Por que o desmatamento de florestas podem contribuir para o efeito estufa?

As florestas são um dos principais repositórios de carbono do mundo, e a Amazônia — maior floresta tropical da Terra, cuja vastidão cobre quase metade do território brasileiro — atuaria como um grande freio contra o aquecimento global. Mas o desmatamento que atinge níveis recordesestá comprometendo o papel da floresta em absorver dióxido de carbono da atmosfera, transformando a Amazônia em uma fonte do gás de efeito estufa.

É o que revela um estudo do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) publicado na revista britânica Nature. Os pesquisadores recolheram em torno de 8 mil amostras de ar em nove anos de estudo em torno de quatro localidades da Amazônia, representando cada região da floresta.

Nas áreas estudadas, foram encontradas diferentes taxas de desmatamento. As áreas mais desmatadas, com taxa superior a 30%, apresentaram uma estação seca mais quente, mais longa e com maior estresse hídrico. Mais grave: essas áreas do bioma mais desmatadas apresentaram uma emissão de carbono 10 vezes maior do que regiões com desmatamento inferior a 20%.

De 2010 a 2018, a Amazônia brasileira, território de 4,2 milhões de quilômetros quadrados, foi responsável por lançar 1,06 bilhão de toneladas de CO2 para a atmosfera por ano em queimadas. O balanço de carbono, ou seja, o saldo final entre absorções e emissões, foi de 0,87 bilhão de toneladas por ano, o que significa que apenas 18% das emissões por queimada estão sendo absorvidas pela floresta. Sem queimadas, a Amazônia brasileira retiraria da atmosfera 0,19 bilhões de toneladas de CO2 por ano.

A maior emissão de carbono acontece na localidade leste, nos estados do Pará e Mato Grosso, associada à grande quantidade de queimadas e de menor absorção de CO2 pela própria floresta. “Durante os meses de agosto, setembro e outubro a redução de chuva é muito acentuada nestas regiões, aumentando a temperatura em mais de 2˚C, além da duração da estação seca estar maior. Esta condição promove um aumento da inflamabilidade da floresta e da mortalidade das árvores, que são típicas de uma floresta tropical úmida”, explica a pesquisadora Luciana Gatti, uma das autoras do estudo.

A região do sul do Pará e norte do Mato Grosso registrou o pior cenário. Além de apresentar as maiores extensões de área queimada, nessa área a floresta já é uma fonte de carbono significativa, com emissões para a atmosfera que crescem ano a ano. “Esta região da Amazônia é a que mais gera preocupação, pois a degradação é extrema, agravando a crise de mortalidade das árvores”, comenta Gatti.

Estratégia de combate ao desmatamento

O desmatamento altera a própria condição climática na Amazônia, afetando também a capacidade da floresta não desmatada de absorver carbono – além de aumentar sua inflamabilidade. Atenta a esse problema, Luciana afirma que a redução de emissões de carbono da floresta passa por uma estratégia de combate ao desmatamento e queimadas. “Com isso, contribuiríamos também para um aumento da chuva e redução da temperatura na região, formando um ciclo positivo que também afeta o restante do Brasil, a América do Sul e o mundo”.

Pesquisador do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), Paulo Barreto destaca que diversas medidas começaram a surgir nos últimos anos para tentar controlar as queimadas e destruição das florestas. Para ele, algumas ações, se aplicadas, podem contribuir para diminuir o desmatamento no Brasil. Eliminar o mercado de carne ilegal – de pecuaristas que não cumprem as leis e destroem as florestas para construir áreas de criação de animais – e aumentar a fiscalização do crédito para a agricultura são medidas urgentes.

"O aumento da fiscalização vai garantir que cidadãos que estejam na ilegalidade percam o direito ao benefício, dificultando atuações prejudiciais ao bioma amazônico", afirma Barreto.

Ele ainda reforça que é preciso definir novas medidas de combate ao desmatamento. "O setor público, em parcerias com ONGs que atuam na causa ambiental, devem propor constantemente novas medidas ou atualizações que contribuam com o fim do desmatamento e driblem as recentes tentativas de continuar a degradação das florestas", crava o pesquisador.

Incêndios florestais extensos, como os relatados recentemente na Austrália, na Indonésia e nos Estados Unidos, afetam comunidades, economias e ecossistemas de modo negativo. De maneira geral, eles contribuem para a poluição do ar e o aquecimento global e indicam a insuficiência dos mecanismos existentes de gerenciamento de risco em lidar com os incêndios florestais.

O dióxido de carbono (CO2) e outras emissões provenientes de turfeiras e incêndios florestais contribuem substancialmente para o efeito estufa, aumentando assim a probabilidade de inundações e secas. Eles também produzem partículas de fumaça e carbono preto, ambos prejudiciais à saúde.

As partículas de fumaça reduzem a radiação solar absorvida pela atmosfera durante incêndios ou estações de queima. Isso pode ter efeitos climáticos regionais significativos.

O carbono preto nas partículas de fumaça pode levar ao aquecimento das camadas intermediárias e baixa da atmosfera, levando a padrões climáticos mais imprevisíveis. Depósitos de carbono preto na neve tornam-na menos capaz de refletir a luz solar de volta ao espaço, aquecendo ainda mais o planeta.

Um artigo apresentado por Johan Kieft, Especialista em Ecossistemas e Incêndios Florestais do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), e Nico Oosthuizen, Diretor de Mercados do Working on Fire, uma marca desenvolvida por Kishugu na África do Sul, foram apresentados conjuntamente no Brasil em outubro de 2019 na Conferência Internacional sobre Incêndios em Terras Florestais.

