Quando retira as trompas pode engravidar

Elizabeth Kough começou a sentir sintomas clássicos de gravidez no final de 2018, o que no primeiro momento causou estranhamento, visto que quatro anos antes ela havia passado por uma cirurgia para remover as trompas.

A surpresa, ou "milagre", como classificaram os médicos, foi um choque para a mãe, de 39 anos, que considerava seu terceiro filho o último da família.

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"No começo eu fiquei bem chocada, eu pensei algo como 'isso não está nos meus planos', porque eu sou uma mulher planejadora. Mas às vezes você simplesmente precisa simplesmente romper com alguns deles", disse ela ao "The News Tribune".

A decisão de tirar as trompas, segundo Elizabeth, por considerar a "família completa" e ter lido alguns estudos que afirmavam a prevenção do câncer de ovário.

"Eu já tinha três filhos. Então, decidi que minha família estava completa, e eu tive algo chamado de auto-endectomia, que resultou na remoção das minhas trompas. Algo que previne a gravidez e o aparecimento do câncer de ovário. Então claramente fiquei chocada ao descobrir a gestação", relembrou.

A confirmação da gravidez veio depois que Elizabeth fez um teste e junto com o "choque" veio também a preocupação: as trompas conectam os ovários ao útero e, sem eles, havia forte chance de que o óvulo fertilizado não estivesse no útero, órgão ideal para o crescimento do feto.

"Quando descobri que estava grávida, fiquei muito preocupada que o bebê estivesse na minha cavidade abdominal, mas no final das contas, eu e meu marido ficamos chocados e animados por ele estar realmente no meu útero, onde deveria estar", disse ela.

Após o beber nascer em segurança, Kough e seus médicos analisaram como isso pode ter acontecido.

"Provavelmente isso teria acontecido em consequência de uma cirurgia malfeita. Mas os médicos consultaram meus registros cirúrgicos, fizeram ultrassonografia e, depois, quando fiz uma cesárea, conseguiram olhar dentro da minha cavidade abdominal e a cirurgia tinha sido feita de maneira adequada. Não havia tubos e Benjamin é um bebê muito raro. É muito raro que isso tenha ocorrido e somos muito abençoados por tê-lo aqui. "

Quando retira as trompas pode engravidar

É possível engravidar com apenas uma trompa?

Saber se podem ou não engravidar com uma trompa não costuma estar entre as maiores preocupações das mulheres, quando se fala em ter filhos. A grande maioria das futuras mamães que estão tentando engravidar se preocupam, sim, com aspectos relacionados à ovulação — atraso menstrual, testes de fertilidade, período fértil…. E o tempo vai passando, o bebê não chega após seis a 12 meses de tentativas e surge a dúvida: o que pode estar acontecendo?

No entanto, além dos problemas na ovulação (responsável por aproximadamente 30 a 40% das causas de infertilidade), as alterações nas trompas representam a segunda causa mais frequente de dificuldades para engravidar entre as mulheres (30 a 40% dos problemas).

Do ponto de vista prático, o exame mais realizado para avaliar a permeabilidade tubária (histerossalpingografia) apresenta limitações e este exame pode apresentar resultados equivocados, principalmente se demonstrar obstrução nas trompas. Não é incomum ouvirmos sobre mulheres que tinham obstrução tubária pela histerossalpingografia e engravidaram espontaneamente após este diagnóstico.

Como a trompa é um órgão fundamental para a reprodução natural, é fácil imaginar que a obstrução tubária bilateral indica a necessidade da fertilização in vitro (FIV) para engravidar. Entretanto, se você teve o diagnóstico de obstrução tubária unilateral, tente manter a calma! Ainda é possível alcançar o sonho de ter um bebê com outros tratamentos ou apenas com um bom planejamento.

Quer saber um pouco mais sobre esse tema? Acompanhe este conteúdo e veja que o sonho de engravidar com apenas uma trompa pode estar mais perto do que você imagina! Boa leitura!

Qual a importância das trompas para que ocorra a fecundação?

A trompa é um órgão fundamental para reprodução, pois é nesta estrutura que ocorre a fecundação de o óvulo pelo espermatozoide. As trompas são estruturas que medem cerca de 10 cm e comunicam a cavidade uterina aos ovários.

Por apresentarem característica tubular, as trompas têm a capacidade de receber os óvulos e espermatozoides que vão originar o embrião. Neste processo, a trompa apresenta peristaltismo (movimentos de contração e relaxamento) que facilitam o transporte do embrião até a cavidade uterina para posterior nidação (implantação do embrião no útero).

As principais causas de obstrução tubária são a infecção por clamídia, alterações da anatomia e função tubárias devido a endometriose, cirurgias para tratamento da gestação ectópica, aderências pélvicas, entre outras.

A obstrução de uma das trompas pode dificultar a gravidez?

