Em que situações podemos ficar mais expostos aos choques elétricos em nossas residências?

CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ANÁPOLIS - UniEVANGÉLICA 

ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO

PREVENÇÃO DE ACIDENTES CONTRA CHOQUE ELÉTRICO EM RESIDENCIAS COM USO DO DISPOSITIVO DE CORRENTE RESIDUAL.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Centro Universitário de Anápolis - UniEVANGÉLICA como requisito parcial para a obtenção do Título de Especialista em Engenharia de segurança do Trabalho

Anápolis Goiás, 24 de Outubro de 2020.

BANCA EXAMINADORA

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Professora MSC. Kristinne Rodrigues da Silva

Orientadora

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Professora. Dra. Marcia Sumire Kurogi

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Professor MSc. Lucass Nunes Mello

PREVENÇÃO DE ACIDENTES COM CHOQUE ELÉTRICOS EM RESIDENCIAS COM USO DO DISPOSITIVO DE CORRENTE RESIDUAL.

Carlos Ferreira Souza, Engenharia Elétrica, Faculdade Anhanguera Anápolis – Kroton. [1]

Girtemberg Sousa Silva, Especialização Engenharia de Energia, Engenharia Elétrica, Faculdade Anhanguera Anápolis – Kroton. [2]

Kleber Fernandes Gonçalves; Engenharia Ambiental e Sanitária, Faculdade Metropolitana de Anápolis – FAMA. [3]

Resumo: O choque elétrico é uma das principais causas de acidentes domésticos e pode levar a ocorrência de vítimas fatais ou deixa-las com sequelas permanentes. Existem diversas formas de prevenir a ocorrência de choques elétricos em residências e dentre elas, citamos: o comportamento seguro ou a instalação de dispositivos inteligentes entre os quais destacamos o dispositivo de corrente residual conhecido também como DR. Este trabalho, através de uma revisão literária, tem como objetivo estudar o uso de dispositivos de correntes residuais (DR) como forma eficaz de proteção contra choques elétricos no ambiente residencial. A pesquisa identificou que o dispositivo DR interrompe instantaneamente a corrente do circuito elétrico evitando os danos graves que podem ser causados por uma descarga elétrica. Contudo, na maioria das residências brasileiras o DR não é instalado devido ao seu custo financeiro.

Palavras-Chave: Choque elétrico. Diferencial residual. Proteção.

Abstract: Electric shock is one of the main causes of domestic accidents and can lead to the occurrence of fatal victims or leave them with permanent sequelae. There are several ways to prevent the occurrence of electric shocks in homes and among them, we mention: the safe behavior or the installation of smart devices, among which we highlight the residual current device also known as DR. This work, through a literary review, aims to study the use of residual current devices (DR) as an effective way to protect against electric shocks in the residential environment. The research identified that the DR device instantly interrupts the current in the electrical circuit avoiding the serious damage that can be caused by an electrical discharge. However, in most brazilian homes DR is not installed due to its financial cost.

Key Words: Electric shock. Residual Differential. Protection.

1       INTRODUÇÃO                 

O choque elétrico ocorre quando o corpo se torna um caminho elétrico que conduz a energia entre partes do corpo, ou através do corpo para a terra. Para que ocorra um choque elétrico, uma diferença de potencial ou carga elétrica armazenada deve estar presente para fazer com que a corrente flua. Uma corrente elétrica caminhando através do sistema nervoso central, que é altamente sensível, pode, sob certas condições, causar ferimentos graves ou morte. Portanto, é importante garantir que, no caso de uma falha o sistema elétrico seja dotado de proteção adequada para garantir segurança aos seus usuários (SUTANTO, 2019).

