Porque não ouvimos nossa voz como ela e

Ouvimos a nossa própria voz diariamente e em nada soa estranho, contudo, quando ouvimos a nossa voz numa gravação ou filmagem a primeira reação é: 'este não sou eu a falar!!'. Se também não gosta de ouvir a sua própria voz quando está gravada, não se sinta sozinho, este é um fenómeno global com justificação científica.

Como explica a Time, quando ouvimos a voz de alguém, as ondas sonoras que saem da boca da pessoa atravessam o ar e entram nos ouvidos, fazendo vibrar a cavidade do tambor da orelha. Essas mesmas vibrações são transformadas pelo cérebro em som, construindo-se assim a voz de alguém aos nossos ouvidos.

Contudo, quando somos nós a falar não são apenas as cavidades do tambor da orelha que vibram, também as nossas cordas vocais e vias aéreas tremem, o que, diz a Time, faz com que a nossa voz 'em direto' (isto é, sem ser gravada) seja obtida através de duas fontes de som, uma que vem da boca até aos ouvidos, e outra interna (através das cordas vocais). Na prática, se falar agora em voz alta, o som que emite será o resultado de duas fontes de perceção, ao contrário do que acontece quando ouve alguém falar ou quando ouve a sua própria voz gravada.

E é nesta dualidade de ondas que está a razão pela qual a nossa voz nos soa de forma diferente quando é gravada, podendo mesmo ficar desagradável porque não é reconhecida pelo cérebro. Uma vez que a gravação não implica a vibração das cordas vocais, a nossa perceção da própria voz vem apenas da vibração que atravessa o ar e 'aterra' nas cavidades do tambor da orelha.

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Porque não ouvimos nossa voz como ela e

Se você é daqueles que morrem de vergonha quando ouve a própria voz em algum vídeo de família e fica se perguntando se é isso mesmo que as pessoas por perto escutam quando você fala, fique calmo. Você não é o único. Quase todo mundo odeia ouvir a própria voz gravada. O lado bom é que existe uma resposta para isso.

O som pode chegar aos nossos ouvidos de duas maneiras diferentes: conduzido pelo ar ou pelos ossos. Na condução pelos ossos, a transmissão do som vai das nossas cordas vocais para a cóclea, estrutura em forma que caracol, localizada nas profundezas de nosso ouvido e responsável pela captação do som.

A frequência desses sons enviados por nossas cordas vocais é diminuída ao longo do caminho e é por isso que nossa voz, quando gravada, nos parece mais aguda, porque a ouvimos com a frequência de sons normais, pois são enviados pelo ar.

E como os outros nos ouvem?

Porque não ouvimos nossa voz como ela e
Fonte da imagem: Pixabay

Agora prepare-se para o choque: de acordo com o professor de psicologia da Universidade de Glasgow, pesquisador de percepções vocais, Pascal Belin, “nós nunca ouvimos nossas vozes como as outras pessoas ouvem, por isso nossa surpresa ao ouvir uma gravação”.

Já a otorrinolaringologista Chris Chang, de Virgínia, EUA, explica que quando ouvimos nossa voz gravada o processo de recepção do som não tem mais a ver com a cóclea, mas com o ar. A voz que ouvimos gravada é a voz que todas as outras pessoas ouvem.

Isso explica como as vozes podem ser diferentes, mas uma pergunta ainda não foi respondida: por que odiamos nossa voz gravada? É basicamente o mesmo que acontece quando gostamos do que vemos no espelho, mas não nas fotos. O fato é que estamos acostumados com as nossas imperfeições, ou seja, com a assimetria, ainda que leve, do nosso corpo.

Autopercepção

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O problema é que isso só se aplica ao espelho, pois estamos mais acostumados com ele do que com fotografias. Vale lembrar que no espelho nossa imagem fica invertida, e nas fotografias não. Isso tudo confunde nosso cérebro e nos faz gostar menos do que vemos e ouvimos quando não estamos acostumados com isso.

Os atores Johnny Depp, Meryl Streep e Denzel Washington já declararam que não assistem aos próprios filmes. Vai ver é por causa dessas diferenças de autopercepção no sentido imagem e som. Por isso nos achamos tão diferentes em fotos, vídeos e afins: por culpa da Física, basicamente. Faz sentido?

*Publicado originalmente em 09/04/2013.

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 ALLVISIONN/iStock

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Por que, quando escutamos a própria voz em uma gravação, ela soa estranha? Minha voz não parece ser a minha.
Lucivaldo Saccardo, Quirinópolis, GO

A sua voz de verdade – a que todo mundo escuta – é a que está no gravador, Lucivaldo.

Você acha sua voz diferente desta porque escuta a mistura de dois sons: a voz propagada pelo ar e a que reverbera dentro do seu corpo. Esta é conduzida da garganta aos ossos cranianos e captada pelo ouvido interno – para escutá-la de forma isolada basta tapar as orelhas.

Já a segunda não passa pelos ossos, então soa mais aguda do que você espera. Mas calma: ela nunca é tão horrível quanto você pensa.

Fonte: Livro Barulho, Água e Carne: a História do Som nas Artes, de Douglas Khan

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    Porque não ouvimos nossa voz como ela e

    Por que minha voz soa estranha quando a escuto numa gravação?

    Por que minha voz soa estranho quando a escuto numa gravação? (Pergunta de Lucivaldo Saccardo, Quirinópolis, GO)

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    Porque ouvimos nossa voz diferente do que ela é?

    Você acha sua voz diferente desta porque escuta a mistura de dois sons: a voz propagada pelo ar e a que reverbera dentro do seu corpo. Esta é conduzida da garganta aos ossos cranianos e captada pelo ouvido interno – para escutá-la de forma isolada basta tapar as orelhas.

    Como ouvir minha voz como ela realmente é?

    Segundo Palmeira, a voz gravada, aquela que vai ser socializada, não tem o acréscimo da via óssea. Ou seja, o indivíduo, assim como os demais, escuta a voz apenas por intermédio da via aérea. “Então, a nossa verdadeira voz é a voz que está gravada”, afirma o fonoaudiólogo.

    Porque não gostamos da nossa voz?

    A causa desse fenômeno não está nos aparelhos de gravação, mas sim na fisiologia do corpo humano. Quando o som é produzido por nossas pregas vocais, o córtex auditivo processa, simultaneamente, tanto as informações que recebe, via aérea, do sistema auditivo, quanto as vibrações ósseas produzidas pelo próprio corpo.

    Por que nossa voz muda no áudio?

    De acordo com a professora do departamento de Fonoaudiologia da Universidade Federal de Pernambuco, Adriana Camargo, os ossos da face trabalham como condutores de som e são os responsáveis pela mudança entre o que é escutado pela pessoa que fala e pelas outras pessoas.