O que pode ser confundido com dislexia?

O que pode ser confundido com dislexia?

Causas da dislexia n�o est�o relacionadas ao baixo desempenho intelectual, escolariza��o deficiente ou problemas motivacionais e familiares, apesar de poder surgir junto a esses fatores (foto: Janey Costa / EM / DA Press)

A dislexia n�o � uma doen�a, mas sim um transtorno do desenvolvimento da linguagem que afeta a aprendizagem da leitura, da escrita e da soletra��o. � muitas vezes confundida com falta de interesse, desaten��o ou pregui�a. A falta de conhecimento ou precis�o do diagn�stico penaliza muitas pessoas que, na verdade, precisam de ajuda e tratamento. “A dislexia � uma condi��o neurobiol�gica, pois � uma falha no processamento da informa��o no c�rebro.

De modo geral, ela est� associada a dificuldades em outras �reas do desenvolvimento, como a concentra��o, a mem�ria de trabalho e a capacidade de organiza��o. Suas causas n�o est�o relacionadas ao baixo desempenho intelectual, escolariza��o deficiente ou problemas motivacionais e familiares, apesar de poder surgir concomitantemente a esses fatores”, explica a doutora em psicologia cognitiva pela Universidade de Dundee, na Esc�cia, �ngela Maria Vieira Pinheiro, professora titular do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e presidente do II F�rum Mundial de Dislexia (IIWDF), que come�a hoje em Belo Horizonte.

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Ela informa que pesquisas em diferentes pa�ses apontam que a preval�ncia da dislexia pode chegar a 10% da popula��o, ou mais. Desse modo, cerca de 700 milh�es de pessoas no mundo sofrem desta condi��o. “Vale destacar que o quadro irrevers�vel � apenas para a parte neurol�gica da condi��o, uma vez que as suas manifesta��es comportamentais, tanto na linguagem falada quanto na escrita, podem ser prevenidas ou minimizadas”.

Promovido pela Dyslexia International, o F�rum Mundial � o segundo de uma s�rie de cinco realizados em cada uma das cinco regi�es designadas pela Unesco. O primeiro representou a Europa e Am�rica do Norte (Fran�a, 2010), o segundo a Am�rica Latina e o Caribe (BH, 2014) , sendo que os demais v�o ocorrer na �frica (Maur�cio, 2016), Estados �rabes (2018) e na �sia e Pac�fico (2020). Na UFMG, o evento ter� confer�ncias, mesas redondas, grupos de discuss�o e workshops oferecidos por mais de 26 renomados pesquisadores internacionais, 15 pesquisadores nacionais e por autoridades educacionais. Um dos destaques ser� a sess�o World Profile, na qual representantes de quatro das seis l�nguas oficiais da Unesco – �rabe, chin�s, ingl�s, franc�s, russo e espanhol – apresentar�o um relato dos trabalhos sobre “A melhor pr�tica no ensino da leitura e da escrita”. “Outro ponto alto do evento ser� a apresenta��o dos resultados do curso Aprendizagem on-line, conhecimento b�sicos para professores. Dislexia, como identificar e o que fazer (confira a vers�o brasileira desse curso em dislexiabrasil.com.br).”

ORIENTA��O
�ngela Pinheiro explica que a preven��o da dislexia ocorre por meio de programas de orienta��o de pais sobre como estimular o desenvolvimento da linguagem falada de suas crian�as desde o nascimento (bom exemplo � o projeto de extens�o desenvolvido no ambulat�rio de crian�as de risco – ACRIAR – no Hospital das Cl�nicas da UFMG na capital mineira e nos postos de sa�de) e por meio da identifica��o precoce no ensino infantil com o aux�lio de professores bem treinados para reconhecer os primeiros ind�cios de risco do transtorno. “Ambos, pais e professores, devem ser conscientizados sobre os seus pap�is como os primeiros agentes na identifica��o dos fatores precursores das dificuldades de aprendizagem, especialmente da dislexia”, indica a professora.

O que pode ser confundido com dislexia?

A psic�loga e professora da UFMG �ngela Maria Vieira Pinheiro, que preside o evento, diz que dist�rbio est� associado a baixa concentra��o, mem�ria no trabalho e capacidade de organiza��o da pessoa (foto: Edesio Ferreira/EM/D.A Press)

A pesquisadora lembra que “a dislexia � o dist�rbio (ou transtorno) do aprendizado mais frequentemente identificado na sala de aula. Est� relacionado, diretamente, � reprova��o escolar, sendo causa de 15% delas. Em nosso meio, entre alunos das s�ries iniciais (escolas regulares) t�m sido identificados problemas em cerca de 8%”. Ela diz que concorda com os que dizem “que a condi��o pode atingir igualmente pessoas das ra�as branca, negra ou amarela, ricas e pobres, famosas ou an�nimas, pessoas inteligentes ou mais limitadas”.