Para entender o dano que choque elétrico causa no homem é importante conhecer os cinco fatores que podem agravar as consequências: 1) A magnitude da corrente; 2) A duração da corrente; 3) O caminho percorrido no corpo humano; 4) A resistência do corpo; e 5) A frequência da corrente elétrica. Tanto a magnitude quanto as durações da corrente podem ser cruciais em acidentes que podem levar a danos severos mesmo que, os valores de correntes sejam baixos. O caminho que a corrente toma, também é crucial, pois se passar por órgão como o coração pode se causar morte instantânea. A capacidade resistiva do corpo pode reter a corrente no organismo contribuindo para o agravamento dos efeitos. Por fim, as frequências com que as descargas ocorrem é outro fator agravante, uma vez que duas ou três ocorrências sequenciais podem ser piores, sendo possível que cada corrente tome caminho distintos afetando diversos órgãos (NUNES, 2016).

Em consonância com o exposto, Parise e Rosa (2018), falam que as condições que estipulam a magnitude do choque elétrico são: o trajeto da corrente elétrica, os aspectos da corrente elétrica, e a resistência elétrica do corpo humano. Desta forma, diante da ocorrência de choques no ambiente residencial e dos fatores que podem agravar o acidente torna-se evidente que o uso de dispositivos de corrente residual (DR) é importante para a segurança dos usuários de energia elétrica. Sendo assim, levantou-se o seguinte problema de pesquisa: Como os dispositivos de corrente residual pode contribuir para a segurança dos usuários contra choques elétricos?

Buscando evitar a ocorrência e fatalidades destes acidentes, os dispositivos DR’s surgem como uma alternativa que agrega segurança e eficiência, evitando que danos mais severos afetem as pessoas. Aliado a proteção que o DR pode oferecer é importante que as instalações elétricas obedeçam às orientações da Normas Regulamentadoras Brasileiras (NBR), dentre estas normas cita-se a NBR 5410 e NBR 6267, como forma de promover uma instalação segura e confiável.

A Norma Regulamentadora - NR 10, publicada pelo Ministério do Trabalho, estabelece os requisitos mínimos referente às medidas de controle de risco em instalações e serviços envolvendo eletricidade. No anexo III, da NR-10 são considerados fatores de segurança o comportamento seguro por parte do fator humano e o uso de dispositivos e equipamentos capazes de minimizar tais riscos.

Desta forma, o dispositivo DR vem agregar, como medida de proteção do indivíduo que interage na instalação elétrica, mesmo que de forma acidental, protegendo-o de eventuais riscos provocados por choques elétricos, tais como: queimaduras, parada cardíaca, e demais outros danos, uma vez que a função do dispositivo é cessar a passagem da corrente elétrica.

O Disjuntor Residual protege ao monitorar constantemente a corrente que flui nos fios ativos e neutros que alimentação elétrica, pois, em circunstâncias normais, a corrente que flui nos condutores é igual e, quando ocorre uma fuga de corrente à terra devido a uma falha no circuito ou a um acidente com o equipamento, ocorre um desequilíbrio que é detectado pelo DR. A ação do DR ao perceber o desequilíbrio é interromper imediatamente a alimentação de energia antes que ferimentos ou danos possam atingir o usuário ou o equipamento conectado a instalação.

De forma sucinta e objetiva este artigo tem como finalidade descrever como os dispositivos de corrente residual podem contribuir para a redução da ocorrência de choques elétricos e incêndios, expor sua forma de instalação, indicar os efeito e consequências do choque sobre o corpo humano, demonstrar que a atuação do DR salva vidas e que o equipamento deve estar presente em toda a instalação residencial.

A metodologia utilizada neste trabalho é uma revisão da literatura com foco na pesquisa qualitativa. Uma revisão da literatura tem como finalidade compilar e analisar uma série de informações publicadas e artigos acadêmicos, teses, dissertações, livros e outros materiais publicados que sejam de cunho científico ou utilizados em processos industriais.

