Qual o papel das artes para o desenvolvimento da educação do ser humano?

EDUCAÇÃO PELA ARTE

Qual o papel das artes para o desenvolvimento da educação do ser humano?

Quando Platão referia que a " Arte deve tender para o Amor ao Belo", sendo a "Educação a Arte que se propõe este objetivo" (o Belo espiritual), atuando através do Amor pelo Bem moral, no seu discorrer sobre as íntimas ligações entre a Arte e a Educação, deixa-nos uma perspetiva de que para si, a Educação era algo que se associava à Arte para proporcionar uma evolução espiritual. Arte e Educação apenas seriam caminhos diferentes propondo-se atingir o mesmo fim (o Belo espiritual) ou, não seriam mais do que diferentes formas de ver um mesmo e único caminho?

 Arte e Educação, se não são o mesmo, pelo menos andam extremamente unidos quanto aos seus propósitos e quanto às suas metodologias, tendo H. Read provado, em 1942, que “a Arte deve ser a base da Educação”.

 De facto, colocando-nos na perspetiva dos objetivos educacionais definidos na Constituição da República Portuguesa, em que se aponta como fundamental o desenvolvimento equilibrado da personalidade, se considerarmos este segundo a conceção de H. Wallon (1941 e 1942), nas suas dimensões biológicas, emocionais, sentimentais, cognitivas, sociais e motoras, teremos dificuldade em encontrar uma metodologia educacional que se dirija de igual modo ao desenvolvimento destas cinco dimensões.

 Umas metodologias centram-se na sensorialidade (M. Montessori, 1902), outras, abordam as funções (Claparède, 1906), apenas o ensino-aprendizagem (Skinner, 1969), o desenvolvimento cognitivo (K. Kamii, 1972)... apenas se apresentando a Educação pela Arte como metodologia abrangente de todas as dimensões da personalidade e, em especial daquela que é esquecida pelas outras perspetivas metodológicas - o desenvolvimento emocional-sentimental.

 "- Distingue-se atualmente a ideia de Educação pela Arte aquela que implica, como consequência do contacto do homem com o meio, o seu efeito sobre o conjunto da personalidade, e a ideia de uma educação estética constituindo uma parte do processo educativo geral, e paralela a uma educação moral e intelectual.

A ideia de Educação pela Arte não se trata de um só domínio da educação correspondendo à formação de uma sensibilidade estética, do gosto pela beleza, mas de uma larga conceção da formação do homem, toda ela baseada no princípio estético e concedendo-lhe o primado entre os outros fatores exercendo o seu efeito sobre o ser humano. A formação do homem deve ser concebida como um processo total. A Arte nela intervém em diversos planos da vida, o que tem consequências não somente para a sensibilidade estética propriamente dita, mas também para a vida intelectual afetiva e moral." (I. Wojnar, 1963).

 A Educação aparece, pois, como modelo metodológico educacional, não com o propósito de ensinar Arte, mas de utilizar esta como meio de promover a Educação.

"- (A Educação pela Arte)... não tende a formar profissionais, a pôr as crianças ao serviço da arte, mas sim a arte ao serviço das crianças" (Maria Luisa Rodrigues, 1960).

 A Educação pela Arte não é, de modo algum, pois, uma metodologia com a intenção de ensinar à criança conceitos teóricos sobre a arte, história da arte ou sobre a vida e obra de grandes artistas. Também não tem por seu objetivo o levá-la a aprender a contemplar obras de arte, de lhe tentar ensinar técnicas de produção artística, de a iniciar no contexto do arte dos adultos, ou de procurar a formação precoce de pequenos artistas.

 "- A Formação Estética e a Educação pela Arte não têm por propósito exclusivo ou sequer primordial a revelação de vocações artísticas, a iniciação na arte adulta" (Rui Grácio, 1966).

 "- O nosso objetivo não é o êxito artístico, nem sequer o dom artístico. Nem a virtuosidade são requeridas quer à criança, quer aos educadores" (Dobbeleare, 1973).

 "- A instrução clássica, tal como é dada às nossas crianças nas escolas públicas ou privadas, liceus, faculdades, tem como primeira consequência capital a de aniquilar as qualidades natas de raciocínio, de iniciativa e observação que, espontaneamente, se manifestam na criança, enquanto o seu cérebro não sofreu ainda a influência dos ensinamentos dogmáticos, destruidores do espírito de curiosidade...