Um dist�rbio de m�ltiplas facetas
A psic�loga �ngela Maria Vieira Pinheiro ressalta que existem algumas explica��es, n�o mutuamente excludentes, para as causas da dislexia, j� que � um transtorno com m�ltiplas facetas. Entre elas, “fatores nutricionais durante a gravidez da m�e e na primeira inf�ncia da crian�a, bem como a resist�ncia imunol�gica do feto. Pesquisas demonstram uma carga gen�tica. Na mesma fam�lia, se um dos membros tem dislexia, h� uma probabilidade de 50% que um dos seus parentes pr�ximos tamb�m seja disl�xicos”, diz. No entanto, isso n�o significa que as duas pessoas exibir�o os mesmos tra�os, nem que ter�o o mesmo grau, j� que o transtorno pode variar de leve a severo. “Outra hip�tese, que n�o � incompat�vel com as anteriores e que � defendida pelo professor Stanislas Dehaene (um dos ilustres palestrantes do IIWDF), � que os neur�nios que formam os caminhos entre as regi�es cerebrais envolvidas na leitura n�o se desenvolveram e n�o se moveram para suas posi��es normais por causa de uma codifica��o gen�tica defeituosa”, acrescenta.

A professora ensina ainda que as altera��es ocorreriam em um gene do cromossomo 6. “A dislexia, em n�vel cognitivo-lingu�stico, reflete um d�ficit no componente espec�fico da linguagem, o m�dulo fonol�gico, implicado no processamento dos sons da fala.” �ngela conta tamb�m que um gene recentemente relacionado com a dislexia foi chamado de DCDC2. “Segundo Jeffrey R. Gruen, geneticista da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, ele � ativo nos centros da leitura do c�rebro humano. Outro gene, chamado Robo1, descoberto por Juha Kere, professor de gen�tica molecular do Instituto Karolinska de Estocolmo, � um gene de desenvolvimento que guia conex�es, chamadas ax�nios, entre os dois hemisf�rios do c�rebro.”

A presidente do f�rum avisa que a avalia��o final deve ser feita por uma equipe multidisciplinar que inclui psic�logo, fonoaudi�logo, psicopedagogo e cl�nico, que pode solicitar encaminhamento a neurologista, oftalmologista e outros especialistas, conforme o caso. �ngela enfatiza que “n�o existe teste �nico de dislexia, mas um conjunto de provas que cognitivas, de intelig�ncia, mem�ria auditiva e visual, flu�ncia verbal, sequenciamento, testes com novas tecnologias, entre outros”. O tratamento � individualizado, de acordo com cada caso, para ter abordagem eficaz. “O profissional usa a linha terap�utica que achar mais conveniente e os resultados surgem de forma progressiva.”

O PAPEL DO PROFESSOR
�ngela destaca que o professor tem papel crucial na identifica��o de crian�as com dislexia. “Quando bem treinado, ele pode fazer uma avalia��o informal da leitura da crian�a por meio de tarefas de consci�ncia fonol�gica, de leitura e soletra��o de palavras e pseudopalavras e de compreens�o de textos. E com a avalia��o informal, ele deve passar a suspeita para um profissional qualificado.” Ela adverte que “a interven��o deve envolver o desenvolvimento da consci�ncia fonol�gica (especificamente, a consci�ncia dos fonemas) e ensino expl�cito e intensivo da leitura e da escrita por um m�todo f�nico em que as letras e os d�grafos s�o associados aos seus sons correspondentes (fonemas) e vice-versa, por meio de estrat�gias multissensoriais.

“A boa not�cia � que � poss�vel ensinar a quase todos os tipos de crian�as a aplicar o princ�pio alfab�tico – o conhecimento de que as letras que formam as palavras escritas representam os sons da fala – para decodificar novas palavras.” Quanto � preven��o, �ngela diz que a pr�tica de cursos de treinamento para pais pode evitar que condi��o seja identificada s� na pr�-escola. “� importante cultivar pequenos leitores desde o nascimento. Cerca de 50% da habilidade verbal de uma crian�a � proveniente da gen�tica, os outros 50% s�o atribu�dos ao conhecimento adquirido no ambiente, sendo grande parte desse conhecimento aprendido em casa.”

Servi�o:
Evento: 2º F�rum Mundial de Dislexia (World Dyslexia Forum)
Local: UFMG, Avenida Presidente Ant�nio Carlos, 6627, Pampulha, Belo Horizonte
Informa��es: www.wdf2014.com.br

Mitos e verdades

1) A dislexia � contagiosa? N�o. Ela � usualmente heredit�ria.

2) Uma pessoa pode ser medianamente disl�xica? Sim. Ningu�m apresenta um quadro com todos os sinais de dislexia.