As revisões não são realizadas apenas para fins de pesquisa. A revisão literária é considerada uma ferramenta básica para avançar na prática podendo ajudar a inspirar e gerar novas ideias pelo destaque dado as inconsistências no conhecimento atual. Eles têm um papel importante na avaliação das práticas atuais e na formulação de recomendações para o desenvolvimento de políticas e mudanças nas práticas envolvendo operações, tais como instalação e operações envolvendo eletricidade.

Em relação à seleção de trabalhos, primeiro foi realizada a leitura dos resumos, em seguida selecionados trabalhos que abordavam o uso do dispositivo de diferencial residual como um fator de segurança contra choque. Em, seguia realizou-se a leitura completa dos trabalhos e partir destas foram selecionados os trabalhos indicados nas referências.

2       REVISÃO DE LITERATURA

O risco de ocorrência de um choque elétrico requer apenas uma corrente elétrica contínua muito pequena, em torno de 40 mA, que flui pelo corpo humano podendo causar danos irreversíveis ao ciclo cardíaco normal, com a fibrilação ventricular ou morte por eletrocussão (RIBEIRO, 2020).

Durante a eletrocussão, que é quando o indivíduo entra em contato direto com a tensão da rede e a terra, a corrente que flui pelo corpo e a proteção adequada contra ferimentos graves ou morte requer a desconexão muito rápida, em torno de 40ms em correntes elétricas com magnitude de até 230mA. Para valores mais baixos de corrente de choque, tempos de desconexão mais longos podem ser aceitáveis. Contudo, se a desconexão ocorrer dentro de 40ms, é improvável que ocorra fibrilação, ou danos mais severos causados pelo contato com a eletricidade (MAGARÃO et al., 2015).

Segundo Batista e Gouveia (2010), a natureza real e o efeito de um choque elétrico dependem de fatores como: a idade, o sexo, as partes do corpo que recebem o choque, o tipo de roupa e calçado e se havia umidade ou água em contato com a vítima.

Existem basicamente dois tipos de choque: o dinâmico e o estático. O choque dinâmico ocorre se o isolamento existente na cobertura não metálica ao redor dos cabos e condutores, for acidentalmente danificado, expondo os condutores ativos. O choque estático, ocorre a partir do efeito capacitivo que tem a capacidade de acumular e reter energia (NUNES, 2016).

Quando uma pessoa se expõe ao choque dinâmico entra em contato com os condutores 'vivos' e 'terra' ou com a energia acumulada no equipamento, o risco existe porque a corrente que flui para a terra será insuficiente para operar o fusível ou o disjuntor, que tem a função de desconectar os equipamentos a jusante contra curto-circuito e a sobrecarga. Se o fusível ou o disjuntor não desarmar pessoas e animais estão sujeitas ao choque. Assim podemos concluir que fusíveis ou disjuntores não fornecem nenhuma proteção contra o contato com condutores ou equipamentos energizados (NUNES, 2016).

O risco no choque estático ocorre quando o invólucro metálico de equipamento elétrico ou qualquer acessório de metal, como uma pia ou sistema de encanamento, acidentalmente entra em contato com um condutor ativo, fazendo com que a metalurgia ofereça risco por conduzir eletricidade que pode eletrocutar a vítima (AMARANTE; PONTES, 2016).

O dispositivo diferencial (DR) instalado no circuito dispara ao identificar o desequilíbrio entre as fases provocado pela a corrente de fuga que flui para a terra através do corpo da vítima. Embora não impeça um choque elétrico, a velocidade de operação do DR minimizará o risco de eletrocussão (AMARANTE; PONTES, 2016).

A Agência Nacional de Energia Elétrica - ANEEL (2020) traz dados sobre o panorama dos acidentes elétricos no Brasil, evidenciando a necessidade de uma maior atenção para a prevenção de ocorrências danosas aos usuários de energia nas instalações residenciais. A Figura A do anexo, mostra a quantidade de acidentes elétricos ocorridos no Brasil entre 2009 e 2019.

