Como a realização da atividade turística pode contribuir?

1. Introdução

O modelo de desenvolvimento aplicado nos países ocidentais tem sido pautado no incremento da atividade econômica, em detrimento de outras dimensões do desenvolvimento. Para diversos autores como Brown (2003) e Leff (2009), este modelo desenvolvimentista deteriorou as bases da sustentabilidade, de modo que, se criou uma economia que não pode sustentar esse progresso, uma economia que não pode conduzir a um devido equilíbrio e equidade dentre todos os aspectos que devem compor o desenvolvimento, como as questões de ordem social, ambiental, institucional, entre outras. Diante disso, atenta‑se para a necessidade de um redirecionamento do modelo de desenvolvimento vigente, em busca de uma sociedade que apenas não cresça, mas se desenvolva sustentavelmente. A partir da perspectiva do desenvolvimento sustentável, percebe‑se a necessidade de um novo direcionamento das diversas atividades econômicas desenvolvidas na sociedade (agricultura, turismo, agronegócio, dentre outras). Dentre as atividades econômicas, o turismo é uma atividade que apresenta estreita relação com o meio ambiente, haja vista que a paisagem natural e a biodiversidade são, muitas vezes, um dos principais fatores impulsionadores do desenvolvimento turístico numa área (Beni, 2007), além de ser fundamental para a economia de diversas regiões (Jarvis, et al. 2015).

Para Cooper et al, (2007), os impactos mais comuns decorrentes do turismo são: poluição da água, do ar, dos mares; a erosão do solo e a degradação de florestas; aumento da paisagem construída em detrimento da paisagem natural; excesso de resíduos; incremento no consumo de energia elétrica, dentre outros. Por outro lado, o turismo é uma atividade que vem crescendo e contribuindo para o crescimento econômico do país, sobretudo por envolver diferentes atores econômicos em sua cadeia produtiva e pode gerar impactos econômicos, sociais e ambientais na localidade. Assim, o turismo pode ser considerado um fenômeno não só na esfera econômica, mas também política, sociocultural e ambiental (Rocha & Zouain, 2015), por isso é preciso que a atividade turística considere os princípios da sustentabilidade, qual seja, o equilíbrio e equidade entre as dimensões social, econômica e ambiental. Neste sentido, destaca‑se a utilização os indicadores de sustentabilidade. Para Butler (2004) uma das formas para a operacionalização do turismo de uma maneira mais sustentável é a utilização de sistemas de indicadores de sustentabilidade, pois estes são capazes de prover informações importantes que podem estimular a compreensão dos problemas econômicos, sociais e ambientais, assim como facilitar a capacidade da comunidade em criar e conduzir políticas e projetos de desenvolvimento.

Para os fins deste estudo foi dada ênfase em indicadores designados especificamente para atividade turística, no qual foi analisado um conjunto de sistemas de indicadores de sustentabilidade específicos. Dentre os sistemas de indicadores de sustentabilidade analisados, destacam o conjunto de indicadores da Organización Mundial De Turismo (2005), Elavai (2006), Estudos da Competitividade do Turismo Brasileiro do Ministério do Turismo (2007), Hanai (2009), Ruschmann (2010) e Falcão (2010), dentre estes selecionou‑se o modelo proposto por Hanai (2009), qual seja, o Sistema de Indicadores de Sustentabilidade do Desenvolvimento do Turismo – SISDTur, este considerado como um dos modelos mais completos, visto que contempla as dimensões (econômico, social, ambiental, cultural, institucional e turística) da sustentabilidade, além de ser um sistema de indicadores elaborado a partir de uma abordagem participativa, que envolve a comunidade local do município foco do estudo, bem como leva em consideração visões de outros grupos envolvidos na pesquisa.

Como loco de pesquisa foi selecionado o destino turístico Porto de Galinhas por este possuir um ecossistema bastante rico e diversificado, ser considerado um dos 65 indutores do turismo no Brasil, além de ter demanda crescente de turistas e de participação na economia local, no entanto, apresenta alguns problemas em muitas dimensões da sustentabilidade (Lima, 2006; Araújo & Sonia‑Silva, 2007; Mesquita & Xavier, 2013) por isso a necessidade de estudos que tragam à tona as questões relacionadas à sustentabilidade do destino turístico.

A partir destas considerações, o objetivo do artigo é analisar as atividades turísticas desenvolvidas em Porto de Galinhas – PE, a partir da aplicação de um conjunto de indicadores de sustentabilidade para o turismo. Para tanto, foi utilizada a metodologia proposta por Hanai (2009) e como estratégia de pesquisa realizou‑se um estudo de caso. De abordagem qualitativa, a coleta de dados se deu por meio de entrevistas semiestruturadas realizadas com os principais atores sociais envolvidos com as atividades turísticas, além de observações não participantes e dados secundários.

Cabe ressaltar que esta pesquisa apresenta como contribuição teórica a aplicabilidade do SISDTur em outro contexto turístico do que este foi elaborado, ou seja, em um destino turístico praieiro, cujos resultados implicou em um diagnóstico da atividade turística desenvolvida na Vila de Porto de Galinhas (PE), o qual deverá ser utilizado pelos gestores locais para elaboração de práticas que possam minimizar os impactos negativos resultados do turismo local. Em termos de estrutura, este artigo é dividido em cinco seções, além deste conteúdo introdutório, segue a revisão da literatura, em seguida, são explicitados os procedimentos metodológicos para realização da pesquisa, a apresentação e análise dos dados e, por fim, as considerações finais.

