Por quê a fecundidade dos eua é alta

Países com rápida transição da fecundidade. Artigo de José Eustáquio Diniz Alves

Data: 14 de janeiro de 2019

 

Por quê a fecundidade dos eua é alta

[EcoDebate A transição da fecundidade é um dos fenômenos de mudança de comportamento de massa mais importantes e significativos da história da humanidade.

[EcoDebate] O ser humano é o único animal que regula o número de filhos e reduz o tamanho da prole em meio ao aumento do padrão de vida e à abundância. Nos 200 mil anos de história do Homo sapiens, a redução do número médio de filhos ocorreu somente nas últimas décadas.

A despeito das “escoras culturais pronatalistas”, a taxa de fecundidade total (TFT) média do mundo caiu de cerca de 5 filhos na década de 1960 para cerca de 2,5 filhos em 2015. A TFT se reduziu pela metade em 50 anos, mas desacelerou o ritmo de baixa e se mantêm acima do nível da taxa de reposição (TFT = 2,1 filhos por mulher). Há ainda alguns países que resistem à desaceleração da fecundidade.

Porém, o ritmo da redução do número médio de filhos foi extremamente rápido em alguns países. Três países – Cingapura, Coreia do Sul e Irã – apresentaram as transições da fecundidade mais rápidas do mundo.

Cingapura – que era um país pobre até a sua independência em 1959 – tinha uma TFT de 6,6 filhos no quinquênio 1950-55 e de 6,34 filhos em 1955-60. Em apenas 20 anos a TFT de Cingapura passou para 1,84 filhos no quinquênio 1975-80. Ou seja, em 4 quinquênios a taxa de fecundidade passou de 6,34 filhos para 1,84 filhos (uma diminuição de 4,5 filhos na TFT). Foi a transição mais rápida (e mais precoce em sua rapidez) já ocorrida entre todos os países do mundo.

A Coreia do Sul – que viveu uma guerra destruidora com a Coreia do Norte entre 1950-53 e saiu em ruínas – tinha uma TFT de 6,33 filhos no quinquênio 1955-60 e passou para 1,57 no quinquênio 1985-90. Ou seja, a TFT passou de um nível acima de 6 filhos para um nível abaixo de 2 filhos em 30 anos (uma diminuição de 4,76 filhos na TFT em 6 quinquênios).

O Irã – que passou pela revolução islâmica no final da década de 1970 e pela guerra com o Iraque no início da década de 1980 – tinha uma TFT de 6,53 filhos em 1980-85 e passou para 1,97 filhos no quinquênio 2000-05. Ou seja, a TFT que estava acima de 6 filhos caiu para menos de 2 filhos em 20 anos (uma diminuição de 4,56 filhos na TFT em 4 quinquênios). Ainda na época do aiatolá Khomeini se adotou medidas de universalização da saúde reprodutiva, o que possibilitou a grande queda no número médio de filhos.

Brasil, Líbano e Costa Rica tinham TFT em torno de 6 filhos por mulher no quinquênio 1960-65 e passaram para uma TFT abaixo do nível de reposição no quinquênio 2005-10. Portanto, estes três países tiveram uma transição da fecundidade que durou cerca de 45 anos.

Portanto, estes seis países tiveram uma transição da fecundidade muito rápida, com destaque, principalmente, para Cingapura e Irã, que foram os países recordistas mundiais na transição de altos níveis para baixos níveis do número médio de filhos. Uma transição de mais de 6 filhos para menos de 2 filhos em apenas 20 anos é um acontecimento extraordinário e único. O caso da Coreia do Sul também merece destaque, pois fez a transição da fecundidade em 25 anos.

A transição da fecundidade no Brasil, Líbano e Costa Rica, mesmo demorando 45 anos, pode ser considerada uma mudança rápida, embora mais lenta do que nos casos excepcionais de Cingapura, Irã e Coreia do Sul. No caso de Cingapura e Coreia do Sul cabe destacar que, além da rapidez da transição, o limite inferior da queda foi muito baixo, com uma TFT de 1,2 filhos por mulher, uma das menores do mundo.

