Quais são as dificuldades e preconceitos enfrentados pelos atletas paralímpicos?

Os paraatletas que participaram, nesta quarta-feira (3), de audiência pública na Comissão de Educação, Cultura e Esporte (CE) apontaram a falta de acessibilidade às pessoas com deficiência e o preconceito que elas sofrem como problemas que ainda precisam ser enfrentados. O nadador Clodoaldo Francisco da Silva, reconhecido como o principal atleta paraolímpico brasileiro, observou que a pessoa com deficiência não necessita de piedade, mas de oportunidade.

Na opinião de Clodoaldo, os portadores de deficiência conseguem ser tão produtivos como qualquer outra pessoa quando têm oportunidades, o que pode ser observado nos desempenho dos campeões brasileiros de paraesportes. Apesar de reconhecer que houve avanço significativo em favor dessas modalidades, como a bolsa-atleta (Lei 10.891/04), o nadador afirmou que a má gestão dos recursos do Comitê Paraolímpico Brasileiro (CPB) impede que haja mais benefícios aos paraatletas.

- Comitê Paraolímpico Brasileiro é um caso de polícia - afirmou Clodoaldo, ao informar que em 2007 o comitê gastou quase R$ 500 mil com advogados, recursos que, em sua opinião, poderiam ter sido investidos no paraesporte.

O corredor mais rápido do mundo no paraatletismo, Lucas Prado, que bateu seu próprio recorde nas paraolimpíadas de Pequim ao percorrer os 100 metros rasos da categoria T11 em 11 segundos e três centésimos, observou que a grande dificuldade que os para-atletas ainda enfrentam é a falta de patrocínios, seguida do preconceito. Ele sugeriu aprimoramento da legislação que regula o paraatletismo para que também os guias de pessoas com deficiência visual e treinadores sejam beneficiados. Lucas explicou, por exemplo, que o guia é fundamental para o bom desempenho do atleta cego porque precisa ser também um atleta, bem como estar sincronizado para não desclassificar o atleta. Ele defendeu ainda que, sempre que o paraatleta receber medalha, o guia também receba.

A atleta Shirlene Santos Coelho também apontou a falta de patrocínio e de reconhecimento como impedimento ao crescimento do paraesporte no Brasil. O nadador paraolímpico Daniel de Faria Dias apelou aos senadores para que incluam o paraesporte e os atletas em suas preocupações. Já o atleta paraolímpico de hipismo, Marcos Fernandes Alves, denunciou a falta de acessibilidade na Praça dos Três Poderes, bem como em alguns locais do Senado.

Medalhas

Clodoaldo Francisco da Silva já conquistou seis medalhas paraolímpicas de ouro, cinco de prata e duas de bronze. O corredor Lucas Prado ganhou três medalhas de ouro nos Jogos Paraolímpicos de Pequim. O nadador Daniel de Faria Dias ganhou quatro medalhas de ouro, quatro de prata e uma de bronze em Pequim.A atleta Shirlene Santos Coelho ganhou a medalha de prata no lançamento de dardo nos jogos de 2008 e o cavaleiro Marcos Fernandes Alves conquistou duas medalhas de ouro nos Jogos Parapan-americanos de Mar Del Plata em 2003.

A audiência pública foi proposta pelo senador Flávio Arns (PT-PR) e faz parte da programação da 4ª semana de Valorização da Pessoa Com Deficiência, que teve início na terça-feira (2).

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

  • Jefferson Puff - @_jeffersonpuff
  • Da BBC Brasil no Rio de Janeiro

16 setembro 2016

Quais são as dificuldades e preconceitos enfrentados pelos atletas paralímpicos?

Crédito, BBC Sport

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A Academia e o Comitê Paralímpico Brasileiro têm recebido demandas de deficientes físicos buscando informações sobre como ingressar no esporte.

Apesar do sucesso das Paralimpíadas, a sociedade brasileira ainda não mudou o preconceito em relação aos deficientes e o esporte paralímpico. Essa é a opinião de Alberto Martins da Costa, que esteve à frente da delegação brasileira em três Paralimpíadas - Sydney (2000), Atenas (2004) e Pequim (2008).

Porém, ele acredita que o país esteja "próximo" de mudar seus paradigmas - com a a ajuda do esporte. "O que você está vendo nessas competições não é a deficiência física, é a superação de si mesmo na busca da melhor performance. É a obtenção de marcas, dos melhores tempos, de quebra de recordes, da vitória sobre os adversários."

Doutor em Educação Física, ele já não chefia os atletas: atualmente, preside a Academia Paralímpica Brasileira, criada em 2010 para agregar os estudos em torno do esporte paralímpico no país.

Em entrevista à BBC Brasil, Costa afirma que já é possível perceber reflexos do sucesso do evento junto a muitos deficientes físicos, que têm entrado em contato com a Academia para buscar informações sobre como ingressar no esporte.

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Veja os principais trechos da entrevista:

BBC Brasil - Que tipo de impacto real o senhor acredita que ter sediado os Jogos pode trazer para os deficientes físicos no país?

Alberto Martins da Costa - Muitas pessoas no Brasil nem sabiam que o esporte paralímpico existia. Sediar os Jogos aumentou a visibilidade e já estamos percebendo um reflexo disso.