Com base nos dados apresentados, nota-se que entre os anos 2009 e 2019 houve uma redução de 9,45% no número de acidentes provocados pelo uso da eletricidade demonstrando que, apesar dos avanços tecnológicos a quantidade de acidentes ainda se mantém na mesma faixa há 10 anos. Além disso, o número de mortes envolvendo terceiros, que são os usuários de energia elétrica, em 2019 foi de 281 indivíduos, evidenciando a necessidade de medidas que evitem a ocorrência de choques elétricos.

2.1    EFEITOS DO CHOQUE ELÉTRICO SOBRE O CORPO HUMANO

Uma pessoa recebe um choque quando seu corpo se torna parte de um circuito elétrico, através do qual a corrente flui e pode ocorrer quando uma pessoa toca, com a mão por exemplo, no cabo danificado ou em uma parte energizada de um aparelho elétrico. Se o seu corpo não está isolado do chão - e muito provavelmente não está - a corrente fluirá da mão para o chão através do seu corpo.

As consequências do contato elétrico podem ser agravadas quando o indivíduo tem qualquer parte do corpo em contato direto com a "terra" , podemos citar como elemento de contato com a terra: torneiras, canos de água ou canos de aquecimento. Nesse caso, a corrente encontra menos dificuldades para atravessar o corpo (CAPPENELE et al., 2016).

Segundo Costa et al. (2018), uma descarga elétrica se dissipa de várias formas físicas, as quais podem ser fonte de dano se o corpo humano estiver em seu caminho.

A corrente elétrica que percorre o corpo humano pode provocar os seguintes efeitos:

1.  Contrações musculares onde os músculos ficam rígidos e a vítima fica presa ao ponto de contato (COSTA; MANTOVANI; REZENDE, 2018);

2.  Parada respiratória que é produzida quando a corrente circula da cabeça para algum membro, atravessando o centro nervoso respiratório. A paralisia pode ser prolongada após o acidente, daí a necessidade de prática contínua de respiração artificial por várias horas (COSTA; MANTOVANI; REZENDE, 2018).

3.  Asfixia que ocorre quando a corrente passa pela caixa torácica.

4.  Fibrilação ventricular, onde a corrente passa através do coração e desestabiliza o ritmo cardíaco normal. A fibrilação é um movimento muito rápido do coração, um tipo de vibração completamente que danifica o fluxo sanguíneo. Nesse estado, o coração não bombeia sangue consequente a vítima fica em estado de risco de morte (RIBEIRO, 2020),

5.  Por fim tem-se também as queimaduras são produzidas pela energia liberada na etapa de intensidade (Efeito Joule). A gravidade da lesão é uma função, em igualdade de condições técnicas, do órgão ou parte do corpo afetado (RIBEIRO, 2020).

Em suma, os danos causados pelos choques elétricos podem ser mais graves ou menos graves de acordo com a tensão e tempo de exposição ao qual o usuário é submetido, contudo, de forma geral, os acidentes podem resultar em efeitos graves e irreversíveis, podendo chegar até o risco de morte (BATISTA GOUVEIA, 2010).

2.2    PREVENÇÃO NO AMBIENTE RESIDÊNCIAL

O choque elétrico não é fatal na maioria dos casos. Contudo, a prevenção de choques elétricos é uma meta que todos devem perseguir por causa dos ferimentos graves que alteram a vida pessoal e profissional que são resultantes de seus efeitos. Ressalta-se que não é incomum que vítimas de choque elétrico no ambiente residencial sofram amputações, queimaduras graves (externas e internas), parada cardíaca, lesão do músculo cardíaco e/ou lesão cerebral (CRUZ; ANICETO, 2011).

