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Contenção Biológica em Superfícies Hospitalares
Importância da Microbiota
A contaminação exógena foi importante nos hospitais antes do desenvolvimento da assepsia. Atualmente a infecção hospitalar é predominantemente endógena.
A presença de matéria orgânica favorece a proliferação de microrganismos e aparecimento de insetos, roedores e outros, que podem veicular microrganismos.
Fatores que Favorecem a Contaminação do Ambiente
Superfícies úmidas ou molhadas: favorecem a proliferação de germes gram-negativos e fungos
Áreas empoeiradas: favorecem a proliferação de germes gram-positivos, micobactérias e outros.
Revestimentos com perda da integridade
Matéria orgânica sem rápida remoção.
Aplicação incorreta ou ausente de germicida.
Limpeza de área sem a devida divisão de áreas.
Inadequado uso dos equipamentos.
Uso de Equipamentos de Proteção Individual inadequadamente.
Técnica de limpeza inadequada.
Uso incorreto de recursos.
Exemplos: Balde com água suja para enxágüe, mesmo pano de limpeza utilizado no vaso sanitário, na pia e outros locais.
Principais funções
Preparar o ambiente hospitalar para suas atividades.
Manter a organização e a ordem.
Conservar equipamentos e instalações (adequada limpeza e uso de produtos).
Normas e procedimentos: regulamentados através da norma "Processamento de Artigos e Superfícies em Estabelecimentos de Saúde" Ministério da Saúde /1994: - criada com os seguintes objetivos:
-
Minimizar desperdício de produtos
- Reduzir custos
- Evitar desgaste/corrosão de artigos e superfícies
- Reduzir toxicidade aos usuários
- Minimizar a poluição ambiental
Classificação de áreas
Críticas
Áreas onde há o maior número de pacientes, procedimentos invasivos e, portanto maior número de infecções.
CTI
Centro Cirúrgico
Berçário
Isolamentos
Laboratório
Semi-críticas
Onde se encontram pacientes internados, mas o risco de infecção é
menor.
Enfermaria
Ambulatório
Banheiro
Não-crítica
Setores onde não há risco de transmissão (não há pacientes).
Almoxarifado
Escritório
Secretaria
Administração
Terminologia
Limpeza
Remoção de sujidade
Desinfecção
É o processo físico ou químico que destrói microorganismos em objetos inanimados.
Descontaminação
Remoção de agentes infecciosos de uma superfície inanimada.
Anti-sepsia
Procedimento que destrói ou elimina microorganismos presentes em tecidos, após aplicação de agentes antimicrobianos.
Tipos de Limpeza
Concorrente:
Quando o paciente está internado.
Terminal
Após alta, óbito ou transferência do paciente.
Principais Produtos
Hipoclorito de Sódio a 1% (10.000ppm)
Atividade microbiana:
Bactérias vegetativas
Micobactérias
Fungos
Vírus lipofílicos e hidrofílicos
Esporos
Mecanismos de ação
Provável combinação com proteínas da membrana celular formando compostos tóxicos e inibição de reações enzimáticas essenciais (Dychdala, 1991).
Características
Ação limitada frente matéria orgânica.
Incompatível com detergentes catiônicos.
Instáveis-Tº, pH, luz e metais.
Corrosivos para metais.
Toxicidade
Irritação pele, olhos e trato respiratório.
Aplicações
Desinfecção em geral de objetos e superfícies inanimadas - 10 min.
Alcool 70%
Etanol ou Isopropanol
Atividade microbiana:
Bactérias vegetativas
Micobactérias
Fungos
Vírus lipofílicos
Mecanismos de ação
Desnaturação de proteínas, necessário presença de água.
A atividade bacteriostática devida á inibição da produção de metabólitos essenciais á divisão celular.
Características
Não possui ação residual
Coagulam ou precipitam proteínas
São inflamáveis
Toxicidade
Irritação para os olhos
Produz irritação e dessecação da pele
Aplicação
Por fricção 3x
Quaternário de amônio
Atividade microbiana
Bactérias vegetativas-(G+)
Fungos-(alguns)
Vírus lipofílicos-(alguns)
Características
Fortemente inativado por proteínas, materiais naturais e sintéticos, por detergentes não iônicos e sabões.