Desde o início da Paralimpíada temos recebido na Academia Paralímpica Brasileira e no Comitê Paralímpico Brasileiro uma série de demandas e emails de deficientes que estão assistindo aos Jogos e nos questionam sobre como fazer para ingressar no esporte.

Muitos ídolos que temos hoje, como o nadador Daniel Dias, e outros que conquistam diversas medalhas, também se espelharam em atletas paralímpicos para começarem suas carreiras.

Nossa orientação é de que procurem associações para pessoas com deficiências em suas cidades e Estados e que tomem o primeiro passo para iniciarem a prática do esporte.

Crédito, Acervo pessoal

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"O que você está vendo nessas competições não é a deficiência física, é a superação consigo mesmo."

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BBC Brasil - Muitos deficientes se queixam de preconceito e falta de políticas públicas, como calçadas e ônibus adaptados e mais chances profissionais. Como o senhor vê a questão?

Costa - É fato que a sociedade brasileira ainda tem preconceito contra o deficiente físico e o atleta paralímpico. Não só no Brasil mas também em outros países estamos próximos de uma mudança de concepção, mas ainda precisamos avançar mais, e o esporte ainda não mudou este preconceito.

No entanto, é preciso dizer que o esporte é o principal instrumento para essa nova forma de a sociedade encarar essas pessoas. O próprio conceito de esporte paralímpico como a atividade desenvolvida por atletas de alto rendimento, de alta performance, que se submetem a intensos treinamentos para alcançar suas metas, é uma mudança importante.

Não se trata de um olhar de pena. O que você está vendo nessas competições não é a deficiência física, é a superação de si mesmo na busca da melhor performance. É a obtenção de marcas, dos melhores tempos, de quebra de recordes, da vitória sobre os adversários.

Precisamos parar de bater nessa tecla da deficiência e mudar a concepção de esporte paralímpico para esporte de alta performance, de alto rendimento, seja ele praticado por pessoas com ou sem deficiência.

Crédito, Acervo pessoal

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"Precisamos parar de bater nessa tecla da deficiência e mudar a concepção de esporte paralímpico para esporte de alta performance"

BBC Brasil - Um jornalista português usou termos fortes ao afirmar que os Jogos Paralímpicos são um "espetáculo grotesco" e que servem "apenas para preencher a agenda do politicamente correto". Como o senhor responderia a isto?

Costa - É uma opinião extremamente infeliz, de quem não conhece o esporte paralímpico, não sabe o que está por trás dele, não sabe o que ele traz para as pessoas que praticam essas modalidades, e desconhece o fato de que o esporte paralímpico é a principal ferramenta para mostrar a capacidade e a potencialidade das pessoas com deficiência. Demonstra falta de conhecimento dele não só sobre o esporte paralímpico mas sobre a vida das pessoas com deficiência.

BBC Brasil - Como o senhor explica o bom desempenho do país nos Jogos Paralímpicos?

Costa - Há uma série de fatores. O primeiro são os atletas, a qualidade dos nossos competidores e o treinamento que realizam. O segundo é a organização administrativa do desporto paralímpico no país. Temos um bom planejamento de metas, que se mostrou eficiente nos últimos dois ciclos (Londres e Rio), e o cumprimento do investimento planejado para o esporte. O fato de o Brasil ter fechado a Paralímpiada de Londres na 7ᵃ posição geral e ter colocado como meta fechar entre os cinco primeiros no Rio de Janeiro também motivou esse sucesso.

BBC Brasil - Entre as modalidades paralímpicas há destaque para o atletismo e a natação, que costumam dar os maiores números de medalhas para o Brasil. Como o senhor explica a diferença em relação aos outros esportes?

Costa - Pelo grande número de provas e categorias, é natural que tenhamos número maior de medalhas para o Brasil nestes dois esportes. Por outro lado, são modalidades que não exigem uma gama de equipamentos e aparato técnico quanto as outras, e portanto os nossos paratletas podem treinar e se aprimorar sem grandes problemas. É muito mais fácil formar paratletas nestes dois esportes em comparação a outros.

Quais as dificuldades encontradas pelos atletas paraolímpicos?

É incontestável, em primeiro lugar, considerar a precária visibilidade que os paratletas encaram frente a sociedade. Deve-se a isso, o fato de pessoas com deficiência, em todas as camadas sociais, possuírem pouca inclusão e representatividade nas mídias comunicativas e nos setores políticos, por exemplo.

Quais preconceitos Os atletas paralímpicos sofrem?

Capacitismo, como explica a própria atleta, é o preconceito que as pessoas com deficiência sofrem quando alguém diz, de forma explícita ou implícita, que elas não têm capacidade de fazer algo.

Quais são os preconceitos enfrentados pelos atletas do esporte adaptado?

Com relação às barreiras enfrentadas, os depoimentos demonstraram que o preconceito contra a pessoa com deficiência, a falta de patrocinadores no início da carreira, a baixa divulgação midiática, o despreparo de profissionais para atuar junto ao esporte adaptado e a falta de acessibilidade nos espaços urbanos e ...

Quais são as dificuldades enfrentadas pelos atletas paralímpicos para participar dos Jogos paralímpicos?

Segundo ela, as maiores dificuldades desses atletas estão ligadas ao transporte e à falta de treinadores e de apoio nutricional. “Eventos como este que está sendo realizado aqui em Brasília são mais suscetíveis de obter patrocínios”, explica. No caso, o patrocínio veio de um banco público, a Caixa Econômica Federal.