Especialista aponta para riscos no setor com as sanções impostas à RússiaPara falar dos impactos que o Brasil possa ter com a guerra entre Rússia e Ucrânia, o Brasil Rural desta segunda feira (7) conversou com Leandro Barcelos, coordenador de Comércio Internacional na BMJ Consultores Associados. Show
De acordo com coordenador, corremos um risco real de afetar o agronegócio brasileiro, pelas sanções que os países tem colocado para a Rússia. Segundo ele, temos um risco de desabastecimento de insumos agrícolas já no segundo semestre, onde teremos uma retração na produção.
Ouça a entrevista no player acima. No agronegócio brasileiro, o Brasil depende de fertilizantes importados e a Rússia é a maior fornecedora do insumo. Além disso, o país europeu compra commodities e carnes do Brasil. Na visão somente de produtos agropecuários, a Rússia ficou na 22ª posição dentre os maiores importadores, com US $1,27 bilhão adquiridos em 2021 (participação de 1,06%), segundo o Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento. A Ucrânia, por sua vez, é líder na produção de milho. Uma possível retirada do país do mercado internacional, diminuiria a oferta do cultivo, provocando uma alta no preço do grão, que é muito usado como ração, aumentando, assim, os custos de produção na pecuária e das carnes nas prateleiras. Ambos os países se destacam na produção de trigo, produto que já apresentava alta nesta quinta-feira de mais de 5% na bolsa de Chicago. A eventual menor oferta ocasionada pela guerra pode afetar a comercialização mundial do produto, incluindo o Brasil, que compra o cereal da Argentina, que pode ter um aumento da demanda. Veja a seguir as possíveis consequências do conflito entre os dois países no agronegócio brasileiro. Crise de fertilizantesOs fertilizantes químicos funcionam como um tipo de adubo, usados para preparar e estimular a terra para o plantio. Antes mesmo do conflito, o mundo já enfrentava uma crise no setor, com encarecimento dos preços e escassez no mercado. Os principais motivos eram problemas energéticos em países fornecedores da matéria-prima para esses produtos, como China, Rússia e Índia, e problemas logísticos por causa da falta de contêineres e navios.. Agora isso pode se estender ou até mesmo piorar. Isso porque, no mercado mundial, a Rússia domina 10% dos nitrogenados, 7% dos fosfatados e 20% dos potássicos, aponta Fábio Mizumoto, coordenador do MBA de agronegócios da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Considerando o Brasil, das mais 41 milhões de toneladas do produto importadas em 2021, o país foi a origem de 23%, segundo levantamento do Comex Stat. De acordo com dados do Itaú BBA, considerando as matérias-primas para os fertilizantes, do total comprado pelo Brasil, vieram da Rússia:
A soja, por exemplo, principal commodity do Brasil, depende muito do fósforo e do potássio. Em possível impacto desses produtos, até as rações para a pecuária seriam afetadas, por sua vez, elevando o custo de produção das carnes e o valor para o consumidor, diz Mizumoto. "Porque a gente não consegue uma fonte alternativa que facilmente substitua a Rússia como fornecedora. Existem outros potenciais supridores? Sim, mas essa substituição não é nem perfeita e nem barata", explica o professor. Já o milho depende dos nitrogenados, que não possuem tantos outros fornecedores, explica. "Talvez um cidadão comum urbano tenha uma imagem de que é só plantar, que tudo dá no Brasil. Isso não é verdade. Os nossos solos são, em grande parte, pobres em nutrição e a gente precisa corrigir a capacidade nutricional para ter produtividade", diz Mizumoto. O professor afirma que a logística da Rússia já está sendo afetada, causando dificuldades para prever a importação destes insumos e o envio de commodities, por causa das possíveis problemáticas da produção. Além disso, após o produto chegar ao Brasil, ele também precisa de tempo para o caminho até o agricultor, o que também pode atrasar os cultivos. Há ainda a incerteza da disponibilidade dos fertilizantes, o que pode fazer os seus preços subirem, aponta Cesar de Castro, especialista de agronegócio do Itaú BBA. Ele explica que o encarecimento já acontece desde o ano passado e muitos produtores aguardavam que eles caíssem para comprar os insumos, contudo os valores continuam crescendo. Estes impactos devem ser sentidos pelo consumidor, principalmente, na