Acerca da construção histórica do conceito de psicomotricidade, é correto afirmar que:

Acerca da construção histórica do conceito de psicomotricidade, é correto afirmar que:
Acerca da construção histórica do conceito de psicomotricidade, é correto afirmar que:

Psicomotricidade: hist�ria, desenvolvimento, 

conceitos, defini��es e interven��o profissional

Psychomotricity: history, development, concepts, definitions and professional intervention

Psicomotricidad: historia, desarrollo, conceptos, definiciones e intervenci�n profesional

Acerca da construção histórica do conceito de psicomotricidade, é correto afirmar que:

 

Mestrando do Programa de Mestrado em Ci�ncia da Motricidade Humana

Universidade Castelo Branco � LABESPORTE

S�cio-Diretor, Coordenador T�cnico e Professor da Academia da Usina

Rio de Janeiro, RJ.

Ricardo Martins Porto Lussac

(Brasil)

 

Resumo

          Este artigo investigou a hist�ria e o desenvolvimento da Psicomotricidade, e o discurso de autores e institui��es sobre o conceito e a defini��o de Psicomotricidade atrav�s de revis�o bibliogr�fica, an�lise documental e an�lise de conte�do. Tamb�m foram verificadas as �reas de interven��o da psicomotricidade e, respectivamente, dos psicomotricistas, as quais foram verificadas basicamente tr�s: educa��o, reeduca��o e terapia psicomotora. Observamos que por ser a Psicomotricidade uma profiss�o n�o regulamentada e os respectivos profissionais atuarem em diversificadas ocupa��es, h� a possibilidade de ocorrer conflitos com outras profiss�es no �mbito das suas respectivas �reas de interven��o profissional, no caso, Educa��o F�sica, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Medicina e possivelmente outras, especificamente nas �reas da Sa�de e Educa��o.

          Unitermos:

Psicomotricidade. Hist�ria. Interven��o profissional.

Abstract

          This article sought to investigate psychomotricity�s history and development, the speech of authors and institutions of the area about psychomotricity�s concept and definition. Also were investigated areas of intervention of psychomotricity and, respectively, of psychomotricians, in which were verified at least three �reas of atuation: education, reeducation and psychomotor therapy. We observed that for being psychomotricity a profession no regulated and respective professionals act in diversificated areas, there is possibility of conflicts with other professions in the extent of theirs respective areas of professional intervention as Physical Education, Physiotherapy, Phonology, Medicine and possibly others specifically in the areas of Health and Education.

          Keywords:

Psychomotricity, History, Professional Intervention.

Resumen

          En este art�culo investigo la historia y el desarrollo de la Psicomotricidad, y el discurso de autores y las instituciones en el concepto y la definici�n de Psicomotricidad a trav�s de una revisi�n bibliogr�fica, el an�lisis documental y el an�lisis del contenido. Tambi�n fueron estudiadas las �reas de intervenci�n del psicomotricidad y, respectivamente, de los psicomotricistas, que b�sicamente son tres: educaci�n, re-educaci�n y terapia psicomotora. Observamos espec�ficamente que para ser el de Psicomotricista es una profesi�n regulada y los profesionales respectivos no act�an en ocupaciones diversificadas. Existe la posibilidad de que existan conflictos con otras profesiones en el abordajes de sus �reas respectivas de intervenci�n profesional, como es el caso, de la Educaci�n F�sica, de la Fisioterapia, de la Fonoaudiologia, de la Medicina y posiblemente de otras, en las �reas de la salud y de la educaci�n.

          Palabras clave:

Psicomotricidad. Historia. Intervenci�n profesional.  
Acerca da construção histórica do conceito de psicomotricidade, é correto afirmar que:
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - A�o 13 - N° 126 - Noviembre de 2008

Acerca da construção histórica do conceito de psicomotricidade, é correto afirmar que:

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Introdu��o ao estudo

    Este trabalho teve o objetivo de abordar a hist�ria e o desenvolvimento da psicomotricidade, sua defini��o, conceitos e seu desenvolvimento, e ainda outros aspectos, como: a defini��o de psicomotricista e suas respectivas �reas de trabalho e interven��o, clientela e mercado de trabalho.

