais.

Adotada em seu princípio antes de 14 de julho de 1789, ela ocasiona a elaboração de inúmeros projetos. Após exaustivos debates, os deputados votam o texto final em 26 de agosto de 1789.

Ela é composta de um preâmbulo e 17 artigos referentes ao indivíduo e à Nação. Ela define direitos "naturais e imprescritíveis" como a liberdade, a propriedade, a segurança e a resistência à opressão. A Declaração reconhece também a igualdade, especialmente perante a lei e a justiça. Por fim, ela reforça o princípio da separação entre os poderes.

Ratificada apenas em 5 de outubro por Luís XVI por pressão da Assembléia e do povo que se dirigiu a Versalhes, ela serve de preâmbulo à primeira Constituição da Revolução Francesa, adotada em 1791. Embora a própria Revolução tenha, em seguida, renegado alguns de seus princípios e elaborado duas outras declarações dos direitos humanos em 1793 e 1795, foi o texto de 26 de agosto de 1789 que se tornou referência para as instituições francesas, principalmente as Constituições de 1852, 1946 e 1958.

No século XIX, a Declaração de 1789 inspira textos similares em numerosos países da Europa e da América Latina. A tradição revolucionária francesa também está presente na Convenção Européia dos Direitos do Homem, assinada em Roma em 4 de novembro de 1950.

O texto

Os representantes do povo francês, reunidos em Assembléia Nacional, considerando que a ignorância, o esquecimento ou o desprezo dos direitos do homem são as únicas causas dos males públicos e da corrupção dos governos, resolveram expor, em uma declaração solene, os direitos naturais, inalienáveis e sagrados do homem, a fim de que essa declaração, constantemente presente junto a todos os membros do corpo social, lembre-lhes permanentemente seus direitos e deveres; a fim de que os atos do poder legislativo e do poder executivo, podendo ser, a todo instante, comparados ao objetivo de qualquer instituição política, sejam por isso mais respeitados; a fim de que as reivindicações dos cidadãos, doravante fundadas em princípios simples e incontestáveis, estejam sempre voltadas para a preservação da Constituição e para a felicidade geral.

Em razão disso, a Assembléia Nacional reconhece e declara, na presença e sob a égide do Ser Supremo, os seguintes direitos do homem e do cidadão:

Art.1.º - Os homens nascem e são livres e iguais em direitos. As distinções sociais só podem ter como fundamento a utilidade comum.

Art. 2.º - A finalidade de toda associação política é a preservação dos direitos naturais e imprescritíveis do homem. Esses direitos são a liberdade, a prosperidade, a segurança e a resistência à opressão.

Art. 3.º - O princípio de toda a soberania reside, essencialmente, na nação. Nenhuma operação, nenhum indivíduo pode exercer autoridade que dela não emane expressamente.

Art. 4.º - A liberdade consiste em poder fazer tudo o que não prejudique o próximo: assim, o exercício dos direitos naturais de cada homem não tem por limites senão aqueles que asseguram aos outros membros da sociedade o gozo dos mesmos direitos. Estes limites só podem ser determinados pela lei.

Art. 5.º - A lei não proíbe senão as ações nocivas à sociedade. Tudo o que não é vedado pela lei não pode ser obstado e ninguém pode ser constrangido a fazer o que ela não ordene.

Art. 6.º - A lei é a expressão da vontade geral. Todos os cidadãos têm o direito de concorrer, pessoalmente ou através de mandatários, para a sua formação. Ela deve ser a mesma para todos, seja para proteger, seja para punir. Todos os cidadãos são iguais a seus olhos e igualmente admissíveis a todas as dignidades, lugares e empregos públicos, segundo a sua capacidade e sem outra distinção que não seja a das suas virtudes e dos seus talentos.

Art. 7.º - Ninguém pode ser acusado, preso ou detido senão nos casos determinados pela lei e de acordo com as formas por esta prescritas. Os que solicitam, expedem, executam ou mandam executar ordens arbitrárias devem ser punidos; mas qualquer cidadão convocado ou detido em virtude da lei deve obedecer imediatamente, caso contrário torna-se culpado de resistência.

Art. 8.º - A lei só deve estabelecer penas estrita e evidentemente necessárias e ninguém pode ser punido senão por força de uma lei estabelecida e promulgada antes do delito e legalmente aplicada.

Art. 9.º - Todo acusado é considerado inocente até ser declarado culpado e, caso seja considerado indispensável prendê-lo, todo o rigor desnecessário à guarda da sua pessoa deverá ser severamente reprimido pela lei.

Art. 10.º - Ninguém pode ser molestado por suas opiniões, incluindo opiniões religiosas, desde que sua manifestação não perturbe a ordem pública estabelecida pela lei.

Art. 11.º - A livre comunicação das idéias e das opiniões é um dos mais preciosos direitos do homem; todo cidadão pode, portanto, falar, escrever,imprimir livremente, respondendo, todavia, pelos abusos dessa liberdade nos termos previstos na lei.

Art. 12.º - A garantia dos direitos do homem e do cidadão necessita de uma força pública; essa força é portanto instituída para benefício de todos, e não para utilidade particular daqueles a quem é confiada.

Art. 13.º - Para a manutenção da força pública e para as despesas de administração é indispensável uma contribuição comum que deve ser dividida entre os cidadãos de acordo com suas possibilidades.

Art. 14.º - Todos os cidadãos têm direito de verificar, por si mesmos ou pelos seus representantes, a necessidade da contribuição pública, de consenti-la livremente, de observar o seu emprego e de lhe fixar a repartição, a coleta, a cobrança e a duração.

Art. 15.º - A sociedade tem o direito de pedir contas a todo agente público pela sua administração.

Art. 16.º - A sociedade em que não esteja assegurada a garantia dos direitos nem estabelecida a separação dos poderes não tem Constituição.

Art. 17.º - Como a propriedade é um direito inviolável e sagrado, ninguém dela pode ser privado, a não ser quando a necessidade pública legalmente comprovada o exigir e sob condição de justa e prévia indenização.

Fonte: www.elysee.fr

Quais as principais medidas estabelecidas na Constituição francesa de 1791?

A Constituição de 1791 reafirmou alguns direitos da Declaração de 1789, como a igualdade, a liberdade e a propriedade. Sendo a primeira Constituição moderna francesa, aboliu privilégios e proclamou uma democracia representativa.

O que foi estabelecido pela Constituição de 1791?

A Constituição francesa de 1791 foi a primeira lei maior da França, resultado direto da Revolução de 1789 e incorpora a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, dentro do princípio constitucionalista de se impor limites ao poder real.

Quais as principais mudanças surgidas com a Constituição de 1791?

As principais mudanças advindas da Constituição Francesa de 1791 foram: o fim do absolutismo, a igualdade jurídica dos cidadãos, a tortura foi abolida, a economia foi tornada livre, a religião estava separada do Estado e também era livre, os bens da Igreja foram confiscados, os poderes foram divididos em Executivo, ...

Quais são os principais pontos da Constituição francesa?

O lema da República é: “Liberdade, Igualdade, Fraternidade”. O seu princípio é: governo do povo, pelo povo e para o povo. A soberania nacional pertence ao povo, que o exerce pelos seus representantes e através do referendo. Nenhum grupo e nenhum indivíduo pode assumir o seu exercício.

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