Quais os critérios para escolha de uma candidata a cidade sede olímpica?

Biblio 3W
REVISTA BIBLIOGRÁFICA DE GEOGRAFÍA Y CIENCIAS SOCIALES
Universidad de Barcelona 
ISSN: 1138-9796. Depósito Legal: B. 21.742-98 
Vol. XV, nº 895 (10), 5 de noviembre de 2010

[Serie  documental de Geo Crítica. Cuadernos Críticos de Geografía Humana]

POSTULA��ES BRASILEIRAS AOS JOGOS OL�MPICOS: CONSIDERA��ES ACERCA DA LENDA DO DISTANCIAMENTO ENTRE POL�TICA E MOVIMENTO OL�MPICO

K�tia Rubio
Centro de Estudos Socioculturais do MovimentoHumano
Universidade de S�o Paulo

Recibido: 16 de septiembre de 2010. Aceptado: 30 de septiembre de 2010.

Postula��es brasileiras aos Jogos Ol�mpicos: considera��es acerca da lenda do distanciamento entre pol�tica e movimento ol�mpico (Resumo)

Ao longo do s�culo XX os JogosOl�mpicos se transformaram emum dos principaiseventos culturais do planeta e suaorganiza��odemanda envolvimento direto do poderp�blico e da iniciativa privada. No princ�pio do s�culopassado o poderp�blicoerainteiramente respons�velpelacandidatura e realiza��o do evento. No presente, desde o momento emque a cidade se candidata e apresenta seuprojetoela necessita criar uma infra-estruturaparaviabilizar, no princ�pio, sua postula��o, afirmar sua especificidade e, porfim, viabilizar sua capacidade para realizar o evento. Embora os eventos sejam iniciativas privadas o que se observa � o intenso envolvimento do poder p�blico com um n�vel de transpar�ncia que varia conforme o momento hist�rico e o governo no poder. �O objetivo deste trabalhodiscutir as postula��es brasileiras aos Jogos Ol�mpicos e sua rela��o com as institui��es p�blicas que lhe deram suporte.

Palavras chave: Jogos Ol�mpicos; cidades ol�mpicas; mega eventos esportivos; Rio 2016

Brazilian nominations to the Olympic Games: considerations about the legend of the distance between politics and moviment olympic (Abstract)

Throughout the 20th Century the Olympics have become a major cultural event on the planet and your organization demands the direct involvement of public and private sector. At the beginning of last Century the government was fully responsible for the application and the event. At present, from the moment that the city has applied its design and features it needs to create an infrastructure to enable, in principle, his nomination, affirming its specificity and, ultimately, facilitate its ability to hold the event. Although the events are private initiatives that we see is the intense public involvement with a level of transparency that varies with the historical moment and the government in power. The aim of this paper is to discuss the nominations Brazilian Olympic Games and its relationship with public institutions that gave support.

Key words: Olympic Games; olympic cities; sportive mega events; Rio 2016

Nominaciones brasile�as a los Juegos Ol�mpicos: reflexiones sobre el mito de la separaci�n entre la pol�tica y el movimiento ol�mpico (Resumen)

A lo largo del siglo XX de los Juegos Ol�mpicos se han convertido en un importante evento cultural en el planeta y su organizaci�n exige la participaci�n directa del sector p�blico y privado. A principios del siglo pasado el gobierno era plenamente responsable de la aplicaci�n y el evento. En la actualidad, desde el momento en que la ciudad ha solicitado su dise�o y caracter�sticas que necesita para crear una infraestructura para que, en principio, su nombramiento, la afirmaci�n de su especificidad y, en definitiva, facilitar su capacidad para realizar el evento. Aunque los eventos son iniciativas privadas que vemos es la intensa participaci�n p�blica con un nivel de transparencia que var�a seg�n el momento hist�rico y el gobierno en el poder. El objetivo de este trabajo es discutir las candidaturas de Brasil Juegos Ol�mpicos y su relaci�n con las instituciones p�blicas que dieron su apoyo.

Palabras clave: Juegos Ol�mpicos, ciudades ol�mpicas, mega acontecimientos deportivos; Rio 2016

Nem sempre os Jogos Ol�mpicos foram essa imensa festa que re�ne milhares de atletas de todo o mundo em uma cidade escolhida com anos de anteced�ncia. O que se percebeu desde a sua primeira edi��o em Atenas no ano de 1896 � que todo esse processo exige um grande esfor�o para proporcionar as condi��es para sua realiza��o, tanto do ponto de vista material como humano. Mais do que ter a oportunidade de sediar um evento que atrair� os olhares e a aten��o de investidores e expectadores de todo o mundo, a cidade e o pa�s que sediam os Jogos Ol�mpicos t�m sob sua responsabilidade a ger�ncia de um evento que dura 17 dias e demanda anos de planejamento e execu��o, al�m de investimentos que representam mais do que o PIB de muitas na��es do planeta. A proposta desse artigo � discutir algumas quest�es b�sicas implicadas nessa situa��o, como por exemplo, a influ�ncia exercida pelo poder local e federal, as estrat�gias utilizadas para sensibiliza��o dos envolvidos na sele��o da cidade e os apelos � identidade nacional como forma de sensibiliza��o da popula��o a um projeto que se garante a partir do apoio popular.

Uma cidade ol�mpica e o pa�s que abriga os Jogos Ol�mpicos guardam por muitos anos as marcas de sua realiza��o, seja pelas constru��es esportivas, seja pela altera��o da infra-estrutura, seja ainda pela prepara��o da popula��o local para receber pessoas de todo o mundo� ou pela d�vida que ela deixa para ser paga. Legado Ol�mpico � entendido como a heran�a direta ou indireta em forma de instala��es materiais, de cultura, de ideal, de educa��o, de informa��o, de documenta��o ou de recursos gerados pela realiza��o dos Jogos Ol�mpicos. Na compreens�o do Comit� Ol�mpico Internacional (COI) o plano de legado transformou-se em um dos principais carros-chefe de uma cidade postulante, principalmente depois de elaborada sua Agenda 21 e por entender que os altos custos de prepara��o de uma cidade devem ser revertidos para a sociedade e n�o ficar restritos os usu�rios das instala��es nos dias das competi��es. Desde os anos 1980 o Movimento Ol�mpico considera o meio ambiente como o terceiro pilar do Olimpismo, depois do esporte e da cultura. Para tanto, desenvolveu uma pol�tica de defesa do meio ambiente expressa no �Pacto da Terra�, bem como as a��es de colabora��o com a Rio 92, a organiza��o de Jogos Ol�mpicos �verdes� e a realiza��o de confer�ncias mundiais e regionais sobre o esporte e o meio ambiente.

O conceito de legado abrange seis grandes dimens�es: o econ�mico; o ambiental; informa��o e educa��o; pol�ticas p�blicas e cultura; s�mbolos, mem�ria e hist�ria; e legado de esporte[1]. O legado econ�mico � aquele que pode ser mensurado por diferentes meios como o lucro ou preju�zo. Essa forma de legado est� associada ao planejamento dos Jogos e todos os recursos utilizados para sua realiza��o bem como os benef�cios gerados por eles como o aumento de turismo, a melhoria da qualidade de vida ou o aumento de neg�cios da cidade. O legado ambiental refere-se �s mudan�as significativas por que a cidade sede passa para se adequar �s exig�ncias de realiza��o dos Jogos. Saneamento b�sico e despolui��o podem fazer parte do plano de candidatura de uma cidade e ser�o obras que permanecer�o para a cidade, cuja popula��o poder� usufruir. Diante do desafio de implantar as a��es propostas para o desenvolvimento sustent�vel o Movimento Ol�mpico pensou em um programa de a��o que deve permitir a melhoria das condi��es s�cio-econ�micas, a preserva��o do meio ambiente e dos recursos naturais e o fortalecimento do papel de seus membros na implanta��o dessas a��es. Esses programas de a��o abrangem a melhoria das condi��es s�cio-econ�micas, a conserva��o e gest�o dos recursos para um desenvolvimento sustent�vel e o fortalecimento do papel dos principais grupos envolvidos. Vale ressaltar que consta do documento produzido pelo COI[2]a luta contra a exclus�o, uma vez que para o Movimento Ol�mpico a pr�tica do esporte tem um papel essencial na luta contra a pobreza. Isso os faz crer que as institui��es esportivas devem apoiar prioritariamente o desenvolvimento da pr�tica esportiva nas zonas de maior vulnerabilidade social, apoiando as institui��es p�blicas relacionadas com o esporte a promover a pr�tica esportiva pelos grupos humanos que, por raz�es econ�micos e de g�nero, etnia ou casta, dela se acham exclu�dos. Tais institui��es devem favorecer o desenvolvimento priorit�rio de infra-estrutura e equipamentos esportivos nas zonas mais carentes ou marginalizadas. � por causa dessa preocupa��o que as atividades e instala��es esportivas bem como as competi��es dever�o ser realizadas com a preocupa��o de preservar os lugares, as paisagens, os bens culturais e o conjunto das riquezas naturais de onde elas se realizam. A escolha dos locais para realiz�-las tamb�m dever� ser feita com o cuidado de minimizar o impacto sobre o meio ambiente produzido pelas infra-estruturas que lhes ser�o incorporadas, como vias de circula��o, redes de comunica��es e de fornecimento de eletricidade, constru��o de alojamentos, abastecimento de �gua e de alimentos, lan�amento e tratamento do lixo.