Apesar do óvulo poder alcançar a trompa oposta, se a ovulação ocorrer do lado em que a tuba uterina está obstruída, a probabilidade da gravidez pode diminuir naquele ciclo. Na maioria das vezes, as mulheres variam o lado da ovulação de forma aleatória, mas algumas mulheres apresentam ovulações mensais predominantemente em um dos ovários e a chance de gravidez pode diminuir se o ovário mais funcionante se localiza do mesmo lado da obstrução tubária.

Entretanto, na prática isto pode não ser verdade, conforme um estudo da renomada revista BJOG, do Royal College of Obstetricians and Gynaecologists, uma das sociedades científicas mais importantes do mundo.

Neste estudo, os pesquisadores canadenses observaram as taxas de gravidez em mais de 5.000 ciclos de inseminação intrauterina (IUI) e verificaram que, quando a histerossalpingografia evidenciou obstrução da trompa perto da sua entrada no útero (obstrução proximal), as chances de engravidar com a IUI foram semelhantes às taxas de casais com permeabilidade tubária bilateral (esterilidade sem causa aparente).

Por outro lado, quando a obstrução tubária foi distal (próxima ao ovário), as chances de gravidez foram menores em relação às mulheres com permeabilidade bilateral das trompas. Os autores concluíram dois pontos importantes:

  1. a histerossalpingografia apresenta falhas no diagnóstico da obstrução tubária proximal e algumas mulheres diagnosticadas com obstrução das trompas têm estes órgãos normais (resultados falso-positivos);
  2. a oclusão unilateral das trompas, na verdade, pode não diminuir a possibilidade de engravidar, e é fundamental conversar com um especialista para individualizar estratégias e planejamento.

Nesse caso, quais exames são mais indicados para avaliar a situação?

Inicialmente, é fundamental avaliar o contexto reprodutivo do casal. Algumas vezes, o espermograma pode estar muito alterado e a avaliação da trompa poderá ser dispensada porque o tratamento da infertilidade não necessitará da trompa. Outras vezes, a ultrassonografia poderá demonstrar alterações (hidrossalpinge, presença de inflamação e acúmulo de líquido na trompa) e os órgãos deverão ser retirados para aumentar as chances de gravidez.

Existem três principais exames para avaliar a permeabilidade tubária. Com exceção da laparoscopia, os outros exames podem causar desconforto se não forem realizados por especialistas e sob sedação. Listamos, aqui, os exames mais comumente indicados. Confira!

Histerossalpingografia

A histerossalpingografia é o exame mais requisitado para avaliar possíveis casos de anomalias nas trompas de Falópio. Uma recomendação importante é que esse exame seja realizado entre oito e 12 dias após o início da menstruação.

O exame é realizado por meio da injeção seriada de contraste a base de iodo e através do colo do útero. A cada 5 ou 10 minutos, algumas radiografias são periodicamente obtidas e pode-se analisar se houve passagem do contraste pelas trompas.

Por meio dessa avaliação, o médico consegue verificar se as trompas estão íntegras e em condições de desempenhar sua função (receber o óvulo e espermatozoide para fecundação e auxiliar no transporte do embrião para implantação na cavidade uterina).

Em alguns casos, a injeção de contraste na histerossalpingografia pode restabelecer a patência tubária e algumas mulheres podem restaurar seu potencial reprodutivo e engravidar espontaneamente após o procedimento. Entretanto, vale lembrar que, uma vez que a trompa está obstruída, sua função pode estar prejudicada e, mesmo após restauração da sua patência, poderá ocorrer risco aumentado de gestação ectópica tubária.

Histerossonografia

A execução da histerossonossalpingografia é semelhante à histerossalpingografia. Entretanto, na histerossonossalpingografia, utiliza-se o contraste não iodado e visualiza-se sua passagem pelas trompas por meio da ultrassonografia (US).

Como o líquido é facilmente visualizado pela US, pode-se utilizar como contraste o soro fisiológico associado a anestésicos tópicos, diminuindo o desconforto durante o exame. Além da permeabilidade tubária, a histerossonossalpingografia permite avaliar de forma mais segura e eficiente possíveis alterações da cavidade uterina.

A maior limitação para solicitar este exame de rotina na prática clínica é que poucos centros de diagnóstico reprodutivo tem habilidade para realizá-lo, pois é necessário um profissional especializado na técnica e que conheça aspectos relacionados à fertilidade.

Laparoscopia

A videolaparoscopia é o exame mais confiável para avaliar a permeabilidade tubária. Entretanto, por necessitar de internação e anestesia geral não é solicitado de rotina, mas representa uma opção para os casos de alterações sugestivas de endometriose ou massas visualizadas no ovário ou seus anexos.

Por meio de uma pequena incisão logo abaixo do umbigo, insere-se uma óptica para visualização da cavidade abdominal e pélvica. Por esta óptica visualiza-se as trompas, útero e ovários, e um médico assistente injeta um líquido azul pelo colo do útero. Este contraste alcança as trompas uterinas e é possível verificar se este líquido extravasa pelas fímbrias, porção tubária mais próxima dos ovários (distal).

