A minha voz não a mesma maais os cabelos

15 de junho de 2016 - 17h 56
(última atualização: 6 anos atrás)

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A minha voz não a mesma maais os cabelos
Imagine abrir a edição de hoje e encontrar nas páginas anúncios de xaropes, de produtos para as donas-de-casa ou de propagandas com uma clara tendência racista e sexista? Impossível? Hoje talvez sim, mas, há 85 anos, era justamente assim que a publicidade era feita. E não é que dava certo? Pois é. Para a época, os anúncios um tanto rebuscados, com bastante texto e pouca imagem, funcionavam bem.

Em O Comércio, a publicidade está presente desde as primeiras edições. Obviamente, feita de maneira simples, com os recursos que se tinha a mão. De certa forma, porém, um olhar mais atento ao produto oferecido, contava a história local e até nacional. Propaganda bem feita é bem feita em qualquer época. Por isso a manchete desta matéria. O texto é do histórico anúncio do Shampoo Colorama, da década de 70. Embora tenha sido veiculado na TV, vale sua colocação aqui: deu tão certo que até hoje está na “boca do povo”.

“Imagine uma página inteira do jornal com fundo preto e escrito em letras brancas: “Para mais informação sobre o câncer de pulmão, siga fumando”, e uma assinatura com letras menores em vermelho da “Associação de Combate ao Câncer de Pulmão”. Esse foi um anúncio criado há algum tempo que daria certo ainda hoje. Venderia a mensagem. Mas, claro, cada época tem suas características. Porém a criatividade e a destreza para criar um anúncio ainda não saíram de moda”, defende o sócio e diretor executivo da Girafa Comunicação Interativa, Marcos Romualdo dos Santos.

A minha voz não a mesma maais os cabelos
Fã do inglês David Ogilvy, que nasceu em 1911 e é considerado o “pai da propaganda”, Santos vai mais fundo ao avaliar a evolução do conceito dos anúncios. “Em uma de suas célebres frases criticando os funcionários que se autodenominavam criativos disse: “sua função é vender, não deixe que nada te distraia do único propósito da publicidade”. Com essa frase podemos dar um exemplo dos anúncios que usavam muitas palavras e poucas imagens, mas que mesmo se veiculado hoje daria um resultado bacana”, avalia.

O jeito de produzir anúncios mudou e continua mudando. Na verdade, a transformação ocorre em uma velocidade muito maior, já que o público também é muito mais veloz. “É uma geração de consumidores que já nasce sabendo o que quer”, sorri Santos. As leis que regulamentam a produção das propagandas, bem como o entendimento do que é razoável e lícito, moldam o jeito de vender, a partir das páginas impressas. “Eu acredito que estamos em constante evolução e cada época tem suas características próprias. Claro que se observarmos um jornal de 80 anos atrás e um de hoje, as mudanças são visíveis. Desde o formato, diagramação, forma de expor conteúdo, forma de escrever, de anunciar até a sua postura enquanto veículo de comunicação”, explica.

Também é diferente o que está por trás da criação. Antes, a responsabilidade era do redator do jornal. Ele era um “faz tudo”, inclusive de anúncios. Hoje não é bem assim. Para que a propaganda seja veiculada, há um estudo de campo, de aceitação, de impacto, feito por um profissional da área. E mesmo ele, se ajusta ao tempo. Tudo para que o resultado, esperado há 85 anos, e hoje também, seja atingido. “O próprio publicitário está se reinventando, se transformando em um profissional multimídia e que está em constante evolução, sempre acompanhando o mercado e os novos consumidores”, reafirma.

A propaganda do xampu Colorama mostrando uma moça de voz desafinada fez história na publicidade brasileira. É impressionante como depois de tantas décadas ainda tem gente que se lembra do anúncio veiculado pela televisão.