2. Desenvolvimento local sustentável e o Turismo

Durante muitos anos a humanidade acreditava que a capacidade de renovação dos recursos naturais resistiria às práticas de exploração, sendo essas práticas inevitáveis à existência humana. No entanto, estas práticas vêm sendo questionadas frente às consequências que o próprio homem vem sofrendo. Diante desta constatação, surge a necessidade de um novo paradigma de desenvolvimento caracterizado pelo ambientalismo renovado, que busca conciliar o desenvolvimento econômico com a preservação ambiental e, ainda, manter relações sociais adequadas. Neste contexto é que surge o conceito de desenvolvimento sustentável, definido no Relatório de Brundtland, no qual o mesmo é entendido como “um processo de mudança em que a exploração dos recursos, a direção dos investimentos, a orientação do desenvolvimento tecnológico e a mudança institucional estão todos em harmonia” para que as necessidades humanas possam ser satisfeitas atualmente e no futuro (Wcde, 1987, p. 46).

O tema desenvolvimento sustentável é alvo de muitos questionamentos e polêmicas, haja vista que seu alcance induz transformações teóricas para o desenvolvimento do conhecimento em diversas disciplinas científicas, exigindo uma integração de conhecimentos e uma totalização do saber, de forma sistêmica, sendo, portanto, essencial ter uma visão interdisciplinar levando em consideração as necessidades e complexidades do sistema (Leff, 2009). Assim, percebe‑se a necessidade de um planejamento das atividades desenvolvidas em uma localidade levando em consideração os limites dos recursos naturais e de sua capacidade de renovação.

De acordo com Hardy, Beeton e Pearson (2002), no debate sobre a proteção do ambiente há setores que são tradicionalmente apontados como os principais responsáveis pelos problemas ambientais, tais como a indústria do aço, as refinarias de petróleo, os transportes, a agricultura intensiva, e, mais recentemente, perante a evolução e dinâmica do turismo, a atividade turística também foi considerada como impactante ao meio ambiente (Santos, Marchesini & Cruz, 2015).

Cunha e Cunha (2005) entendem que a direção e a intensidade do impacto (positivo, negativo ou ambos) no turismo, dependem da forma como os atores sociais se organizam e interagem para atingir objetivos comuns de melhoria de qualidade de vida, aumento da competitividade e poder de atração turística, assim como a preservação e proteção do ambiente natural e cultural, resultando em uma atividade menos degradante.

Nessa perspectiva, o turismo visto sob o ponto de vista da sustentabilidade deve ser planejado e executado levando em consideração os aspectos sociais, culturais, ecológicos, biológicos e não somente buscando o retorno econômico, além de considerar o envolvimento da comunidade local e das empresas da iniciativa privada junto com os órgãos públicos responsáveis por seu planejamento (Souza & Ferreira, 2011; Vieira & Araújo, 2015). Surge então a necessidade da incorporação dos princípios de sustentabilidade as atividades turísticas, a qual pode favorecer o planejamento, organização e gestão do turismo de modo a contribuir para o alcance do desenvolvimento local sustentável. Para tanto, destaca‑se a utilização de sistemas de indicadores de sustentabilidade como ferramentas importantes para operacionalização de tal conceito (Hanai, 2009).

No caso da atividade turística, a Organização Mundial do Turismo ‑ OMT (2010) destaca como componente central no processo de planejamento e gerenciamento turístico, a definição e o uso de indicadores de sustentabilidade, uma vez que torna possível monitorar as mudanças ao longo dos tempos de maneira constante e consistente e orientar as alterações de políticas públicas com a finalidade de desenvolver a atividade turística sob o olhar da sustentabilidade.

2.1 Indicadores de sustentabilidade do turismo

O uso de indicadores é parte de uma abordagem holística do planejamento e gestão de destinos turísticos. Neste sentido, Cunha e Cunha (2005) apontam que, as instituições internacionais vinculadas à atividade de turismo têm direcionado esforços para o desenvolvimento de novas metodologias para avaliar, de forma sistêmica e integrada, as relações entre os fatores econômicos, socioculturais, ambientais e político‑institucionais.

Dentre os estudos analisados, conforme mencionados na seção de introdução, selecionou‑se o modelo proposto por Hanai (2009). Como critérios de seleção do sistema de indicadores usado neste estudo, foram utilizadas as diretrizes dos Princípios de Bellagio e as orientações de Bossel (1999), além dos seguintes critérios: completude de abrangência (contempla as dimensões econômica, social, ambiental, cultural, institucional e turística da sustentabilidade), é um modelo elaborado utilizando‑se uma abordagem participativa, que envolve a comunidade local do município foco do estudo, bem como leva em consideração visões de outros grupos envolvidos na pesquisa.

O Sistema de Indicadores de Sustentabilidade do Desenvolvimento do Turismo – SISDTur é composto por vários indicadores e sua análise permite a obtenção de um diagnóstico da sustentabilidade do turismo a partir de um conjunto de seis dimensões. Dentre as dimensões que formam o modelo – ambiental, cultural, social, econômica, turística e institucional – neste estudo foi desconsiderada a dimensão turística, cujo objetivo desta é analisar a estrutura turística do destino analisado, o que evade do escopo deste estudo, cujo foco é analisar a sustentabilidade do destino turístico.