Fazendo crer que lhes oferecem ciência, destroem o sentido de investigação tão desenvolvido nos primeiros anos de vida, sentindo que não necessitaria de ser cultivado, em vez de ser literalmente abafado pelos processos pedagógicos clássicos...

Nesta época inquietante, dominada pelo produtivismo, em que não há tempo para as crianças e jovens se exercitarem corporalmente e se cultivarem esteticamente; em que há apenas tempo para um breve ensino de educação física e estética; nesta época de ídolos de pseudoesforço, de pseudoarte e de meninos-prodígios da música, da literatura e do cinema, cumpre-nos chamar a atenção para o perigo de encaminhar a criança para a aprendizagem exclusiva do que é aparentemente útil e prático. Elas terão talvez um diploma, mas deixarão cedo de ser crianças; serão provavelmente adultos desequilibrados e infelizes, prontos a esgotarem a vida em atividades desordenadas e precipitadas" (João dos Santos, 1966).

 Na educação tradicional há uma certa tendência para se pretender ensinar a criança a falar antes de perceber o que ouve, ensiná-la a ler antes de saber falar, ensiná-la a escrever antes de lhe permitir experimentar os materiais de desenho, de pintar e de escrever. Há uma educação pseudo cognitiva que se abstrai da assimilação e acomodação; há "matérias" de ensino que requerem um desenvolvimento intelectual superior ao das crianças a quem os programas se destinam. Ensina-se música pela pauta, sem antes a criança ter tido quaisquer experiências no mundo dos sons; avança-se na Matemática com símbolos, antes de se ter vivências em raciocínios lógicos abstratos; o desenho é cópia, estereotipia, banal, sem ter havido previamente oportunidade de explorar criativamente os diferentes materiais com que se pode desenhar.

 A dança é considerada como algo que só está ao alcance de alguns iniciados, possuindo uma grande ginástica, como algo associado aos artistas de circo. 

 A arte é em geral considerada como uma perca inútil de tempo. Nas escolas não há espaços adequados destinados a estúdios de arte, as artes têm pouca ponderação nos currículos da escolaridade geral e ainda se atribui, nos círculos académicos, um certo sentido depreciativo às disciplinas e aos professores de arte, como se fossem de natureza secundária, - quando é exatamente o contrário.

 A Educação pela Arte é uma educação do sensível, tendo em vista a estimulação e enriquecimento do racional, numa interação benéfica entre o pensar, o sentir e o agir, dirigindo-se com especial interesse para os problemas que afetam a criança e o adolescente.

A Educação pela Arte é essencialmente um movimento de renovação, no sentido de se abandonar princípios pedagógicos rígidos e preconcebidos, para compreender a criança nas suas emoções, nos seus desejos, nos seus interesses e na sua procura da felicidade, do modo cientificamente mais correto e eficaz.


Os aspetos de desenvolvimento biológico, cognitivo, social e motor, são amplamente contemplados na Educação pela Arte, mas é sobretudo a nível da dimensão emocional-sentimental que ela proporciona à criança as mais amplas possibilidades de desenvolvimento.

 "- A educação através da arte é a que melhor permite a exteriorização das emoções e sentimentos e a sublimação dos instintos... é melhor exprimir as emoções do que retê-las e inibi-las.

O ensino das matérias clássicas pouco consegue no sentido de uma sublimação dos sentimentos e afetos. A educação através da arte... permite à criança sublimar os seus instintos e ao mesmo tempo expandir os impulsos e sentimentos mais elementares.

A Educação pela Arte pode constituir uma espécie de psicoterapia das crianças perturbadas pela imposição de preconceitos educativos.

Também poderíamos dizer que algumas vezes a psicoterapia é uma espécie de "educação através da arte" destinada a compensar certos erros educativos." (João dos Santos, 1966).

 A dada altura da sua evolução, o homem terá certamente passado a atribuir a certos objetos não utilitários, um dado valor simbólico, ligado a ideias ou emoções. Objetos que representavam uma divindade, a recordação de alguém, uma atitude de paz, de guerra, etc. Um exemplo de um objeto sem utilidade prática, mas carregado de significado, é o cetro, simbolizando em si situações de poder, de força e de autoridade.