Tem-se observado nas �ltimas d�cadas que a tecnologia instalada para atender �s necessidades dos Jogos Ol�mpicos permanece na cidade gerando benef�cios permanentes. A transfer�ncia dessa tecnologia e sua apropria��o pela comunidade local � outro marco da realiza��o dos Jogos. O legado educacional n�o se mede da mesma forma, porque n�o � material, nem concreto. O legado educacional diz respeito � compreens�o dos ideais ol�mpicos e sua aplica��o no cotidiano tanto da popula��o, quanto na vida dos atletas. As pol�ticas p�blicas e a cultura s�o tamb�m parte das dimens�es do legado. Est�o relacionadas com as inova��es ocorridas na cidade que se expressam na cultura. Incluem-se aqui as novas formas de coopera��o e parcerias que se desenvolvem ao longo do processo de realiza��o dos Jogos, como por exemplo, a forma��o de pessoal para trabalhar no corpo de volunt�rios.

O legado esportivo est� relacionado com toda a heran�a que o pa�s recebe em termos de investimento no desenvolvimento do esporte. Esse investimento n�o est� direcionado apenas ao conjunto de atletas de n�vel ol�mpico, que representam uma pequena parcela do pa�s, mas principalmente aos outros n�veis de praticantes como as crian�as e jovens. As instala��es constru�das para as competi��es, se apropriadas pela comunidade ap�s os Jogos, representam uma importante prova de retorno de investimento de dinheiro p�blico para a popula��o. Os s�mbolos, a mem�ria e a hist�ria dos Jogos Ol�mpicos representam outro importante legado. Isso porque o material produzido fortalece a imagem do evento na mem�ria da popula��o local e de todo o p�blico que participou ou assistiu ao evento. Eles tamb�m representam importante fonte de renda uma vez que s�o utilizados nos produtos comercializados durante a competi��o.

Uma das maneiras mais efetivas de garantir o legado dos Jogos Ol�mpicos para a cidade sede � fazer a popula��o participar do planejamento das obras que ser�o realizadas. Ningu�m melhor do que a pr�pria comunidade para saber o que falta a um bairro, em termos de instala��es, e como elas podem ser utilizadas ap�s as competi��es. O melhor legado para uma cidade � aquele que se incorpora a vida do lugar e proporciona benef�cios para quem o utiliza. Nesse sentido o processo de organiza��o da sociedade pode representar outra importante dimens�o do legado. Aprender a discutir as necessidades da comunidade, enfrentar democraticamente as diferen�as de interesse, mobilizar os parceiros para viabilizar uma proposta s�o experi�ncias �nicas, que podem alterar radicalmente a rela��o da popula��o com seus governantes.

Nos �ltimos anos o legado social dos Jogos Ol�mpicos tem sido discutido por autores de diferentes nacionalidades preocupados com o movimento de seus pa�ses tanto em rela��o � postula��o de cidades � o que gera in�meros gastos (muitas vezes pagos com dinheiro p�blico), como no segundo momento, quando j� se deu a escolha da cidade e as a��es passam a ser executadas[3].

Conforme discutido anteriormente[4] um megaevento se caracteriza por diferentes raz�es que v�o desde suacapacidade de atrairumgranden�mero de participantes de diversas nacionalidades a chamar para si a aten��o da comunidade internacional com o apoio da m�dia global. Embora os custos da postula��o de uma cidade sejam cada vez mais elevados, tanto para uma escala municipal, estadual como federal, os argumentos comumente utilizados s�o os benef�ciospara as comunidades locais, bemcomo uma condi��o privilegiada de proje��o da cidade o que beneficiaria o turismo, promoveria melhoras b�sicas estruturais abrangendo rede de transporte, moradia, instala��esesportivas e novospostos de trabalho[5]. Essa linha de argumento n�o considera, por�m, outras dimens�es do legado de um evento desse porte que abrange a dimens�o social e cultural de um acontecimento eventual, que dura pouco mais de duas semanas, mas que pode promover uma heran�a de longo prazo para a cidade em quest�o.

No caso das cidades ol�mpicas o que se observa � a emerg�ncia de novos espa�os e lugares de destino internacional, objeto de procura mesmo ap�s a realiza��o do evento, superando o contexto imediato da competi��o esportiva[6]. A condi��o tempor�ria do evento leva a um planejamento de ordem imediata para abrigar temporariamente milhares de pessoas, mas que ap�s o evento dever� ser ocupada de forma plena contribuindo para a din�mica de ocupa��o da cidade. Al�m disso, devem abrigarumgranden�mero de pessoas produzindo diferentesatividades, simultaneamente, condi��esque as identificam com os grandescentros urbanos e comodecorr�ncia dessa condi��o abriga importantes representantes do capitalinternacional, capazes de proporcionar o apoionecess�rioparatalrealiza��o.

Aponta Raeder (2010) que a promo��o de eventos � uma estrat�gia utilizada por gestores para atrair capitais. H� uma predile��o pelos eventos de car�ter internacional por conferirem � cidade uma imagem mais qualificada, bem como atrair um tipo de turista com alto poder aquisitivo, dispostos a consumir bens e servi�os locais pagando com moeda forte.

Eventos esportivos ol�mpicos s�o hoje uma atividade essencialmente urbana. O esporte como se conhece na sociedade contempor�nea surgiu em um momento hist�rico marcado por condi��es sociais particulares como a expans�o das cidades, a industrializa��o e o desenvolvimento tecnol�gico. Nesse sentindo, a cidade n�o � mais e apenas o lugar onde circulam as pr�ticas de troca de mercadorias, a venda da m�o de obra ou o espa�o da habita��o. Ela �, no entender de Constantino (1997: 120), "um espa�o de uso desportivo, com diferentes espa�os no tecido urbano, a serem objeto de novas apropria��es e diferentes usos". No entender do autorlugares antesocupadosparaatividadescomerciaisoupatrimoniais (feiras, mercadosouespet�culos) podem hojeserocupadosporpr�ticas l�dico-esportivas.

� interessante observar que embora o legado ol�mpico seja entendido como a heran�a direta ou indireta de tudo aquilo que foi gerado pela realiza��o dos Jogos Ol�mpicos em uma cidade ou pa�s � preciso destacar que mesmo quando realizado mais que uma vez no mesmo espa�o o impacto gerado ser� diferente. Isso porque, conforme Preuss (2007.a) a organiza��o de uma atividade como essa est� diretamente ligada ao momento hist�rico e ambiente geogr�fico em que � realizado, isso porque os legados dos eventos esportivos s�o multifacetados, din�micos e dependentes de fatores globais e locais.

Por que uma cidade postula a condi��o ol�mpica?

Os megaeventos s�o tomados na atualidade como uma estrat�gia para reformular, reordenar e reabilitar espa�os degradados da cidade. Observa-se que obras planejadas e previstas para esse fim demoram anos, sen�o d�cadas, para serem implementadas pelos tr�mites habituais. Os megaeventos passaram a ser usados como o estopim para desencadear essas obras, onerosas aos cofres p�blicos, desestabilizadoras da ordem cotidiana (por alterar fluxo de tr�fego e impedir o acesso entre outros transtornos) e de finalidade discut�vel quando n�o conta com a participa��o popular. Vem da� a considera��o de Cashman (1999; 2002) que considera o envolvimento e compreens�o da popula��o como fundamental para que o evento em si possa deixar para a cidade um legado n�o s� para os habitantes daquele momento como para as demais gera��es que poder�o usufruir da infra-estrutura constru�da para essa finalidade, isso porque a realiza��o de uma edi��o dos Jogos Ol�mpicos pode ocorrer uma �nica vez na hist�ria de uma cidade, ou demorar v�rias d�cadas para voltar a acontecer.

A esseprocesso France & Roche (1998) d�o o nome de imagin�riourbano. Os autores afirmam que os principaisinstrumentos e ve�culos de pol�ticas de transforma��o das cidadescujaimagem se encontra degradada s�o a cria��o de atra��es tur�sticas como a realiza��o de grandesexposi��es art�sticas e a organiza��o de ciclos tem�ticos de atividades culturais oueventosesportivosque permitam a forma��o de uma massacr�tica. Nessa perspectiva, os tr�sprincipaisfocos de atua��o da ind�stria cultural contempor�nea a serem explorados emassocia��ocom os interesses de gestores p�blicos, em ordemprogressiva, seriam o turismo, a m�dia (emespecial a televis�o) e o franchising da organiza��o de eventosesportivoscomo os JogosOl�mpicos. A raz�o de ser dessa estrat�gia reside na necessidade de atua��es de longoprazo, como a constru��oou reforma de obras de infra-estrutura, e no obrigat�rio envolvimento da popula��otanto no que se refere � compreens�o dessas obras, que geram transtorno e desconforto, masque sendo suafinalidade devidamenteesclarecida pode gerarumfortesentimento de cidadania e de perten�acidade restaurada.

Os processos de postula��o de cidades a megaeventos esportivos revelam que em nenhum caso existe de antem�o as condi��es materiais necess�rias para abrig�-los, em se tratando principalmente de Jogos Ol�mpicos e Copa do Mundo de futebol. Na atualidade, qualquer cidade postulante precisa de investimentosquev�o do transportep�blico, passando pelaestrutura de moradia, paraabrigardelega��es e turistas, at� uma sofisticada rede de telecomunica��espara proporcionar a circula��o das imagens e not�cias das competi��es, raz�omaior desses eventos. Isso representa para a cidadecandidata, al�m de uma infra-estruturam�nima, a necessidade de um projeto detalhado de edifica��o das instala��esaindainexistentes, bemcomo da capta��o de recursosparaessefim. Como os JogosOl�mpicosemsi duram apenas pouco mais de duas semanas � precisoconsiderar a preocupa��ocom os investimentosfeitos e o conseq�enteaproveitamento dos equipamentosparausoposterior. H�, portanto, uma preocupa��o porparte do comit� avaliador das cidades candidatas, ligado ao COI, que haja umaproveitamentoporparte da comunidadelocal de todos os benef�ciosdiretos da organiza��o do evento.