Influenciados negativamente por íons cálcio e magnésio presentes na água dura.
Podem danificar borrachas, cimento e alumínio.
O pH ideal é (9-10).
Possui ação residual.
Toxicidade
Baixa irritação e sensibilidade da pele
Aplicação
Apropriada em áreas de alimentos
Ampla aplicação
Técnicas de Limpeza
Química
Ação de produtos com a finalidade de limpar através de dissolução, dispersão e suspensão da sujeira.
Mecânica
Ação física aplicada sobre a superfície para remover a sujidade resistente à ação do produto químico (esfregar, friccionar, escovar).
Térmica
Ação do calor que reduz a viscosidade da graxa e da gordura, facilitando a remoção pela ação química.
Treinamento
Uso de Equipamentos de Proteção Individual
Hábitos de higiene pessoal
Processamento de superfícies
Biossegurança
Saúde Ocupacional
Importante
Desnecessária a desinfecção de paredes, corredores, pisos, tetos, janelas, portas, a menos que haja respingo ou deposição de matéria orgânica, quando é recomendada a limpeza localizada.
Controle da Contaminação em Superfícies
Sistematização da limpeza
Divisão de áreas com sinalizadores.
Evitar contato com áreas úmidas.
Organização do trabalho
Iniciar pela área mais limpa.
Evitar disseminação de germes.
Uso de EPI
Desprezar a água suja em local apropriado (expurgo)
Manter o expurgo limpo e organizado
Germicidas com aprovação da Comissão de Controle de Infecção
Hospitalar (CCIH)
Cronograma de limpeza terminal (definido por unidade)
Desinsetização e controle de pragas (semestral)
Descontaminação localizada
Retirar matéria orgânica com pano ou papel.
Aplicar o desinfetante.
Realizar a limpeza com água e sabão em toda a superfície, da área mais limpa para a contaminada.
Manuseio dos Resíduos Sólidos de Serviços de Saúde
Realizar coleta de resíduos com freqüência.
Coletar em carros específicos, com tampa.
Limpeza diária dos abrigos, carros de coleta de resíduos e dos carros de limpeza.
Em casos de isolamento, seguir orientações da CCIH.
Verificação de fluxos de transporte: alimentos, roupa, resíduos, medicamentos, pacientes, outros.
Transportar adequadamente os sacos de lixo: não se encostar ao corpo, não arrastar, não "lançar" no carro e nem no abrigo.
Exposição ocupacional
Transmissíveis por via aéreas
tuberculose
varicela
rubéola
sarampo
influenza
viroses respiratórias
doença meningocócica
Transmissíveis pela exposição de sangue e fluidos orgânicos
HIV
hepatites B e C
-
raiva
Transmissão fecal-oral
Transmissão pelo contato
escabiose
pediculose
colonização por estafilococos
IMPORTANTE
O risco de aquisição de doenças depende
Tipo de exposição
Patogenicidade do agente infeccioso
Profilaxia pós-exposição
Prevalência local de doenças
Susceptibilidade do profissional
Os profissionais de saúde devem estar adequadamente imunizados, além de utilizar corretamente as técnicas de proteção individual para minimizar o risco de aquisição de doenças
infecciosas.
A vacinação é a ferramenta mais eficaz para a prevenção de doenças como:
caxumba, hepatite B, influenza, , rubéola, sarampo e varicela
ALGUMAS VIROSES DE RELEVÂNCIA
Vírus da Hepatite "A":
Transmissão via fecal-oral;
Veículos: águas e alimentos contaminados;
Tem sido relatada transmissão por sangue e por via sexual;
O vírus é destruído em fervura por 5 minutos;
É inativado por autoclavação, cloro, iodo, permanganato de potássio e radiação ultravioleta.
