Por que razão específica O fidalgo e condenado a seguir na barca do inferno?

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Por que razão específica O fidalgo e condenado a seguir na barca do inferno?

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o seguia de perto, lambendo ainda nos pelos do focinho a marugem do sangue tabajara, de que se fartara; o senhor o 
acariciava satisfeito de sua coragem e dedicação. Fora ele quem salvara Martim (...). 
— Os maus espíritos da floresta podem separar outra vez o guerreiro branco de seu irmão pitiguara. O cão te seguirá daqui em 
diante, para que mesmo de longe Poti acuda a teu chamado. 
— Mas o cão é teu companheiro e amigo fiel. 
— Mais amigo e companheiro será de Poti, servindo a seu irmão que a ele. Tu o chamarás Japi; e ele será o pé ligeiro com que de 
longe corramos um para o outro. (...) 
Tanto que os dois guerreiros tocaram as margens do rio, ouviram o latir do cão, que os chamava, e o grito da ará, que se lamentava. 
 
A ará, pousada no jirau fronteiro, alonga para sua formosa senhora os verdes tristes olhos. Desde que o guerreiro branco pisou a 
terra dos tabajaras, Iracema a esqueceu. (...) 
Iracema lembrou-se que tinha sido ingrata para a jandaia esquecendo-a no tempo da felicidade; e agora ela vinha para a consolar no 
tempo da desventura. (...) 
Na seguinte alvorada foi a voz da jandaia que a despertou. A linda ave não deixou mais sua senhora (…). 
A jandaia pousada no olho da palmeira repetia tristemente: 
— Iracema! 
Desde então os guerreiros pitiguaras, que passavam perto da cabana abandonada e ouviam ressoar a voz plangente da ave amiga, 
se afastavam, com a alma cheia de tristeza, do coqueiro onde cantava a jandaia. 
E foi assim que um dia veio a chamar-se Ceará o rio onde crescia o coqueiro, e os campos onde serpeja o rio. 
(José de Alencar, Iracema. São Paulo: Ática, 1992, p. 52 e p. 80.) 
a) Explique o papel simbólico desempenhado pelo cão. 
b) Explique o papel simbólico desempenhado pela jandaia ou ará. 
 
 
Resposta Esperada 
O candidato deve explicitar que, conforme o primeiro excerto, o cão Japi representa a fidelidade ou submissão. 
Sendo um presente dado por Poti a Martim, simboliza a fidelidade do colonizado ao colonizador, do qual se 
mostra aliado. É, portanto, símbolo da sujeição do nativo ao colonizador. Já a jandaia ou ará é símbolo das 
tradições locais, americanas, ameaçadas pela presença branca, europeia. Embora se mostre feliz quando se 
encontra sozinha com Iracema, a presença de Martim a faz recuar e se afastar da índia, revelando a ameaça 
representada pelo homem branco. O candidato deve analisar a tristeza da jandaia como um prenúncio da 
desgraça que se abaterá sobre Iracema e os seus. 
 
 
 
LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURAS 
 
 
Provas Comentadas � Língua Portuguesa e Literaturas � 2ª Fase 
Exemplo Acima da Média 
 
 
 
Exemplo Abaixo da Média 
 
 
 
Comentários 
a) A resposta abaixo da média pode ser considerada incompleta, pois embora aponte corretamente o papel 
simbólico do cão como protetor, amigo e companheiro, ignora quase totalmente o romance de Alencar, 
atribuindo ao cão características que se referem antes ao senso comum a respeito desse animal. A resposta 
acima da média, por sua vez, não perde de vista o contexto do romance, relacionando o cão à amizade entre 
Poti e Martim, e tirando daí a conclusão de que tal relação implica submissão do índio ao branco. 
 
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Provas Comentadas � Língua Portuguesa e Literaturas � 2ª Fase 
b) Nesse item também se pode afirmar que a resposta acima da média contemplou todos os aspectos esperados, 
não só relacionando a jandaia às tradições indígenas, como também vendo nela uma premonição da tragédia 
que seria para os nativos o encontro com o colonizador português. O único reparo a ser feito a essa resposta é o 
descuido com a concordância na passagem que se refere ao “desrespeito com que seria tratada as tradições e 
rituais dos índios”. Já a resposta abaixo da média estabeleceu corretamente a relação entre a ave e as tradições, 
mas não tirou daí nenhuma conclusão mais abrangente. 
 
 
Questão 9 
Os excertos abaixo foram extraídos do Auto da barca do inferno, de Gil Vicente. 
 