Diante de todas estas considerações, percebe‑se que o turismo, caracterizado como uma atividade que pode impactar direta ou indiretamente o meio ambiente deve ser planejada atentando aos princípios da sustentabilidade. Dessa forma, este estudo utilizou um sistema de indicadores de sustentabilidade consistente que avaliou a atividade turística de Porto de Galinhas, o que propiciou informações que contribuíram para o monitoramento contínuo da atividade sob o olhar da sustentabilidade. A seguir é apresentado o caminho metodológico utilizado para realização desta pesquisa.

3. Método

Com vistas a atender ao objetivo de analisar as atividades turísticas desenvolvidas em Porto de Galinhas – PE, a partir da aplicação de um conjunto de indicadores de sustentabilidade para o turismo, esta pesquisa tem uma abordagem qualitativa. Para Denzin e Lincoln (2006, p.3) a pesquisa qualitativa é uma atividade situada que posiciona o observador no mundo. Ela consiste em um conjunto de práticas interpretativas e materiais que tornam o mundo visível [...] logo os pesquisador estudam as coisas em seus contextos naturais, deste modo tentam entender ou interpretar os fenômenos de acordo com as percepções que as pessoas lhe atribuem.

Assim, foi selecionado o destino turístico Porto de Galinhas para a realização da presente pesquisa, cujo critério principal foi à representatividade do destino no estado de Pernambuco, sua importância econômica e problemas socioambientais resultantes das atividades turísticas que merecem estudos (Lima, 2006; Araújo & Sonia‑Silva, 2007; Mesquita & Xavier, 2013). Após o primeiro contato com a secretaria de turismo local, realizaram‑se algumas reuniões com representante do poder público para explicar os objetivos da pesquisa e identificar quais seriam os primeiros participantes da pesquisa. Depois desse primeiro contato, a seleção dos sujeitos da pesquisa se deu pela representatividade e envolvimento do ator social para o destino turístico. Para tanto, se fez uso da técnica denominada “bola de neve” (snowboll), que permitiu a captura dos sujeitos participantes, onde, a identificação dos entrevistados se deu por indicação dos entrevistados anteriores, os quais pertencem à mesma rede social. A coleta de dados primários foi realizada por meio de entrevistas (com auxílio de um roteiro semiestruturado elaborado com base no SISDTur) e observações não participantes registrados em diários de campos e fotografias além de dados secundários coletados (website da empresa, informativos publicados em jornais e redes sociais). As entrevistas foram realizadas com os atores sociais representantes de empresas locais, comunidade local e poder público. A coleta de dados primários foi concluída tomando como base o princípio da saturação, ou seja, a coleta de dados não iria fazer diferença com relação aos dados já coletados, neste momento chegou‑se a um corpus saturado (Bauer & Aarts, 2004), sendo esta saturação o critério de finalização da coleta que totalizou 30 entrevistas.

O Quadro 1 mostra informações dos participantes. Com consentimento dos participantes, o áudio de cada entrevista foi gravado e, posteriormente, transcrito. Para preservar suas identidades, os participantes foram classificados de acordo com as letras A (representante de empresas), B (instituições e membros da sociedade civil) e C (representantes do poder público).

Quadro 1

– Participantes da pesquisa

Como a realização da atividade turística pode contribuir?

Fonte: Elaboração própria

O roteiro semiestruturado utilizado foi elaborado com base no sistema de indicadores de sustentabi‑ lidade para o turismo proposto por Hanai (2009). Tal sistema de indicadores foi selecionado seguindo os seguintes critérios: completude de abrangência (contempla as dimensões econômica, social, ambiental, cultural, institucional e turística da sustentabilidade), é um modelo elaborado utilizando‑se uma abordagem participativa, que envolve a comunidade local do município foco do estudo, bem como leva em consideração visões de outros grupos envolvidos na pesquisa.

Destaca‑se que o SISDTur é formado por 76 indicadores, distribuídos nas dimensões ambiental, cultural, social, econômica, turística e institucional. Ressalta‑se que a dimensão turística não foi contemplada neste estudo por não fazer parte do seu escopo, o que resultou em 56 indicadores analisados, os quais são apresentados na seção subsequente. Cabe ressaltar que os indicadores foram distribuídos em uma escala, contendo as alternativas “Insustentável” (o destino turístico não implantou o indicador) “Parcialmente Sustentável” (o destino turístico apresenta implantação parcial o indicador) e “Sustentável” (o destino turístico implantou o indicador), classificação esta que permitirá o diagnóstico da sustentabilidade das atividades turísticas de Porto de Galinhas. Com base nesta escala foi feita uma adaptação da classificação proposta por Martins e Cândido (2008) para a atividade turística de Porto de Galinhas, conforme podem ser visualizados no Quadro 02.

Quadro 2

– Classificação e representação dos índices em níveis de sustentabilidade

Como a realização da atividade turística pode contribuir?

Fonte: Adaptado Martins e Cândido (2008)

Para a análise dos dados, optou‑se pela técnica de análise de conteúdo, que compreende um conjunto de técnicas de análise de comunicação, empregando procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens (Bardin, 2011), na qual foi realizada leitura comparativa das citações do sujeito de pesquisa, bem como, sua ordenação, classificação e categorização. A seguir são apresentados os resultados da pesquisa.