safra de 2023, que é plantada no segundo semestre deste ano. Os cultivos que estão na lavoura agora já foram plantados e seus insumos já foram comprados em 2021. Efeito dominóApesar de a Ucrânia não ser grande fornecedora ou cliente do agronegócio brasileiro, uma crise afetaria o Brasil diretamente. Isso porque o país europeu é o 3° maior produtor de milho mundial, aponta Castro. Caso o país diminua a produção, no primeiro momento, com a menor oferta de milho, os preços subiriam ainda mais, diz. Mesmo favorecendo o agricultor que trabalha com o cultivo, seria mais uma causa para subir o preço da ração, deste modo encarecendo as carnes nos supermercados, analisa o especialista. Em paralelo, em países, como os Estados Unidos, a soja concorre com o milho por espaço no campo. Com o maior preço, os agricultores focariam em produzir o milho, diminuindo também a oferta de soja, afetando, de mesmo modo que o milho, a pecuária, afirma Castro. Além do milho, ambos países se destacam no cultivo do trigo, comenta. A Rússia é o maior exportador de trigo do mundo e a Ucrânia, o quinto. Apesar de o Brasil completar o consumo interno com o cereal da Argentina, a menor oferta do produto causaria encarecimento mundial devido à maior demanda que os fornecedores disponíveis receberiam. Tudo isso afetaria também o consumidor, por causa de uma alta do preço dos alimentos. Tudo isso aconteceria em um cenário em que os estoques mundiais de grãos já estão apertados, relata o especialista. Para completar o cenário problemático, a Rússia é compradora importante de carnes brasileiras - importando mais de mais de US$ 167 milhões em 2021, ocupando o 12° lugar no ranking, segundo o Comex Stat. O país também é destino de commodities. Em relação a soja, por exemplo, a Rússia adquiriu o valor superior a US$ 300 milhões no ano passado, ocupando a 12° posição em importadora brasileira do produto, aponta o Comex Stat. Por isso, se a relação comercial com a Rússia for abalada, o Brasil pode ter perdas econômicas, prevê o professor da FGV. Produtos mais exportados do Brasil para a Rússia*
Escassez de frangoO Brasil pode esperar também um aumento da demanda pela carne de frango - o que pode encarecer o produto. Isso porque a Ucrânia é um país exportador líquido do alimento, da ordem de 300 mil toneladas, diz Castro do Itaú BBA. "Caso este fluxo seja interrompido, o Brasil pode vir a capturar oportunidades de exportação na proteína avícola, por exemplo, na Arábia Saudita onde cerca de 10% das importações de carne de frango vêm da Ucrânia", explica. O consumidor vai pagar?Para os especialistas, sim, o preço vai subir nas gôndolas dos supermercados. Contudo isso levaria um tempo, acredita Mizumoto. Isso porque o custo de produção ficaria maior na safra de verão 22/23, o que seria repassado ao consumidor final. "Todos os sinais são de que se os preços não subirem, também não cairão", afirma Castro do Itaú BBA.
4 pontos sobre o PL dos Agrotóxicos Como a guerra entre Rússia e Ucrânia afeta a agricultura?O conflito perturba os mercados de cereais, fertilizantes e petróleo - commoditties que têm forte impacto no setor primário da economia. A Ucrânia é quarta exportadora de milho e produtora de trigo. Com ela fora do mercado em razão do conflito haverá menos milho no mercado mundial.
Quais os impactos da guerra entre Rússia e Ucrânia na economia brasileira?Qual o impacto do conflito na Ucrânia nas taxas de juros no Brasil e no mundo? Mesmo com a guerra, a Taxa Selic ultrapassou os 10%, elevando os investimentos estrangeiros no Brasil, o que fez o dólar ficar abaixo de R$ 5,00 pela primeira vez desde junho de 2021.
Quais os impactos da guerra na Ucrânia na economia do Brasil?A guerra teve outro impacto positivo: a valorização do trigo estimulou a produção brasileira, com aumento da área plantada. Entre as commodities agrícolas, foi a que mais subiu desde o início do conflito. De janeiro até o início de junho, o trigo teve alta de 27,8% no Brasil.
Quais as consequências da guerra da Rússia para o agronegócio?Como a guerra interrompeu o fluxo de exportação nos portos do Mar Negro e do Mar de Azov, o comércio de trigo segue paralisado na Ucrânia e na Rússia. Antes mesmo do conflito, o mundo já enfrentava uma crise no setor de fertilizantes, com encarecimento dos preços e escassez no mercado.
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