Qual a relação entre o aquecimento global é o funcionamento das usinas hidrelétricas?

[Jornal do Brasil] A noção de que as hidrelétricas fornecem energia “limpa”, sem emitir gases que contribuem com o aquecimento global, está sendo revista, principalmente para usinas dos trópicos. Estudos revelam que a decomposição da matéria orgânica que fica submersa nas áreas alagadas para construção dos reservatórios das usinas, pode gerar e emitir quantidades expressivas de gases envolvidos no aquecimento global. No Brasil, onde há planos de construção de várias usinas na Amazônia, estudos como esses podem ajudar na escolha das hidrelétricas a serem construídas, uma vez que tal escolha deve se basear em uma análise de custo/benefício que contabilize, além das despesas de construção e manutenção, os custos ambientais, sendo a emissão de gases-estufa um dos principais.

O aquecimento global decorre de ações humanas, como a queima de petróleo, que liberam na atmosfera gases que intensificam o efeito estufa, fenômeno natural que mantém a temperatura planetária em níveis adequados à vida. Devido a isso, cientistas de todo o mundo buscam conhecer os processos que influenciam o balanço desses gases na atmosfera. A decomposição de material orgânico em lagos profundos e áreas alagadas (por exemplo, para a construção de hidrelétricas) é um desses processos.

A maior parte das plantas submersas para a construção dos reservatórios das hidrelétricas entra em decomposição, gerando gás carbônico (CO2) e metano (CH4), dois dos principais gases-estufa. Parte desses gases é liberada na superfície da água; parte na saída das turbinas e uma terceira parte é lançada na atmosfera lentamente ao longo dos rios abaixo das barragens. As emissões totais de CO2 e CH4 dos reservatórios de usinas hidrelétricas são aproximadamente proporcionais à área alagada, embora as emissões de carbono por metro quadrado sejam maiores em represas tropicais que nas temperadas, devido à maior atividade metabólica em águas mais quentes.

O Brasil se comprometeu a quantificar suas emissões de gases-estufa por meio de inventários das atividades. O primeiro inventário das emissões das hidrelétricas foi baseado em medidas feitas em diversos reservatórios. O estudo também comparou as emissões de hidrelétricas tropicais brasileiras com as de usinas termelétricas com o mesmo potencial energético e concluiu que, na maioria dos casos, a hidrelétrica era mais limpa.

No entanto, esse inventário considerou apenas as emissões de gases-estufa acima das barragens e há estudos que mostram que as emissões abaixo das represas são significativas. Gwenaël Abril, da Universidade Bordeaux 1, França, por exemplo, determinou que as emissões abaixo da barragem representam 48% do total de emissões na usina de Petit-Saut, na Guiana. Kemenes (um dos autores desse artigo) mostrou que as emissões abaixo da represa são 15% do total de emissões na usina Balbina, no Amazonas, e, em conjunto com os outros autores, está repetindo a análise em outras três usinas brasileiras (Tucuruí, Curuá-Una e Samuel), incluindo as emissões acima e abaixo das barragens.

Pior que carvão mineral

Até o momento, as emissões totais de cinco hidrelétricas do trópico úmido (Balbina, Tucuruí, Curuá-Una, Samuel e Petit-Saut) foram estimadas através de dados reais e cálculos matemáticos. Dessa maneira, as emissões revelaram-se sempre maiores que as das termelétricas tropicais consideradas, inclusive as que queimam carvão mineral, tido como o combustível fóssil mais poluente. Em Balbina, que tem uma das piores densidades energéticas (razão entre o potencial energético, em megawatts, e a área alagada, em quilômetros quadrados) das hidrelétricas brasileiras, a emissão de gases-estufa por megawatt-hora (MWh) é cerca de 10 vezes maior que a de uma termelétrica a carvão mineral. Mesmo Tucuruí, com uma das melhores densidades energéticas do país, pode gerar quase duas vezes mais gases-estufa por MWh que uma termoelétrica a carvão.

Considerando a grande participação das hidrelétricas na produção energética brasileira, esses resultados são preocupantes. Apesar de continuarem a ser uma das mais econômicas tecnologias para gerar energia no pais, o alto custo ambiental de hidrelétricas no trópico úmido, como a Amazônia, pode desestimular o licenciamento de novas unidades. Conclui-se que apenas hidrelétricas com elevadas densidades energéticas deveriam ser construídas na Amazônia, e que a retirada da vegetação antes do enchimento dos reservatórios poderá, talvez, reduzir as emissões.

No caso das unidades antigas, novas tecnologias poderiam ajudar a reduzir as emissões. Um exemplo é a coleta do metano dos reservatórios, com a subseqüente queima do biogás para a geração de energia elétrica. Estimativas feitas para Balbina sugerem que esse método poderia aumentar seu potencial energético médio em até 75% e reduzir as emissões desse gás em 65%. As emissões evitadas ainda poderiam, apenas em Balbina, ser transformadas em US$ 20 milhões em créditos de carbono por ano.

Alexandre Kemenes Programa LBA (INPA); Bruce Forsberg Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA); John Melack Universidade da Califórnia, EUA

Artigo originalmente publicado pelo Jornal do Brasil , 27/01/2008

Que relação há entre o aquecimento global é o funcionamento das usinas hidrelétricas?

Estudos revelam que a decomposição da matéria orgânica que fica submersa nas áreas alagadas para construção dos reservatórios das usinas, pode gerar e emitir quantidades expressivas de gases envolvidos no aquecimento global.

Qual é a relação entre produção de energia elétrica e o aquecimento global?

O crescimento da demanda energética pode levar a maiores emissões de gases de efeito estufa, e a uma condição de maior necessidade de energia para climatização justamente pelo aquecimento global adicional gerado por estas novas emissões. O fenômeno é conhecido como retroalimentação positiva.

Quais são os fatores climáticos que podem influenciar no funcionamento das usinas hidrelétricas?

Porém, como as hidrelétricas dependem de chuva para que os rios tenham água suficiente para movimentar as turbinas, em períodos de pouca chuva, é necessário acionar termelétricas movidas a combustíveis fósseis para não faltar energia.

Como o aquecimento global pode afetar a geração de energia?

Segundo Ward (2013) as altas temperaturas e ondas de calor limitam a capacidade de transferência das linhas de transmissão, gerando maiores perdas de energia; as chuvas e as inundações são uma ameaça para os equipamentos das subestações; o aumento da temperatura ambiente afeta as usinas termelétricas via perda de ...