Diversas medidas podem ser tomadas como forma de prevenção, entre as quais destaca-se que: secadores de cabelo, rádios e carregadores de celular nunca devem ser usados no banheiro ou em qualquer outro lugar onde possam entrar acidentalmente em contato com água; equipamentos elétricos também não dever ser conectados na rede elétrica se os cabos ou fios estiverem desgastados ou rachados (SOUZA, 2017). Além disso pode-se ensinar as crianças sobre os perigos da eletricidade e que os aparelhos elétricos só devem ser operados por seus pais ou por um adulto. Também deve-se enfatizar que tanto adultos quanto crianças não devem usar extensões elétricas danificados ou desgastados e nunca sobrecarregue os cabos de benjamins além de sua amperagem máxima, ou seja, a quantidade máxima de corrente elétrica que pode conduzir com segurança (MAGARÃO et al., 2015).

A instalação de dispositivos de segurança, como DR, que cortam a passagem de energia elétrica em caso de sobre tensão na rede, evitando assim que eventos graves, como incêndios e eletrocussão possam ocorrer é considerado uma das formas mais eficazes de prevenção de acidentes contra choques elétricos (MICHEL; EDLER, 2018). Os dispositivos DR podem ser utilizados para choques domésticos indiretos e direto (CRUZ; ANICETO, 2011). De acordo com a NBR5410 no item 5.1.2.5 (Proteção complementar por dispositivo de proteção a corrente diferencial – residual) é obrigatório em todas instalações elétricas de baixa tensão pelo menos um DR, ficando a critério do projetista seu local de instalação, em um único circuito ou no quadro geral de cargas dos circuitos.

Vale destacar a importância de instalar no circuito um dispositivo de proteção contra surtos (DPS) que atua principalmente com pico de tensão. Um pico de tensão geralmente acontece quando uma descarga atmosférica adentra a instalação elétrica. A descarga atmosférica pode adentrar na residência por estruturas metálicas ou pelo cabeamento estruturado

O DPS atua como um interruptor controlado por tensão e é instalado entre os condutores ativo e terra em paralelo ao equipamento a ser protegido. Quando a tensão da rede é menor que a tensão de ativação, o protetor atua como um elemento de alta impedância, de modo que nenhuma corrente flui através dele e de forma contrária, quando a tensão da rede elétrica é maior que a tensão de ativação, o protetor atua como um elemento de impedância próximo de zero, derivando a sobre tensão à terra e impedindo que ela afete os receptores. Contudo, este dispositivo protege apenas os equipamentos e não os usuários, sendo necessário uma atenção maior durante a elaboração do projeto elétrico de uma residência (RIBEIRO, 2020).

A Associação Brasileira de Conscientização para os Perigos da Eletricidade (ABRACOPEL) (2020) no anuário estatístico traz informações dos acidentes elétricos no Brasil, mostrado na Figura B dos Anexo, evidenciando em segundo lugar as mortes relacionadas as instalações elétricas residenciais.

2.3    DISPOSITIVO DE DIFERENCIAL RESIDUAL

Um dispositivo DR é um dispositivo projetado para fornecer proteção contra eletrocussão, cortando o fluxo de eletricidade automaticamente quando detecta uma ‘fuga’ de corrente elétrica de um circuito, como mostra a Figura C anexa.

A maioria das falhas de terra ocorre em aparelhos, principalmente nos portáteis e em seus cabos flexíveis. Isso significa que, em muitas instalações, as falhas podem ser localizadas facilmente, desconectando todos os dispositivos e conectando-os novamente, o DR disparará quando o aparelho defeituoso for reconectado (RIBEIRO, 2020). Além disso a maioria das falhas na fiação fixa geralmente são causadas por pregos ou parafusos que são fixados em paredes e entram em contato com a fiação elétrica (AMARANTE; PONTES, 2016).

O DR detecta e dispara não apenas em uma falha de linha à terra, o equipamento poderá também disparar automaticamente em uma falha de neutro à terra, dependendo do projeto.