4. Apresentação e análise dos resultados

Nesta seção são apresentados os resultados da pesquisa para cada uma das dimensões que formam o SISDTur. Inicialmente é importante saber que Porto de Galinhas pertence ao Município de Ipojuca, este é localizado a uma distância de 50,2 km do Recife, capital de Pernambuco, e possui uma área de 512,6 km² (representando 0,52% do território pernambucano) (Prefeitura de Ipojuca, 2016).

Dentre as praias do litoral sul de Pernambuco, Porto de Galinhas destaca‑se por suas belezas naturais como piscinas de águas claras e mornas, areia branca e coqueirais. Juntamente com Recife/Olinda e Fernando de Noronha, é um dos destinos turísticos de maior destaque de Pernambuco e que contribui significamente para a economia do Estado, recebe milhares de turistas do mundo inteiro, principalmente nos períodos mais quentes do ano (Portal Oficial De Porto de Galinhas, 2016).

4.1 Dimensão ambiental

Esta dimensão é formada por 26 indicadores distribuídos em 10 descritores, destes 22 foram clas‑ sificados como insustentáveis, 03 como parcialmente sustentáveis e apenas um indicador foi avaliado como sustentável, ou seja, apenas uma prática relativa a dimensão ambiental foi implantada no destino turístico, conforme é apresentado no Quadro 03 a seguir.

Quadro 3

– Resultados dos indicadores da dimensão ambiental do SISDTur.

Como a realização da atividade turística pode contribuir?

Fonte: Elaboração própria

Analisando‑se o Quadro 03, verifica‑se que a maioria dos indicadores que compõem a dimensão am‑ biental é considerada “insustentável”, ou seja, não tem tais indicadores implantados no destino turístico, o que contribui negativamente para a sustentabilidade ambiental do turismo em Porto de Galinhas. A falta de infraestrutura básica, como tratamento do esgoto e o manejo inadequado dos resíduos sólidos, foram um dos indicadores mencionados pelos entrevistados como sendo dos mais preocupantes e que precisam de soluções urgentes. Especificamente sobre a geração e manejo dos resíduos sólidos gerados em Porto de Galinhas, Santos e Cândido (2015) apontam que é gerada uma quantidade expressiva de resíduos por dia em Porto de Galinhas, sobretudo no período de alta estação e que seu destino final é um “lixão a céu aberto”.

Segundo dados disponibilizados pela Associação dos Agentes de Reciclagem (RECICLE), em Porto de Galinhas são gerados em média 100 toneladas de resíduos sólidos por dia, podendo aumentar com intensidade no período de alta estação. Considerando a quantidade de residentes locais, é significante a quantidade de lixo gerada no destino turístico. Este é um dado preocupante, visto que em Porto de Galinhas o destino dos resíduos gerados é um lixão a céu aberto, sendo este o local que algumas famílias tiram o seu sustento e trabalham em condições precárias, segundo dados das entrevistas A2 e B18.

Hespanhol (2008) acredita que a prática de conservação e reuso da água vem se disseminando por todo o Brasil, o qual consiste basicamente na gestão da utilização das fontes alternativas de água e na redução dos volumes de água captados por meio da otimização do uso. Entretanto esta prática não é percebida em Porto de Galinhas, haja vista que, segundo os entrevistados, não se tem um programa efetivamente realizado junto aos atores sociais e/ou turistas com o objetivo de minimização do consumo de água, nem tão pouco existe uma política e/ou plano específicos para esta finalidade, por isso estes indicadores foram tidos como insustentáveis.

Algumas empresas citaram as ações realizadas em seus próprios estabelecimentos para a redução do consumo de água, como é relatado nos depoimentos abaixo.

“Não se tem um programa efetivo sobre água aqui em Porto de Galinhas, a prefeitura de vez em quando é que faz uns eventos lá na praça do relógio, mas nada que envolva todo mundo. Aqui na pousada eu ponho uns adesivos nos chalés e suítes próximos as torneiras e chuveiros para que os turistas tome consciência e não desperdice água...” (Entrevistado A11 – Iniciativa privada).

“Alguns hotéis, como o Vivá, fazem redução do consumo de água reutilizando a água usada nas piscinas para jardinagem, para lavar calçadas, áreas de lazer (...) Todos devem buscar reduzir o consumo de água mesmo e estas ações são importantes para esta redução” (Entrevistado A8 – Iniciativa privada).

Outro indicador analisado como insustentável e destacado pelos entrevistados refere‑se à falta de tratamento de esgoto. É comum encontrar esgotos nas ruas de Porto de Galinhas o que causa odores desagradáveis e poluição. Todos os entrevistados apontaram o esgoto como um dos sérios problemas em Porto de Galinhas, como observado nos trechos a seguir:

“(...) aqui a falta de tratamento de esgoto é um dos principais problemas, aqui o que se faz é jogar no rio, a prefeitura trata o esgoto dessa forma, entendeu?” (Entrevistado B15).

“Reconheço que este é um dos maiores e piores problemas aqui de Porto de Galinhas... A prefeitura vem fazendo algo no sentido de solucionar, já temos alguns projetos em andamento” (Entrevistado C28).