Da�, a co-participa��o dos poderes p�blicos nesse processo, contradizendo a m�xima ol�mpica de distanciamento da pol�tica, da ideologia ou do partidarismo nacional em suas a��es.

Dentro do processo de sele��o das cidades postulantes s�o considerados crit�rios e tend�nciaspara avalia��o da cidade que envolve os seguintes itens, conforme aponta Bittencourt (1999): instala��es poliesportivas existentes e sua adapta��o; cria��o de umnovoprojeto ol�mpico; repasse das instala��espara a popula��o; apoio da popula��o civil; estrutura de turismo e de lazer; preocupa��es e a��es relativas ao meio ambiente; mentalidade ecol�gica; sistema de transporteurbano, interurbano e internacional; facilidade de telecomunica��es; seguran�a: mobilidade e evas�o; raio de realiza��o dos eventos, deslocamentos e trajeto p�blico; alinhamento do projetourbanocom o projeto ol�mpico.

Preocupado com as conseq��ncias de um projeto ol�mpico para a cidade, o autor considera que a tentativa de alcan�aressesobjetivos pode gerar um elevado n�vel de gastos para o poder p�blico e uma distor��o na administra��op�blica. Ou seja, o conceito de cidadeol�mpican�o deveria serumargumentopara a busca de recursos, mas o guia paraumplanejamentourbano a partir dos recursoslocaisdispon�veis.

Hoje se assiste a uma acirrada disputapelacondi��o de cidadesede dos JogosOl�mpicos, situa��oque envolve uma grande mobiliza��o p�blica, privada, diplom�tica, pol�tica e tamb�mpopularpara a sensibiliza��o dos avaliadores da postula��o. Se n�o existe a prioriqualquercidadej� estruturada pararealizar os Jogos Ol�mpicos admite-se que todas as postulantes dever�o realizar obras para poder se adequar as demandas do evento. Esse processo n�o exclui a ocorr�ncia de conflitos por parte dos principais interessados nas obras.

Conforme Hiller (2003) h� in�meras raz�esparaqueumeventool�mpico gere conflitosurbanos. A primeira delas, observada desde as primeiras edi��es dos Jogos, � o custofinanceiro e humano das obras necess�rias paraumeventoque durar� poucosdias, mas que ser� altamente intrusivo na vida da popula��o. Apesar de umn�meroconsider�vel de pessoasacharque os JogosOl�mpicoss�oimportantespara a imagem da cidade e suadivulga��o, o projetool�mpico deveria fazerparte da agenda de longoprazo da cidade. A id�ia da realiza��o dos Jogosem sin�o costuma seruniversalmente aceita como uma prioridadeouop��o parasuapopula��o. A segunda seria o per�odo de prepara��o. As datasparainscri��o, depoisinspe��o e porfimescolha da cidadesedeumtemaque envolve umper�odoquechega a durar algunsanos e que mobiliza a aten��o e trabalho de in�meras equipes da postulante. A sensa��o de derrota de v�rias das cidades candidatas leva a umsentimento de frustra��oentre a popula��o e equipes organizadoras que geram discuss�esposterioressobre a validade da mobiliza��o dos recursosempregados e a visibilidade na condu��o do processo. A terceira seria o jogo institucional promovido pelas federa��esesportivasque desejam ver satisfeitas suas reivindica��es emtroca do apoio necess�rio. Essas reivindica��es est�o intimamente relacionadas ao usoposterior das instala��es constru�das bemcomosua administra��o. E porfim, h� uma dificuldade das equipes organizadoras desse tipo de evento emconduzir o processo de planejamento e organiza��o de maneira participativa. O senso de urg�nciaque move o trabalho nessas condi��esleva a umtipo de organiza��o centralizadora e arbitr�riaque pode levar a mobiliza��es populares no sentido de protestarcontra essa forma de administrar a gest�o do neg�cio, como aconteceu no M�xico-1968. Naquela ocasi�o foi realizada uma manifesta��o popularcontra os gastosexcessivos e a corrup��o no gerenciamento das verbaspara a realiza��o dos Jogos. O protesto foi duramente reprimido resultando emumn�meron�o confirmado de mortesque passava de uma centena.

Com o intuito de superar os impactosurbanos causados pelosJogosOl�mpicos, Hiller (2003) prop�e ent�oquatroalternativas: A primeira seria a constru��o de novas estruturas, respons�vel pela transforma��o do espa�o urbano. Espera-se que elas sejam planejadas de maneira a serem incorporadas como�reasespec�fica na infra-estrutura da cidadeparaquen�o sejam tidas como alheias ao projetourbano comoum todo. A segunda seria o desenvolvimento econ�mico. Essa categoria estaria voltada especificamente para a compreens�o dos JogosOl�mpicoscomoumeventogerador de desenvolvimentoecon�mico pormeio do incremento do turismo e pelapromo��o de uma imagempositiva da cidade. O terceiro seria o impacto psicossocial respons�vel pela altera��o de uma imagem da cidade a partir de toda a infra-estrutura realizada e do envolvimento da popula��o nessa realiza��o. Entende-se que isso pode levar a umsentimento de pertencimento ao processocujaresposta pode ser altamentepositiva aos apelos pr�-evento, na ajudarealiza��o, e no p�s-evento, dando finalidade �s instala��es constru�das, ocupando-as com atividades. E finalmente os efeitoscomunit�rios observados no embatepol�tico travado entre as for�as dos v�riosgrupossociais envolvidos na realiza��o do evento, que resultar� no refor�o de velhosdirigentesou na emerg�ncia de novaslideran�as.

Nesse sentido, a avalia��o do legado de uma cidadeol�mpica oscila entre os benef�cios (ou preju�zos) materiais, mensur�veis peloscustos financeiros envolvidos e obras edificadas, e humanos, de quantifica��o mais complexa, por�mineg�vel, que vai da cria��o de umnovoimagin�rio paraespa�osanteriormente constitu�dos � reordena��o dos mecanismos de gerenciamento e controle desses novos espa�os, o quelhes permitir� a atribui��o de novos significados (Rubio, 2005). Dessa maneira, a concep��o de legado transcende a heran�aconcreta herdada porum mega, por�m, breveevento, e se estende a uma concep��omaisamplaque abrange a apropria��osubjetiva dos custos e benef�ciospelacomunidade participante dessa organiza��o. Essa condi��oleva a posteriorapropria��o dos equipamentosurbanos, incorporando-os �s atividades da comunidade, facilitando seuuso.

O legado pol�tico dos Jogos Ol�mpicos

Seria pr�prio afirmar que al�m dessas condi��es h� que se considerar tamb�m o panorama pol�tico do pa�s. Isso porque ap�s candidatar-se como sede a cidade passa a ser alvo de in�meras inspe��es para avaliar sua viabilidade o que leva a uma exposi��o p�blica de suas virtudes (o que � desej�vel a todos) e tamb�m de seus v�cios, problemas e pontos fracos (condi��o indesej�vel a governantes e iniciativa privada envolvida com a realiza��o do evento).

Conforme afirma Vigarello (2002:145) "vis�vel, midi�tico, o esporte � necessariamente pol�tico".

Isso confirma a tend�ncia de aproximar Jogos Ol�mpicos e pol�tica, embora tanto na carta ol�mpica como nos discursos de dirigentes essa aproxima��o seja negada ou mesmo indesejada. A hist�ria do Movimento Ol�mpico demonstra desde o in�cio do s�culo XX o quanto o Comit� Ol�mpico Internacional e o Comit� Organizador dos Jogos estiveram dependentes do poder p�blico para a realiza��o de Jogos Ol�mpicos.

Quando os Jogos Ol�mpicos foram restabelecidos nos idos de 1894 seus idealizadores imaginavam que seu principal objetivo era a promo��o da paz. Assim como outras organiza��es internacionalistas que surgiram nessa �poca o Comit� Ol�mpico Internacional acreditava ser poss�vel buscar a resolu��o de conflitos pelo uso da raz�o e das leis, e n�o pelas armas. Dentro dessa l�gica a competi��o esportivaera uma met�fora do confronto, uma forma racionalizada de conflito, sem o uso da viol�ncia.

Lopez (1992) aponta que desde a primeira edi��o, em 1896, quando ainda o Comit� Ol�mpico Internacional era um agrupamento de aristocratas e nobres apaixonados por uma atividade de pouco impacto social, a impossibilidade de realiza��o da festa ol�mpica sem a participa��o efetiva do Estado. Isso porque instala��es espec�ficas s�o necess�rias para as competi��es e diante dos gastos para sua execu��o � razo�vel acreditar que elas possam se tornar um bem p�blico ap�s sua realiza��o. Em Atenas foram gastos aproximadamente 920 mil dracmas (algo em torno de 380 mil d�lares) para construir o est�dio ol�mpico e demais obras necess�rias a acolher atletas e p�blico. Esse montante foi bancado pelo armador grego George Averoff, residente em Alexandria, no Egito porque a monarquia grega recusou-se a pagar os custos das obras diante de outras necessidades mais urgentes. Ainda assim foi o rei Jorge I quem inaugurou os I Jogos Ol�mpicos da Era Moderna em 06 de abril de 1896, com a presen�a de setenta mil pessoas no est�dio ol�mpico e cerca de cento e cinq�enta mil pessoas nos arredores.