Na peça publicitária a moça de voz esganiçada aparecia fazendo anúncio do xampu. A voz era tão aguda e estridente que num primeiro momento não deu para entender como foi levada ao ar. Nunca soube se a participação dela no anúncio se deu por causa de uma vacilada da agência de propaganda, devidamente endossada pelos caciques da Bozzano, que era a empresa anunciante, ou se tudo foi muito bem planejado como preparação para o próximo anúncio.

Não posso afirmar por falta de informações, mas minha intuição diz que foi uma bela pisada na bola. E se foi, o mérito da correção merece aplausos. Nesse caso, a emenda ficou muito melhor que o soneto.

No anúncio seguinte lá estava a moçoila toda saltitante entoando com a voz ainda mais descolorida a seguinte mensagem: Ei, ei, você se lembra da minha voz? Continua a mesma, mas os meus cabelos – quanta diferença! E no final a mesma moça surgia com voz melodiosa e sedutora dizendo: Quando os cabelos são lindos, tudo é lindo numa mulher.

Bingo! Até hoje, passados tantos anos aquela vozinha ridícula ainda está na minha mente. Na minha e na de muita gente, pois basta acionar a espoleta com a frase “a minha voz continua a mesma” e logo aparece alguém para completar “mas, os meus cabelos, quanta diferença!”.

Não é tão comum, entretanto, encontrarmos pessoas com qualidade vocal tão ruim. Por outro lado, é curioso que mesmo não tendo nenhum problema na voz a maioria das pessoas não gosta de se ouvir em gravação.

Mas, se a voz até tem boa qualidade, por que há tanta resistência em ouvi-la gravada? De maneira geral, não morremos de amores pela nossa voz quando a ouvimos reproduzida numa gravação, porque é comum julgarmos que ela tem melhor qualidade. Quando uma pessoa ouve sua própria voz gravada, estranha tanto o som que chega até a afirmar ou que não parece ser ela quem está falando ou que a qualidade do gravador é ruim.

Pensamos assim porque, quando falamos, ouvimos o som da voz dentro de nossa cabeça com toda a ressonância produzida pelos ossos. Entretanto, os ouvintes e, da mesma forma , o gravador, captam a vibração de uma onda de ar, isto é, um som distinto daquele que nos acostumamos a ouvir.

Depois de ouvir a própria voz gravada várias vezes, a pessoa vai se habituando e passa a aceitá-la naturalmente.

Portanto, se por causa da qualidade da sua voz, você já estava imaginando ser um bom modelo para fazer a propaganda do xampu Colorama, saiba que é quase certo que sua avaliação está equivocada. Faço essa afirmação com segurança porque, assim como ocorre com quase todas as pessoas, sua voz deve ter mais qualidade do que você supõe.

Se, depois de analisar bem, chegar à conclusão de que sua voz não é boa mesmo, o melhor que tem a fazer é consultar um fonoaudiólogo para uma avaliação, pois ele é o profissional indicado para dar um diagnóstico correto e sugerir o tratamento apropriado.

Entre todos os motivos que prejudicam a beleza da voz, os dois principais são respiração inadequada e mau aproveitamento dos ressoadores.

Se você desenvolver uma respiração correta e distribuir melhor o som produzido pelas pregas vocais (vulgarmente chamadas de cordas vocais) na boca , faringe e nariz, que formam os ressoadores, a voz terá beleza e qualidade, tornando-se mais agradável, mais expressiva e comunicativa.

Vale a pena lembrar também que alguns dos grandes oradores, que se projetaram e continuam se projetando nas mais diferentes atividades, possuem voz feia. Ou será que o ex-presidente Jânio Quadros e o presidente Lula podem ser considerados exemplos de oradores com voz bonita? É evidente que não. Mas, mesmo assim, são pessoas que apesar da voz conquistaram os votos necessários para se eleger.

Independentemente da qualidade da sua voz, é importante que ela tenha “personalidade” e que ajude a transmitir credibilidade na sua comunicação.