---------- Mensagem encaminhada ---------- Show
Sempre apreciei literatura infantil. Durante a infância até a adolescência, eu li e, muitas vezes, reli inúmeras revista em quadrinhos, livros infantis e recortes de jornais. Ainda hoje, assisto desenhos animados e continuo gostando de literatura para crianças. Naquela época, eu não compreendia a ideologia intrínseca em cada uma daquelas publicações, e mesmo com a “visão de menino”, sabia que naquelas histórias eu não me encontrava - toda criança procura nos personagens uma identificação -, nelas eu apenas me embranquecia e concomitantemente com a discriminação racial vivida, eu vivia mergulhado em crises. Sem perceber, as mensagens simbólicas de poder sempre me colocavam como inferior em uma sociedade branca judaico-cristã. Atualmente, neste afã mercadológico da nova literatura, leio os livros infantis como observador e crítico das mazelas que ocasionam para as crianças pretas, em especial aqueles livros escritos por pessoas que não estão inseridas na realidade dos africanos e seus descendentes no Brasil, nem conosco mantém compromissos étnicos-identitários. Por desafios, aprendi a escrever contos na tentativa de suprir a fantasia dos meus filhos e filhas pretas, quando ao buscar, não encontravam uma literatura adequada e específica para crianças pretas naquele período, desta forma, eu mesmo tive que criar as histórias. Quando meus filhos estavam pequenos, havia uma febre de programas televisivos endereçados a crianças, como a Xuxa e muitos outros. Tais programas exaltavam o imaginário mundo das fadas e princesas européias, a dita beleza dos traços caucasianos, a ilusão da superioridade fenotípica branca e a degradação da figura das pessoas pretas. Não permiti que os meus filhos assistissem a Xuxa e suas Paquitas, e hoje eles me agradecem. Da mesma maneira, nunca presenteei minhas filhas com bonecas de fenótipos europeus, sempre lhes dava bonecos e bonecas pretas, cujos nomes faziam referência a ilustres líderes com Zumbi, ou a belíssimos nomes africanos como Dandara, com as quais elas interagiam umbilicalmente com a pretitude. Dessa maneira, meus filhos aprenderam as suas histórias e se sentiam felizes, refletindo, ainda crianças, sobre a sua origem africana e, desde lá, conscientes de enfrentar com cabeça erguida a vida real de racismo na educação brasileira. Os livros paradidáticos traziam mensagens que não satisfaziam a minha necessidade de informá-los sobre a sua ancestralidade africana e onde eles pudessem ser vistos. Então, comecei a colher informações e usando a criatividade escrevi dezenas de histórias e muitas delas com a participação deles, uma interação de africanidade onde os meus filhos foram participes, proporcionando a eles, hoje, o pertencimento como africanos, uma consciência adquirida desde a tenra infância, através dos contos escritos por mim. A literatura infantil é iconográfica, com representações estéticas raciais, discursos ideológicos e poderosas influências simbólicas. O livro infantil não é pautado na inocência, mas nos interesses e projeções do autor e na
manutenção da submissão daqueles considerados subalternos na sociedade. O livro infantil é a mensagem política do adulto, e sua explicação do mundo para as crianças, e naquele mundo, o preto não ocupa o lugar de poder e desconhece os padrões da ancestralidade. O livro infantil para o povo preto tem que ser considerado como arte-educação-política de literatura libertária para as nossas
crianças. Fonte: http://www.anamariamachado.com/biografia Este livro é conceituado pela crítica nacional e internacional, admirado pela maioria dos professores, e divulgado por uma parcela importante de militantes do MOVIMENTO NEGRO BRASILEIRO, inclusive mulheres, sendo referência pela maioria de professoras pretas. Sobre ele, irei tecer algumas reflexões críticas. A princípio, merece destaque o fato do livro não ser pensando para a comunidade preta, ao contrário, a autora se inspira em sua filha, uma menina branca de ascendência italiana, conforme se pode extrair das informações do seu sitio pessoal na internet. Vejamos: “Este livro, para mim, é uma história que surgiu a partir de uma brincadeira que eu fazia com minha filha recém-nascida de meu segundo casamento.