    Este estudo poder� de fornecer subs�dios para outras de pesquisas sobre o assunto, auxiliando estudantes e pesquisadores da �rea, e conseq�entemente, em uma poss�vel melhor interven��o e compreens�o em suas respectivas �reas.

Considera��es sobre a metodologia

    A pesquisa seguiu a estrat�gia de revis�o de literatura, an�lise documental e an�lise de conte�do, sendo um estudo hist�rico e tamb�m comparativo. Comparativo, pois, foram verificadas as aus�ncias, semelhan�as e diferen�as nas defini��es encontradas.

    Quanto ao modelo de estudo, � tipificada como uma pesquisa descritiva, qualitativa, tendo a an�lise de conte�do como a sua caracter�stica principal e tamb�m como procedimento, perfazendo uma revis�o de literatura sobre a psicomotricidade. A pesquisa � caracterizada como uma pesquisa indireta, pela utiliza��o de informa��es, conhecimentos e dados que j� foram coletados, atrav�s de uma pesquisa documental e bibliogr�fica, m�todo bibliogr�fico (MATTOS, 2004).

    As fontes foram diversas e tiveram um tratamento qualitativo. Portanto, procurei realizar uma revis�o de literatura no intuito de, inicialmente, conhecer o in�cio da hist�ria e desenvolvimento da psicomotricidade, perfazendo brevemente sua trajet�ria em um �mbito geral, encontrando a sua defini��o por diversos autores utilizados como pressuposto te�rico na pesquisa.

    Em rela��o � delimita��o do estudo, esta pesquisa foi restrita � revis�o de literatura realizada de interesse ao objeto investigado.

Psicomotricidade: hist�rico e desenvolvimento, conceitos e defini��es, interven��o profissional e outros aspectos

    Quando queremos explicar o desenvolvimento de algo � comum iniciarmos pela g�nese do fen�meno. Em todas as culturas isto � um fato corriqueiro e � conhecido academicamente como Cosmogonia. Deste modo, iniciaremos pela hist�ria da Psicomotricidade.

    Historicamente o termo "psicomotricidade" aparece a partir do discurso m�dico, mais precisamente neurol�gico, quando foi necess�rio, no in�cio do s�culo XIX, nomear as zonas do c�rtex cerebral situadas mais al�m das regi�es motoras. Com o desenvolvimento e as descobertas da neurofisiologia, come�a a constatar-se que h� diferentes disfun��es graves sem que o c�rebro esteja lesionado ou sem que a les�o esteja claramente localizada. S�o descobertos dist�rbios da atividade gestual, da atividade pr�xica. Portanto, o "esquema an�tomo-cl�nico" que determinava para cada sintoma sua correspondente les�o focal j� n�o podia explicar alguns fen�menos patol�gicos. �, justamente, a partir da necessidade m�dica de encontrar uma �rea que explique certos fen�menos cl�nicos que se nomeia, pela primeira vez, o termo Psicomotricidade, no ano de 1870. As primeiras pesquisas que d�o origem ao campo psicomotor correspondem a um enfoque eminentemente neurol�gico (SBP, 2003).

    A Psicomotricidade no Brasil foi norteada pela escola francesa. Durante as primeiras d�cadas do s�culo XX, �poca da primeira guerra mundial, quando as mulheres adentraram firmemente no trabalho formal enquanto suas crian�as ficavam nas creches, a escola francesa tamb�m influenciou mundialmente a psiquiatria infantil, a psicologia e a pedagogia. Em 1909, a figura de Dupr�, neuropsiquiatra, � de fundamental import�ncia para o �mbito psicomotor, j� que � ele quem afirma a independ�ncia da debilidade motora, antecedente do sintoma psicomotor, de um poss�vel correlato neurol�gico. Neste per�odo o t�nus axial come�ava a ser estudado por Andr� Thomas e Saint-Ann� Dargassie. Em 1925, Henry Wallon, m�dico psic�logo, ocupa-se do movimento humano dando-lhe uma categoria fundante como instrumento na constru��o do psiquismo. Esta diferen�a permite a Wallon relacionar o movimento ao afeto, � emo��o, ao meio ambiente e aos h�bitos do indiv�duo, e discursar sobre o t�nus e o relaxamento. Em 1935, Edouard Guilmain, neurologista, desenvolve um exame psicomotor para fins de diagn�stico, de indica��o da terap�utica e de progn�stico. Em 1947, Julian de Ajuriaguerra, psiquiatra, redefine o conceito de debilidade motora, considerando-a como uma s�ndrome com suas pr�prias particularidades. � ele quem delimita com clareza os transtornos psicomotores que oscilam entre o neurol�gico e o psiqui�trico. Ajuriaguerra aproveitou os subs�dios de Wallon em rela��o ao t�nus ao estudar o di�logo t�nico. A relaxa��o psicot�nica foi abordada por Giselle Soubiran (SBP, 2003) e (ISPE-GAE, 2007).

