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Para o professor emérito da Unicamp Dermeval Saviani, área do conhecimento deveria ser eixo da organização do currículo de Pedagogia
POR: Flavia Nogueira24 de Setembro de 2018
A compreensão da trajetória da Educação é uma parte tão importante da formação de um docente que essa área do conhecimento deveria ser o eixo da organização dos conteúdos curriculares de Pedagogia.
Esta é a sugestão de Dermeval Saviani, professor emérito da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e autor de vários livros sobre Educação.
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Segundo Dermeval, conhecer a História da Educação é essencial para professores e estudantes desta área. Para ele “de um curso assim estruturado se espera que se formem pedagogos com uma aguda consciência da realidade em que vão atuar”.
“Considerando, como defini em meu livro Pedagogia Histórico Crítica – Primeiras Aproximações, que a Educação é o ato de produzir direta e intencionalmente em cada indivíduo singular a humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelo conjunto dos homens, aquilo que a humanidade produziu ao longo da história é a referência para se desenvolver uma educação de qualidade.”
“Se os educadores quiserem compreender a fundo o significado essencial de sua profissão, eles devem se abrir sem reservas para a História da Educação”, diz.
Da Colônia aos dias de hoje
A partir deste conhecimento da História da Educação é possível compreender de onde veio a estrutura do Ensino Público no país e fazer relações entre a educação da época do Brasil Colônia e do Império e a Educação Pública dos dias de hoje.
De acordo com Dermeval, é possível analisar estas relações de forma positiva e negativa.
“Positivamente: as iniciativas dos jesuítas no período colonial assim como também as reformas pombalinas da instrução pública, aliadas, no período do império, às iniciativas tanto do governo imperial quanto dos governos provinciais para organizar a escola pública, constituem a base sobre a qual – a partir do regime republicano – foi sendo construída a escola pública que temos hoje.”
“Negativamente, cabe observar que a educação nunca mereceu, por parte das nossas elites dirigentes e das autoridades políticas, aquela prioridade que ela merece e que é proclamada constantemente nos discursos mas nunca traduzida em ações práticas”, diz.
Com estes conhecimentos em mãos, é possível também determinar os principais marcos da História da Educação no Brasil, levando em conta “as ideias pedagógicas e as concepções de educação”, diz Dermeval. E o pesquisador afirma ainda que é possível detectar quatro momentos distintos.
“Entre 1549 e 1759 nós temos a predominância da pedagogia tradicional católica desenvolvida fundamentalmente pelos jesuítas. Entre 1759 e 1932 desenvolve-se paralelamente à persistência da pedagogia religiosa, a pedagogia laica. Entre 1932 e 1969 nós temos a emergência e desenvolvimento da pedagogia nova com tentativa de superação dos limites da pedagogia tradicional.”
“E, entre 1969 e os dias atuais nós temos o desenvolvimento da concepção pedagógica produtivista que vem desenvolvendo uma tendência a articular mais fortemente a educação com as demandas do mercado, o que é próprio da sociedade capitalista”, conclui.
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Durante o período escolar questionamos, geralmente, a utilidade das disciplinas estudadas. “Matemática, apesar de chata, é útil, pois nos ensina cálculos que são imprescindíveis para a vida cotidiana. Ajuda-nos a fazer compras, por exemplo”, argumentos como esses sempre aparecem entre estudantes adolescentes, vez ou outra; e sobre todas as disciplinas, incluindo a história. Entretanto, questionar a utilidade ou a importância da história para a vida cotidiana quase sempre resulta em respostas insatisfatórias.
Para tentar resolver, em parte, esse impasse, vamos pensar um pouco a partir da visão que um dos antigos pensadores romanos tinha da história. Para o orador romano Cícero, a história era a “mestra da vida” (em latim: historia magistra vitae). Com esta expressão, Cícero queria dizer que por meio dos exemplos do passado, dos sofrimentos e sucessos, das tragédias e dos grandes feitos das gerações anteriores, podemos extrair lições para nos orientarmos no presente, diante dos problemas que se apresentam.
Pois bem, mas Cícero vivia numa época em que as pessoas não tinham uma vida tão afetada por artefatos tecnológicos, automóveis, poluição visual e sonora, problemas psicológicos diversos e tantos outros aspectos da era contemporânea. E, além disso, na Roma Antiga, a história não era uma disciplina com estrutura científica, com metodologia precisa ou enquadramentos teóricos. Nossa época, ao contrário, não valoriza tanto os exemplos do passado como os antigos o faziam e, desse modo, a utilidade da história é sempre vista em outros termos.
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Quando se indaga hoje sobre que utilidade tem a história para a vida, pensa-se “utilidade” em termos de soluções imediatas ou “utilitárias”. Se a história é útil para vida, não o é de forma utilitária, mas de forma “pragmática”, isto é: pode fornecer elementos para ação na vida prática. Elementos como: compreensão alargada da sociedade e da cultura, perspectiva crítica sobre fenômenos políticos, entendimento das diferenças entre as pessoas, os países e as civilizações e uma série de outras contribuições.
Muitas formas de comportamento que observamos atualmente, como a violência motivada por xenofobia ou por racismo, a estranheza por certos hábitos alimentares e por certas tradições que cultivam práticas culturais muito diferentes, geralmente existem por falta de conhecimento histórico ou por um mal conhecimento da história. O estudo da história, portanto, tem a importância de dar, sobretudo, suporte compreensivo às pessoas, para que ajam com maior prudência, civilidade e tolerância, em seu meio e em situações estranhas à sua cultura.
Podemos dizer que, em grande parte, a história continua sendo a “mestra da vida”, como entendia Cícero. Mas devemos reeducar nossa percepção sobre essa disciplina para poder compreender sua importância para a vida.