Quais motivos levaram os portugueses a decisão de investir no cultivo da cana?

Durante as primeiras décadas do período colonial, os portugueses decidiram viabilizar a exploração do espaço colonial com o desenvolvimento da exploração açucareira. A escolha por esse produto se deu, inicialmente, em função da possibilidade de comercialização com o amplo mercado consumidor europeu e as condições climáticas que favoreciam seu plantio no Brasil. Além disso, o domínio português sobre algumas eficientes técnicas de plantio também influíram nesta mesma decisão.

Contudo, apesar de tantas vantagens apresentadas pelo desenvolvimento dessa atividade, a produção açucareira exigia uma complexa infraestrutura que envolvia o uso de grandes propriedades, a farta disponibilidade de mão de obra, manutenção de pastos para animais de tração, extração de madeira e a construção de instalações apropriadas para o beneficiamento da cana-de-açúcar. De fato, a empresa colonial exigia um alto investimento.

Não tendo todo o capital exigido para o negócio, Portugal contou com o auxílio de banqueiros europeus que financiavam uma considerável parte deste empreendimento. Dentre esses financiadores se destacavam os banqueiros holandeses, que, com o passar do tempo, passaram também a intermediar a negociação do produto em diferentes pontos da Europa. Assumindo o papel de atravessadores, acabavam abocanhando uma considerável parcela dos lucros.

O expressivo papel desempenhado pelos holandeses na consolidação da empresa açucareira foi de grande importância para a expansão da classe mercantil daquele país. Além disso, o ritmo de exploração e desenvolvimento dos centros de produção no Brasil provavelmente não teria alcançado o mesmo ritmo sem essa mesma participação do capital holandês. Apesar do bom relacionamento comercial que se desenvolvia entre Portugal e Holanda, essa parceria tomou outros rumos no final do século XVI.

Nesse período, os reinos ibéricos passaram por diversas transformações. Em 1578, o trono português ficou vago mediante a existência de um herdeiro que pudesse assumir o cargo. Com isso, o rei espanhol Filipe II, neto do rei português Dom Manuel I, reivindicou o governo de Portugal, provocando a unificação das coroas portuguesa e espanhola. Mas afinal, de que maneira essa nova configuração política afetou a participação holandesa na exploração do açúcar?

Historicamente, o processo de formação do Estado holandês se desenvolveu entre diversos confrontos contra o domínio político dos espanhóis naquela região. De fato, em 1579 – um ano antes da unificação dos reinos ibéricos – os holandeses proclamaram a sua independência em relação ao trono espanhol. No ano seguinte, quando a Espanha assumiu o governo de Portugal, a Holanda perdeu automaticamente todos os direitos de participação na exploração da economia açucareira.

Dessa maneira, buscando reverter os prejuízos que a retaliação dos espanhóis causava à economia do país, os holandeses decidiram organizar expedições para promover a invasão das terras brasileiras. Tentando inicialmente ocupar a Bahia e depois se fixando na região de Pernambuco, a Holanda passou a controlar diretamente a empresa açucareira no Brasil entre os séculos XVI e XVII.

Não pare agora... Tem mais depois da publicidade ;)

O início da efetiva ocupação territorial da colônia, a partir de 1530, fez com que Portugal estabelecesse sua primeira empresa colonial em terras brasileiras. Em conformidade com sua ação exploratória, Portugal viu na produção do açúcar uma grande possibilidade de ganho comercial. A ausência de metais preciosos e o anterior desenvolvimento de técnicas de plantio nas Ilhas do Atlântico ofereciam condições propícias para a adoção dessa atividade.

Mesmo possuindo tantas vantagens, o governo português ainda contou com o auxílio da burguesia holandesa. Enquanto Portugal explorava economicamente as terras com a criação das plantações e engenhos, os holandeses emprestavam dinheiro e realizavam a distribuição do açúcar no mercado europeu. Tal acordo foi de grande importância para a Coroa Portuguesa, tendo em vista que a mesma não contava com recursos suficientes para investir na atividade.