    �No Brasil, Antonio Branco Lef�vre buscou junto as obras de Ajuriaguerra e Ozeretski, influenciado por sua forma��o em Paris, a organiza��o da primeira escala de avalia��o neuromotora para crian�as brasileiras.
Dra. Helena Antipoff, assistente de Clapar�de, em Genebra, no Institut Jean-Jacques Rosseau e auxiliar de Binet e Simon em Paris, da escola experimental "La Maison de Paris", trouxe ao Brasil sua experi�ncia em defici�ncia mental, baseada na Pedagogia do interesse, derivada do conhecimento do sujeito sobre si mesmo, como via de conquista social... Em 1972, a argentina, Dra. Dalila de Costallat, estagi�ria do Dr. Ajuriaguerra e da Dra. Soubiran em Paris, � convidada a falar em Bras�lia �s autoridades do Minist�rio da Educa��o, sobre seus trabalhos em defici�ncia mental e inicia contatos e trocas permanentes com a Dra. Antipoff no Brasil� (ISPE-GAE, 2007).

    Com estas novas contribui��es, a psicomotricidade diferencia-se de outras disciplinas, adquirindo sua pr�pria especificidade e autonomia. Na d�cada de 70, diferentes autores definem a psicomotricidade como uma motricidade de rela��o, enquanto na mesma �poca, profissionais estrangeiros convidados vinham ao Brasil para a forma��o de profissionais brasileiros. Em 1977 � fundado GAE, Grupo de Atividades Especializadas, que veio a promover a partir de 1980 v�rios encontros nacionais e latino-americanos. O 1� Encontro Nacional de Psicomotricidade foi realizado em 1979. O GAE � respons�vel pela parte cl�nica e o ISPE, Instituto Superior de Psicomotricidade e Educa��o, destinado � forma��o de profissionais em psicomotricidade, se dedica ao ensino de aplica��es da psicomotricidade em �reas de sa�de e educa��o. Em 1982, o ISPE-GAE realiza o v�nculo cient�fico-cultural com a Escola Francesa atrav�s da exclusiva Delega��o Brasileira da OIPR -Organisation Internationale de Psychomotricit� et de Relaxation. A SBP - Sociedade Brasileira de Psicomotricidade, entidade de car�ter cient�fico-cultural sem fins lucrativos, foi fundada em 19 de abril de 1980 com o intuito de lutar pela regulamenta��o da profiss�o, unir os profissionais da psicomotricidade e contribuir para o progresso da ci�ncia, promovendo congressos, encontros cient�ficos, cursos, entre outros. Come�a ent�o, a ser delimitada uma diferen�a entre postura reeducativa e uma terap�utica, j� demonstrando diferen�as em interven��es da Psicomotricidade, e que, ao despreocupar-se da t�cnica instrumentalista e ao ocupar-se do corpo em sua globalidade, vai dando progressivamente, maior import�ncia � rela��o, � afetividade e ao emocional, acompanhando as tend�ncias do momento por que passava. No entanto, sob o prisma do discurso da SBP, a psicomotricidade n�o � a soma da psicologia com a motricidade, ela tem valor em si. Para o psicomotricista, o conceito de unidade ultrapassa a liga��o entre psico e soma. O indiv�duo � visto dentro de uma globalidade, e n�o num conjunto de suas inclina��es (SBP, 2003) e (ISPE-GAE, 2007).

    Encontramos v�rias defini��es para a Psicomotricidade. Cada autor coloca o seu olhar para defini-la. A ISPE-GAE e a SBP definem respectivamente a Psicomotricidade e o emprego de seu termo como:

    �Psicomotricidade � uma neuroci�ncia que transforma o pensamento em ato motor harm�nico. � a sintonia fina que coordena e organiza as a��es gerenciadas pelo c�rebro e as manifesta em conhecimento e aprendizado.