Para apreciar a importância de um DR, é útil entender quanta energia elétrica é necessária para matar um ser humano. Informamos que, o menor fusível usado em um plugue elétrico normal é de 3A e é preciso menos de 0,15A dessa corrente para matar um adulto em menos de um décimo de segundo (COSTA; MANTOVANI; REZENDE, 2018).

Os dispositivos de corrente residual são amplamente utilizados em todos os tipos de instalação elétrica e fornecem proteção adicional valiosa contra o risco de eletrocussão. Para apreciar completamente a correta aplicação desses importantes dispositivos de segurança, é necessário compreender os efeitos fisiológicos do choque elétrico no corpo humano e estar de acordo com a Norma Técnica (NBR – 5410) (FREITAS, 2019).

Cruz e Aniceto (2011) falam que ao considerar a proteção contra choque elétrico, é necessário entender a diferença entre 'contato direto' e 'contato indireto' . Contato direto é definido como o contato de pessoas ou animais com partes onde há tensão elétrica, tais como equipamentos elétricos e fiação elétrica (NAVES, 2016).

Já o contato indireto é definido como o contato de pessoas ou animais domésticos com peças que foram submetidas a tensão em decorrência de falha de isolamento. Para que haja risco de contato indireto, o isolamento dos condutores deve quebrar acidentalmente e colocá-los em contato com uma parte metálica ou condutora.(NAVES, 2016).

A proteção de contato indireto por fusíveis ou disjuntores depende das impedâncias do circuito de falha à terra, estarem dentro dos parâmetros estabelecidos pela NBR - 5410. Caso, esses valores não possam ser alcançados ou se houver alguma dúvida sobre sua estabilidade, é necessário um método alternativo. É nessa situação que o DR oferece a solução mais prática porque tem a capacidade de operar em circuitos com valores muito mais altos de impedância do circuito de falta à terra (CRUZ; ANICETO, 2011).

A base da proteção do DR é garantir que, em qualquer voltagem superior a 50V em corrente alternada ou 120 V em corrente contínua, o fornecimento de eletricidade seja desconectado imediatamente. A garantia da interrupção de energia do circuito é obtida através da escolha de uma classificação de corrente residual de até 40mA. (COSTA; MANTOVANI; REZENDE, 2018).

O uso de DR’s com corrente nominal de operação residual de 30 mA ou menos é reconhecido como proteção adicional contra choque de contato direto, onde o choque elétrico resultante terá o potencial máximo da rede elétrica e a corrente real que fluirá para a terra será da ordem de 30 mA. Um DR de 30 mA desconectará uma corrente antes que os níveis nos quais a fibrilação ocorre sejam atingidos (RIBEIRO, 2020).

2.4    INSTALAÇÃO DO DR

A instalação do DR é de suma importância em residências que possuem ambientes úmidos ou equipamentos velhos acoplados a instalação elétrica. Caso, haja fuga de corrente em algum ponto da instalação o dispositivo DR dispara provocando o seccionamento da eletricidade, protegendo o usuário até que fosse solucionado a anomalia (MICHEL; EDLER, 2018).

A importância deste tema ainda se torna mais evidente, uma vez que, conforme disposto na NBR ABNT 5410:2004, onde se expõe que o dispositivo DR é exigido nas instalações elétricas, mas na realidade pouco se usa devido seu custo considerado alto pelo contratante do projeto de instalação elétrica, o que resulta em dezenas de acidentes identificados pela Agência Nacional de Energia Elétrica –ANEEL (2020), evidenciando a necessidade deste dispositivo.

3       RESULTADOS E DISCUSSÃO

O uso de DR com corrente nominal de operação residual de 30mA ou menos é reconhecido como proteção adicional contrachoque de contato direto, mesmo as correntes mais baixas em torno de 40/50mA podem resultar em eletrocussão sob certas circunstâncias, um DR de 30mA instalado no circuito desconectará uma corrente de falta à terra antes que a fibrilação cardiovascular ocorra na vítima do choque elétrico.