3) A dislexia � uma doen�a? N�o, mas um transtorno de aprendizagem.

4) A dislexia pode passar sem que se tome alguma provid�ncia? N�o. Quanto antes ela � identificada e s�o tomadas as medidas de tratamento, maiores podem ser os benef�cios do tratamento.

Alguns sinais indicadores:

1) Pr�-escola e pr�-alfabetiza��o: aquisi��o tardia da fala, pronuncia��o constantemente errada de algumas s�labas, crescimento lento do vocabul�rio, dificuldade em aprender cores, n�meros e copiar seu pr�prio nome, etc.

2) In�cio do ensino fundamental, alfabetiza��o: aprender o alfabeto, discriminar fonemas de sons semelhantes (t/d; g/j; p/b), diferencia��o de letras com orienta��o espacial (d/b; d/p; n/u; m/u), orienta��o temporal (ontem – hoje – amanh�, dias da semana, meses do ano), etc.

3) Ensino fundamental: atraso na aquisi��o das compet�ncias da leitura e escrita, n�vel de leitura abaixo do esperado para sua s�rie e idade, dificuldade de soletra��o de palavras, ler em voz alta diante da turma, supress�o de letras (cavalo/caalo; biblioteca/bioteca; bolacha/ boacha), etc.

4) Ensino m�dio: podem ter dificuldade em aprender outros idiomas, leitura vagarosa e com muitos erros, perman�ncia da dificuldade em soletrar palavras mais complexas, aten��o demasiada a pequenos detalhes, vocabul�rio empobrecido e cria��o de subterf�gios para esconder sua dificuldade, etc.

5) Ensino superior, universit�rio: letra cursiva, planejamento e organiza��o, dificuldade com hor�rios (adiantam-se, chegam tarde ou esquecem), falta do h�bito de leitura e normalmente t�m talentos espaciais (engenheiros, arquitetos, artistas), etc.

O que pode ser confundido com dislexia?

(foto: Soraia Piva / EM / DA Press)

Giuliano Gomes, empres�rio, 35 anos: Incentivo � leitura
O empres�rio Giuliano Gomes conta que descobriu a dislexia no ensino fundamental. “Tomei bomba em portugu�s e minha m�e, preocupada, foi pesquisar o por qu�”. Ele revela que “entendia e falava bem, mas trocava as letras na hora de escrever. Principalmente, o p com o b e o t com o d”. Na �poca, a m�e o levou para um psic�logo. “Lembro que passei a treinar muito ditado e leitura. Minha m�e me incentivava a ler. Ela me acompanhou de perto e me fez criar o h�bito da leitura, o que me ajuda muito e vai me acompanhar por toda a vida.” Giuliano afirma que at� hoje tem dificuldade, mas lida muito bem com o dist�rbio.

“Ao escrever e-mails e mensagens, me habituei a ler, reler, dar uma pausa e ler de novo. �s vezes, passa algum erro. Tenho de prestar muita aten��o.” Ele conta que nunca sofreu preconceito por causa da dislexia e encara numa boa e com naturalidade “algumas brincadeiras dos amigos, que ligam e me perguntam o que quis dizer num e-mail”. Al�m de ler e se for�ar a escrever, Giuliano explica que encontrou outro caminho para conviver, numa boa, com o transtorno. “Ao longo dos anos, criei meios para facilitar minha vida. Passei a prestar mais aten��o em tudo e procuro associar uma palavra a outra.”

Quais são os 3 tipos de dislexia?

Existem três tipos de dislexia:.
Dislexia visual. Como o próprio nome diz, na dislexia visual, o indivíduo tem dificuldade em visualizar corretamente as palavras e reconhecer o lado correto das letras e números, o chamado espelhamento. ... .
Dislexia auditiva. ... .
Dislexia mista..

Quais letras os Dislexicos confundem?

Confundem letras e palavras parecidas, revertendo-as por vezes – por exemplo: /b/ por /d/ ou /apartar/ por /apertar/. A escrita tende a ser inconstante, apresentando letras de tamanhos diferentes, omissões, rotações, inversões, sendo as emendas e as rasuras frequentes.

Qual exame que detecta dislexia?

Diagnóstico da dislexia Por isso, além da avaliação com o médico neurologista, o diagnóstico do distúrbio pode incluir a avaliação psicológica e/ou psicopedagógica, exame de audiometria, exame oftalmológico, testes de fluência verbal e avaliação do desempenho cognitivo.

Como saber se tenho algum grau de dislexia?

Quais os sinais e sintomas da dislexia.
atraso no desenvolvimento inicial da linguagem;.
dificuldade para reconhecer as diferenças entre sons semelhantes;.
aprendizagem lenta de novas palavras;.
dificuldade em copiar do quadro ou de um livro;.
dificuldade para aprender habilidades de leitura, escrita e ortografia;.