Quando do in�cio dos Jogos Ol�mpicos denominada por Rubio (2010) de fase de estabelecimento o que se observa � que a depend�ncia da estrutura de outros eventos. As edi��es dos JogosOl�mpicos de Paris, Saint Louis e Londres estiveram atreladas a megaeventos da �poca, denominadas Exposi��esUniversais. Essesdoiseventos, no entender de Tzanoudaki (2003), tinham uma rela��odiretacomumprojeto de modernidade que se desenrolaria em uma cidadecom reconhecidas caracter�sticascosmopolitas e tradicionais, contribuindo para o desenvolvimento de um modelo de culturapopularinternacional. Na Exposi��oUniversal de 1900, que, entre outras coisas, inaugurou ummonumentoque simboliza a cidadeat� os diasatuais, conhecidacomoTorre Eiffel, o desinteresse dos organizadorespela competi��o foi t�o acentuado queal�m dos II JogosOl�mpicosn�o constarem do programaoficial da exposi��o foi tamb�m nomeado comoEncontroInternacional de Exerc�ciosF�sicos e Esportes, para indigna��o dos membros do COI e do pr�prio Pierre de Coubertin (Cardoso, 2000). A imposi��o de hor�rios e locaispor parte dos organizadores levou as provas dos Jogos de Paris a serem realizadas emv�rioslocais, emdatasque variaram de 14 de maio a 28 de outubro, per�odo da Exposi��oUniversal.

O mesmo se passou nas duas edi��esseguintes. Embora tivesse ocorrido disputapelarealiza��o dos Jogos de 1904 (Chicago tamb�m postulou essa condi��o) e de 1908 (com Mil�o, Turim, G�nova e Floren�a concorrendo) n�o havia ainda o reconhecimento dos JogosOl�mpicoscomoumevento tradicional e de repercuss�o internacional. As provas eram realizadas comoparte das atividades das Exposi��esUniversais, repletas de outras atividades culturais de diversas partes do mundo. Ou seja, nem Saint Louis nemtampouco Londres viram-se obrigadas a se preparar especificamente parareceber os JogosOl�mpicoscom a constru��o de infra-estruturanecess�ria paraessefim.

J� a cidade de Estocolmo em 1912 n�o contou com a concorr�ncia de nenhuma outracidade e pelaprimeiravezdesde Atenas os Jogos seriam realizados como uma atra��oemsi. Oevento contava tamb�mcom a simpatia da popula��o de umpa�squeera o ber�o de um dos principaismovimentosgin�sticos mundiais. Al�m disso, obteve o apoioincondicional do governo sueco o que facilitou a constru��o das instala��es necess�rias para a realiza��o de uma competi��o que come�ava a assumir grandespropor��es, exigindo uma log�sticapoucousualpara os padr�es da �poca. Est�dios, gin�sios e outroslocais de provas encontraram-se lotados, o que fez render ao COI a quantia de 106.000 coroas, fatoin�ditoat�ent�o.

Entende-se que nesse momento da hist�ria ol�mpica Coubertin era movido pela necessidade de superar as dificuldades de ordem material para a realiza��o dos Jogos Ol�mpicos, nem que para isso fosse necess�rio fazer diferentes concess�es capazes de colocar em cheque os pr�prios valores ol�mpicos. Essa � uma clara demonstra��o da afirma��o falaciosa de que esporte e pol�tica n�o se relacionam.

Mas o legado pol�tico dos Jogos Ol�mpicos n�o se restringe apenas �s dificuldades materiais encontradas na fase de estabelecimento. Diante de seu desenvolvimento, e conseq�ente expans�o, sediar os Jogos passou a ser entendido como a possibilidade de oferecer � cidade sede, e conseq�entemente ao pa�s, a visibilidade internacional que poucos outros eventos eram capazes de dar. Ent�o, mais do que a reuni�o de exc�ntricos milion�rios os J.O. tornaram-se uma quest�o de Estado. Isso pode ser observado na fase de afirma��o[7] quando a B�lgica sediou os Jogos de Antu�rpia, em 1920, alguns meses ap�s o fim da guerra e buscava resgatar n�o apenas a periodicidade dos J.O., mas outros valores que haviam se perdido nos anos de conflito. Uma das raz�es para a escolha dessa sede foi a inten��o de homenagear o pa�s arruinado depois de anos de guerra, igual motivo que levou a B�lgica a se recusar a convidar a Alemanha a participar oficialmente dos Jogos, cabendo ao Comit� Organizador contornar a situa��o criada. Em raz�o disso a �ustria, Hungria, Bulg�ria, Pol�nia e R�ssia, pa�ses tamb�m atingidos pelo conflito, recusaram-se a participar do evento, marcando o primeiro boicote da hist�ria dos Jogos Ol�mpicos[8]. O que se observa naquela situa��o e em outras que vir�o a ocorrer no futuro � o envolvimento direto dos governos nacionais em um evento que n�o se caracteriza como nacional, mas que necessita de todo o amparo do poder p�blico para ser organizado e realizado. Essa constata��o j� se apresenta como forte o suficiente para descaracterizar os J.O. como independentes das quest�es pol�tico-partid�rias dos pa�ses que os abriga.

O que dizer ent�o dos Jogos Ol�mpicos de 1936 realizados no �pice do nazismo? Berlim era a cidade escolhida para sediar os Jogos de 1916, condi��o abortada em fun��o da I Guerra Mundial. Uma das decorr�ncias da derrota foi a exclus�o das competi��es ol�mpicas por 10 anos. O desejo de participa��o nessa competi��o era ainda refor�ada por uma cultura de valoriza��o da atividade gin�stica e esportiva disseminada entre a juventude alem�[9].

Muito embora os Jogos Ol�mpicos de Berlim sejam confundidos com o regime nazista � importante destacar que a postula��o da cidade se deu ainda sob a Rep�blica Constitucional de Weimar. Segundo Salvador (2004), ainda em 1932 o Partido Nacional Socialista se opunha � realiza��o dos Jogos Ol�mpicos em Berlim por causa de seu car�ter cosmopolita e alto custo, al�m das implica��es integradoras e multirraciais. Apenas em janeiro de 1933, com a ascens�o de Hitler ao poder � que essa situa��o se transformou. McComb (2004) aponta que a partir de mar�o de 1933 Hitler aceitou com entusiasmo os Jogos Ol�mpicos em Berlim e afirmou sua determina��o em realizar uma edi��o dos Jogos por entender que eles contribuiriam para favorecer o relacionamento da Alemanha com outras na��es do mundo e tamb�m promoveria o esporte entre a juventude alem�. O legado pol�tico dos Jogos Ol�mpicos de Berlim provoca at� os dias atuais intenso debates entre os estudiosos do tema, principalmente pela impossibilidade de distanciar a realiza��o material da competi��o de todos os objetivos impl�citos implicados nessa tarefa, afirmando a proximidade entre Jogos Ol�mpicos, ideologia e Estado.

Ressalta Cardoso (2000) que os Jogos Ol�mpicos modernos estavam em perfeita sintonia com as id�ias do nacionalismo alem�o: o resgate de valores cl�ssicos e a mescla de espet�culo e paix�o que os Jogos Ol�mpicos conquistaram ao longo do s�culo XX ofereciam a possibilidade de relacion�-lo com a literatura e a arte alem� mais nacionalista. Vale ressaltar que os grandes estudiosos sobre o agonismo grego, bem como as descobertas relacionadas com Ol�mpia e os Jogos Ol�mpicos da Antiguidade eram de origem alem�.

Um dado digno de destaque nesse processo foi a advert�ncia que Henri Bailler-Latour, presidente do COI fez a Hitler, diante da persegui��o exercida contra ao presidente do Comit� organizador Theodore Lewald de origem judia. Em documento publicado afirmava o COI que durante os Jogos Ol�mpicos de Berlim o f�hrer seria um convidado de honra e nada mais, uma vez que os Jogos Ol�mpicos n�o pertenciam ao pa�s da cidade sede, mas ao Movimento Ol�mpico Internacional.

Tal destemor em tratar com chefes de Estado n�o foi visto nas edi��es ol�mpicas de Moscou (1980) e Los Angeles (1984) quando foram protagonizados os maiores boicotes da hist�ria ol�mpica. Embora fossem tentadas iniciativas no sentido de garantir a participa��o de atletas de forma isolada o preceito das representa��es nacionais foi mantido, garantindo para o futuro a continuidade de uma pol�tica secular de representa��es inversas. Ou seja, os membros do COI s�o representantes do Movimento Ol�mpico em seus pa�ses, e n�o representantes nacionais dentro do Comit� Ol�mpico.

As postula��es brasileiras aos Jogos Ol�mpicos

� sabido que no Brasil o esporte foi desenvolvido e organizado pelos militares, o que gerou uma representa��o social da pr�tica esportivo atrelada a uma cultura autorit�ria e centralizadora[10]. Durante os anos do regime militar foi corrente o uso da imagem de atletas vencedores para simbolizar a pujan�a da na��o, para o p�blico interno, e a tentativa de consolidar a id�ia de um pa�s �em desenvolvimento� para o mercado externo, condi��o semelhante de outras na��es mais ou menos democr�ticas. O que de fato se observa, principalmente a partir da perspectiva dos atletas ol�mpicos brasileiros dos anos 1970 e 1980, era a falta de estrutura para competir em situa��o de igualdade com as grandes pot�ncias ol�mpicas internacionais, devendo-se creditar aos pr�prios atletas a supera��o de in�meras barreiras materiais[11].

A primeira aventura ol�mpica brasileira teve in�cio em 1927 quando foram lan�adas as postula��es para os XI Jogos Ol�mpicos que se realizariam em 1936. Naquele momento os Jogos Ol�mpicos haviam deixado de ser uma aventura de exc�ntricos que corriam o mundo para apresentar suas habilidades atl�ticas e j� se mostrava como uma forma de propaganda do pa�s que o sediava. As cidades que apresentaram suas candidaturas na 25� sess�o do COI realizada em M�naco em 1927 foram Alexandria, Barcelona, Budapeste, Helsinque, Lausanne, Mil�o ou Roma e Rio de Janeiro, �nica cidade fora do continente europeu. A quebra da bolsa de valores de Nova Iorque e a conseq�ente recess�o vivida em escala global sem precedentes na hist�ria talvez tenha determinado os rumos da escolha da sede.

