Quantos gols Everton Ribeiro tem na Libertadores?

Ditar o ritmo é uma virtude e tanto no futebol. Saber prender ou soltar a bola, acelerar o passe ou acariciar no controle, mudar a direção ou dar continuidade. Quem consegue ter o tempo a seu favor também pode encontrar os espaços e abrir o jogo. Alguns jogadores parecem possuir ponteiros invisíveis em seus pés, que transformam uma partida à sua feição. Everton Ribeiro, com tal capacidade, é a engrenagem principal do Flamengo há anos. O homem que influencia com o relógio no bolso, que orienta movimentos. E que, na final da Libertadores em Guayaquil, se colocou como senhor que abriu caminhos na base do ritmo. Entregou o gol do título e conduziu o domínio que consumou o tricampeonato continental dos rubro-negros.

O lugar de Everton Ribeiro na hierarquia do Flamengo nos últimos anos não é necessariamente o mais destacado. Outros companheiros se sobressaem pelos gols decisivos ou por doses maiores de plasticidade. Tecnicamente, contudo, o capitão está um passo à frente. Possui essa característica ímpar de ditar o ritmo, que era alucinante nos tempos do título em 2019, que se torna mais cadenciado em 2022. Certo é que os ponteiros nas chuteiras do camisa 7 sempre se movem.

Em seis anos de Flamengo, Everton Ribeiro não está imune às críticas. Mesmo nessa sequência de conquistas recentes, teve os seus momentos de baixa. Porém, algumas das melhores fases do Fla estiveram diretamente ligadas à batuta do maestro. E nos períodos de provação também se sabia como ele era imprescindível para tentar trazer o jogo aos rubro-negros. O camisa 7 deveria ser uma unanimidade, porque sua importância para os flamenguistas é ímpar. Um reconhecimento que, afinal, também vem em forma de constantes convocações à Seleção – que, aos 33 anos, devem render sua primeira (e merecida) Copa do Mundo.

Quem estava em Lima sabe como Everton Ribeiro serviu feito um ímã para a virada contra o River Plate. Os companheiros procuravam o armador, a bola obedecia às suas orientações, os próprios torcedores buscavam no meia o seu desafogo. Quando o Flamengo botou na cabeça que dava para virar e se organizou melhor na metade do segundo tempo, era Everton quem organizava os ataques. Não teria influência direta nos lances dos gols, mas não se nega que o melhor do time começou a acontecer quando o camisa 7 encontrou seu espaço para fazer a engrenagem girar. Era o cérebro que aparecia em diferentes cantos para auxiliar o pensamento.

O cenário em Guayaquil, três anos depois, seria diferente. Também pelo tipo de jogo que o Athletico Paranaense forçou no primeiro tempo. Com a marcação no mano a mano, seria preciso encontrar alguém que se movimentasse e que pudesse escapar para desencaixar os adversários. Everton Ribeiro poderia ajudar isso, e com muitos recursos: tem visão, tem passe, tem drible. Mais importante, tem ritmo e tem quebra de ritmo. O Flamengo dependia dessa circulação do camisa 7 para tentar se encontrar no jogo e ter mais ideias.

O Flamengo melhorou entre a primeira e a segunda metade da etapa inicial. E a expulsão, é claro, transformou as condições do jogo. Ainda assim, a fagulha do gol estalou com a participação de Everton Ribeiro. Vale assistir, e apreciar, o que o camisa 7 faz desde o início da construção da jogada. Ele encara a marcação, briga na dividida, volta para trás, finge que vai encerar. E aí que vem o ritmo, quebrado pelo meia num giro. É quando dispara, tabela com Rodinei e encontra o corredor aberto na beirada da área. Os ponteiros dos pés fizeram a diferença e seu cruzamento saiu com precisão para evitar sete adversários possíveis na rota, até chegar doce à conclusão livre de Gabigol no segundo pau.

No segundo tempo, com o Athletico em marcação menos agressiva, o Flamengo administrou mais a bola e a vantagem. Ritmou os passes. E a dinâmica que Everton Ribeiro exerce se tornou mais evidente. O camisa 7 estava levitando em campo, especialmente da direita para o centro. Deu alguns passes de enorme inteligência, botou o relógio no seu pulso, facilitou a movimentação de seus companheiros. Faltou uma contundência maior ao Flamengo como um todo, mas também existia um interesse por esfriar e cansar os adversários. O entendimento de Everton dentro desse tipo de jogo foi excepcional.

Gabigol recebeu o prêmio de melhor em campo, pelo destaque que seu gol rende. Quem mais influenciou os rumos desta conquista, porém, foi Everton Ribeiro. E a cena estampada nos pôsteres também é do capitão. Se, como em 2019, Diego Alves e Diego Ribas dividiam em seis mãos o ato de erguer o troféu, desta vez a preponderância do meia é inegavelmente maior neste gesto. É a liderança técnica do Flamengo há tanto tempo, é uma voz serena nos vestiários, é um exemplo de excelência nos treinamentos. Um símbolo de classe como poucos na história do Fla, mesmo num clube com tantos maestros no passado, e com mais uma final de Libertadores em seu bolso.