A partir das visitas in loco foi possível perceber que não há uma preocupação efetiva quanto às questões ambientais no destino turístico, o que justifica os resultados encontrados. O poder público apresenta secretarias específicas e entidades localizadas no próprio destino turístico para tratar sobre as questões ambientais, quais sejam: escritório litoral, coordenadoria distrital, secretaria do meio ambiente, blitz ambiental, mas que não desenvolvem um trabalho eficaz para soluções dos problemas ambientais, por isso o indicador “Existem estruturas organizacionais e administrativas específicas em meio ambiente no Município” foi avaliado como parcialmente sustentável. Existem também as organizações não governamentais que buscam desenvolver projetos com objetivo de garantir a sustentabilidade do próprio destino. Dessa forma, atenta‑se para a necessidade destas instituições engajarem‑se objetivando alcançar maiores resultados em seus trabalhos, assim como, estas com o poder público e com as empresas para apoiar e contribuir para que seja possível uma atividade menos degradante ao meio ambiente, a partir da gestão ambiental integrada.

O único indicador avaliado como sustentável foi “Há programas de manejo de resíduos perigosos no Município”, uma vez que há um adequado tratamento para os resíduos perigosos gerados pelos serviços de saúde em Porto de Galinhas, segundo o entrevistado C26 este serviço é terceirizado a empresa SERQUIP ‑ Tratamento de Resíduos, com coletas realizadas diariamente nos órgãos de saúde. Desse modo, percebe‑se que a maioria dos indicadores são analisados como “insustentável”, recomenda‑se a realização de algumas ações sejam desenvolvidas com a finalidade de minimizar os problemas ambientais apontados, além de não envolverem efetivamente todos os atores sociais locais.

4.2 Dimensão cultural

A dimensão cultural teve por objetivo identificar as iniciativas e empenho dos atores sociais locais na valorização da cultura local. Os resultados desta dimensão são observados no Quadro 04.

Quadro 4

– Resultados dos indicadores da dimensão cultural do SISDTur.

Como a realização da atividade turística pode contribuir?

Fonte: Elaboração própria

A partir das entrevistas e das visitas durante a coleta de dados, foi possível perceber a existência de produtos típicos locais ofertados, tais como artesanatos, produtos alimentícios, dentre outros, de modo que contribuem para o aquecimento da economia local. No que se refere ao artesanato, há vários produtos ofertados nas lojas, dos mais variados possíveis, o símbolo que define o produto típico local do destino turístico é a galinha, o que pode ser visualizado nas falas dos entrevistados descritas a seguir.

“(...) o produto de artesanato de Porto de Galinhas são as galinhas, os turistas sempre levam algum tipo de produto, as galinhas estão em tudo... Foi daqui, tem que ter galinha (risos)!!” (Entrevistado A1).

“O artesanato aqui gira em torno das galinhas, qualquer produto que tenha galinha, já é considerado como um produto daqui, o povo pensa em tudo, você pode ver, tem muitos produtos aí nas lojas, não tem um certo daqui, mas teve galinha já é daqui” (Entrevistado B19).

Segundo os entrevistados A6 e A9, é uma prática comum os turistas comprarem souvenires que tenha galinha para presentarem seus parentes. Embora sejam consideráveis os tipos e números de produtos que apresentem a galinha, outros produtos também ofertados, embora em quantidade bem inferiores, enaltecem a cultura de Pernambuco como o frevo, xaxado, lampião e Maria bonita, dentre outros ícones da cultura nordestina.

De acordo com os entrevistados B20 e C30, a maioria dos produtos comercializados não são fabricados no próprio destino turístico, a maioria destes vem de Caruaru, Município localizado no Agreste de Pernambuco. A entrevista A1 revelou que estes produtos não são fabricados em Porto de Galinhas por falta de incentivos, principalmente por parte do poder público, tanto no sentido de oferecer cursos de capacitação, como também incentivos financeiros para que os artesãos locais produzam seu próprio produto. Assim, foi possível perceber que em Porto de Galinhas há produtos típicos locais ofertados, mas a maioria é produzido em outros locais, por isso este indicador foi tido como parcialmente sustentável. A valorização da cultura local deve ser uma ação executada por todos os atores sociais locais, de modo que haja o equilíbrio entre o desenvolvimento da atividade turística e o respeito às tradições e cultura local, isto é, que as atividades tradicionais e costumes da comunidade não deixem de ser realizadas devido à intensificação do turismo na localidade (Beni, 2007). Uma forma de resgatar e promover a cultura local é a realização de eventos e festividades populares tradicionais de manifestações culturais típicas no destino turístico. A partir das entrevistas e visitas durante a coleta de dados, foi possível observar que são realizados alguns eventos em Porto de Galinhas, como o carnaval (mês de fevereiro ou março), algumas festividades religiosas (mês de maio), o São João e São Pedro (mês junho).

Analisando os dados coletados, verificou‑se que Porto de Galinhas não apresenta instituições específicas de promoção e/ou resgate da cultura local. O entrevistado B14 considera ser necessário que o poder público incentive a criação de entidades, por entender que apenas dessa forma haja verdadeiramente o fortalecimento dos grupos de culturas que existem e possam incentivar que outros grupos sejam formados, de modo a resgatar e valorizar a cultura local. O mesmo entrevistado revelou que várias foram às tentativas de formar grupos de dança com moradores locais, mas por falta de apoio, tanto dos empreendimentos turísticos como do poder público, “estes grupos não foram pra frente”.