Seu pai, de ascendência italiana, tem a pele muito mais clara do que a minha e a de meu primeiro marido. Portanto, meus dois filhos mais velhos, Rodrigo e Pedro, são mais morenos que Luísa. Quando ela nasceu, ganhou um coelhinho branco de pelúcia. Até uns dez meses de idade, Luísa quase não tinha cabelo e eu costumava por um lacinho de fita na cabeça dela quando íamos passear, para ficar com cara de menina. Como era muito clarinha, eu brincava com ela, provocando risadas com o coelhinho que lhe
fazia cócegas de leve na barriga, e perguntava (eu fazia uma voz engraçada): “Menina bonita do laço de fita, qual o segredo para ser tão branquinha?” E com outra voz, enquanto ela estava rindo, eu e seus irmãos íamos respondendo o que ia dando na telha: é por que caí no leite, porque comi arroz demais, porque me pintei com giz etc. No fim, outra voz, mais grossa dizia algo do tipo: “Não, nada disso, foi uma avó italiana que deu carne e osso para ela...” Os irmãos riam muito, ela ria, era
divertido. Um dia, ouvindo isso, o pai dela (que é músico) disse que tínhamos quase pronta uma canção com essa brincadeira, ou uma história, e que eu devia escrever.” No primeiro olhar, o livro totalmente inocente conta a história de uma menina pretinha questionada por um coelho branco o porquê da sua cor epitelial, responde simploriamente, frases que a maioria não responderia: - Menina bonita do laço de fita, qual é o teu segredo para ser tão pretinha? A menina não sabia, mas inventou: - Ah deve ser porque eu caí na tinta preta quando era pequenina... As respostas da menina sem nome fazem referências a uma gama de preconceitos incutidos que muitas crianças pretas ouvem para justificar a sua cor de pele. Um dos exemplos, é que as pessoas nascem pretas porque estão sujas: “Cai na tinta preta (o sujo de tinta).” Também é Interessante é a explicação da mãe da menina, outra personagem sem nome, que explica a cor da filha assim: “quando a mãe dela que era uma mulata linda e risonha, resolveu se meter e disse: Observemos que a mãe sem nome e adjetivada como “uma mulata” - fruto da miscigenação - e nós sabemos que o termo mulato não é aceito pelos setores do Movimento Negro por exprimir através da própria sociedade branca escravocrata, o filho considerado híbrido, o homem afeminado em diversos romances da literatura brasileira, a mulher sexualmente fácil, a rejeição da mulher preta. Por outro lado, a idéia de mulatismo agrada as classes dominantes por criar uma sociedade sem conflitos e impor o poder do homem branco sobre as mulheres pretas na construção de uma sociedade na concepção de Gilberto Freire. A mulata sem nome e sem consciência racial explica a cor da menina sendo decorrente das: - Artes de uma avó preta que ela tinha... Quais foram estas artes? A avó preta foi uma mulher arteira, sexualmente falando, que teve relações com um homem branco, sendo estas artes (sexo) o motivo da menina ser preta? As artes são da mulher preta e não do homem branco. O homem branco na sociedade escravocrata brasileira e posteriormente após a escravidão, não faz artes, a responsabilização sempre é das mulheres pretas. Consequentemente, lembremos, que na escravidão, quando diversas mulheres pretas foram estupradas pelos senhores e seus filhos, elas que fizeram as artes. No período pós-abolição, as mulheres pretas continuam a fazer artes e terem os seus filhos “mulatos”. A autora poderia ter usado o termo: - Por causa de um amor que a avó preta dela tinha. Contudo, foi de extremo equivoco a autora explicar a ascendência da menina pretinha envolvendo as artes de uma avó preta e omitir o seu avô branco. O coelho branco, símbolo de fertilidade, é um questionador e acha a menina preta bonita e deseja tornar-se preto. É o homem branco cordial, que “ama o povo preto”, e tenta se tornar preto. Ele faz diversas tentativas e não consegue alterar sua cor epitelial. - Aí o coelho, que era