A norma internacional para os DR’s, a IEC 60364, concede a devida importância ao equipamento ao que declara o mesmo fornece proteção adicional contra o risco de eletrocussão. No entanto, a corrente operacional nominal não é a única consideração para a segurança; a velocidade de interrupção também é muito importante, evitando-se ao máximo a fibrilação ventricular. As residências devem estar preparadas para eventos inesperados onde o isolamento básico pode falhar por deterioração ou, mais comumente, por danos.

Um exemplo de dano na instalação que pode ocorrer é quando um prego é conduzido através de uma parede divisória e penetra em um cabo. Isso causará uma condição de primeira falha devido a falha do isolamento básico. O resultado é a existência de uma forte possibilidade de uma pessoa ou animal entrar em contato com o condutor ativo. Qualquer contato subsequente de uma pessoa apresentará risco de eletrocussão ou lesão por contato direto. Um DR fornecerá proteção adicional e reduzirá significativamente o risco de ferimentos ou morte, porque disparará quando um nível perigoso de corrente fluir para a terra através da pessoa em contato com o prego.

Esse tipo de proteção de DR é idêntico a situação bem comum, em que um cabo flexível é danificado (por exemplo, por um cortador de grama) e expõe condutores vivos. Aqui, novamente, o DR oferece proteção a qualquer pessoa que entre em contato com os condutores vivos expostos.

Além da proteção contra choques elétricos, os DR’s atuam na proteção contra incêndios de origem elétrica pois, são disparados quando uma falha entre dois fios condutores, ou dois cabos de tensão, gera uma corrente de fuga através do local de falha, evitando assim a ocorrência do fogo.

Inicialmente, os condutores elétricos são projetados para valores de tensão estritamente definidos. Se esses parâmetros estiverem além dos padrões de design, não demorará muito para aparecer uma chama aberta. Uma corrente de fuga na faixa de 300 a 500mA é o suficiente para gerar calor equivalente a chama de um isqueiro doméstico. Essa dissipação de calor inevitavelmente leva à ignição da fiação e de tudo o que estiver nas proximidades, de modo que outra função do DR é aumentar a segurança contra incêndio.

4       CONSIDERAÇÕES FINAIS

O uso da eletricidade é tão parte da vida cotidiana que muitas vezes os riscos associados ao seu uso, em casa e no trabalho, são subestimados ou mal compreendidos. Os dispositivos de corrente residual (DR) são equipamentos elétricos que oferecem um nível muito alto de proteção contra os riscos de eletrocussão e incêndio causados por falhas na terra.

Os DR não podem ser considerados como solução para todos os problemas de instalação, é importante entender o que eles podem e não podem fazer. Além disso, antes de instalar é preciso conhecer os diferentes tipos de DR disponíveis no mercado.

Notou-se que o dispositivo de corrente residual DR, realmente faz a diferença em uma instalação elétrica, pois uma vez que o dispositivo é instalado de acordo com as normas, o risco de choque elétrico é neutralizado.

Muitas vezes a instalação de DR’s são ignorados para "economizar" na instalação da rede elétrica, pois o alto valor comercial do dispositivo de corrente residual DR, talvez sendo este o ponto negativo para a sua utilização, entretanto não vale a pena essa “economia”, devido os danos que um choque elétrico provoca em um ser humano ou animal, podendo ser muito das vezes irreversíveis.

Portanto, foram utilizados dados estatísticos, para que através deles seja possível conscientizar o consumidor de energia elétrica sobre o risco de se acidentar e dos benefícios do DR.

As normas também vêm garantir que nos projetos sejam instalados dispositivo de proteção resguardando a vida do consumidor, mesmo que de forma acidental venha interagir com o circuito elétrico.

Ressaltamos que os DR’s não protegem as pessoas efetivamente contra choques elétricos com risco de vida em uma instalação elétrica adequada, os DR são usados em conjunto com outros elementos de proteção elétrica (fusível ou disjuntor de linha).