Os entrevistados B15 e B20 corroboram com a entrevista 14 quando afirmam que “a cultura em Porto de Galinhas é esquecida, parece que aqui só tem a praia (...)”, e evidenciam a necessidade da criação de grupos de dança, teatro, música, dentre outras atividades, que tanto podem contribuir para o resgate da cultura como atrair os jovens da comunidade local. Os eventos festivos realizados, mencionados acima, são realizados pela prefeitura municipal, mas não há instituições específicas que desenvolvam atividades efetivas, objetivando enaltecer a cultura local e regional, por isso os indicadores foram avaliados como insustentáveis.

Diante desse contexto, torna‑se imprescindível o direcionamento de mais investimentos por parte do Município e apoio dos empreendimentos turísticos, visando à execução de atividades culturais, como forma de valorizar, resgatar e manter a cultura local. Os pontos culturais atualmente não explorados pela atividade turística de Porto de Galinhas podem tornar atrativos turísticos de modo a atrair turistas para o destino não apenas no verão, mas também nas demais estações do ano, além de possibilitarem o aumento da permanência média destes, esta sendo uma forma de equilibrar e aquecer a economia local.

4.3 Dimensão social

A dimensão social permite traçar um conjunto de informações importantes com o objetivo de verificar como se dá a inserção dos residentes locais na atividade turística de Porto de Galinhas e a satisfação dos mesmos quanto ao desenvolvimento do turismo na localidade. Os resultados desta dimensão podem ser observados no Quadro 05.

Quadro 5

– Resultados dos indicadores da dimensão Social do SISDTur.

Como a realização da atividade turística pode contribuir?

Fonte: Elaboração própria

Dentre os oito indicadores analisados, obteve‑se um total de quatro indicadores avaliados como insustentáveis. A falta de infra‑estrutura aliada à ausência de um plano integrado de longo prazo para o desenvolvimento da atividade turística em Porto de Galinhas são fatores que contribuem para minimização do nível de satisfação/aceitação dos residentes locais em relação ao turismo.

Dentre os entrevistados, o poder público e representantes das empresas estão satisfeitos com as atividades turísticas realizadas em Porto de Galinhas, por outro lado, a sociedade civil foi a que se mostrou mais insatisfeita, não com a atividade turística em si, visto que esta é a principal atividade desenvolvida na localidade, mas com a falta de investimentos e planejamento, principalmente por parte do poder público, para o desenvolvimento de uma atividade mais promissora e menos impactante para os moradores da Vila de Porto de Galinhas. Tal fato pode ser verificado segundo os discursos abaixo descritos.

“É triste ver a situação caótica que Porto de Galinhas está, um lugar tão belo, com potencial turístico tão grande (...), mas esquecido pelo poder público... Me entristeço muito em ver esta situação, eu que vivi e me criei aqui, vi como tudo vem acontecendo... é lamentável!” (Entrevistado A10).

“O turismo não é coisa ruim pra aqui não, ao contrário, é a atividade que movimenta Porto de Galinhas, o que falta aqui mermo é investimento, um planejamento da atividade (...)” (Entrevistado C30).

Uma das formas que pode contribuir para minimizar tais situações apresentadas pelos entrevistados A10 e B20 é a elaboração e execução de programas e projetos sociais envolvendo residentes locais com o objetivo de articulá‑los com o desenvolvimento turístico. Segundo os entrevistados, não há registros da existência de programas/projetos com tal finalidade. Destaca‑se a necessidade do poder público e as próprias empresas desenvolvam iniciativas de capacitação e treinamento profissional aos residentes locais com o objetivo de capacitá‑los para trabalhar no turismo, não apenas no nível operacional, mas tático e estratégico, visto que esta é a principal atividade desenvolvida na localidade.

Dos demais indicadores, três foram classificados como parcialmente sustentáveis e apenas um como sustentável. Estes avaliados positivamente são indicadores que se referem à inserção dos residentes locais no turismo, proporção de empregos fixos que é maior que temporários, apesar do fator de sazonalidade da atividade, além de iniciativas que são realizadas, sobretudo por parte dos gestores hoteleiros, de treinamento e capacitação profissional dos colaboradores. Cabe ressaltar que o turismo é a principal fonte de geração de emprego e renda para os residentes locais de Porto de Galinhas.

4.4 Dimensão econômica

Dentre as dimensões analisadas, a dimensão econômica apresentou mais indicadores sustentáveis que as demais e seus resultados são apresentados no Quadro 06.

Quadro 6

Resultados dos indicadores da dimensão Econômica do SISDTur.

Como a realização da atividade turística pode contribuir?

Fonte: Elaboração própria

Estes resultados revelam que a economia do destino turístico é visivelmente movida pela atividade turística, ou seja, o turismo é essencial para a economia local. O entrevistado A8 visualiza o turismo como uma atividade muito importante não apenas para Porto de Galinhas, mas para Ipojuca e Pernam‑ buco, sendo esta uma fonte geradora de emprego e renda para muitas pessoas, “pois muitas famílias sobrevivem apenas do turismo, pessoas que talvez não tivessem oportunidades de trabalhem em outros setores da economia”.

A entrevista B22 corrobora com o entrevistado A8 e assinala que o destino turístico apresenta muitas oportunidades de empregos para as diversas especialidades e funções, o que contribui para inserção de várias pessoas para trabalhar no turismo o que gera rentabilidade para a localidade.