Período de incubação varia de 15 a 50 dias;
A transmissibilidade começa na metade final do período de incubação, terminando geralmente após a primeira semana de icterícia;
Os pacientes devem ser manipulados com precauções-padrão.
Infecção em profissionais de saúde: recomenda-se a vacina contra
Hepatite "A", ser afastado do trabalho até uma semana após a regressão da icterícia.
O uso de imunoglobulina somente está indicado quando houver exposição oral; às fezes de uma pessoa com infecção aguda ou em situações de surto.
Rotavírus
Principal causa de diarréia em pacientes abaixo dos cinco anos, podendo causar surtos em enfermarias pediátricas.
A doença é a mais comum em meses frios.
Transmissão fecal-oral e secundariamente por via aérea.
Podem ser veiculadas pela água.
Período de incubação de 24 a 72 horas, e a eliminação do vírus ocorre durante o estágio agudo, que dura de 4 a 6 dias.
Pacientes imunocomprometidos podem excretar o vírus por mais de um mês.
Grupos de risco para aquisição: hemofílicos, politransfundidos, usuários de drogas injetáveis e pacientes em hemodiálise.
Longos períodos em superfícies, água potável ou de recreação e nas mãos.
Susceptíveis a desinfetantes de cloro.
Não existe medida profilática específica após o acidente, estando o uso de interferon e ribavirina indicado apenas no tratamento de casos crônicos.
É recomendado um acompanhamento sorológico durante seis meses.
Vírus da Hepatite "C"
Existe uma associação entre infecção crônica e o desenvolvimento de carcinoma hepatocelular;
A transmissão ocorre por exposição percutânea a sangue ou plasma contaminados.
Vírus Influenza
Causador da gripe.
Transmissão por via aérea em espaços fechados, mas pode também ocorrer de modo indireto através de mãos e fômites, pois o vírus pode persistir por mais de 48 horas nas superfícies ambientais;
Período de incubação: 1 a 3 dias.
Surtos unidades crônicas, pediatria, de terapia intensiva e neonatal, que podem resultar em pneumonia e morte.
Existe vacina disponível, com eficiência de 60 a 80%.
Isolamento respiratório (quarto privativo para a doença e uso de máscara).
Vírus da Caxumba
Doença em crianças e adolescentes.
Transmissão: via aérea, contato direto com saliva e por fômites.
Período de incubação: 12 a 25 dias (18 dias).
Vacina contra-indicada a imunossuprimidos e pacientes com hipersensibilidade a ovo.
Isolamento respiratório durante transmissibilidade.
Trabalhadores expostos devem ser afastados entre o 12º dia após a primeira exposição e o 26º dias após o primeiro contato.
Vírus do Sarampo
Transmissão por via aérea através de gotículas, podendo também ocorrer por contato direto com secreções infectantes e indiretamente com artigos contaminados.
É uma das doenças mais facilmente transmissíveis.
Período de incubação: 7 a 18 dias (+freqüente 10 dias).
Vacina disponível.
Isolamento respiratório.
Profissionais de saúde, sabidamente susceptíveis devem receber a vacinação dentro de 72 horas após a exposição (é preferível vacinar previamente os mesmos).
Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV)
Transmissão horizontal: via sexual, exposição a sangue e fluidos.
Transmissão vertical: forma transplacentária, via canal do parto ou pelo leite materno.
Peritoneal, pericárdio e amniótico não deve ser oferecida profilaxia, a não ser que haja contato contaminante com sangue visível.
Na exposição ao profissional, AZT associada a um inibidor de protease.
Vírus da Hepatite "D"
É incapaz de infectar uma célula por ele mesmo, sendo necessária uma co-infecção com Hepatite "B".
Transmissão igual ao vírus da Hepatite "B".
Período de incubação: 2 a 8 semanas.
As medidas de controle aplicadas contra Hepatite "B" reduzem sua incidência.
Sthaphylococcus aureus
O homem principal reservatório, freqüentemente habitando as narinas.
Os profissionais de saúde são mais predispostos à colonização (médicos = 50%, enfermeiros = 70%, auxiliares = 90%).