O Brasil que tinha sua economia pautada na produ��o cafeeira e viu a perda de mercado consumidor em fun��o da crise econ�mica e tamb�m a ru�na n�o apenas da aristocracia cafeeira, mas tamb�m de todos os que trabalhavam indiretamente com essa produ��o. Esse talvez tenha sido o principal motivo para a desist�ncia da candidatura brasileira que deveria ser oficializada em 1930. Curiosamente o que se observa nesse processo � a entrada da cidade de Berlim entre as candidatas e sua vit�ria, ainda sob a Rep�blica de Weimar (Hill, 1996). A escolha da capital alem� se deu em escrut�nio indireto, devido a aus�ncia de muitos delegados no congresso, e sua concorrente final foi Barcelona, que insatisfeita com o resultado do escrut�nio abrigaria a edi��o dos Jogos Oper�rios de 1936, n�o fosse a eclos�o da Guerra Civil Espanhola, na v�spera da abertura da competi��o. Vale ressaltar a import�ncias desses Jogos no cen�rio internacional daquele momento. Houve edi��es que os Jogos Oper�rios atra�ram mais participantes e p�blico do que os Jogos Ol�mpicos, indicando a for�a do movimento sindical e anarquista da �poca. A realiza��o dos Jogos em Barcelona era uma afirma��o da oposi��o ao franquismo e ao nazismo emergente na Alemanha.

A fragilidade da candidatura brasileira de 1927 reflete a desorganiza��o e conflito da forma��o do Comit� Ol�mpico Brasileiro.

A participa��o efetiva do Brasil no Movimento Ol�mpico, conforme Franceschi Neto (1999), ocorreu em maio de 1913 quando o ent�o ministro do Brasil na Su��a, Raul do Rio Branco, filho do Bar�o de Rio Branco, respons�vel pela resolu��o do conflito territorial relacionado com a anexa��o do Acre, foi convidado pessoalmente por Pierre de Coubertin a participar do Congresso Ol�mpico Internacional em Lausanne e posteriormente a fazer parte do Comit� Ol�mpico Internacional. Embora desconhecesse a realidade do esporte no Brasil os argumentos utilizados por Pierre de Coubertin foram determinantes para que o diplomata brasileiro aceitasse a incumb�ncia: o reconhecimento do Brasil como pot�ncia regional e sua inclus�o no cen�rio internacional j� compartilhado pelas grandes na��es.

Afirma a autora que o diplomata tomou uma atitude de cautela quanto � organiza��o do Movimento Ol�mpico Brasileiro, mas sugeriu a cria��o de um Comit� Ol�mpico Nacional (CON) juntamente com a divulga��o dos ideais ol�mpicos para somente ent�o discutir a participa��o brasileira nos Jogos Ol�mpicos. O Comit� Olympico Nacional, juntamente com a Federa��o Brasileira de Sports que passaria a se chamar Confedera��o Brasileira de Desportos (CBD), foi criado em 8 de junho de 1914, na sede da primeira entidade organizada do esporte brasileiro, a Federa��o Brasileira das Sociedades de Remo, no Rio de Janeiro. Os Jogos Ol�mpicos de Antu�rpia em 1920 levaram a uma mobiliza��o dos dirigentes e atletas para organizar uma equipe que pudesse representar o Brasil. O Comit� Ol�mpico Internacional enviou o convite ao Comit� Ol�mpico Nacional, que por sua vez atribuiu � Confedera��o Brasileira de Desportos a incumb�ncia de preparar os atletas para a competi��o.

A rela��o amistosa entre a CBD e o CON n�o tardou a ser abalada. � poss�vel afirmar que parte das diverg�ncias que marcam essa rela��o esteja no fato de a CBD ter sido organizada como uma entidade ligada ao governo, enquanto o CON nasceu e se desenvolveu como uma entidade de car�ter privado, desatrelado das pol�ticas governamentais[12]. A diverg�ncia fica expl�cita quando da composi��o da delega��o brasileira que foi aos Jogos de Paris, em 1924, que se viu obrigada a fazer uma campanha p�blica para arrecadar fundos para participar dos J.O.

Documento do COB (1977: 56) confirma essa situa��o:

Entretanto a Federa��o Paulista de Atletismo, fundada em fevereiro de 1924, resolveu angariar fundos, por meio de subscri��o p�blica, patrocinada pelo Jornal �O Estado de S�o Paulo� e dentro de algumas semanas obtinha o numer�rio suficiente para as despesas de viagem e de estada da pequena, por�m selecionada, delega��o. E assim, no dia 27 de maio de 1924, embarcaram em Santos, no navio Or�nia e em segunda classe, com destino a Cherbourg, na Fran�a, dez integrantes da sele��o da delega��o paulista de atletismo.

Esses epis�dios e outros interesses levaram os tr�s embaixadores do Olimpismo no Brasil Raul do Rio Branco, Arnaldo Guinle e Jos� Ferreira dos Santos a iniciarem um movimento de cria��o e legaliza��o do Comit� Ol�mpico Brasileiro junto ao Comit� Ol�mpico Internacional. em 1927. Esse movimento atesta as diverg�ncias citadas anteriormente e sugere que a postula��o do Rio de Janeiro teria o objetivo de fortalecer esse grupo. Enquanto Raul do Rio Branco foi convidado pessoalmente por Pierre de Coubertin para compor o COI, Guinle e Santos foram indicados pelo Conde Henri Baillet-Latour, presidente do COI no per�odo de 1925 a 1942, atestando a proximidade desse grupo com a comunidade ol�mpica internacional.

A funda��o efetiva do Comit� Ol�mpico Brasileiro aconteceu em 20 de maio de 1935, sob a coordena��o de Arnaldo Guinle e Jos� Ferreira dos Santos. Essa iniciativa contou com o apoio irrestrito e o incentivo do ent�o presidente do COI Conde Henri de Baillet-Latour. A mesma iniciativa tomou a CBD fundando em 1� de junho de 1935 um segundo COB com o apoio do governo brasileiro. As raz�es que levaram � cria��o do COB foram sintetizadas por Arnaldo Guinle ao evocar o artigo 17� dos estatutos do COI conforme a ata de instala��o e funda��o: N�o t�m raz�o os esp�ritos menos avisados que procuram confundir, em meio �s disen��es esportivas internas as verdadeiras finalidades dos Comit�s que a grande honra de declarar com o apoio das entidades esportivas nacionaes presentes � reuni�o e perfeito entendimento e solidariedade de seus colegas, delegados do C.I.O., no Brasil, fundado e installado[13].

Um dos principais epis�dios das diferen�as entre as duas institui��es se deu nos Jogos de 1936 quando duas delega��es chegaram a Berlim: uma do Comit� Ol�mpico Brasileiro, reconhecida pelo Comit� Ol�mpico Internacional, e outra da Confedera��o Brasileira de Desportos, apoiada pelo governo brasileiro. J� em solo Alem�o, e com a sele��o do COB na Vila Ol�mpica, as duas delega��es entraram em entendimento e registraram todos os 72 atletas brasileiros que l� chegaram. A partir de ent�o houve a unifica��o das institui��es, muito embora os recursos financeiros que sustentaram o COB sempre vieram do governo federal brasileiro.

Foram necess�rios 70 anos para que o Brasil voltasse a sonhar com a condi��o de sede ol�mpica epis�dio que veio a ocorrer com a postula��o de Bras�lia a sede dos Jogos Ol�mpicos de 2000. A candidatura brasileira aos Jogos Ol�mpicos de 2016 come�ou a ser constru�da ainda nos anos 1980. N�o por acaso isso ocorreu em um momento em que se iniciava a abertura democr�tica no pa�s, ap�s mais de 20 anos de ditadura militar.

A curiosidade que envolve a postula��o da cidade de Bras�lia � que esse foi um desejo do ent�o presidente da rep�blica, Fernando Collor de Mello, deposto antes do final do mandato ap�s um processo de impeachment por acusa��es de corrup��o. Bras�lia substituiu a cidade do Rio de Janeiro na condi��o de capital administrativa do pa�s em 1960. Planejada pelo urbanista Lucio Costa e pelo arquiteto Oscar Niemeyer � considerada um patrim�nio cultural da humanidade desde 1987. Fosse pela condi��o recente desse fato ou pelo per�odo hist�rico em que ele ocorreu o que se observa � a raridade de informa��es a respeito das circunst�ncias e do desenrolar dessa postula��o que foi constru�da em 1991, pouco antes do processo de impeachment. Poucos s�o os documentos dispon�veis, restando-nos os informativos que noticiaram o fato.

Inicialmente 8 cidades se candidataram a sediar os Jogos: Pequim (China), Berlim (Alemanha), Istambul (Turquia), Manchester (Inglaterra), Sydney (Austr�lia), Bras�lia (Brasil), Mil�o (It�lia) e Tashkent (Usbequist�o). Entretanto, Bras�lia, Mil�o e Tashkent desistiram do processo de candidatura antes da 101� reuni�o do COI ocorrida na cidade de Monte Carlo ocasi�o em que se escolheu a cidade de Sydney como a sede dos Jogos de 2000.

A quest�o central a ser discutida nessa postula��o � o quanto se sabia ou se conhecia sobre o processo de escolha da cidade ol�mpica ou se essa candidatura foi mais uma entre tantas situa��es bizarras vividas durante esse governo. Logo no in�cio de seu mandato Fernando Collor confiscou o dinheiro da popula��o brasileira a t�tulo de contens�o da infla��o que no per�odo chegava a 100% ao m�s. J� naquele momento as cidades postulantes tinham conhecimento dos requisitos b�sicos para a candidatura, mas ainda assim a not�cia foi divulgada objetivando elevar a auto-estima da popula��o, revoltada e insatisfeita com as medidas tomadas no in�cio do governo.