Uma transição da fecundidade de 20 anos ou 45 anos é considerada rápida quando se compara com a lenta transição que ocorreu nos países europeus e nos Estados Unidos (EUA). Em relação ao grande país da América do Norte, o gráfico abaixo mostra que a transição da fecundidade de altos níveis de TFT (7 filhos) para abaixo do nível de reposição demorou 170 anos (entre a população branca).

Por quê a fecundidade dos eua é alta

Nos EUA, a transição foi lenta nos séculos XIX e primeira metade do século XX, quando a TFT passou de 7 filhos para cerca de 2,5 filhos, durante a grande depressão da década de 1930. Logo após a Segunda Guerra houve um aumento da TFT americana (fenômeno do baby boom) até o início da década de 1960 e depois uma nova queda, quando ficou abaixo do nível de reposição no quinquênio 1975-1980, para voltar ao nível de reposição no período 1990-2010. Após 2010, a TFT dos EUA voltou a ficar abaixo do nível de reposição. O fato é que nos EUA a queda da fecundidade foi lenta e jamais chegou a níveis tão baixos como em Cingapura e na Coreia do Sul.

O gráfico abaixo mostra a transição da fecundidade no mundo e nas regiões. Nota-se que nos países desenvolvidos a transição começou no século XIX e atingiu o nível abaixo da reposição no quinquênio 1975-80. A América Latina e Caribe (ALC) tinha uma TFT de 6 filhos na década de 1950 e deve passar para menos de 2 filhos no quinquênio 2020-25, demorando, portanto, 60 anos para completar a transição. A Ásia que partiu do mesmo patamar da ALC deve atingir uma TFT abaixo do nível de reposição no quinquênio 2030-35, portanto, 70 anos de transição. Na África Subsaariana a TFT ainda estava próxima de 7 filhos no quinquênio 1980-85 e só deve completar a transição no início do século XXII, demorando, portanto, cerca de 130 ou 140 anos para passar de altos níveis para baixos níveis de fecundidade. O mundo – na média global, só deve atingir o nível de reposição no fim do século XX.

Por quê a fecundidade dos eua é alta

Neste quadro global, fica claro que as transições da fecundidade de Cingapura, Irã e Coreia do Sul são realmente excepcionais em termos de rapidez e profundidade, enquanto a transição da África Subsaariana parte de um alto patamar, inicia de forma tardia e não deve ser profunda no sentido de atingir níveis muito abaixo do nível de reposição.

O que todos estes dados mostram é que existem grandes diferenças na dinâmica demográfica dos países e das regiões. As consequências sociais e ambientais também são muito diferentes e exigem múltiplas respostas.

O debate está aberto e o conhecimento da realidade demográfica pode ajudar na busca de soluções para os problemas sociais, econômicos e ambientais.

Qual o país com a maior taxa de fecundidade?

O Níger, por exemplo, é o "país mais fértil" do mundo, com 7,2 filhos por mulher em 2017.

Qual país as mulheres têm mais filhos?

A China tinha taxas de 5,47 filhos por mulher, esse valor atingiria o seu máximo em 1966 com valores perto dos seis filhos por mulher. O Níger tinha taxas de mais de 7 filhos e continua a ter, tendo hoje as mulheres daqueles país ligeiramente mais do que as de 1960, mas algo menos do que as de 1990.

Quais fatores explicam as altas taxas de fecundidade em países pobres?

Taxa de fecundidade Os países subdesenvolvidos, geralmente, apresentam elevação dessa taxa. É comum que as mulheres desses países procriem mais em decorrência da falta de acesso à saúde, a métodos contraceptivos e à educação.

Quando é que podemos considerar que a taxa de fecundidade é alta?

No geral, a população está sendo reposta se a Taxa de Fecundidade estiver acima de 2,1 filhos por mulher. Quanto mais acima desse valor, mais a população estará não só sendo reposta, como também estará crescendo.