 A própria criança, nas primeiras fases do seu desenvolvimento, atribui valor humano a certos objetos, a que Winnicott (1971) chama "objetos transacionais", porque são objetos que fazem a transação dos sentimentos da criança com os seus entes amados (geralmente a mãe) quando estes não estão presentes. Para a criança da segunda infância, um ursinho de peluche, um trapo, uma fralda, um boneco, constituem um objeto simbólico muito mais carregado de sentimento do que a fotografia dos filhos ou dos pais, que os adultos trazem geralmente nas suas carteiras.

 "- A atividade simbólica depende da capacidade potencial do homem para se exprimir simbolicamente e da sua organização em grupos que obedecem a uma lei social." (João dos Santos, 1966).

 A Educação pela Arte vai mais longe do que a simples administração de conhecimentos, visando entre outros objetivos, o aperfeiçoamento da perceção e da atividade simbólica, ou seja, a aquisição e desenvolvimento dos instrumentos básicos do pensamento: sentimentos, imagens, palavras, ideias.

 Os conhecimentos adquiridos, o "saber", só terão qualquer validade se puderem ser utilizados pelos instrumentos básicos do pensar. Quanto mais variados e ricos forem estes instrumentos básicos do pensar, mais rico e profundo será o próprio pensamento. O nosso pensamento decorre de imagens visuais, sonoras, táteis, palativas, somatognósicas, cinestésicas, que não atuam isoladamente, mas num todo único inter-relacional-estrutural, incluindo os fatores mnésicos, conscientes e inconscientes, que constituem o conjunto de todas as experiências vividas pelo indivíduo desde o seu nascimento. Em cada pessoa a atividade simbólica baseia-se em imagens e sentimentos.

 A Arte é uma linguagem eminentemente simbólica de sentimentos. A Educação pela Arte proporciona, portanto, todo um vasto leque de vivências simbólicas e emocionais, que contribuem de modo muito especial, não só para o desenvolvimento emocional-sentimental e intelectual da criança, como permitem o colocar em ação toda uma série de mecanismos psicológicos de defesa (catarse, compensação, deslocação, ab-reação, sublimação, etc.) que robustecem a criança na sua luta contra as frustrações e conflitos da vida.

Como bases psicopedagógicas da sua ação, a Educação pela Arte utiliza sobretudo os princípios da espontaneidade, da atividade, do ludismo, da criação e da expressividade, não apenas numa ou noutra, mas em todas as áreas artísticas, globalizadamente: Expressão Musical, Expressão Dramática, Expressão Dançada, Expressão Verbal, Expressão Plástica, Expressão Literária, etc.

 "- Numa pedagogia atenta, antes de mais, às virtualidades potenciais da criança, vai possibilitar-se-lhe, primordialmente, a espontaneidade das suas expressões, as quais livremente desabrochando numa atividade lúdica propiciam também, quando essa atividade apresenta já uma feição artística, uma abertura para a criatividade.

Uma Educação pela Arte predominantemente ativa, por um contacto direto com as diversas formas de artes. Entendendo-se, desse modo, que se promova, desde logo e fundamentalmente, a criatividade na criança. E a expressividade artística deve inserir-se vivamente, autenticamente, na educação das crianças.

Uma Educação pela Arte predominantemente ativa, por um contacto direto com as diversas formas de artes.

Entende-se, deste modo, que se promova, desde logo e fundamentalmente, a criatividade na criança. E a expressividade artística deve inserir-se vivamente, autenticamente, na educação das crianças." (Arquimedes Santos, 1977).

 As conceções escolásticas enfermam do preconceito de que o que observamos "é objetivo para todos", não sendo suscetível de ser visto, por outros, de maneira diferente. Muitos professores possuem esta crença, pensando que o que ensinam na sala de aula é igualmente percebido e apreendido por todos os alunos. Haverá, possivelmente, uma realidade exterior única, mas a psicologia demonstrou-nos que o que tomamos por realidade não passa apenas de uma forma de interpretarmos aquilo que vemos. Não se nega a existência de uma realidade exterior, mas a possibilidade de uma objetividade humana universal. Piaget, aliás, em 1926, mostrou que cada pessoa assimila a realidade e acomoda-se a ela, à sua própria maneira e diferentemente de todas as outras pessoas.