Para o fortalecimento desta economia é necessário que haja incentivos para novos estabelecimentos turísticos serem implantados no destino e que os atores sociais possam unir forças para implementar diretrizes e ações que amenizem os efeitos da sazonalidade, através da exploração de atividades que sejam potenciais para o destino turístico como uma forma de fomentar ainda mais a economia de Porto de Galinhas. Para tanto, é necessário que, além de exploração de atividades potenciais, a Vila de Porto de Galinhas apresente uma infraestrutura turística adequada, de modo a satisfazer, da melhor forma possível, os turistas.

Ressalta‑se que a dimensão econômica é o fator estimulante para o desenvolvimento do turismo em uma dada localidade. No entanto, não se pode sobressair das demais dimensões da sustentabilidade, é preciso equilibrar estas de modo a não desenvolver a atividade turística objetivando apenas a obtenção dos lucros.

4.5 Dimensão Institucional

A dimensão institucional tem por finalidade verificar se há articulação entre os diversos atores sociais em prol do alcance do turismo sustentável em Porto de Galinhas. Os resultados dos seus indicadores são apresentados no Quadro 07.

Quadro 7

– Resultados dos indicadores da dimensão Institucional do SISDTur.

Como a realização da atividade turística pode contribuir?

Fonte: Elaboração própria

Com base nos resultados encontrados e discutidos anteriormente, percebe‑se, mais uma vez, que a maioria dos indicadores contribuiu negativamente para a sustentabilidade da atividade turística de Porto de Galinhas. Dos doze indicadores analisados, sete foram classificados como insustentáveis, estes relacionados principalmente a participação, comunicação e organização social nos processos decisórios do turismo, cinco foram qualificados como parcialmente sustentáveis, estes se referem ao envolvimento dos empreendedores no setor turístico e investimentos públicos em turismo, promoção e comercialização dos produtos turísticos.

Os dados coletados apontaram que não há cooperação entre os pequenos empreendedores locais, de modo que cada empreendedor desenvolve sua atividade isoladamente. Assim, é preciso que os atores sociais busquem o envolvimento e engajamento entre si com a finalidade de unir forças para o alcance da sustentabilidade da atividade turística. Destaca‑se que os benefícios alcançados, graças a esta interação, são desfrutados por todos que fazem o turismo em Porto de Galinhas, sendo importante também a participação da sociedade civil no desenvolvimento da atividade turística.

A partir das análises dos indicadores, à luz da metodologia de Hanai (2009), foi possível verificar que o turismo desenvolvido em Porto de Galinhas apresenta vários problemas e a maioria dos indicadores foi avaliado como “insustentável”. O Quadro 08 apresenta uma sinopse dos resultados encontrados para cada dimensão.

Quadro 8

– Sinopse dos resultados – Aplicação do SISDTur em Porto de Galinhas.

Como a realização da atividade turística pode contribuir?

Fonte: Elaboração própria

Analisando os resultados das dimensões apresentadas no Quando 07, observa‑se que a maioria dos indicadores é insustentável. Cerca de trinta e sete indicadores foram tidos como insustentável, ou seja, o destino turístico não apresenta tal prática implantada, ao passo que apenas quatro indicadores são sustentáveis, em sua maioria pertencentes a dimensão econômica. Contrapondo‑se a Ruschmann (2010), a atividade turística de Porto de Galinhas não apresenta um equilíbrio e equidade entre as dimensões da sustentabilidade, visto que a maioria das suas dimensões apresenta‑se negativamente a sustentabilidade.

Assim, considerando que apenas quatro (6,6%) indicadores foram classificados como sustentáveis, e objetivando o alinhamento da atividade turística desenvolvida em Porto de Galinhas as dimensões da sustentabilidade, são sugeridas algumas práticas para cada uma das dimensões analisadas, conforme o Quadro 09 a seguir.

Quadro 9

– Sinopse das práticas propostas a partir dos resultados encontrados.

Como a realização da atividade turística pode contribuir?

Fonte: Elaboração própria

O conjunto de achados oferecem informações para compreender quais os aspectos que comprometem a atividade turística de Porto de Galinhas. A partir disso, foram feitas algumas proposições de práticas para o desenvolvimento da atividade turística, as quais podem ser executadas tanto por parte do poder público, como outros atores (empresas, organizações não governamentais, etc.), de modo a contribuir para uma atividade turística menos degradante ao meio ambiente, socialmente justo e economicamente viável. Visando compreender a contribuição metodológica do modelo utilizado, destaca‑se a importância de integração dos constructos abordados na segunda seção deste trabalho com a base de dados primários coletados em Porto de Galinhas, como ilustra a Figura 01.

Como a realização da atividade turística pode contribuir?

Figura 1
– Integração da base teórica com a base de dados primários.
Fonte: Elaboração própria

Analisando a Figura 01, observa‑se que o alcance do desenvolvimento local sustentável, tido como uma construção de um novo estilo de desenvolvimento que busca a conservação ambiental, o crescimento econômico e a equidade social (Buarque, 2004), está atrelada a alguns fatores importantes os quais apresentam relações entre si. Considerando que em Porto de Galinhas o turismo é a atividade econômica preponderante (Mesquita; Xavier, 2013), tem‑se a necessidade de um turismo sustentável. Para tanto, sabe‑se da emergência de atuação conjunta dos atores sociais engajados. Como método, utilizou‑se um conjunto de indicadores de sustentabilidade para o turismo, o SISDTur, o qual possibilitou apresentar um diagnóstico das atividades turísticas realizadas em Porto de Galinhas a luz das dimensões da sustentabilidade, o que evidenciou sua contribuição metodológica.