Para extrair lucro máximo na atividade açucareira, Portugal favoreceu a criação de plantations destinadas ao cultivo de açúcar. Essas plantations consistiam em grandes expansões de terras (latifúndios) controladas por um único proprietário (senhor de engenho). Esse modelo de economia agrícola, orientado pelo interesse metropolitano, acabou impedindo a ascensão de outras atividades para fora dos interesses da economia portuguesa.

Além de restringir a economia, a exploração do açúcar impediu a formação de outras classes sociais intermediárias que não se vinculassem à produção agrícola e ao senhor de engenho. Na base desta pirâmide social estariam os escravos africanos trazidos das possessões coloniais portuguesas na África. Além de oferecerem mão de obra a um baixíssimo custo, o tráfico de escravos africanos constituía outra rentável atividade mercantil à Coroa Portuguesa.

O engenho, centro da produção de açúcar, baseava-se em um modo de organização específica. A sede administrativa do engenho fixava-se na casa-grande, local onde o senhor de engenho, sua família e demais agregados moravam. A senzala era local destinado ao precário abrigo da mão de obra escrava. As terras eram em grande parte utilizadas na formação de plantations, tendo uma pequena parte destinada a uma restrita policultura de subsistência e à extração de madeiras.

Separada do espaço do cultivo da cana, existiam outras instalações que davam conta do processamento da cana-de-açúcar colhida. Na moenda, na casa das caldeiras e na casa de purgar ocorria o beneficiamento de toda a produção recolhida. Esse era um processo inicial para o transporte do açúcar que, ao chegar à Europa, ainda sofreria outros processos de refinamento.

Dessa forma, notamos que a fazenda açucareira representava bem mais que um mero sistema de exploração das terras coloniais. Nesse mesmo espaço rural percebemos a instituição de toda uma sociedade formada por hábitos e costumes próprios. O engenho propiciou um sistema de relações sociais específico, conforme podemos atestar na obra clássica “Casa Grande & Senzala” de Gilberto Freyre. Na qualidade de um espaço dotado de relações específicas, o engenho e o açúcar trouxeram consigo muitos aspectos culturais da sociedade brasileira.

Não pare agora... Tem mais depois da publicidade ;)

Por Rainer Sousa
Mestre em História

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

SOUSA, Rainer Gonçalves. "Açúcar"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/historiab/acucar.htm. Acesso em 08 de dezembro de 2022.

De estudante para estudante


Mande sua pergunta

Quais motivos levaram os portugueses a investir no cultivo da cana?

Os motivos que levaram os portugueses a optarem pela cana foram:.
experiência anterior no cultivo;.
clima e solo favoráveis no Brasil - solo massapê e clima quente e úmido quase que o ano todo;.
domínio das técnicas;.

Por que os portugueses decidiram plantar cana

Portugal decidiu plantar cana-de-açúcar no Brasil por uma série de razões: era uma forma de ocupar o território, impedindo invasões estrangeiras, o solo era adequado, os portugueses já tinham experiência com o cultivo (que já realizavam nos Açores) e era lucrativo comercializar o produto.

Que interesses levaram os portugueses a investir na produção de açúcar na América?

O clima do Brasil também favorecia a planta, permitindo que se desenvolvesse o cultivo em larga escala. Outro motivo importante que levou os portugueses a adotarem a cana-de-açúcar como carro chefe da economia era o alto valor do produto final da cana, o açúcar, no mercado internacional.

Qual foi a importância do cultivo da cana

A cultura da cana-de-açúcar foi escolhida pelos colonizadores devido ao alto valor comercial que o açúcar tinha no mercado internacional. Sendo assim, a produção de açúcar feita por aqui era quase toda exportada para a Europa, sendo privilégio das classes mais altas do continente.