Como e quando tratar a infertilidade no caso de obstrução de uma das trompas?

Segundo a American Society for Reproductive Medicine (ASRM) e a European Society of Human Reproduction and Embryology (ESRHE), o tempo de espera para engravidar pode variar de acordo com as peculiaridades do caso. No entanto, isso depende de alguns fatores que diminuem a fertilidade do casal. Veja os mais comuns!

Mulheres com menos de 35 anos e ausência de doença ginecológica

Em geral, pacientes com idade até 35 anos e que não tenham diagnóstico de doença ginecológica têm maiores chances de engravidarem nos primeiros meses de tentativa. Porém, especialistas afirmam que se o casal não engravidar em até doze meses, o ideal é buscar ajuda imediatamente.

Mulheres com idade acima de 36 anos e com complicações ginecológicas

As dificuldades para engravidar são diretamente proporcionais ao avanço da idade e à existência de doenças ginecológicas que dificultam a dinâmica natural da fertilidade.

Além disso, quando o parceiro apresenta alguma anormalidade no espermograma é preciso procurar um profissional em reprodução humana e fazer um acompanhamento durante seis meses.

Entretanto, devido às características típicas da fisiologia feminina é comum a redução do número de óvulos nas mulheres acima de 36 anos. Às vezes, a qualidade desses gametas também podem sofrer interferência de alguns fatores, o que contribuem para impedir a fecundação.

Listamos os problemas que mais comprometem a dinâmica da reprodução e impedem a gravidez. Confira:

  • anovulação;
  • endometriose;
  • fatores hormonais;
  • obstrução tubária unilateral;
  • síndrome dos ovários policísticos.

A certeza do diagnóstico de obstrução das tubas ocorre, geralmente, após seis a doze meses de tentativa de gravidez natural. Esse prazo considera, no mínimo, uma frequência de relações sexuais entre três e quatro vezes por semana.

Vale destacar, ainda, a possibilidade de antecipação diagnóstica de oclusão (unilateral) de tuba uterina em pacientes com remoção cirúrgica de uma das trompas devido à gravidez ectópica.

Portanto, após a avaliação diagnóstica do estado de fertilidade do casal, o tratamento pode ser direcionado para a conduta expectante. Caso a gravidez não ocorra, opta-se pelas alternativas de reprodução assistida: namoro programado, a inseminação intrauterina (IIU) ou a fertilização in vitro (FIV) são as mais indicadas.

Conforme o potencial reprodutivo do casal, a orientação quanto aos riscos — e benefícios — de cada procedimento e a avaliação das chances reais de engravidar com uma trompa são fundamentais. Igualmente importante são os aspectos associados às expectativas, inclusive no que se refere às condições emocionais e ao retorno do investimento financeiro.

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Referências:

  • Tan J, Tannus S, Taskin O, Kan A, Albert AY, Bedaiwy MA. The effect of unilateral tubal block diagnosed by hysterosalpingogram on clinical pregnancy rate in intrauterine insemination cycles: systematic review and meta-analysis. BJOG. 2019;126(2):227-235.
  • Practice Committee of the American Society for Reproductive Medicine in collaboration with the Society for Reproductive Endocrinology and Infertility. Optimizing natural fertility: a committee opinion.Practice Committee of the American Society for Reproductive Medicine in collaboration with the Society for Reproductive Endocrinology and Infertility. Fertil Steril. 2017;107(1):52-58

Quando retira as trompas pode engravidar

Prof. Dr. Anderson Sanches de Melo

Médico especialista em Reprodução Humana pelo Hospital das Clínicas da HC FMRP-USP. CRM-SP 104.975

Quando retira as trompas pode engravidar

Quando retira as trompas pode engravidar

É possível engravidar mesmo com a retirada das trompas?

Apesar de pequenas, as chances de uma gravidez acontecer mesmo após a ligadura das trompas existem. A taxa de reversão espontânea da laqueadura é de 0,5% a 1% – aqui no Brasil, estima-se que de uma a cada duzentas mulheres laqueadas acabem engravidando.

O que acontece com quem tira as trompas?

Portanto, a laqueadura bloqueia as tubas e não permite que os gametas se encontrem. Os resultados dessa cirurgia costumam ser definitivos, isto é, a maior parte das mulheres que se submetem à ligadura das trompas não engravida mais. São bem raros os casos em que ocorre alguma reversão natural e uma gestação inesperada.

Quanto tempo depois de retirar uma trompa posso engravidar?

Para engravidar novamente depois de uma gravidez tubária é aconselhado esperar cerca de 4 meses se o tratamento foi realizado com medicamentos ou curetagem, e 6 meses em caso de ter sido realizada uma cirurgia abdominal.

Como fica o útero sem as trompas?

A ausência completa de trompas, por exemplo uma malformação desde o nascimento, não tem como carrear o óvulo, portanto não poderia engravidar naturalmente, mas existem meios de implantar o óvulo no útero e desenvolver a gestação normalmente.