Por que o desmatamento de florestas podem contribuir para o efeito estufa?
Incêndio próximo à Cidade do Cabo. Foto de Sullivan Photography

“Prevê-se que os incêndios se tornem mais frequentes em muitas regiões do mundo, com a mudança climática. A redução das emissões de gases de efeito estufa relacionadas às florestas é essencial para mitiga-la”, diz Kieft.

"O setor florestal oferece um potencial significativo para mitigação de emissões de gases de efeito estufa", acrescenta ele.

Para capturar esse potencial, as Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) desenvolveram a abordagem “Redução de Emissões do Desmatamento e Degradação Florestal (REDD+)”, que fornece incentivos para reduzir as emissões do desmatamento e da degradação, gerenciar florestas de maneira sustentável, e conservar e aprimorar o estoque de carbono florestal.

Florestas e turfeiras são as principais soluções baseadas na natureza para as mudanças climáticas, graças à sua capacidade incomparável de absorver e armazenar carbono. As florestas capturam dióxido de carbono a uma taxa igual a cerca de um terço da quantidade liberada anualmente pela queima de combustíveis fósseis. O fim do desmatamento e a restauração dos ecossistemas danificados pode fornecer até 30% da solução climática global.

O Programa UN-REDD, uma das principais parcerias da ONU para mitigar as mudanças climáticas entre a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento e o PNUMA para ajudar os países em seu processo de REDD+, apoia políticas na Indonésia para reduzir turfeiras e as emissões de gases de efeito estufa relacionadas a incêndios florestais, responsáveis ​​por 55% do total do país, diz Kieft.

O Artigo 4 da Convenção obriga as Partes a promover o manejo sustentável, conservação e aprimoramento de sumidouros e reservatórios de gases de efeito estufa, como florestas, manguezais e oceanos.

“Pesquisas mostram que os incêndios florestais são cada vez mais responsáveis ​​pela degradação florestal nos trópicos devido à expansão da agricultura dependente de incêndios, mudanças no uso da terra, práticas de exploração e secas severas”, diz Kieft.

"Cerca de 67 milhões de hectares (1,7%) de terras florestais foram queimados anualmente entre 2003 e 2016, principalmente nas áreas tropicais da América do Sul e da África", acrescenta.

Impactos

Os países definem seus próprios compromissos para combater as mudanças climáticas por meio de Contribuições Nacionalmente Determinadas (CND) no âmbito do Acordo de Paris de 2015.

"Os impactos dos incêndios florestais nas mudanças climáticas foram amplamente desconsiderados nas negociações para o REDD+", diz Kieft. "Eles são o elo que falta nos planos dos países para conter o aquecimento global".

O que precisamos fazer, diz ele, é levar em conta o gerenciamento integrado de incêndios nesses planos, ou seja, nas CNDs estabelecidas na Convenção.

"O gerenciamento integrado de incêndios precisa ser parte integrante de uma estratégia nacional de REDD+", diz Kieft. As metas de REDD+ fazem parte das CNDs apresentadas pelos signatários do Acordo de Paris e da Convenção.

Por que o desmatamento de florestas podem contribuir para o efeito estufa?
Os incêndios de turfeiras são extremamente difíceis de extinguir e liberam grandes quantidades de CO2. Foto de UNREDD

“A Indonésia progrediu em seu entendimento do impacto dos incêndios florestais nas emissões globais de gases de efeito estufa e em garantir uma contabilização suficiente nos Níveis de Emissão de Referências Florestais”, diz Oosthuizen.

O REDD+ também tenta garantir que as responsabilidades pelo gerenciamento de incêndios sejam distribuídas de maneira justa, que os meios de subsistência de habitantes de áreas rurais sejam protegidos, e que quaisquer novas atividades tenham resultados positivos para a população local.

"Mecanismos como o REDD+ podem aprimorar modelos financeiros para o gerenciamento integrado de incêndios", diz Oosthuizen. "Precisamos pressionar a inclusão de impactos de incêndios nas CNDs em nível nacional".

Os acordos de Cancun de 2010 solicitam aos países que disponham dos quatro elementos a seguir para a implementação do REDD+:

  • Uma estratégia ou plano de ação nacional
  • Um sistema nacional de monitoramento florestal robusto e transparente para o monitorar e relatar as cinco atividades de REDD+
  • Um nível nacional (ou subnacional) de emissão de referência florestal e / ou nível de referência florestal
  • Um sistema de informação de garantia

Roberta Zandonai, Gerente de Comunicação Institucional, PNUMA,

Porque o desmatamento contribui para o efeito estufa?

Desmatamento de florestas vai provocar um aquecimento do clima global muito mais intenso do que o estimado originalmente, devido às alterações nas emissões de compostos orgânicos voláteis e as co-emissões de dióxido de carbono com gases reativos e gases de efeito estufa de meia-vida curta.

Como desmatamento interfere no efeito estufa?

O desmatamento e a degradação florestal são atividades que emitem gases causadores do efeito estufa (GEE), sobretudo gás carbônico (CO2), que causam a mudança do clima.

Por que o desmatamento das áreas naturais contribui para o aquecimento global?

Isso porque as áreas de florestas e os ecossistemas naturais são grandes reservatórios e sumidouros de carbono por sua capacidade de absorver e estocar CO2. Mas, quando acontece um incêndio florestal ou uma área é desmatada, esse carbono é liberado para a atmosfera, contribuindo para o aquecimento global.

Qual é a relação entre o desmatamento na floresta Amazônica e o efeito estufa?

A perda florestal, portanto, favorece o acúmulo do gás. Mas, não apenas isso. O desmatamento e as queimadas têm efeito inverso e liberam quantidades enormes de CO2. No Brasil, cerca de metade das emissões de gases de efeito estufa está associada ao desmatamento.