Conforme aponta mat�ria do Jornal Correio Braziliense (1988) a postula��o de Bras�lia nasceu da id�ia de associar o anivers�rio de 40 anos da capital federal, com as comemora��es dos 500 anos de descobrimento do Brasil. A id�ia de ter Bras�lia como sede ol�mpica nasceu a partir do encontro de duas pessoas ligadas a �rea de marketing esportivo do Banco do Brasil, Heleno Fonseca Lima e M�rcio Contrin, patrocinador de algumas modalidades ol�mpicas brasileiras, representativas do in�cio da profissionaliza��o do esporte brasileiro.

A id�ia ganhou vulto no ano seguinte com a elei��o de Fernando Collor de Mello. O grande financiador desse projeto era ent�o um dos maiores empres�rios da cidade, envolvido diretamente com o setor imobili�rio. Reppold Filho (2007) mostrou em seu trabalho o quanto o setor imobili�rio de uma cidade ol�mpica � mobilizado em fun��o de todas as obras de infra-estrutura, como a vila ol�mpica, os est�dios, piscinas e demais instala��es, necess�rias � realiza��o do evento. Isso faz crer que o projeto ol�mpico Bras�lia 2000, mais do que um projeto p�blico para a cidade significava uma aventura privada, mobilizada por interesses particulares sem base t�cnica para sua realiza��o. Vale ressaltar que essa candidatura n�o contava com o apoio do Comit� Ol�mpico Brasileiro que j� desejava lan�ar a cidade do Rio de Janeiro, antiga capital federal e principal destino tur�stico brasileiro, para esse fim.

Embora a candidatura de Bras�lia n�o tenha tido sucesso ela serviu para despertar o desejo de novas aventuras ol�mpicas por parte de outras cidades brasileiras. Assim que teve in�cio o processo de postula��o para a sede dos Jogos Ol�mpicos de 2004 o Comit� Ol�mpico Brasileiro iniciou sua campanha pela cidade do Rio de Janeiro. Vale ressaltar que nesse momento o presidente do COB j� era Carlos Arthur Nuzman, que permanece no cargo at� o presente. O processo dessa postula��o come�ou no ano de 1996, momento em que o pa�s iniciava um per�odo de estabiliza��o com o primeiro mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso. Depois de d�cadas de instabilidade pol�tica e econ�mica o Brasil parecia rumar para o desenvolvimento com elei��es diretas regulares, a aplica��o do plano real e o fortalecimento da moeda. Por outro lado o esporte, embora constasse como um direito previsto na Constitui��o de 1988[14] era ainda uma atividade pouco valorizada que ora tinha suas atividades reguladas pelo Minist�rio da Educa��o, ora pelo Minist�rio do Turismo, ou ainda pelo Minist�rio da Sa�de.

A primeira iniciativa de organizar o esporte no Brasil ap�s a promulga��o da nova constitui��o veio com a lei 8.672/93[15] que prop�s princ�pios e diretrizes para a organiza��o e funcionamento das entidades esportivas.� Mas foi com a lei 9.615/98[16], conhecida como Lei Pel�, que o esporte come�ou a ganhar visibilidade e espa�o social como uma atividade profissional exigindo da estrutura amadora de ent�o uma reformula��o para a adequa��o ao novo momento do pa�s e do esporte no mundo. Essa condi��o foi refor�ada com a Lei 10.671/03[17], que muito embora tivesse o futebol como maior foco de interven��o permitiu ao esporte ol�mpico desfrutar das mudan�as sugeridas pela lei.

As novas postula��es brasileiras aos Jogos Ol�mpicos foram ent�o influenciadas por esse movimento institucional do esporte. A candidatura do Rio de Janeiro em 2004 teve como maior apelo a voca��o tur�stica da cidade, mas faltava � iniciativa a seriedade e o profissionalismo que sobrava �s demais concorrentes. Nesse momento da hist�ria ol�mpica, talvez mais do que em qualquer outro, a realiza��o dos Jogos Ol�mpicos j� era uma quest�o de Estado, o que fazia mobilizar o poder p�blico e a iniciativa privada no sentido de um projeto que pudesse atender �s exig�ncias do COI que j� aderira a uma id�ia de Jogos sustent�veis, ou seja, a cidade candidata al�m de se adequar ao check list do COI precisa mostrar um plano de legado e sustentabilidade para os equipamentos constru�dos ou reformados. Naquele momento o projeto do Rio de Janeiro estava muito longe dessa sofistica��o e buscou se respaldar na emo��o e na mobiliza��o popular sugerindo que os Jogos fossem mais uma grande festa. A cidade de Atenas foi a escolhida para essa edi��o ol�mpica, mas o sonho ol�mpico n�o se apagou do horizonte dos dirigentes do esporte brasileiro.

A postula��o para os Jogos de 2012 seguiu um caminho distinto das vers�es anteriores buscando desde o primeiro momento o compromisso do poder p�blico ao longo de todo o processo. Nesse sentido abriu-se para as cidades que apresentassem condi��es m�nimas para a realiza��o e organiza��o dos Jogos a possibilidade da postula��o, iniciando um processo de concorr�ncia entre ela, e desta forma, comprometendo o poder p�blico na cria��o do projeto e em sua execu��o. Venceria aquela que apresentasse as melhores condi��es e o plano mais exeq��vel. � fato que apenas a cidade de S�o Paulo e do Rio de Janeiro participaram do processo, ambas mobilizando equipes altamente competentes, com assessores j� reconhecidos pelo trabalho realizado em outras edi��es ol�mpicas como Barcelona e Sydney.

Todo esse processo ocorreu ao longo do primeiro mandato do presidente Luis In�cio Lula da Silva, respons�vel pela cria��o do primeiro Minist�rio do Esporte da hist�ria do pa�s, fato que inegavelmente contribuiu para a transforma��o do esporte, tanto do ponto de institucional como organizativo e perform�tico. Os governos municipais e estaduais envolvidos com a disputa mobilizaram in�meros esfor�os para garantir a postula��o. Foram apresentados projetos como a constru��o de equipamentos p�blicos com posterior utiliza��o para diferentes comunidades, mas, principalmente no caso de S�o Paulo, buscou-se a revitaliza��o de �reas degradadas da cidade ou de pouca ocupa��o. Ainda assim, mais uma vez a escolha recaiu sobre a cidade do Rio de Janeiro. Ainda que todo esse processo tenha apresentado um avan�o sobre as postula��es anteriores o amadorismo na condu��o do processo junto ao Comit� Avaliador e aos delegados votantes levou a mais uma derrota da cidade. Ficava evidente naquele processo que o lobby para a elei��o final era n�o apenas desej�vel quanto necess�rio para o sucesso da escolha e que esse esfor�o n�o se daria apenas pela contrata��o de um corpo t�cnico competente, mas tamb�m com o envolvimento direto de dirigentes governamentais como aconteceu com as candidaturas de Londres e Paris, que contou com os presidentes Tonny Blair e ...... na sess�o plen�ria que decidiu pela cidade vencedora. Os Jogos Ol�mpicos j� n�o pertenciam � comunidade ol�mpica, mas aos olimpianos[18] fossem eles atletas, artistas, escritores ou pol�ticos, capazes de mobilizar a simpatia dos votantes na escolha de sua cidade.

Importante ressaltar a grandiosidade dos custos de uma postula��o. Diante do aparato humano e material mobilizado para esse fim estima-se na casa do milh�o de d�lares os custos de uma postula��o. O termo estima-se � aqui usado em fun��o da n�o publica��o desses gastos por parte dos organizadores, muito embora o COI recomende transpar�ncia aos postulantes, como ocorre com o caso de Londres onde todas as contas est�o disponibilizadas em s�tios eletr�nicos.

O malogro vivido com a postula��o de 2012 n�o seria repetido. Essa afirma��o foi feita em diferentes momentos e de formas distintas. Entenderam os dirigentes ol�mpicos brasileiros que a melhor forma de reverter o argumento de que o Brasil n�o teria compet�ncia para abrigar um megaevento seria realizando algo de vulto. J� se passavam algumas d�cadas desde que Porto Alegre sediara a Univers�ade e S�o Paulo os Jogos Pan-americanos ambos em 1963 (Santiago, 2009). Eventos de car�ter internacional essas competi��es esportivas estavam perdidas na mem�ria de atletas e do p�blico apaixonado pelo esporte que se lembravam daqueles dias que colocaram a cidade em contato com milhares de pessoas vindas de diferentes pa�ses do mundo e da Am�rica Latina, trazendo novas express�es e sotaques para as j� cosmopolitas cidades brasileiras.

Os Jogos de 2016 e a estrat�gia de pertencimento a um novo cen�rio internacional

Esse foi um dos principais motivos para o empenho do Comit� Ol�mpico Brasileiro e do Minist�rio do Esporte, em nome do governo federal, trabalharem pela postula��o da cidade do Rio de Janeiro para sediar os Jogos Pan-americanos de 2007, passaporte para a candidatura aos Jogos de 2016. Pol�mico desde o princ�pio, o projeto dos Jogos Pan-americanos envolveu a constru��o de v�rios equipamentos esportivos como um est�dio, um complexo aqu�tico, uma vila ol�mpica, a reforma de gin�sios e v�rias instala��es tempor�rias sem um projeto de utiliza��o posterior. N�o causa estranheza que essas instala��es, poucos anos depois, estejam em situa��o de abandono, onerando os cofres dos gestores p�blicos, que n�o previram um plano de uso. A presta��o de contas dos Jogos Pan-americanos est� ainda tramitando em diferentes inst�ncias da justi�a brasileira uma vez que tanto o minist�rio p�blico quanto grupos organizados da sociedade civil sentiram-se desrespeitados com a condu��o do processo de licita��o de obras e compras de equipamentos para a realiza��o do evento. Mas, a principal finalidade dos Jogos Pan-americanos foi alcan�ada: despertar o orgulho da popula��o para a realiza��o de uma competi��o de propor��o continental e mostrar para os dirigentes ol�mpicos a compet�ncia para isso.

