Qual é a importância da Antártica para as pesquisas científicas brasileiras?

O Brasil foi um dos últimos países do mundo a aderir ao Tratado da Antártida, em vigor desde 1961. Esse tratado estabeleceu que a Antártida será usada somente para fins pacíficos, com liberdade de pesquisa científica e promoção da cooperação internacional, proibindo-se: (1) qualquer atividade de natureza militar, (2) reivindicações territoriais, (3) explosões nucleares e (4) deposição de resíduos radioativos.

Uma ratificação posterior do tratado, o chamado Protocolo de Madri, assinado em 1998, declara a Antártida reserva natural do mundo, consagrada à paz e à ciência, proibindo que nos 50 anos seguintes seus recursos minerais sejam explorados.

Somente em 1975 o Brasil passou a fazer parte do conjunto de países que pretende desbravar a Antártida - o continente gelado, que corresponde quase ao tamanho da América do Sul, com 14 milhões de km2, onde há trechos em que a espessura de gelo chega a 5 km (a espessura média é de 2,7 km) e cuja temperatura oscila, no litoral, de 0oC no verão a -15oC no inverno, e, no interior do continente, de -32oC no verão a -65oC no inverno.

Programa Antártico Brasileiro

Em 1982 foram iniciadas as atividades científicas brasileiras na Antártida, com a instalação do posto mais avançado de ciência e pesquisa extracontinente. Em 16 de fevereiro de 1984 foi inaugurada a Estação Antártida Comandante Ferraz, situada na Ilha Rei George, às margens da Baía do Almirantado, no arquipélago Shetland do Sul.

Houve também a implantação do Programa Antártico Brasileiro - o Proantar, dedicado a pesquisas nos campos de ciências da atmosfera, da terra e da vida. A partir de 2002, os cientistas brasileiros incrementaram suas pesquisas voltadas às mudanças ambientais no planeta e à presença humana e seus reflexos na Antártida, continente que exerce influência no equilíbrio meteorológico mundial.

O primeiro grupo de cientistas e técnicos brasileiros que se dirigiram à Antártida foi transportado por um velho quebra-gelo dinamarquês, com mais de 30 anos de idade na época, comprado pela Marinha e batizado com o nome de Barão de Teffé. A partir de 1994, a base brasileira passou a contar com o apoio do navio oceanográfico Ary Rongel, equipado com instrumentos avançados.

A base brasileira está localizada a cerca de 3.200 km de distância do Pólo Sul geográfico, e é composta por duas dezenas de pessoas, incluindo cientistas, técnicos e pessoal de apoio, todos instalados em cerca de cinco dezenas de contêineres dispostos como se fossem um navio, com um longo corredor ligando os camarotes às salas localizadas nas duas extremidades.

Nesses contêineres estão instalados: uma biblioteca, um salão de ginástica, três laboratórios, sala de estar, cozinha, garagem para os esquis-motocicletas, carpintaria, enfermaria, a sala dos geradores e um depósito para reciclagem de lixo.

Estudos meteorológicos e oceanográficos

Entre os diversos estudos que vêm sendo realizados pela missão brasileira, os que mais interessam aos pesquisadores são os voltados a fenômenos meteorológicos e oceanográficos. No que diz respeito à meteorologia, interessam aspectos relacionados com as análises da dinâmica atmosférica, como o funcionamento das massas de ar polar, que regularmente afetam os climas brasileiros.

Quanto à oceanografia, são analisadas questões ligadas à circulação das águas oceânicas na região e à influência na formação de correntes que atingem o litoral brasileiro.

Não podemos esquecer que no passado, há 150 ou 180 milhões de anos, a Antártida, a América do Sul, a Austrália e a África faziam parte do mesmo continente, denominado de supercontinente de Gondwana.

Vários departamentos e instituições governamentais garantem a presença e a permanência dos brasileiros na Antártida: o CNPq (Conselho Nacional de Pesquisas Científicas); o Ministério do Meio Ambiente; e também a Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (CIRM), da qual fazem parte representantes de vários ministérios: Defesa, Transporte, Educação, Relações Exteriores, Indústria, Comércio, Turismo, Minas e Energia, Ciência e Tecnologia, Meio Ambiente, Recursos Hídricos e Planejamento, além de representantes da Casa Civil e da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República.