    Psicomotricidade � a manifesta��o corporal do invis�vel de maneira vis�vel.

    � uma ci�ncia terap�utica adotada na Europa h� mais de 60 anos, principalmente na Fran�a, que instituiu o primeiro curso universit�rio de Psicomotricidade em 1963 (

ISPE-GAE, 2007).

    a ci�ncia que tem como objeto de estudo o homem atrav�s do seu corpo em movimento e em rela��o ao seu mundo interno e externo, bem como suas possibilidades de perceber, atuar, agir com o outro, com os objetos e consigo mesmo. Est� relacionada ao processo de matura��o, onde o corpo � a origem das aquisi��es cognitivas, afetivas e org�nicas. (S.B.P.1999)

    Psicomotricidade, portanto, � um termo empregado para uma concep��o de movimento organizado e integrado, em fun��o das experi�ncias vividas pelo sujeito cuja a��o � resultante de sua individualidade, sua linguagem e sua socializa��o� (SBP, 2003).

    Nas palavras de Defontaine: �La Psychomotricit� est le d�sir de faire, du vouloir faire; l� savoir faire et le pouvoir faire� (DEFONTAINE apud OLIVEIRA, 2001, p. 28). �A psicomtricidade � um caminho, � o desejo de fazer, de querer fazer; o saber fazer e o poder fazer� (ibidem, 2001, p. 34). Defontaine declara que s� poderemos entender a psicomotricidade atrav�s de uma triangula��o corpo, espa�o e tempo. Defontaine define os dois componentes da palavra; psico significando os elementos do esp�rito sensitivo, e motricidade traduzindo-se pelo movimento, pela mudan�a no espa�o em fun��o do tempo e em rela��o a um sistema de refer�ncia (ibidem, 2001, p. 35). O Prof. Dr. J�lio de Ajuriaguerra, a Prof�. Dr�. Dalila M. M. de Costallat e a Prof�. Dr�. Maria Beatriz da Silva Loureiro, fundadora do GAE e do ISPE,conceituam e definem respectivamente a Psicomotricidade de seguinte modo:

    �A Psicomotricidade se conceitua

como ci�ncia da Sa�de e da Educa��o, pois indiferente das diversas escolas, psicol�gicas, condutistas, evolutistas, gen�ticas, etc. ela visa a representa��o e a express�o motora, atrav�s da utiliza��o ps�quica e mental do indiv�duo (AJURIAGUERRA apud ISPE-GAE, 2007).

    Psicomotricidade � a ci�ncia de s�ntese,

que com a pluralidade de seus enfoques, procura elucidar os problemas, que afetam as interrela��es harm�nicas, que constituem a unidade do ser humano e sua conviv�ncia com os demais (COSTALLAT apud ISPE-GAE, 2007).

    A Psicomotricidade � a otimiza��o corporal

dos potenciais neuro, psico-cognitivo funcionais, sujeitos as leis de desenvolvimento e matura��o, manifestados pela dimens�o simb�lica corporal pr�pria, originale especial do ser humano� (LOUREIRO apud ISPE-GAE, 2007).

    J� Fonseca afirma que se deve tentar evitar uma an�lise desse tipo para n�o cair no erro de enxergar dois componentes distintos: o ps�quico e o motor, pois ambos s�o o mesmo (FONSECA apud OLIVEIRA, 2001). A psicomotricidade para Fonseca n�o � exclusiva de um novo m�todo ou de uma �escola� ou de uma �corrente� de pensamento, nem constitui uma t�cnica, um processo, mas visa fins educativos pelo emprego do movimento humano (ibidem, 2001).

    Para Nicola, uma conceitua��o atual de psicomotricidade � que esta ci�ncia nova, cujo objeto de estudo � o homem nas suas rela��es com o corpo em movimento, encontra sua aplica��o pr�tica em formas de atua��o que configuram uma nova especialidade. A psicomotricidade estuda o homem na sua unidade como pessoa (NICOLA, 2004, p. 5). Nicola ainda fornece outro conceito, pautada na soma do termo Motricidade e do prefixo Psico:

    �Motricidade: por defini��o conceitual � a propriedade que t�m certas c�lulas nervosas de determinar a contra��o muscular.