Diante de todas estas considerações, percebe‑se que o turismo, caracterizado como uma atividade que pode impactar direta ou indiretamente o meio ambiente (Swarbrooke, 2000), não é planejada atentando as dimensões da sustentabilidade, o que justifica o nível de insustentabilidade para a atividade turística desenvolvida em Porto de Galinhas. Compreende‑se, portanto, que as atividades desenvolvidas no destino turístico não estão contribuindo para o alcance do turismo sustentável e, por conseguinte, para um desenvolvimento local que seja economicamente viável, social justa e ambientalmente sustentável.

5. Considerações Finais

Os resultados obtidos com a realização do estudo apontam que a sustentabilidade da atividade turística de Porto de Galinhas está comprometida, apresentando uma insustentabilidade significativa, visto que, analisados 56 indicadores nas diversas dimensões que compõem o SISDTur, apenas quatro foram classificados como sustentáveis. A dimensão ambiental apresentou o maior número de indicadores classificados como insustentáveis, principalmente aqueles relacionados ao consumo e qualidade da água, geração e manejo dos resíduos sólidos, tratamento de esgoto, dentre outros fatores. Foi constatado que Porto de Galinhas não apresenta uma agenda ou plano de desenvolvimento do turismo local. Assim sendo, sugere‑se que o poder público elabore um plano de desenvolvimento sustentável com objetivos e metas a serem alcançados a partir da participação efetiva de todos.

Como uma ação mais urgente, aponta‑se a realização do tratamento de esgoto, assim como direcionar o destino correto do lixo a partir da construção de um aterro sanitário no Município, incentivar a coleta seletiva a partir da disposição dos coletores de lixo seletivo, apoiar para o fortalecimento da associação dos catadores de lixo, realizar e incentivar a educação ambiental junto à comunidade local e turista.

As dimensões cultural, social e institucional apresentaram o mesmo comportamento da dimensão supracitada, tendo a maioria dos seus indicadores como insustentáveis. A falta de um planejamento de turismo pautados nos princípios de sustentabilidade, com sua elaboração a partir de discussões, ouvindo os anseios dos moradores locais e as expectativas dos empreendedores e empresários, explicam grande parte dos resultados encontrados. Deste modo, sugere‑se o engajamento dos diversos atores sociais ligados à atividade turística para buscar soluções mais efetivas, a fim de reverter tais resultados. Como reflexo do modelo desenvolvimentista capitalista, a única dimensão que seus indicadores foram analisados positivamente foi a econômica. Constatou‑se que o turismo contribui para a economia local a partir da geração de emprego e renda para a localidade. Embora o turismo seja uma atividade sazonal, são tomadas algumas iniciativas para conter a sazonalidade, por isso a maioria dos empregos é fixa e não temporária.

Pode‑se verificar, portanto, que o entrave maior quando o foco do turismo se concentra na dimensão econômica é que acarreta danos no destino turístico contribuindo para o declínio da atividade turística, por isso o nível de sustentabilidade de Porto de Galinhas foi classificado como insustentável. Apenas quatro indicadores foram analisados como sustentáveis do total de 56 analisados, apenas um destes avaliados positivamente para a sustentabilidade foi encontrado na dimensão ambiental.

Assim, esta pesquisa é um instrumento importante e apresenta contribuições teóricas científicas, tais como: (1) a identificação empírica do tema, e, (2) uma contribuição prática refere‑se aos resultados encontrados, os quais dispõem de informações fundamentais para os tomadores de decisões e atores sociais interessados em obter uma “fotografia real” ou diagnóstico de como a atividade turística de Porto de Galinhas se encontra.

Dentre as limitações deste estudo, pode‑se citar a ausência dos turistas como participantes da pesquisa. Os resultados refletem as opiniões dos atores locais, isto é, os turistas poderiam dar res‑ postas distintas aos questionamentos realizados. Com base nos resultados atingidos e nas limitações enfrentadas, sugerem‑se futuras pesquisas: (a) a ampliação do universo de análise, incluindo outros atores sociais, como os turistas, uma vez que estes também são atores sociais importantes no tocante ao alcance do turismo sustentável, (b) ampliar a metodologia a partir da inclusão de outros indicadores de sustentabilidade do turismo que não são contemplados no SISDTur e, por fim, (c) aplicação do SISDTur em outros destinos turísticos para realização de estudos comparativos.

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Como a realização da atividade turística pode contribuir para a preservação?

A atividade turística dentro de parques urbanos possibilita a preservação dos fragmentos florestais trazendo benefícios, como a qualificação da infraestrutura local, dos profissionais envolvidos, aumento da consciência ambiental, do sentimento de pertencimento dos residentes bem como o aumento da permanência de ...

Como a atividade turística pode contribuir para a economia?

O turismo interessa muito o setor público - ele gera emprego e renda, dinamiza a economia, gera impostos, que são revertidos para saúde, educação e obras. Acreditamos no turismo como uma poderosa alavanca para o desenvolvimento de territórios, desde que planejado e que a gente diga que turismo quer.

Quais os benefícios que a atividade turística traz para a comunidade?

A diversificação da economia local, o estímulo à melhoria da infraestrutura, criação de instalações recreativas e geração de empregos são outros benefícios identificados pelo autor como provenientes de um turismo bem planejado.

Qual a importância atual da atividade turística?

O turismo é um importante transformador de economias e sociedades, promove inclusão social, gera oportunidades de emprego e renda.