(...) FIDALGO: Que leixo na outra vida 
quem reze sempre por mi. 
DIABO: (...) E tu viveste a teu prazer, 
cuidando cá guarecer 
por que rezem lá por ti!...(...) 
ANJO: Que querês? 
FIDALGO: Que me digais, 
pois parti tão sem aviso, 
se a barca do paraíso 
é esta em que navegais. 
ANJO: Esta é; que me demandais? 
FIDALGO: Que me leixês embarcar. 
sô fidalgo de solar, 
é bem que me recolhais. 
ANJO: Não se embarca tirania 
neste batel divinal. 
FIDALGO: Não sei por que haveis por mal 
Que entr’a minha senhoria. 
 ANJO: Pera vossa fantesia 
mui estreita é esta barca. 
FIDALGO: Pera senhor de tal marca 
nom há aqui mais cortesia? (...) 
ANJO: Não vindes vós de maneira 
pera ir neste navio. 
Essoutro vai mais vazio: 
a cadeira entrará 
e o rabo caberá 
e todo vosso senhorio. 
Vós irês mais espaçoso 
com fumosa senhoria, 
cuidando na tirania 
do pobre povo queixoso; 
e porque, de generoso, 
desprezastes os pequenos, 
achar-vos-eis tanto menos 
quanto mais fostes fumoso. (…) 
 SAPATEIRO: (...) E pera onde é a viagem? 
DIABO: Pera o lago dos danados. 
SAPATEIRO: Os que morrem confessados, 
onde têm sua passagem? 
DIABO: Nom cures de mais linguagem! 
Esta é a tua barca, esta! 
(...) E tu morreste excomungado: 
não o quiseste dizer. 
Esperavas de viver, 
calaste dous mil enganos... 
tu roubaste bem trint'anos 
o povo com teu mester. (...) 
SAPATEIRO: Pois digo-te que não quero! 
DIABO: Que te pês, hás-de ir, si, si! 
SAPATEIRO: Quantas missas eu ouvi, 
não me hão elas de prestar? 
DIABO: Ouvir missa, então roubar, 
é caminho per'aqui. 
(Gil Vicente, Auto da barca do inferno, em Cleonice Berardinelli (org.), Antologia do teatro de Gil Vicente. Rio de Janeiro: Nova Fronteira; Brasília: INL, 1984, p. 57-59 
e 68-69.) 
a) Por que razão específica o fidalgo é condenado a seguir na barca do inferno? E o sapateiro? 
 
b) Além das faltas específicas desses personagens, há uma outra, comum a ambos e bastante praticada à época, que Gil 
Vicente condena. Identifique essa falta e indique de que modo ela aparece em cada um dos personagens 
 
 
Resposta Esperada 
Como razão da condenação do fidalgo, espera-se que o candidato identifique a soberba, a arrogância, a 
presunção, a reivindicação de prerrogativas para os de sua classe ou a tirania exercida sobre “o pobre povo 
queixoso”. O sapateiro, por sua vez, é acusado de enganar e roubar o povo por meio de seu ofício (mester). O 
candidato deve ainda identificar como falta comum aos dois personagens a prática vã da religião. No caso do 
fidalgo, essa prática se evidencia no fato de ele mandar que outras pessoas rezem em seu lugar. Já o sapateiro 
alega ter ouvido missas e se confessado antes de morrer, escondendo que morrera excomungado. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Exemplo Acima da Média 
 
 
 
Exemplo Abaixo da Média 
 
 
 
Comentários 
a) A resposta abaixo da média acertou apenas precariamente a resposta a este item, pois aponta como motivo 
da condenação do fidalgo a luxúria, que o candidato aparentemente confunde com luxo, pois cita como 
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exemplo a “exploração de outros”. Tendo identificado corretamente a falta atribuída ao sapateiro, o candidato 
respondeu apenas em parte a este item da questão. A resposta acima da média identifica corretamente as faltas 
do fidalgo e do sapateiro, além de sustentar com passagens do texto a argumento exposto. 
 
b) Neste item, o candidato do exemplo abaixo da média não respondeu corretamente à questão proposta, pois 
atribui tanto ao fidalgo quanto ao sapateiro a exploração de sua condição social, que, por ser desigual, não pode 
servir para aproximá-los. Também neste caso a resposta acima da média não apenas identifica corretamente

Porque o fidalgo vai para o inferno?

Um fidalgo é o primeiro. Ele representa a nobreza, e é condenado ao inferno por seus pecados, tirania e luxúria. O diabo ordena ao fidalgo que embarque. Mas ele, arrogante, julga-se merecedor do paraíso, pois deixou muita gente rezando por ele.

Por que razão específica O sapateiro e condenado?

Quanto ao sapateiro, o motivo de sua condenação está relacionado ao fato de ele ter roubado de seus fregueses enquanto estava vivo, como fica explícito na fala do diabo: “tu roubaste bem trint´anos / o povo com teu mester.”

Que atitudes do fidalgo o impedem de subir no Batel divinal?

Resposta verificada por especialistas O Fidalgo é condenado a seguir na Barca do Inferno porque viveu uma vida egoísta e apenas em função dos próprios prazeres e realizações, não tendo realizado nenhum ato de genuína bondade e caridade para com ninguém.

Qual personagem foi rejeitado a entrar em ambas as barcas?

O Onzeneiro não quis entrar na barca do Diabo, então resolveu dirigir-se à barca do céu. Chegando até a barca divina, ele pergunta ao Anjo se ele poderia embarcar, mas o Anjo afirmou que por ele, o Onzeneiro não entraria em sua barca, por ter roubado muito e por ser ganancioso.