    Psico (Gr Psyqu�): vem representar a alma, esp�rito, intelecto.

    Psicomotricidade: condi��o de um estado de coisas corpo / mente. Vis�o global de um indiv�duo, onde a base de atua��o est� no conhecimento desta fus�o.� (ibidem, 2004, p. 5).

    No geral, os psicomotricistas n�o costumam gostar do termo motricidade, pois enxergam a motricidade indissoci�vel da psique humana. O termo motricidade � mais utilizado pela �rea da educa��o f�sica no �mbito da perspectiva do treinamento esportivo, ligado � coordena��o motora como qualidade f�sica, sendo interpretado de forma diferente da perspectiva da Psicomotricidade. Tamb�m h� uma �rea do conhecimento que trata a motricidade como um dos seus objetos te�ricos e pr�ticos de estudo: � a da Ci�ncia da Motricidade Humana - CMH, ou Cineantropologia, articulada com um corpo epistemol�gico pr�prio e que enfoca a motricidade sob um paradigma diferente do da Psicomotricidade. Mas visto que, quando se aborda a motricidade humana, a psique humana n�o � deixada de fora, certos embates sem�nticos n�o merecem tantas linhas de discuss�o. � necess�rio observar os objetos de estudos sob a perspectiva de cada �rea do conhecimento para uma compreens�o isenta de polui��o epistemol�gica ou preconceito cient�fico.

    O conceito de Ci�ncia da Motricidade Humana do Programa de Ci�ncia da Motricidade Humana da Universidade Castelo Branco, Rio de Janeiro, � o seguinte:

    �Ci�ncia da Motricidade Humana � a �rea do saber que estuda as m�ltiplas possibilidades intencionais de interpreta��o do ser do Homem e de suas condutas e comportamentos motores no �mbito da fenomelalogia existencial transubjetiva e da filosofia dos valores, ou seja, a partir da complexidade cultural de uma vida existencial inserida em um contexto de circunst�ncia e facticidade e de corporeidade de um �ser Humano�, do �ente� (do Ser do Homem), em um permanente estado de necessidades, oriundas de suas car�ncias, priva��es ou vacuidades de natureza: bio-f�sicas; bio-ps�quicas ou emocionais; bio-morais (bio�tica) ou humanas; bio-sociais ou hist�ricas; e bio-transcendentes ou c�smicas. Tais possibilidades de interpreta��o s�o operacionalizadas de forma multidisciplinar, interdisciplinar, transdisciplinar e atrav�s dos mecanismos cognoscitivos da pr�-compreens�o fenomenol�gica, da explica��o fenom�nica e da ordena��o axiol�gica.� (BERESFORD, 2004).

    Nesta cita��o e tamb�m em outros trabalhos de autores que comp�e o corpo epistemol�gico da CMH, nos deparamos com diversos conceitos que s�o encontrados nesta �rea, como: conduta motora, comportamento motor, corporeidade, comunica��o motora, ergomotricidade, ludomotricidade, ludoergomotricidade, entre outros. Para n�o alongar demais este trabalho e por j� estar trabalhando com o conceito de motricidade, foi escolhido somente este para perfazer um pequeno esbo�o da perspectiva da CMH para a motricidade:

    �Motricidade: Processo adaptativo, evolutivo e criativo de um ser pr�xico, carente dos outros, do mundo e da transced�ncia. Intencionalidade operante, segundo Maurice Merleau-Ponty. O f�sico, o biol�gico e o antropossociol�gico est�o nela, como a dial�tica numa totalidade. Como ser carente, o homem � um ser pr�xico e onde, por isso, a motricidade se afirma na intencionalidade electiva. Mas a motricidade humana e, conseq�entemente, cultura, acima do mais � cultura n�o ancilosada em erudi��o inerte, mas cultivada porque praticada. A motricidade n�o se confunde com a motilidade. Esta n�o excresce a faculdade de execu��o de movimentos que resultam da contra��o de m�sculos lisos ou estriados. A motricidade est� antes da motilidade, porque tem a ver com os aspectos psicol�gico, organizativo, subjetivo do movimento. A motricidade � o virtual e a motilidade, o actual, de todo o movimento. Afinal, a motilidade � express�o da motricidade.� (CUNHA, 1994, p. 156).