 "A Educação pela Arte corrige este vício de pensamento, permitindo à criança ter os seus próprios pontos de vista, observar à sua maneira, descrever segundo a sua própria objetividade. Nesse sentido, a Educação pela Arte é uma das melhores e mais eficientes formas de higiene mental infantil, aquela que permite uma mais perfeita integração das emoções no contexto geral de uma linguagem convencional" (João dos Santos, 1966).

 A Educação pela Arte procura ajudar a criança a descobrir os elos entre as emoções e a linguagem para os exprimir: a Arte.

 "- É necessário que a escola e todos os agentes educacionais se consciencializem de que a aprendizagem não pode ser exclusivamente racional, porque a razão tem, geneticamente, um ponto de partida emocional" (João dos Santos, 1966).

 Piaget (1926) referia que as emoções estão para o acto cognitivo na mesma razão que a gasolina para o motor do automóvel.

 A livre experiência através das diferentes expressões artísticas permite à criança uma maior liberdade de expressão emocional e, consequentemente, uma base sólida para as aquisições cognitivas.

 A Educação pela Arte proporciona à criança um clima em que ela se pode expressar livremente, aceitando as manifestações emocionais de vária ordem que ela expressa, canalizando-as ou sublimando-as em tarefas que a possam compensar das dificuldades com que necessariamente se têm que defrontar na sua vida.

 "- À medida que o desenvolvimento da criança se vai processando, a livre experiência tem menos cabimento, visto que algumas matérias têm talvez de ser impostas. Mas pensamos que em qualquer grau de ensino a aprendizagem elementar deve, sempre que possível, ser objeto de uma livre experiência, tal como aquela que preconizamos para a idade pré-escolar. Cada matéria tem a sua linguagem própria e o uso judicioso dos símbolos exige, em regra, uma fase preparatória, de iniciação, com caráter lúdico" (João dos Santos, 1966).

 O Decreto-Lei (da Educação Artística) nº 344/90, quando se refere à "Educação Artística Genérica", dá uma clara interpretação de que, apesar de se poder e dever proporcionar uma Educação pela Arte em todos os níveis da vida escolar, ela é premente e indispensável, sobretudo, a nível da Pré-Escolaridade e do 1º ciclo do ensino básico, situação para a qual, aliás, já Arquimedes Santos, em 1989, chamava a atenção:

 "- Quando à escala nacional tanto há ainda por realizar no âmbito da educação pelas artes, duas são as prioridades: Jardins de Infância para todas as crianças portuguesas; Educadoras de Infância sensibilizadas para as expressões lúdico-expressivo-criativas... porque... a posterior atividade artística e vivência estética, e até convivência humanística, de todas as crianças e de todos os jovens, só plenamente se podem desenvolver quando a educação pré-escolar generalizada for uma realidade atuante e convivente e as educadoras de infância adquiram uma formação psicopedagogicamente aberta às atividades lúdico-expressivas, às expressões artísticas, à educação pelas artes, à educação estética...

Se há em todo o indivíduo um artista, como pretende Read, o cultivo dos meios expressivos propiciar uma mais autêntica manifestação das potencialidades criativas de cada qual...

O ensino básico deve corresponder, pois, a essas necessidades de "equipamento experiencial para a vivência artística"... não com o propósito de fazer alunos-artistas, mas de despertar o potencial artístico que em cada qual e em todos exista."

Qual o papel da arte na educação das pessoas?

A Arte na educação é uma estratégia que contribui significativamente para a formação de crianças e jovens. É por meio dela que os alunos conhecem mais sobre a história da cultura e de suas origens, e sobre as sensações e expressões que as obras artísticas despertam nas pessoas.

Como a arte pode favorecer o desenvolvimento na educação?

Através da realização de atividades artísticas a criança desenvolve sentimentos, auto-estima, capacidade de representar o simbólico, analisando, avaliando e fazendo interpretações, desenvolvendo habilidades específicas da área das artes.

Porque a arte foi fundamental para o desenvolvimento humano?

A arte é de grande importância para o desenvolvimento humano, porque além de ser uma forma de expressão de um ponto de vista de uma civilização, é também um grande difusor de valores e costumes para nossa sociedade.