Principais infecções: foliculite, carbúnculo, impetigo, celulite, infecções cirúrgicas, escaras, abcessos, artrites, bacteremia ou septicemia.
Crescente resistência aos antimicrobianos.
Lavagem das mãos por todos que possam ter contato com pacientes.
Deve-se manipular com precaução, os pacientes com lesões cutâneas, de ferida cirúrgica ou de escaras.
Salmonella
Causam desde infecções autolimitadas até doenças potencialmente fatais, como febre tifóide.
Responsáveis por 70% das gastroenterites,
Transmissão fecal-oral, particularmente por alimentos contaminados, crus ou insuficientemente aquecidos.
Klebsiella pneumoniae
Transmissão ocorre principalmente pelas mãos ou alimentos contaminados.
Importante padrão de resistência aos antibióticos.
Isolada principalmente em quadros de pneumonias, mas também é responsável por infecção do trato urinário, septicemia, particularmente em extremos de idade e meningites.
Pode ser veiculada pelas mãos do profissional de saúde.
Pseudomonas aeruginosa
Habitat natural: ambientes úmidos.
Encontradas em água, solo, vegetais, esgoto e animais.
Pode causar infecção comunitária em indivíduos sem comprometimento imunológico, geralmente relacionada ao contato com água ou soluções contaminadas.
Enterococcus
Cocos gram-positivos aeróbicos.
Habita os tratos gastrintestinal, hepatobiliar e geniturinário.
Coloniza eventualmente a pele e transitoriamente as mãos da equipe de saúde.
Envolvido em várias infecções: trato urinário, intra-abdominal, pélvica, cardiovascular, sistema respiratório inferior, sistema nervoso central, feridas, bacteremia e outras.
Sarcoptes scabiei
Agente etiológico da escabiose.
Transmissão através de contato pessoa-pessoa.
Período de incubação: 2 a 6 semanas.
Acomete a pele.
Pediculus humanus
Agente etiológico da pediculose.
Vulgarmente conhecido como piolhos.
Encontrados no couro cabeludo, onde colocam os ovos ou lêndeas.
Período de incubação: 7 a 14 dias.
Relacionados a problemas de higiene.
Dependem de contato inter-humano.
Bibliografia
-BRASIL. Rio de Janeiro Secretaria de Saúde do Estado. Coordenação Estadual de Controle de Infecção Hospitalar. Guia Prático de Controle de Infecção Hospitalar.1999.
-BRASIL. Bahia. Secretaria de Saúde do Estado. Prevenção e Controle de Infecção Hospitalar. Orientações Básicas. 1ª Edição.Bahia.1998.
-BRASIL Processamento de Artigos e Superfícies em Estabelecimentos de Saúde.2 Ed. Brasília.1994.
-Introdution to Sterilization, Desinfection, and Infection Control. 2 Ed. London Churchill,1991.
-GOODMAN e GILMAN Bases Farmacológicas da Terapêutica. Rio de Janeiro G. Koogan, 1991.
-RODRIGUES, E. A; et al. Infecções Hospitalares: Prevenção e Controle. São Paulo. Savier.ed, 1997.
-FERNANDES, ª T e Colaboradores. Infecção Hospitalar e suas interfaces na Ares da Saúde.São Paulo. Ed Atheneu,2000
Este texto é uma colaboração da Profa.Kátia Liberato
Sales Scheidt, que é Especialista em Controle de Infecção Hospitalar -FIOCRUZ, Mestre em Enfermagem -UNIRIO, Doutoranda em Saúde da Mulher e da Criança -IFF/FIOCRUZ, Coordenadora - Coordenação das Ações de Controle de Infecção Hospitalar Instituto Fernandes Figueira - Fiocruz, Presidente-Comissão Interna de Biossegurança das Faculdades Unificadas Serra dos Órgãos - Teresópolis, Professora do Módulo - Biossegurança - Curso de Prevenção e Controle de Infecção Hospitalar Universidade Gama Filho e
Professora de Curso da Pós-Graduação do Instituto Fernandes Figueira / FIOCRUZ.
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