    Continuando a conceitua��o por outros autores, de acordo com Neto: �A motricidade � a intera��o de diversas fun��es motoras (perceptivomotora, neuromotora, psicomotora, neuropsicomotora, etc.)� (NETO, 2002, p. 12). Na vis�o de De Meur & Staes �a psicomotricidade quer justamente destacar a rela��o existente entre a motricidade, a mente e a afetividade e facilitar a abordagem global da crian�a por meio de uma t�cnica.� (DE MEUR & STAES, 1991, p. 5).

    Segundo uma defini��o considerada por Jacques Chazaud, citada por Alves, �a psicomotricidade consiste na unidade din�mica das atividades, dos gestos, das atitudes e posturas, enquanto sistema expressivo, realizador e representativo do �ser-em-a��o� e da �coexist�ncia� com outrem� (CHAZAUD apud ALVES, 2003, p. 15).

    Sob o ponto de vista do �ser-em-a��o� e tamb�m abordando sob um enfoque hist�rico-antropol�gico, podemos recorrer aos estudos de Harrow (apud OLIVEIRA, 2001), que faz uma an�lise sobre o homem primitivo ressaltando como o desafio de sua sobreviv�ncia estava ligado ao desenvolvimento psicomotor e seu car�ter utilit�rio. As atividades b�sicas consistiam em ca�a, pesca e colheita de alimentos e, para isto, os objetivos psicomotores eram essenciais para a continua��o da exist�ncia em grupo. Necessitavam de agilidade, for�a, velocidade, coordena��o. A recrea��o, os ritos cerimoniais e as dan�as em exalta��o aos deuses, a cria��o de objetos de arte tamb�m eram outras atividades desenvolvidas por eles. Tiveram que estruturar suas experi�ncias de movimentos em formas utilit�rias mais precisas. Hoje, o homem tamb�m necessita destas habilidades embora tenha se aperfei�oado mais para uma melhor adapta��o ao meio em que vive. Necessita ter um bom dom�nio corporal, boa percep��o auditiva e visual, uma lateraliza��o bem definida, faculdade de simboliza��o, orienta��o espa�o-temporal, poder de concentra��o, percep��o de forma, tamanho, n�mero, dom�nio dos diferentes comandos psicomotores como coordena��o fina, global, equil�brio. Harrow cita ainda os sete movimentos ou modelos de movimentos b�sicos inerentes ao homem que s�o: correr, saltar, escalar, levantar peso, carregar (sentido de transportar), pendurar e arremessar; todos eles b�sicos em trabalhos de pr�ticas e viv�ncias psicomotoras atuais.

    O Laborat�rio de Curr�culos da Secretaria de Educa��o do Estado do Rio de Janeiro em 1981 define a educa��o psicomotora como a educa��o da crian�a atrav�s de seu pr�prio corpo e de seu movimento. A crian�a � vista em sua totalidade e nas possibilidades que apresenta em rela��o ao meio ambiente, isto �, a educa��o deve ser feita em fun��o da idade e dos interesses das crian�as. Desta forma, a passagem de uma fase para outra ser� gradativa e dentro do tempo pr�prio de cada crian�a. O professor deve acompanhar este tempo sem tentar for�ar uma antecipa��o. Por isso, a psicomotricidade tem como ponto de partida o desenvolvimento psicol�gico da crian�a, na medida em que acompanha as leis do amadurecimento do sistema nervoso atrav�s da mieliniza��o. Uma das suas finalidades � preparar a base para a educa��o daquelas capacidades indispens�veis � aprendizagem escolar, evitando dificuldades t�o comuns � alfabetiza��o (ARA�JO, 1998).

    Observamos que o Laborat�rio de Curr�culos da Secretaria de Educa��o do Estado do Rio de Janeiro toma como ponto de partida para o desenvolvimento da crian�a o aspecto psicol�gico e do sistema nervoso, quanto ao aspecto da matura��o da mieliniza��o, o qu� podemos constatar nos estudos de Fonseca.