O Brasil de 2010 � um pa�s distante desse cen�rio dos anos 80. O PIB (Produto Interno Bruto) avan�ou 8,9% entre janeiro e junho de 2010. Em valores absolutos, o PIB brasileiro somou R$ 900,7 bilh�es de abril a junho deste ano. De janeiro a mar�o, a economia acumulou riquezas da ordem de R$ 826,4 bilh�es. De janeiro a junho, a ind�stria cresceu 14,2%, seguida pela agropecu�ria (8,6%) e pelos servi�os (5,7%) (IBGE, 2010). Teriam esses dados contribu�do para escolha da cidade do Rio de Janeiro a sede dos Jogos Ol�mpicos de 2016?

Conforme apontam De Pieri e Del Rio (2009) a vit�ria da cidade do Rio de Janeiro representa muito mais que tudo isso, significa a concretiza��o de uma vis�o estrat�gica brasileira, afirmando a aproxima��o entre estrat�gia pol�tica e esporte. A vit�ria obtida pela atual administra��o reflete a pol�tica ol�mpico/esportiva em concord�ncia com um ac�mulo de pol�ticas de Estado e uma vis�o estrat�gica do pa�s no tempo. Enumeram os autores os fatos que contribuem para essa avalia��o: em pleno ano de crise econ�mica e financeira internacional o pa�s se destacou e apresentou uma s�rie de resultados econ�micos e estrat�gicos, que refletem uma grande cren�a no potencial do pa�s em rela��o ao mundo; ainda no �mbito interno, o Brasil entrar� definitivamente para o seleto grupo de pa�ses exportadores de petr�leo gra�as �s reservas do pr�-sal; ainda no campo da geoestrat�gia, o pa�s est� buscando conv�nios militares para a constru��o de um submarino de propuls�o nuclear e � renova��o de sua frota militar a�rea com o compromisso de transfer�ncia de tecnologia, buscando com isso, aumentar seu potencial dissuasivo, rearticular seu plano de defesa, reativar a ind�stria b�lica nacional e ampliar sua influ�ncia na regi�o e no mundo; o Brasil mudou de posi��o e converteu-se em credor do FMI, diferenciando-se dos pa�ses sul e latino-americanos com grandes ac�mulos de d�vida e, em alguns casos sem acesso ao cr�dito; outro fen�meno que destaca o papel global do Brasil reside na campanha pela reforma do Conselho de Seguran�a das Na��es Unidas onde busca ocupar uma vaga de maneira permanente. Cabe destacar que tal campanha � realizada em conjunto com outras pot�ncias regionais que emergem no globo, como �ndia e Nig�ria ou �frica do Sul, al�m de Jap�o e Alemanha, que depois de longas d�cadas de pot�ncias econ�micas, finalmente buscam quebrar o estigma de haver perdido a Segunda Guerra Mundial. No �mbito da pol�tica internacional, o pa�s vem se destacando como um grande articulador e promotor da multipolaridade. Tem colaborado com a formula��o de uma nova ordem mundial, onde alguns �pa�ses do sul� est�o se unindo e come�ando a ocupar postos muito influentes nas diversas decis�es internacionais, a exemplo disto o BRIC, o IBSA (�ndia, Brasil, �frica do Sul) e o pr�prio G-20.

Trazer os Jogos Ol�mpicos pela primeira vez para a Am�rica do Sul, a segunda na Am�rica Latina, a terceira no hemisf�rio sul representa a confirma��o da condi��o de pot�ncia regional e a afirma��o de uma disposi��o de chamar a aten��o mundial para um pa�s que busca alterar seu lugar na geopol�tica internacional. No discurso proferido imediatamente ap�s a promulga��o da cidade vencedora o presidente Lula falou: �Nossa candidatura n�o � s� nossa, mas tamb�m de toda Am�rica do Sul, de 400 milh�es de habitantes, entre eles 180 milh�es de jovens�. O conte�do latente dessa mensagem busca colocar o Brasil como o catalisador dos desejos latinoamericaos de pertencimento a uma ordem de alinhamento com o desenvolvimento.

Evidente que a escolha da cidade sede depende da rela��o de muitas vari�veis pol�ticas e econ�micas do pa�s e da cidade postulante, bem como da a��o determinada dos v�rios atores pol�ticos nesse cen�rio. Prova dessa disposi��o foi a vota��o, pelo poder legislativo, do Ato Ol�mpico em setembro de 2009, documento que oferece as garantias por parte do Governo Federal para a realiza��o dos Jogos Ol�mpicos e Paraol�mpicos de 2016. Medida de ordem pr�tica, e tamb�m simb�lica, o Ato Ol�mpico demonstra aos dirigentes internacionais a disposi��o do pa�s em receber todos os atores envolvidos no cen�rio das competi��es, sejam eles atletas, t�cnicos, dirigentes e profissionais atuantes diretamente com esse espet�culo, garantia essa que n�o foi dada, por exemplo, por Chicago em fun��o da pol�tica externa estadunidense.

Os Jogos Ol�mpicos representam, na atualidade, muito mais do que a oportunidade do pa�s poder se mostrar para o mundo. Eles representam a possibilidade de gerar neg�cios diretos e indiretos, empregos, circula��o monet�ria, constru��o de equipamentos p�blicos e a constru��o de uma identidade nacional restrita a poucos parceiros, curiosamente, quase todos eles europeus, norte-americanos e asi�ticos emergentes.

Prova do investimento material e pol�tico ensejado nessa empreitada foi a presen�a diante dos delegados votantes do Presidente do Banco Central, Henrique Meireles, que n�o apenas apresentou um relat�rio sobre a estabilidade da economia brasileira, que naquele momento destoava da recess�o vivida por grande parte dos paises capitalistas; o prefeito da cidade do Rio de Janeiro Eduardo Paes e governador do estado do Rio de Janeiro S�rgio Cabral, que mostraram a converg�ncia dos diferentes n�veis de governo em torno do projeto ol�mpico, ainda que perten�am a diferentes partidos pol�ticos; e o ex-presidente da Fifa, Jo�o Havelange, decano do COI e conhecedor, como poucos, das mazelas relacionadas com a postula��o de uma cidade a um megaevento esportivo.

Mas a candidatura brasileira n�o se pautou apenas nas quest�es de ordem objetivas, pelo contr�rio, o principal tema da candidatura carioca foi a paix�o e a voca��o brasileira para o multiculturalismo e a toler�ncia � diferen�a.

Gozando de alto �ndice de popularidade nacional e internacional o presidente Lula foi, inegavelmente, o fator de desequil�brio na vota��o final, que fez uso de um estilo de comunica��o afetivo e emocionado, pouco comum a chefes de Estado e em disputas dessa natureza. A converg�ncia de seu discurso com a campanha de divulga��o de apelo emocional n�o apenas foi percebido pelos membros do plen�rio, como tamb�m exaltado uma vez que tamb�m o COI busca resgatar o componente emocional do esporte perdido em meio ao uso ilimitado de tecnologia e racionaliza��o do gesto t�cnico esportivo.

O discurso do presidente fincou-se basicamente no conceito da cordialidade brasileira promovida por S�rgio Buarque de Holanda, em 1936. O livro, com um not�rio referencial � sociologia weberiana, problematiza como caracter�sticas da hist�ria brasileira, tal qual a coloniza��o dos portugueses (que j� tinham sua peculiaridade para com os outros povos da Europa), fincada basicamente na cultura rural. Analisa como o patriarcado sedimentado nessa cultura, ou o trabalho escravo do africano trazido estritamente para isso, n�o podem ser menosprezados quando se pretende decifrar o que vem a ser o Brasil e seu povo no s�culo XX.

O conceito de cordialidade para Holanda (2006) � tomado como uma contribui��o brasileira para a civiliza��o. Representada pela ilhaneza no trato, a hospitalidade, a generosidade, tomadas como virtude pelos estrangeiros, s�o para o autor tra�o definido do car�ter brasileiro, cunhado na influ�ncia ancestral dos padr�es de conv�vio humano, informados no meio rural e patriarcal. Longe de representarem civilidade ou boas maneiras s�o esses adjetivos express�es leg�timas de conota��o emotiva que tamb�m se configuram ricos e transbordantes. Aponta o autor que nenhum outro povo se distancia mais da no��o ritual�stica da vida do que o brasileiro, visto que a forma de conv�vio social representa o inverso da polidez. Entende que a m�mica deliberada de manifesta��es espont�neas no �homem cordial� � uma forma natural de vida que se converteu em uma esp�cie de f�rmula equivalente a um disfarce que facilita a preserva��o de sua sensibilidade e emo��o.

Por meio de semelhante padroniza��o das formas exteriores da cordialidade, que n�o precisam ser legitimadas para se manifestarem, revela-se um decisivo triunfo do esp�rito sobre a vida. Armado dessa m�scara, o indiv�duo consegue manter sua supremacia ante o social. E, efetivamente, a polidez implica uma presen�a cont�nua e soberana do indiv�duo[19].

