Entenda o efeito de atividades como musculação e caminhada na hipertensão
A prática regular de exercícios físicos é comprovadamente capaz de melhorar o funcionamento de diversos sistemas de nosso corpo. Isso é algo que, no âmbito de saúde pública, justifica a adoção de hábitos saudáveis relacionados ao estilo de vida ativo, em que o indivíduo engajado rotineiramente em exercícios físicos previne-se contra diversos problemas de saúde. Não entrando no mérito da quantidade e qualidade de qualquer atividade física, visto que a falta de acompanhamento profissional pode levar ao efeito contrário, ou seja, lesões ortopédicas, desgastes articulares, comprometimentos musculares e outros mais, o que exige ressalva é aquela frase que diz que “exercício físico é saúde”. Em doses ideais, o aumento do movimento humano pode atuar como potencializador de saúde e também como forma de prevenção e tratamento de diversas patologias.
Das inúmeras adaptações positivas relacionadas ao exercício físico, destacam-se a capacidade de melhora da complacência dos vasos, ou seja, a capacidade de distensão do sistema vascular. Isso acontece com a liberação de agentes vasodilatadores, como o óxido nítrico que, mediados pelo movimento corporal, promovem um aumento do diâmetro do vaso, permitindo assim que o sangue aumente tanto o seu fluxo quanto a sua irrigação para os diversos tecidos do nosso corpo, entre eles o coração. O resultado é um aumento do aporte de nutrientes, principalmente o oxigênio, o que reduz a probabilidade das células morrerem por falta de perfusão, como no caso do infarto agudo do miocárdio.
O que é pressão arterial e qual o efeito do exercício sobre ela?
A pressão arterial é a força com que o sangue trafega nos nossos vasos. Ela é diretamente influenciada pela quantidade de sangue circulante: o chamado débito cardíaco expresso pela força de ejeção ventricular sanguínea multiplicada pelo número de batimentos do coração em um minuto. A partir daí, podemos considerar que a pressão arterial, a partir do débito cardíaco, será mediada pela resistência em que o sangue encontrará no vaso durante o percurso que se inicia na artéria aorta e se propaga aos demais vasos e capilares. Essa resistência pode ser aumentada por diversos fatores como raio e comprimento do vaso, viscosidade do sangue e agregação de gordura na parede dos vasos. Lembrando que esse último está extremamente relacionado ao comportamento alimentar da pessoa.
Quando essa resistência é alta, o coração precisa se adaptar para forçar ainda mais o sangue a romper essa condição, o que leva ao aumento da pressão arterial. As diretrizes cardiológicas consideram que a condição patológica de pressão alta inicia-se quando os níveis pressóricos arteriais sistólicos (de contração do ventrículo) estão acima de 139mmhg (ou seja, 139 milímetros de mercúrio) e os diastólicos (relaxamento do ventrículo) estão acima de 89mmhg. Isso é preocupante, pois, em longo prazo, essa condição pode levar à morte.
As consequências possíveis são preocupantes: quadros como o chamado AVE (Acidente Vascular Encefálico), o infarto agudo do miocárdio e a insuficiência cardíaca são condições geradas principalmente pelo aumento da massa muscular do ventrículo, que fica hipertrofiado pelo tanto de força que deve exercer. Essa situação leva, entre outras complicações cardiovasculares, à redução da quantidade de sangue ejetado devido à falta de espaço e ineficiência do que chamamos de “distensibilidade diastólica” do ventrículo para preencher uma câmara extremamente espessa e que comporta pouco sangue.
A prática de exercício físico tanto na forma de caminhada (aeróbio) quanto musculação (resistido) é capaz de reduzir os níveis tensionais do vaso, ou seja, a diminuição da resistência do vaso à passagem de sangue. Isso reflete na melhora da força e contratilidade do coração e, consequentemente, reduz a pressão arterial.
Mas quanto de exercício físico fazer? Essa resposta quem lhe dará será o professor de Educação Física! Mas como nós do IESPE estamos inteirados no assunto através da Pós de Treinamento Personalizado para Grupos Especiais vou disponibilizar um resumo bem didático que auxiliará no entendimento dessa temática.
Outro aspecto importante são os níveis pressóricos registrados antes da atividade. Caso apresentem elevados valores além dos níveis “costumeiros”, a atenção deve ser redobrada, a ponto de ser desaconselhada. Pois bem, a partir dessa informação fica claro que para essa população o melhor tratamento é aquele constituído por mais de um profissional de saúde, ou seja, o tratamento multiprofissional e interdisciplinar, em que todos saibam “falar a mesma língua” e possam, dessa maneira, proporcionar a melhor assistência ao hipertenso ou àqueles pertencentes aos grupos de risco (sedentários, tabagistas, obesos, idosos e outros). Abordei a necessidade desse atendimento multidisciplinar no caso da obesidade em meus textos anteriores: Por que perdemos a guerra contra a obesidade – parte 1 e parte 2.
A musculação reduz a pressão alta?
Nesse tipo de atividade, acontece uma manobra fisiológica conhecida como “valsalva”, em que o praticante prende a respiração e também fecha a glote, obstruindo a passagem de ar pela faringe e levando à uma drástica redução da pressão dentro da cavidade torácica (a parte do tórax que engloba aos pulmões, coração e vasos mais calibrosos). Mas quando o bloqueio é cessado, há um aumento da pressão no interior dos pulmões e vasos, para que o ar seja expelido. Isso é muito prejudicial para indivíduos que já apresentam níveis tensionais pressóricos arteriais, pois desencadeiam uma elevação ainda maior da pressão arterial.
O percentual da carga relacionada aos treinos de hipertrofia é relativamente alto. Contudo, ajustes no treinamento de força, comprovadamente benéfico para a saúde, podem ser feitos para que não haja a necessidade de valsalsa. Algumas adaptações possíveis são: a redução da carga nos exercícios de força, o aumento do tempo de descanso entre as séries e o método de treino circuitado, em que a cada momento se realiza um tipo diferente de exercício, preferencialmente oscilando os exercícios que trabalham a musculatura superior e posterior de maneira alternada.
Todavia, é importante lembrar que toda prática de exercício físico deve primeiramente levar em consideração as peculiaridades, necessidades e limitações daquele que o pratica. Para a extração dessas informações, o profissional de Educação Física, Fisioterapia e áreas afins devem realizar uma boa anamnese (entrevista inicial com o paciente) e contextualizar os achados clínicos do praticante às variáveis relacionadas à prescrição e monitoração de exercícios físicos, garantindo o prazer, benefícios e segurança do serviço.
Portanto, aos profissionais que estão em dúvida sobre o segmento de atuação profissional após a graduação, fica aqui a minha dica! Mas independente da questão mercadológica, o reconhecimento profissional e carinho daqueles assistidos por esse serviço de saúde é incrivelmente motivador e satisfatório.
Forte abraço,
Alderman BL et al. Aerobicexercise intensity and time of stressor administration influence cardiovascular responses to psychological stress.Psychophysiology 2007; 44: 759–766.
JulianoCasonattoetal.The blood pressure-lowering effect of a single bout of resistance exercise: A systematic review and meta-analysis of randomised controlled trials. Eur J PrevCardiol. 2016 Aug 10.
Santiago Tavares Paes et al. Metabolic effects of exercise on childhood obesity: a current view. Rev Paul Pediatr. 2015 Jan-Mar;33(1):122-9.