    Para Lapierre e para Le Boulch apud Oliveira, a educa��o psicomotora deve ser uma forma��o de base indispens�vel a toda crian�a (OLIVEIRA, 2001). Para Oliveira, o movimento � um suporte que ajuda a crian�a adquirir o conhecimento do mundo que a rodeia atrav�s de seu corpo, de suas percep��es e sensa��es (ibidem, 2001). De acordo com esta autora, a psicomotricidade se prop�e a permitir ao homem �sentir-se bem na sua pele�, permitir que se assuma como realidade corporal, possibilitando-lhe a livre express�o de seu ser; pois de acordo com a autora, o indiv�duo n�o � feito de uma s� vez, mas se constr�i, paulatinamente, atrav�s da intera��o com o meio e de suas pr�prias realiza��es e a psicomotricidade desempenha a� um papel fundamental (ibidem, 2001).

    Le Boulch aponta correntes distintas na psicomotricidade. Enquanto uma aponta para a educa��o psicomotora, outra, para a terapia e reeduca��o psicomotora (LE BOULCH, 1982). Estas correntes j� apontam n�o s� para diferentes interven��es, de um modo superficial, sob a perspectiva de mercado e atua��o profissional, mas, sobretudo, de diferentes olhares.

    Fonseca nos diz que, a psicomotricidade tende atualmente a ser reconceitualizada, n�o s� pela �intrus�o� de fatores antropol�gicos, filogen�ticos, ontogen�ticos, paraling��sticos, como essencialmente cibern�ticos e psiconeurol�gicos. � na integra��o transdisciplinar destas �reas do saber que provavelmente se colocar� no futuro a evolu��o e atualiza��o do conceito de psicomotricidade (FONSECA, 1995). Deste modo, Fonseca exp�e um fato comum que ocorre em todas as �reas da Ci�ncia, devido � quantidade de informa��es que devem ser compartilhadas, pelas atua��es e trabalhos transdisciplinares, e pelos diferentes novos olhares e abordagens que v�m surgindo a todo instante nas mais diferentes �reas.

    Para Lorenzon, em rela��o � defini��o da psicomotricidade conv�m referir que seu estudo � recente, pois ainda no in�cio deste s�culo era tratada excepcionalmente. Pouco a pouco, a psicomotricidade afirma-se em diversas orienta��es que atualmente tentem agrupar-se (LORENZON, 1995). Neste sentido � natural que institui��es norteadoras da �rea, como a SBP, apontem os conceitos, defini��es e abrang�ncia de atua��o. Neste caso, Psicomotricista, segundo a SBP, � o profissional da �rea de sa�de e educa��o que pesquisa, ajuda, previne e cuida do Homem na aquisi��o, no desenvolvimento e nos dist�rbios da integra��o somaps�quica (SBP, 2003).

    Suas �reas de atua��o segundo a SBP s�o: �Educa��o, Cl�nica (Reeduca��o, Terapia), Consultoria e Supervis�o.� (ibidem, 2003). A interven��o psicomotora tamb�m pode ser diversificada. Mas Mello aponta tr�s �reas b�sicas de atua��o psicomotora:

    �Nos estudos dos pesquisadores recentes, s�o apontados tr�s principais campos de atua��o ou formas de abordagem da Psicomotricidade: 1. Reeduca��o Psicomotora; 2. Terapia Psicomotora; e 3. Educa��o Psicomotora. Embora em certos trabalhos esses tr�s n�veis de atua��o cheguem a confundir-se, existem caracter�sticas pr�prias em cada um deles.� (MELLO, 2002, p. 33).

    De acordo com Neto, na atualidade, existe um grande n�mero de profissionais de �reas diversas que utilizam a motricidade ou a psicomotricidade em diferentes contextos e em diferentes faixas et�rias, como em escolas, cl�nicas de reabilita��o, academias, hospitais e outros (NETO, 2002). Segundo ele:

    �profissionais de medicina (pediatria, psiquiatria, neurologia e reabilita��o infantil); psicologia (psicologia evolutiva, do esporte e especial); educa��o f�sica e pedagogia (ensino regular e fundamental); fisioterapia e fonoaudiologia. A an�lise dessa realidade leva � busca de crit�rios claros que justifiquem tal situa��o de heterogeneidade � tanto no �mbito da interpreta��o de aspectos te�ricos fundamentais como nas decis�es relativas � sua aplica��o.� (ibidem, 2002, p. 12).