bobinho, mas nem tanto, viu que a mãe da menina devia estar mesmo dizendo a verdade, porque a gente se parece sempre é com os pais, os tios, os avós e até com os parentes tortos. Dentro daquele contesto, ainda não compreendi com clareza o que são parentes tortos. Todavia, através da relação sexual com uma coelhinha preta, completa o seu desejo de uma ninhada multiétnica. Na representação do homem branco cordial e da sociedade sem conflitos raciais: “- E se ele queria ter uma filha pretinha e linda que nem a menina, tinha era que procurar uma coelha preta para casar. O coelho branco sempre é uma graça, lindo e poderoso que encantou a coelhinha preta igual à menina e neste casamento surge uma ninhada de coelhos semelhante à sociedade brasileira: sem graves problemas raciais, na concepção equivocada e maldosa da autora. O que nos chama a atenção é que o coelho branco segue os padrões sociais aceitos e contrai núpcias com a coelhinha preta que o achou uma graça, enquanto a avó da menina faz artes, é a preta arteira, a pecadora, a jezabel. “-Foram namorando, casando e tiveram uma ninhada de filhotes, que coelho quando desanda a ter filhote não para mais! Tinha coelhos de todas as cores: branco, branco malhado de preto, preto malhado de branco e até uma coelha bem pretinha.” As idéias de pluralidade racial, multietnicidade e cordialidade nas mentes das crianças são programadas pela autora, que no âmago do discurso com esta brincadeira para uma criança branca escreve um livro sem nenhuma preocupação com a comunidade preta brasileira, sem quaisquer fundamentos históricos, e reproduz um ideário das elites brancas deste país: Uma civilização brasileira sem conflitos, sem mazelas da escravidão cristã, sem luta de classes, sem importância referencial da África, uma sociedade mestiça, um livro a base do pensamento de Gilberto Freire. Um louvor a mestiçagem, em resumo: um livro “politicamente correto”. O livro nega toda a idéia de construção de relação que devemos ter com a nossa ancestralidade africana, apesar de no seu início sugerir que “Ela ficava parecendo uma princesa das terras da áfrica, ou uma fada do Reino do Luar”. Ela sugere em contraposição a princesa das terras da África à história das fadas brancas do Reino de Luar. Temos que criar nas nossas crianças um referencial apropriado de afrocentricidade, porque o que se coloca neste conto ainda é uma idéia de branqueamento embutido na menina pretinha do laço de fita. Não podemos aceitar a continuidade do mito do paraíso racial e o pluriculturalismo na educação deve ser baseado no respeito às diferenças e não na negação da história do povo preto. Acredito que é uma covardia quando mascaramos das crianças a sua realidade e as inserimos em outro mundo como se fosse seu, quando deixamos que se sintam no mundo branco e elas descobrem sozinhas que este mundo não as querem com a sua ancestralidade Qual a mensagem da Menina Bonita do Laço de Fita?- A história mostra aos pequenos que todos somos iguais e que precisamos saber lidar com as diferenças. A apresentação mostra uma linda menina negra que desperta a admiração de um coelho branco e que deseja ter uma filha tão pretinha como ela.
Qual é a principal mensagem que a história quer passar?Sobre a principal mensagem que a história quer passar (a história "As Tranças de Bintou"), temos a importância da autoaceitação, bem como a necessidade de paciência e apreciação de como nós somos e daquilo que temos ao nosso redor.
Quais são os fatos principais da história Menina Bonita do Laço de Fita?A história de Menina bonita tem a ver com uma brincadeira que a autora fazia com seus três filhos: a filha era branquinha, e os dois meninos, morenos. A história fala de uma menina negra de fitas no cabelo que, devido a sua beleza, despertou a admiração de um coelho branco, que desejava ter uma filha pretinha como ela.
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