Onde não puderes amar, não te demores significado

Sai, corre logo. Afasta-te das ventanias cruéis que ameaçam revirar-te a vida e os sonhos pelo avesso. Aqueles pedaços de histórias rotas e cerzidas, atiradas no cesto de roupas de sorrir — e que já usaste tantas vezes em festas enxovalhadas. Foge das tempestades. Das estradas sem rumo. Das folhas ressequidas, espalhadas em terrenos áridos e desconexos.

Rejeita os lábios que não beijam mais e dos quais escorre apenas amargura, fel e impropérios. Sim. Tranca a porta, os ouvidos, a sensatez e vira as costas sem remorsos para tudo o que te causa mal e tristezas. Teus dias pinta-os com aquarelas leves e doces, mescladas a tons pastel.

As horas não devem ser transformadas inexoravelmente em cinzas, quem te disse? Embora saibamos que se trata de horas mortas, inertes em relógios de parede enferrujados pelo cansaço. Relógios, cujos ponteiros foram derretidos pelos vastos incêndios que se apossaram silentes da tua alma atônita.

Sai! Despede-te rapidamente das águas turvas, habitadas apenas por sinuosas enguias. Não enxergas peixes dourados, nem vermelhos? O lodo não te serve, então. Tampouco a escuridão de um dia sem sóis nem estrelas. As árvores morreram alguns tocos ainda repousam no jardim abandonado. Raízes secas gemem por água. Mas o jardineiro se foi, levando junto com as despedidas os antigos cuidados dispensados ao verde que aí vicejava.

Há esconderijos disponíveis para cultivar a paz. Um sentimento que parece ter escorrido pelas vielas de tempos imorredouros. Olha e te surpreende. Pois há linhas de seda para tricotar novas promessas de amores leves, já nascidos com asas. Amores azuis que flertam com a presença suprema da liberdade.

Se porventura entrares num bar escuro e sujo e perceberes que os frequentadores flertam somente com o álcool mantendo o rosto duro, impassível e macilento. Os olhos de pedra fosca cravados no fundo do copo, no qual mágoas flutuam sobre escassas pedras de gelo, não te aproximes. Abandona o recinto. Pois aí não há amor. Somente amarguras e nostalgias graves e empoeiradas

Foge também de quem tiver o aperto de mão indiferente e áspero, os sorrisos ausentes no rosto exausto de mentiras, o nariz empinado de arrogâncias vãs.

Despreza indivíduos sem ouvidos, concentrados em lamber unicamente a própria fala. Àqueles aficionados em solilóquios, em discursos sem eco, voltados regiamente para o próprio espelho das vaidades, adornado pelo gigantismo do ego.

Alheia-te também de quem perdeu os braços de abraçar. Esqueceu-se de abrir as janelas para as visitas das alvoradas e lacrou os sentidos para os cantos felizes dos pássaros matutinos.

Os que não regam plantas. Pais que esquecem crianças trancadas no carro, enquanto se deleitam em levianas compras nos shoppings. Não entres jamais em casas onde não se escuta música, aonde o fogão chore de desusos, sem o cheiro vivo do feijão fumegando delícias.

Não te acomodes nunca em mesas sem toalhas, copos, nem talheres, antes destinados a servir convidados sempre ausentes. Ninguém aparecerá para o almoço inexistente. Pois faltam amor e acolhimentos.

Não te esqueças de cerrar em seguida as cortinas do coração para os que desprezam a luz, as cirandas e as crianças. Os que chutam por tédio pequeninos animais órfãos, perdidos a esmo nas ruas. Refuta com veemência as trepadas mornas e maquínicas exigidas pelo marido ou namorado, cujas ardorosas amantes tu intuis, certamente.

O bom sexo demanda uivos gloriosos, saudáveis e selvagens desatinos. Assim, aguarda paciente pela entrega plena e desarmada. Ela virá sem avisos prévios e te surpreenderá com danças e valsas. Recusa de imediato o namoro insípido, porque não há sal que dê jeito em afetos falidos.

Outro alerta: desanda a correr da inveja, do escárnio, do ódio fantasiado de gentilezas em oferta. Todas elas por R$9,99. Este pacote de desmazelos se acumula no enfado e no desamor de lojas vazias. A maldade ronda a vizinhança, se intromete em eclipses, passeia com os pés descalços em imensos desertos brancos.