    Tamanha diversifica��o profissional, �reas e sub-�reas n�o muito bem delimitadas, assim como, compet�ncias que acabam por invadir determinadas interven��es, podem causar conflitos em �reas de interven��o profissional. A clientela atendida pelo psicomotricista, como veremos, tamb�m � diversificada. Segundo a SBP, esta clientela � a seguinte:

    �Crian�as em fase de desenvolvimento; beb�s de alto risco; crian�as com dificuldades/atrasos no desenvolvimento global; pessoas portadoras de necessidades especiais: defici�ncias sensoriais, motoras, mentais e ps�quicas; pessoas que apresentam dist�rbios sensoriais, perceptivos, motores e relacionais em conseq��ncia de les�es neurol�gicas; fam�lia e a 3� idade.� (SBP, 2003).

    E o mercado de trabalho do psicomotricista, o qual mais uma vez podemos caracterizar amplo e diversificado, segundo a SBP consiste em creches; escolas; escolas especiais; cl�nicas multidisciplinares; consult�rios; cl�nicas geri�tricas; postos de sa�de; hospitais; empresas (ibidem, 2003). Como observamos, a atua��o do psicomotricista, profiss�o n�o regulamentada, cujo alguns entendem estar englobada pela �rea da Educa��o F�sica, quando se trata de atuar no �mbito das atividades f�sicas, certas vezes pode, portanto, adentrar tamb�m no �mbito da reabilita��o, �rea caracter�stica da Fisioterapia e em certos casos da Fonoaudiologia e da Medicina e Psicologia.

Resultados e conclus�o

    Ap�s descrever uma breve narrativa da hist�ria e do desenvolvimento da Psicomotricidade e alguns de seus principais personagens, foi constatada atrav�s do discurso de diversos autores e institui��es, que n�o h� um conceito e defini��o �nica. Existem olhares plurais sobre a Psicomotricidade, o que n�o quer dizer que tais discursos possam divergir, pelo contr�rio, tais discursos s�o pautados em pressupostos comuns da Psicomotricidade. Quanto ao aspecto da interven��o na �rea da psicomotricidade, foi verificado que h� basicamente tr�s �reas de atua��o: educa��o, reeduca��o e terapia psicomotora. Apesar de j� haver a v�rios anos no Brasil, cursos de gradua��o e p�s-gradua��o latu senso em psicomotricidade reconhecidos pelo MEC, a Psicomotricidade ainda n�o � uma profiss�o regulamentada: �No Brasil, tramitamos com um projeto de legaliza��o da profiss�o do psicomotricista na Assembl�ia Nacional desde 1996� (ISPE-GAE, 2007), �A Sociedade Brasileira de Psicomotricidade... tem como objetivo maior a busca pela legaliza��o do projeto que regulamenta a profiss�o� (SBP, 2003). E por ser a Psicomotricidade uma profiss�o n�o regulamentada, e por vezes, profissionais de diferentes �reas possivelmente adentrarem em interven��es delimitadas a outras profiss�es, acreditamos que podem ocorrer conflitos de atua��o e interven��o profissional em determinadas �reas.

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Outros artigos em Portugu�s

 
Acerca da construção histórica do conceito de psicomotricidade, é correto afirmar que:

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Qual a origem da psicomotricidade?

Já o termo “Psicomotricidade” apareceu pela primeira vez no discurso médico, no campo da neurologia, tendo como pioneiro o neurologista francês Ernest Dupré (1862 – 1921), que no século XIX constatou disfunções graves evidenciadas no corpo sem que o cérebro tivesse nenhuma lesão.

Que se refere às finalidades da psicomotricidade é correto afirmar?

Sobre a psicomotricidade é CORRETO afirmar que: I - É a ciência que tem como objeto de estudo o homem por meio do seu corpo em movimento e em relação ao seu mundo interno e externo. II - Está relacionada ao processo de maturação, onde o corpo é a origem das aquisições cognitivas, afetivas e orgânicas.

Qual é o ponto principal da psicomotricidade?

A psicomotricidade refere-se diretamente ao movimento humano. É o relacionamento através da ação, é a integração do corpo com a natureza. Como ciência, a psicomotricidade é definida tendo como objeto de estudo o homem através de seu corpo em movimento relacionado com a sociedade e consigo mesmo.

Em que ano se nomeia pela primeira vez a psicomotricidade?

Justamente, é a necessidade médica de encontrar uma área que explique certos fenômenos clínicos que nomeia, pela primeira vez, o termo psicomotricidade, no ano de 1870.