O Brasil é um dos 29 países presentes no continente, que não tem governo e não pertence a nenhuma nação, e é considerado uma área de preservação científica. A presença brasileira em terras tão inóspitas é considerada estratégica. Os principais motivos, são:

  • geopolítico: a principal rota para chegar ao continente antártico passa pelo Atlântico Sul, e o Brasil tem a maior costa neste oceano. Além disso, há reservas de petróleo no continente
  • ambiental: a Antártica possui 90% do gelo e 80% da água doce da Terra. O manto de gelo é o maior detentor de calor terrestre e as correntes marítimas de lá interferem na pesca na costa do Brasil
  • científico: diversos estudos feitos na região podem contribuir para o desenvolvimento nacional

Estação Antártica Comandante Ferraz conta com geradores eólicos e placas fotovoltaicas. — Foto: Divulgação Estúdio 41

Pesquisas brasileiras na Antártica

Segundo o Ministério da Ciência (MCTIC), há pesquisas sendo desenvolvidas que trarão benefícios para as áreas da medicina, com a formulação de medicamentos; da agricultura, no desenvolvimento de novos pesticidas e herbicidas; e da indústria, na fabricação de produtos como anticongelantes e protetores solares.

As pesquisas feitas na Antártica estão inseridas no Programa Antártico Brasileiro (Proantar), que em 2020 completa 38 anos de atuação. Há também a presença do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) da Criosfera e pesquisas da Fiocruz.

Ao todo, são 19 projetos de pesquisa sendo desenvolvidos. Eles foram aprovados pelo Comitê Científico de Pesquisa Antártica (SCAR, sigla para Scientific Committee on Antarctic Research).

Confira abaixo alguns destaques:

Vigilância epidemiológica

Pesquisadores da Fiocruz fazem coleta de materiais na Antártica para pesquisar microorganismos — Foto: Divulgação/Fiocruz/Paulo Lara

Pela primeira vez, a Fiocruz tem um laboratório na Antárica para se dedicar ao estudo de microorganismos. De acordo com Wim Degrave, coordenador do projeto FioAntar, a ideia é identificar potenciais riscos de infecção.

"A gente pensa que a Antártica é muito longe, muito isolada, mas não é bem assim. Há golfinhos, baleias, animais marinhos, aves migratórias, correntes marítimas e de ar que transitam pelos continentes. Eles carregam micro-organismos e microplásticos que absorvem bactérias e fungos que poderiam infectar o ser humano. Além disso, há o turismo crescente na região", diz Degrave, em entrevista ao G1.

O fluxo dos micro-organismos é tema de análise destes pesquisadores. Degrave esteve no continente entre outubro e dezembro do ano passado para finalizar a instalação dos equipamentos e fazer os primeiros testes.

Ele e os pesquisadores da Fiocruz recolheram amostras da água de degelo, do mar, e das praias. Ao longo da pesquisa, também serão coletadas amostras de fezes de animais e pássaros e carcaças

"A gente olha para a biodiversidade e quais bactérias, vírus e fungos têm ali; como a biodiversidade é influenciada pelo trânsito no continente; e quais são eventualmente as moléculas e enzimas que poderíamos aproveitar para fazer protótipos de antibióticos ou novos fármacos", explica.

Cientista Paulo Câmara, da UnB em frente a Estação Antártica Comandante Ferraz — Foto: Arquivo Pessoal

A análise de DNA das amostras recolhidas já permitiu que fossem encontrados sinais de uva, cebola e até pachouli na Antártica. "Não é que tem um pé de uva lá", brinca o professor de Botânica da Universidade de Brasília (UnB) Paulo Câmara, um dos pesquisadores que estão na Antártica.

"Mas o DNA está presente, e a gente imagina que tenha sido levado por turistas, que frequentam uma área com águas quentes em uma cratera de vulcão", explica, em entrevista ao G1.