REFERÊNCIAS

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BATISTA GOUVEIA, V. B.; DIOGO, R. C. Levantamento das concepções dos alunos de uma escola estadual de jataí-go sobre os riscos ao manipular equipamentos tecnológicos. Anais da Semana de Licenciatura, Vol.1, p. 50-60, 2010. Disponível em:< http://w2.ifg.edu.br/jatai/semlic/seer/index.php/anais/article/viewArticle/112>. Acesso em 08 de outubro de 2020

CAPPENELE, F. L.; RABI, J. A.; FILHO, L. R. A. G.; GABRIEL, C. P. C. Análise da incidência de mortes por choques elétricos notificados no SUS no período 2009-2013. R. Laborativa, Vol.5, n. 2, p. 13-26, 2016. Disponível em:< https://core.ac.uk/download/pdf/233142359.pdf>. Acesso em 08 de outubro de 2020.

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CRUZ, E. C. A.; ANICETO, L. A. Instalações elétricas: fundamentos, práticas e projetos em instalações residenciais e comerciais. São Paulo: Saraiva Educação SA, 2011.

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RIBEIRO, D. Prevenção de acidentes de origem elétrica em instalações residenciais alimentadas em baixa tensão: estudo de caso de edificações unifamiliares. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Engenharia Elétrica), Universidade do Sul de Santa Catarina, Palhoça, 2020.

SUTANTO, Erwin. Residual current measurement using helmholtz coil configuration with different current flow. International Journal of Electrical and Computer Engineering, 2019.

SOUZA, S. A Norma Regulamentadora Nº10 e a sua aplicação em instalações elétricas e seus entornos. Revista Técnico-Científica, Vol.5, n. 6, 2017.< http://creaprw16.crea-pr.org.br/revista/Sistema/index.php/revista/article/view/149 > Acesso em 02 de julho 2020

ANEXOS

ANEXO A – Dados sobre a ocorrência de acidentes elétricos no Brasil no período compreendido entre os anos de 2009 e 2019.

Fonte: ANEEL (2020).

ANEXO B– Dados sobre mortes em decorrência de choques elétricos no Brasil em 2019 por logradouro ou edificação.

Fonte: Anuário Estatístico ABRACOPEL (2019, P.28)

ANEXO C – Funcionamento do Dispositivo residual DR.

Fonte: docente.ifrn.edu.br

Que situações colocam uma pessoa em risco de choque elétrico em uma residência?

Não deixe instalações elétricas com fios desencapados ou estragados, além de tomadas sem espelhos. Essa condição representa uma ameaça constante de choques a você e principalmente às crianças da casa. Fios desencapados podem se tocar e com isto ocasionar curtos-circuitos e faíscas, que podem gerar incêndios.

Em quais situações ocorrem os choques elétricos?

Choque Elétrico Causas Os maiores responsáveis por esse tipo de acidente são os raios e a fiação de alta tensão, ou seja, com voltagem superior à 600 volts. Porém, a eletrocussão também pode ocorrer devido à baixa voltagem se houver roupas molhadas, poças de água ou umidade elevada.

Como evitar choques elétricos em casa?

Como fazer para evitar choques elétricos.
Não sobrecarregue as instalações elétricas. ... .
Não deixe aparelhos eletrônicos energizados perto da pia. ... .
Tenha cuidado ao trocar a temperatura do chuveiro. ... .
Tenha cuidado ao instalar antenas de TV. ... .
Tenha atenção com as crianças. ... .
Utilize um organizador elétrico..

Quais são as principais causas do choque?

Isso acontece devido à eletricidade estática, a mesma que faz seu cabelo ficar meio arrepiado de vez em quando. A gente não percebe, mas o corpo humano é um bom condutor de eletricidade, ou seja, permite que cargas elétricas (os elétrons) se movimentem livremente, possibilitando a passagem de corrente elétrica.