O que é uma urgência pediátrica?

Tinha este texto praticamente concluído no meu PC quando leio o artigo de opinião do Colégio de Pediatria publicado ontem, dia 30 de outubro de 2019, no Jornal Público, com o título “Urgências de Pediatria-porque estão em colapso” da autoria do Colégio de Pediatria.

Estou de acordo com alguns argumentos apresentados no artigo, mas não concordo, de todo, que seja o colapso da Urgência Pediátrica nacional, não concordo que todos os pediatras encarem a Urgência como um fardo e acredito, sobretudo, que há mais soluções, para além das apresentadas no artigo, para mudar o rumo da Pediatria de Urgência nacional.

Entretanto houve reações ao artigo de opinião, e ainda bem, porque talvez assim se tirem projetos da gaveta e talvez assim esta seja uma oportunidade de mudança.

Mas atenção, o problema não pode focar-se nas guerras entre especialidades mas sim centrar-se nas questões que precisam de solução urgente e na colaboração entre todos para a construção de Urgências muito melhores.

Dessa forma, aproveito para mostrar que há mais indignações em relação ao assunto “Urgências Pediátricas” e que há outras soluções possíveis.

A Urgência Pediátrica é a área mais interessante da Pediatria. Sim, talvez esteja a ser parcial. Mas tal como eu, há muitos pediatras que acham a Urgência a área mais interessante, que fazem o seu trabalho muito bem e com todo o gosto.

Porém, o Serviço Nacional de Saúde, onde há Urgências Pediátricas muito carenciadas continua sem aprovar contratos de especialistas. Porquê? Que critérios são utilizados? Porque rejeita mão de obra qualificada? Porque descura a melhoria da urgência pediátrica nacional? Por que é que os hospitais privados chamam os profissionais e os públicos os deixam partir?

O Serviço de Urgência não é o serviço adequado para médicos pouco diferenciados que concorrem a um trabalho que mais ninguém quer, com equipas cujos médicos variam a cada dia, sem a necessária organização de serviço.

A Urgência é um local de decisões que têm de ser rápidas, eficientes para salvarem vidas, sendo necessários médicos experientes, que se atualizam constantemente e integram equipas estruturadas, coesas.

É necessário criar Serviços de Urgência com especialistas em Urgências Pediátricas. Um Serviço de Urgência formado por apenas um ou dois pediatras (sem interesse nem formação especifica em urgência pediátrica) juntamente com médicos não diferenciados, não é, de todo, o desejável num local que se quer diferenciado, eficiente e que preste um serviço de excelência. Não se imaginam Serviços de Neurologia com um ou dois neurologistas e restante serviço formado por médicos sem diferenciação, pois não? Ou Serviços de Cirurgia formados por dois cirurgiões e restantes médicos não especializados, pois não?

Por outro lado, o Serviço de Urgência não pode ser encarado como um local de exaustão para os seus profissionais. Quem trabalha num Serviço de Urgência Pediátrico não tem que fazer sempre turnos de 12 ou 24horas. O mesmo não acontece em mais nenhum Serviço, porque haveria de acontecer num Serviço inerentemente mais desgastante? 

Considero a criação de Serviços de Urgência formados por pediatras dedicados à urgência, que assumam o seu horário semanal apenas nesse Serviço, com atividade assistencial, letiva, de gestão e investigação incluídas no seu horário, à semelhança de todos os outros Serviços.

A diferenciação na área de urgência pediátrica é fundamental com a criação da competência ou subespecialidade de urgência e emergência pediátrica. À semelhança de grande parte dos países europeus onde existe subespecialidade de urgência pediátrica e nos EUA onde ela existe há mais de 40 anos com benefícios dos médicos e, sobretudo, das crianças doentes.

A falta de muitos profissionais para formar as equipas, a sobrelotação das Urgências Pediátricas onde todos recorrem sem critério, a Urgência encarada como loja de conveniência aberta 24horas tem que ter um fim. É urgente a qualidade! Urgência não significa confusão, desorganização, desconforto dos profissionais! A Urgência deve ser um Serviço como os outros, bem organizado, com profissionais com tarefas distribuídas, atitudes protocoladas e com resultados.

Estas dificuldades também podem ser contornadas com a diminuição do acesso às Urgências hospitalares. O que não é, obviamente, o mesmo que dizer limitar o acesso ao atendimento urgente. Os Centros de Saúde devem dar resposta às consultas pouco urgentes do doente agudo. Os pediatras de ambulatório podem ser uma ferramenta muito útil nesse aumento de resposta em colaboração, claro, com os médicos de família.

Não se trata, de forma alguma, de desprestigiar os médicos de família, trata-se sim, de distribuir melhor as tarefas entre pediatras e médicos de família na abordagem da criança com doença aguda.

É urgente alterar a política de acesso às Urgências Pediátricas.

Estas medidas têm vindo a ser propostas há mais de 10 anos à Tutela. Porque é que ninguém se interessou até agora? Porque é que os Centros de Saúde continuam com restrição do atendimento urgente, com número limitado de consultas e os Serviços de Urgência têm que acolher todos os doentes agudos? Volto a dizer que doente urgente não é o mesmo que criança com doença aguda. Os doentes urgentes/emergentes têm sim, que recorrer às Urgências hospitalares, que têm que estar disponíveis e com profissionais competentes para o seu tratamento rápido e eficiente, não com horas de espera de doentes com dor de garganta ou porque vomitou uma vez, a titulo de exemplo. Se o pediatra de urgência viu trinta destes doentes pouco urgentes no seu dia de urgência, com certeza esse pediatra não vai estar 100% apto a tratar o choque sético que entra às 22horas.

Portanto, precisa-se urgentemente da criação de Serviços de Urgência Pediátricos com pediatras com competência em urgência/emergência pediátrica, a trabalhar por turnos inferiores a 12horas, com atualização e formação continuas e maior acessibilidade dos doentes ao atendimento da doença aguda nos Cuidados de Saúde Primários.

É urgente repensar este problema nacional.

Nós, os Pediatras de Urgência, podemos ajudar a resolvê-lo.

Quais são as principais urgências pediátricas?

Os casos mais comuns de procura do pronto-socorro, em pediatria, correspondem aos quadros respiratórios tanto infecciosos, como as gripes, infecções de garganta, ouvido e pneumonia, como os quadros de asma e bronquiolite. Os vômitos e diarreias também são causas comuns de atendimento.

O que é urgência e emergência na pediatria?

Pelas normas de qualidade e de segurança ao paciente, uma emergência deve ter o tratamento iniciado imediatamente em casos de parada cardíaca e em até 10 a 15 minutos para outras emergências. Já a urgência pode ser atendida de 30 minutos até 1 hora dependendo da escala usada.

O que se faz na urgência?

Já a urgência, é uma ocorrência imprevista com ou sem risco potencial à vida, onde o indivíduo necessita de assistência médica imediata. Dessa forma, ambas as definições pressupõem atendimento médico rápido e proporcional a sua gravidade, sendo a emergência mais grave que a urgência.

Quando procurar emergência pediátrica?

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