Nessa perspectiva, a vida em sociedade representa��o uma forma de liberta��o do pavor que o indiv�duo sente em viver consigo mesmo e responder por seus atos e a��es em diferentes dimens�es de sua exist�ncia, � um viver nos outros. O reflexo dessa constru��o subjetiva se d� em uma esp�cie de avers�o ao ritualismo social o que gera uma rever�ncia prolongada ante um superior, e cuja manifesta��o maior de respeito se d� no desejo de estabelecer intimidade. Nosso temperamento admite f�rmulas de rever�ncia e at� de bom grado, mas quase somente enquanto n�o suprimam de todo a possibilidade de conv�vio mais familiar[20].

As implica��es da cordialidade, entretanto, v�o al�m. Aponta Holanda que o desconhecimento de qualquer forma de conv�vio que n�o seja pautada em uma �tica de fundo emotivo seria talvez um dos aspectos mais singulares da vida do povo brasileiro. Essa condi��o manter-se-ia presente mesmo em atividades onde a racionalidade deveria imperar sobre a emo��o, como � o caso do com�rcio ou as rela��es profissionais de qualquer natureza.

Lira (2010) aponta que ao fazer um discurso apaixonado perante os delegados do COI o principal argumento utilizado pelo presidente Lula consistia em apelar para a identidade do povo brasileiro. Essa identidade � constru�da a partir de uma refer�ncia de mescla multi�tnica que proporciona a boa conviv�ncia com o �diferente�. Um dos filmes produzidos com a finalidade de apresentar a cidade para os votantes tinha como t�tulo �A paix�o nos une� e seu roteiro baseava-se na circula��o de diferentes grupos culturais pela cidade que ao se deslocarem para um ponto de encontro eram efusivamente recepcionados pela popula��o da cidade. Ao longo do percurso esses estrangeiros deparavam-se com elementos da cultura brasileira como a capoeira, o samba, frutas e comidas t�picas. Os participantes, de diferente origens, afirmavam em diferentes idiomas, �a paix�o nos une�. A apoteose se dava na praia, quando todos se encontravam formando os an�is ol�mpicos. Nada mais apaixonado e afetivo, buscando uma afirma��o da identidade nacional.

Trechos do discurso do presidente refor�am essa id�ia:

"somos um povo apaixonado pelo esporte, apaixonado pela vida... n�o s� somos um povo misturado, mas um povo que gosta muito de ser misturado, � o que faz nossa identidade... � hora de acender a pira ol�mpica num pa�s tropical... para o movimento ol�mpico ser� uma oportunidade de sentir o calor do nosso povo, a exuber�ncia da nossa cultura, o sol da nossa alegria... as portas do Brasil est�o abertas para a maior festa da humanidade... os Jogos Ol�mpicos do Rio ser�o inesquec�veis, pois estar�o cheios da paix�o, da alegria e da criatividade do povo brasileiro[21]".

A onda xenof�bica que agra�a o planeta contribui para a boa receptividade de um discurso constru�do com base na pluralidade e na emo��o, embora se saiba que no Brasil o racismo velado e o preconceito encoberto causam danos aos movimentos populares que entre outros obst�culos t�m que lidar com a contrariedade da sociedade em assumir essas quest�es. Mas, ao que tudo indica, o discurso de um pa�s multicultural e multi�tnico casa perfeitamente com o discurso apartid�rio e apol�tico do COI. De um lado a miopia discriminat�ria do outro a cegueira pol�tica. Em tempos de in�meras transforma��es sociais de ordem global permanecem quase intactas id�ias e documentos do s�culo XIX.

Embora a cidade do Rio de Janeiro n�o constasse como a preferida na maioria das casas de apostas o jogo pol�tico dentro do pr�prio COI favoreceu o Brasil, �tima segunda op��o da maioria dos votantes.

Considera��esfinais

Depois de quase um s�culo de tentativas, finalmente uma cidade brasileira sediar� os Jogos Ol�mpicos. Sonho de uns, pesadelo de outros, espera-se diferentes tipos de legado dessa situa��o.

O primeiro deles talvez seja o desejo de ver a popula��o se apropriar de uma situa��o que envolver� vultosas quantias de dinheiro p�blico, dinheiro esse que sair� dos cofres de diferentes minist�rios que viram seus projetos serem alterados em fun��o dessa realiza��o. A participa��o popular pode se dar de diferentes formas que vai desde a manifesta��o sobre o desejo do local e/ou formato dos equipamentos p�blicos a serem constru�dos at� o monitoramento dos gastos realizados. Essa participa��o cidad� poderia dar aos JO do Rio de Janeiro o selo de Jogos Cidad�os, da mesma forma que Sydney ganhou o selo dos Jogos Verdes. A supera��o de um quadro cr�nico de corrup��o nos gastos p�blicos pode ser parte desse legado, sonhado tanto quanto a supera��o da desigualdade social.

O segundo legado pode ser sonhado no �mbito da estrutura��o da pr�tica esportiva propriamente dita, uma vez que se espera do pa�s sede um desempenho exemplar de seus atletas. Nesse sentido, embora tenhamos menos de uma d�cada de trabalho, e considerando a tradi��o de supera��o dos atletas brasileiros, o legado humano esportivo dos JO do Rio de Janeiro pode ser a constru��o de uma pol�tica p�blica para o esporte longeva o suficiente para compensar todos os gastos na constru��o de uma infra-estrutura material e na forma��o de recursos humanos. Isso significa expandir a pr�tica da educa��o f�sica desde o ensino fundamental, ampliar as redes p�blicas de pr�tica esportiva, uma vez que o esporte competitivo no Brasil se desenvolve basicamente dentro de clubes, privando a maioria da popula��o de servi�os de qualidade para o desenvolvimento de uma carreira esportiva. Esse cen�rio mais do que puramente esportivo � pol�tico e se visto por essa �tica os investimentos da postula��o far�o sentido.

O terceiro legado pode ser a afirma��o de uma voca��o multicultural e multi�tnica utilizada de forma oportunista conforme o momento hist�rico. � fato que se comparado a outros pa�ses o Brasil est� longe de apresentar os conflitos de ordem religiosa, �tnica ou cultural que outros pa�ses enfrentam, mas isso n�o garante uma sociedade justa. A supera��o das desigualdades sociais, desafio apontado quase sempre em momento eleitorais, pode tamb�m ganhar destaque nesse momento, uma vez que o acesso a pr�tica esportiva � um dos indicadores de desigualdade.

� ineg�vel o ganho para o COI e para o Brasil sobre a realiza��o dos JO no Rio de Janeiro. Durantemais de ums�culo de atividades esseevento, que cresceu emimport�ncia e empropor��es, tem protagonizado e refletido in�meras quest�es do �mbitointernacional. A visibilidade internacional que os Jogos Ol�mpicos t�m na atualidade imp�e ao MovimentoOl�mpico a responsabilidade sobre as a��es realizadas pelo mundo em seu nome. H� 60 anos os JogosOl�mpicos deixaram de serumeventoeuropeu. Duranteesseper�odo os Jogos de Ver�o percorreram a Oceania, a Am�rica do Norte, a �sia e a Europa e pela primeira vez chegar�o � Am�rica do Sul.

Viu-se no processo de postula��o o envolvimento e a influ�ncia do poder p�blico, em suas mais altas esferas, tanto no processo de postula��o como agora em sua execu��o. Sabe-se que no momento da postula��o a converg�ncia de interesses favorecia o apaziguamento das diferen�as e a supera��o de toda ordem de dificuldade, fosse ela material, ideol�gica ou afetiva. Por�m, passado o momento da ilus�o grupal a sociedade aguarda pela demonstra��o efetiva de um projeto que marque um momento �nico da hist�ria do pa�s, de desenvolvimento sem igual, de afirma��o de uma identidade nacional, da supera��o do alinhamento com os menos desenvolvidos, embora a desigualdade social seja ainda o limite a ser transposto.

Essas quest�es t�o nacionais, e tamb�m t�o universais, fazem parte do atual imagin�rio ol�mpico brasileiro que sonha em ver o pa�s ao lado das grandes pot�ncias n�o do esporte, porque afinal isso � resultado de um processo de longos anos, mas da cidadania.

Notas

[3] Shultis, Johnston & Twynam, 1994; Hodges & Hall, 1996; Lenskyj 2002; Fredline et al., 2003; Misener & Mason, 2006; Preuss, 2007a.; 2007b; 2007.c; Smith & Fox, 2007; Shipway, 2007; Tavares, 2007.

[17] Lei 10.671 de 15 de maio de 2003, publicada no D.O.U., em 16 de maio de 2003.

[21] Lula da Silva, 2009

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[Edición electrónica del texto realizada por Miriam-Hermi Zaar]

© Copyright Kátia Rubio, 2010
© Copyright Biblio3W, 2010


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Quais os critérios para escolha de uma candidata a cidade sede olímpica *?

Critérios de avaliação.
Garantias governamentais: 70%.
Aspectos legais e medidas antidoping: 15%.
Opinião pública: 15%.

Como são selecionados os atletas para as Olimpíadas?

Os atletas são selecionados por seus respectivos CONs, que são responsáveis por apoiá-los e inscrevê-los nos Jogos. O COI envia cartas-convite a todos os CONs um ano antes da Cerimônia de Abertura e esses CONs enviam inscrições para os Jogos que são então aprovadas ou não pelo COI.

Quais os critérios para participar das Olimpíadas?

Basicamente, um esporte é considerado olímpico se for praticado por homens em 75 países, no mínimo, e em quatro continentes. Já no caso das mulheres, se é praticado em 40 países, no mínimo, e em três continentes.

Quais são os critérios analisados na segunda etapa para a escolha da cidade sede dos Jogos Olímpicos Cite 04 critérios?

Segunda etapa da seleção Os assuntos variam entre legado, sustentabilidade, finanças, marketing, aspectos legais, entre outros. Para escolher a cidade mais apta a sediar os próximos Jogos Olímpicos, o Comitê se baseia na Agenda Olímpica 2020.

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