“Quando olhei a terra ardendo, quão fogueira de São João. Eu perguntei a Deus do céu, uai! Por que tamanha judiação?”. Esses famosos versos da composição de Humberto Teixeira são trilha sonora tradicional dos festejos pernambucanos. A poesia da música “Asa Branca”, que caracteriza tão bem a história de luta e resistência do povo sertanejo brasileiro, completa, neste mês de maio, 70 anos de seu lançamento. O rural nordestino não é mais o mesmo de sete décadas atrás. Por exemplo, o percentual de migrações diminuiu. Ao mesmo tempo, a música segue imortalizada, firme nas identidades sertanejas, ultrapassando fronteiras de territórios, estéticas e gerações. Show Em 1947, a composição era desacreditada pelos donos da gravadora RCA Victor. A canção triste que retrata o ciclo das migrações do homem nordestino precisou de uma, digamos, forcinha, para que fosse aceita pela gravadora. “Luiz Gonzaga disse: ‘se não gravar essa música aqui, eu saio da RCA Victor’. E aí os Victors começaram: ‘não, manda ele gravar...’. Quando gravaram, a música deu esse estouro que foi”, declara José Mário Austragésilo, professor, comunicador social, escritor e ator. Também autor do livro “Luiz Gonzaga: o homem, sua terra e sua luta”, José Mário afirma que um dos pontos marcantes na carreira de Luiz Gonzaga foi a valorização da identidade cultural local. Com esta marca, o Rei do Baião ganhou o mundo. “É a música representativa do povo brasileiro, da luta do povo brasileiro, desse grande compositor, Luiz Gonzaga, o Rei do Baião. Asa Branca é a música mais importante do repertório dele. Claro que ele tem outras, mas Asa Branca é a grande bandeira da Música Popular Brasileira. Merece ser considerada o hino da MPB”, completa o escritor. Do litoral ao sertão, Asa Branca sempre remete a alguma memória da vida e cultura de quem é pernambucano. Para Val dos Santos, uma trabalhadora que mora no Recife, ouvir e cantar Asa Branca representa o regaste a histórias de antepassados: “Eu sinto saudade do que eu não conheci. Lembrança de um passado que eu não conheci. Tristeza também por muitas coisas que a gente sabe, que não existe mais. E o que está se acabando por aí. O sertão é como se não existisse para o mundo aí fora. Os políticos não valorizam o nosso sertão”. Próximo de Exu, cidade natal de Luiz Gonzaga, no município de Triunfo, no sertão do Pajeú pernambucano, o jovem Erisson Martins, além de estudar Agronomia, toca violão e canta um repertório musical variado. “Não é apenas uma simples música, com uma simples letra, com uma melodia. É uma belíssima poesia popular, que ficou muito bem encaixada dentro de uma estrutura melódica, muito bem feita pelo nosso Rei do Baião. É uma letra que retrata muito a vida do sertanejo, a vida das pessoas que moram no campo. A vida das pessoas que viveram aquela época na qual a música foi escrita”, afirma Erisson. Décadas atrás, Manoel Mourão também deixou a região Nordeste rumo ao Sudeste e Sul. A situação foi diferente. Manoel Mourão é alagoano e ex-jogador de futebol. Nos gramados, ficou conhecido ao assumir a lateral-esquerda como Mourão. Ele fala sobre o sentimento de ouvir Asa Branca ao longo dos anos, em diferentes localidades: “Asa Branca é o hino do sertanejo. Sinceramente. Se canta em todo canto. É imortal. Ninguém jamais esqueceu. É espetacular. Principalmente naquele vozeirão de Luiz Gonzaga e de outros e outras da época”. Mourão tem toda a razão. Diversas foram as vozes que cantaram Asa Branca. Além do próprio filho do Rei do Baião, Gonzaguinha, podemos listar alguns vários nomes da música popular brasileira que gravaram Asa Branca: Nelson Gonçalves, Maria Bethânia, Zé Ramalho, Tom Zé, Lulu Santos, Fagner, Caetano Veloso, Raul Seixas, Quinteto Violado… e muitos outros do Brasil ou do exterior. Asa Branca já foi gravada em inglês e até em japonês. Luiz Gonzaga chegou, inclusive, a gravar uma continuação para seu hino sertanejo. “A Volta da Asa Branca” conta a história do retorno do retirante e da sua nova vida no Nordeste: “A seca fez eu desertar da minha terra, mas felizmente Deus agora se alembrou de mandar chuva pr'esse sertão sofredor, sertão das mulher séria e dos homens trabalhador”. Edição: Monyse Ravena Este conteúdo foi originalmente publicado na versão impressa (Edição 26) do Brasil de Fato Pernambuco. Confira a edição completa Publicado em 28 / 05 / 1828/05/2018
Asa Branca, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, foi composta pela dupla no dia 3 de março de 1947 e se tornou o maior clássico do sertanejo. A música fala da Seca no Nordeste, que de tão intensa obrigava seu povo a migrar, assim como as aves, entre elas a asa branca, que é um tipo um pombo de canto profundo e rouco que representa o lamento do povo, que tanto sofre, ao criador. Quando essa ave bate asa do sertão, anuncia a seca, o tempo difícil que está por vir e por isso abandona o lugar em busca de sobrevivência. Na época em que a música foi composta, só os homens migravam de sua região e deixavam suas famílias pra irem em busca de condições de sustento para os que ali ficavam. Quando olhei a terra ardendo Que braseiro, que fornalha Por falta d’água perdi meu gado Até mesmo a asa branca Depois eu disse adeus Rosinha Hoje longe, muitas léguas Espero a chuva cair de novo Quando o verde dos teus olhos Eu te asseguro, não chore não, viu Por Patrícia Audi Quem é o autor do texto da música Asa Branca?Esses famosos versos da composição de Humberto Teixeira são trilha sonora tradicional dos festejos pernambucanos. A poesia da música “Asa Branca”, que caracteriza tão bem a história de luta e resistência do povo sertanejo brasileiro, completa, neste mês de maio, 70 anos de seu lançamento.
Em que cidade surgiu a música a música de Asa Branca?Asa Branca foi escrita em 1947 por dois compositores nordestinos, Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira. Os dois criaram a música nos estúdios da RCA no Rio de Janeiro, no dia 3 de março.
Porque a música Asa Branca foi criada?A canção está relacionada à época de seca, e reforça a sazonalidade da região. Luiz Gonzaga era um profundo observador da natureza e do clima do sertão, e por isso indicamos ele ao título.
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