Mas lá tu não irás, temos certeza, pois falta amor — teu coração já anunciou. Além disso, felizmente também contas com os afáveis sussurros da natureza, que entremeiam tuas histórias e caminhos, sempre rodeados de ideais e de esperanças.

* A frase-título desta crônica é da atriz italiana Eleonora Duse — falsamente atribuída a pintora mexicana Frida Kahlo e ao poeta e escritor brasileiro Augusto Branco.

Muita gente pensa que Frida Kahlo (famosa pintora mexicana) foi a autora da frase – “Onde não puderes amar não te demores”- mas, na verdade, acredita-se que foi Eleonora Duse (famosa atriz italiana do sec.XIX) a autora da mesma. O certo é que, independente da autoria, essa frase atravessa séculos e permanece como um registro de uma verdade insofismável e que deveria ser um lema de vida para todos nós. O amor, especialmente, o por nós mesmos, deve ser sempre um elemento norteador em nossa caminhada pela vida, porém, infelizmente, nem sempre é isso que acontece!

As mulheres continuam sendo cada vez mais vítimas de relacionamentos abusivos e violência doméstica e, muitas vezes, não conseguem sequer perceber que estão vivendo um relacionamento tóxico que as oprimem, incapacitam e transformam a sua vivência amorosa em dor e sofrimento. E, cada vez mais cedo, isso vem acontecendo: de acordo com a pesquisa “Visível e Invisível 2019”, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 42% das mulheres entre 16 e 24 anos sofreram violência em 2018, no Brasil.

É preciso que se entenda que relacionamento abusivo é toda relação em que a pessoa é desrespeitada, desvalorizada, ofendida, desqualificada, assediada, agredida emocionalmente e muitas vezes até fisicamente. Nesse tipo de relação, um dos parceiros deixa de ter vida própria e passa a viver em função dos desejos do outro, o qual assume o comando da vida do seu par e determina o que ele pode ou não fazer, para onde ir, com quem falar e até mesmo a forma como deve se portar. E tudo isso acontece em nome de um discurso amoroso.

Preserve-se e preste muita atenção aos seguintes indicadores, porque eles são característicos de um relacionamento abusivo: o parceiro te monitora o tempo inteiro e quer saber onde você está, com quem, checa suas mensagens no celular, controla suas postagens nas redes sociais e sabe todas as suas senhas; se por um acaso você sair sem ele, você precisa ficar ao celular prestando contas de tudo o que está acontecendo no local; ele desqualifica a sua fala e tenta te constranger na frente de outras pessoas, sejam elas conhecidas ou não; é ele  quem determina o que você pode ou não fazer. Ele rouba a sua vida!

E a coisa não para por aí! As vontades dele são as mais justas e os desejos dele sempre prevalecem; os erros são sempre seus, por isso ele te culpa por toda e qualquer coisa que não satisfaça às expectativas dele e, como você vive no meio de um furacão de emoções, você acaba pedindo desculpas por erros que você não cometeu, mas com a autoestima em frangalhos, você não tem forças para reagir e nem sabe mais o que significa respeito próprio e dignidade.

Amor não produz sofrimento constante, desamor sim. Amor é acima de tudo proteção, cuidado, colo, carinho e aconchego. Tenha coragem e se pergunte se você se sente amada e se tem motivos para amar o seu parceiro. Na dúvida, converse com seus amigos e familiares e escute o que eles têm para te dizer. No mais, não se demore onde você não se sentir amada e não tiver motivos para amar. A vida segue…

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De quem é a frase onde não puderes amar não te demores?

Onde não puderes amar, não te demores” (Frida Kahlo)

Onde não puder ser você mesmo não te demores?

Qualquer lugar que você não puder ser quem você é, não te demores. É egoísmo demais com você. Seja quem você é em todo lugar que for, se não te aceitarem pelo que tu é, aquele não é um lugar pra você. "Onde não puderes amar, não te demores."

Onde não puderes amar não te demores Eleonora?

* A frase-título desta crônica é da atriz italiana Eleonora Duse — falsamente atribuída a pintora mexicana Frida Kahlo e ao poeta e escritor brasileiro Augusto Branco.