A análise do DNA também permite identificar as plantas do continente, que crescem submetidas a condições ambientais muito extremas (como frio, ventos, raios ultravioleta e escuridão total durante o inverno). "A morfologia (forma) delas é um pouco esquisita, e muitas estão identificadas errado. A gente está pela primeira vez aplicando a ferramenta molecular – estamos usando DNA – para identificar essas plantas", explica.

A pesquisa vai ajudar a entender como as plantas se locomovem ao longo das correntes de ar, como elas chegam até a Antártica, como evoluem, e por que se estabelecem. "Se elas ficam 6 meses debaixo do gelo e ficam vivas fazendo fotossíntese, elas têm substâncias que são anticongelantes, e anticongelantes são úteis na aeronáutica", afirma Câmara.

Os musgos da Antártica conseguem sobreviver a temperaturas menores de -80°C. Os cientistas investigam quais os mecanismos físicos e biológicos são responsáveis por esta dinâmica, segundo o Ministério da Ciência. Ao isolá-los, é possível aplicar o mesmo mecanismo anticongelante na aviação, por exemplo.

Já os fungos produzem substâncias que têm propriedades antibióticas, pigmentos e enzimas que podem levar ao desenvolvimento de novos produtos.

Pássaro avistado na Ilha Rei George, na Antártica, onde foi inaugurada a estação brasileira de pesquisas no continente gelado — Foto: Reprodução/TV Globo

O clima na América do Sul é fortemente influenciado pela Antártica. Por isso, há pesquisas sendo feitas para investigar as mudanças climáticas e o equilíbrio do ecossistema.

De acordo com o Ministério da Ciência, essas pesquisas são fundamentais para prever cenários futuros de mudança climática no Brasil.

Nos nove laboratórios do INCT da Criosfera, são analisados o impacto do degelo no nível do mares, a reconstrução paleoclimática e também a química da atmosfera a partir de amostras de gelo que guardam as substâncias químicas de cada época, segundo o Ministério da Ciência.

O INCT ainda monitora e avalia as consequências socioeconômicas decorrentes da rápida redução do gelo marinho ártico e também busca organismos extremófilos em ambientais glaciais, diz a o MCTIC, em nota.

Acampamento de pesquisadores na Antártica — Foto: Andrés Zarankin/Arquivo pessoal

Pesquisa arqueológica cortada

Uma pesquisa coordenada pela UFMG, com a participação dos Estados Unidos, Inglaterra, Austrália, Espanha, Chile e Argentina, já escaneou 70% dos sítios arqueológicos e o material, em 3D, está disponível na internet a estudiosos de todo mundo. Mas, este ano, a continuidade dos estudos foi cortada.

De acordo com o professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Andrés Zarankin, a ideia era chegar aos 100% em dois anos. Ele e a equipe tentam provar que o homem chegou à Antártica muito antes das expedições de europeus no século 19 e início do século 20.

O G1 procurou o CNPq e aguarda posicionamento sobre esta pesquisa.

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Qual é a importância das pesquisas científicas feitas na Antártida para o Brasil?

O clima na América do Sul é fortemente influenciado pela Antártica. Por isso, há pesquisas sendo feitas para investigar as mudanças climáticas e o equilíbrio do ecossistema. De acordo com o Ministério da Ciência, essas pesquisas são fundamentais para prever cenários futuros de mudança climática no Brasil.

Qual a importância das pesquisas científicas da Antártida?

A questão da ciência na Antártica é bem delicada, mas importantíssima. Mais do que simplesmente apresentar dados científicos, as pesquisas buscam compreender as relações do bioma e clima antártico com o restante do planeta, além de alertar as pessoas sobre a importância do continente gelado.

Qual a importância da Antártica para o Brasil?

Os ventos e as nuvens que atingem nosso País se originam da Antártida. As explicações para as secas ou inundações que o Brasil enfrenta podem estar lá”, afirma. “Além disso, é importante para o Brasil poder opinar sobre o continente que possui a maior reserva de água doce do planeta”.

Qual é a importância da Antártica?

Sobre o Continente É o principal regulador térmico do Planeta, controla as circulações atmosféricas e oceânicas, influenciando o clima e as condições de vida na Terra. Além disso, é detentora das maiores reservas de gelo (90%) e água doce (70%) do Planeta, além de possuir recursos minerais e energéticos incalculáveis.