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A religião muçulmana é o Islã, ou seja, os muçulmanos são os seguidores dessa religião. Embora seja um equívoco recorrente, muçulmanos e árabes não são sinônimos! Ser árabe significa pertencer ao grupo étnico que habita principalmente o Oriente Médio e a África setentrional, enquanto ser muçulmano significa apenas ter fé no islamismo. É fato que a maioria dos árabes é muçulmana, mas não é uma regra, afinal o inverso não é verdadeiro: a maioria dos muçulmanos não é de árabes, haja vista o considerável percentual de fiéis muçulmanos em gigantescas populações asiáticas como na Índia e na Indonésia. Neste post, você entenderá conceitos do islamismo, desde suas origens, suas leis, sua relação com a figura da mulher e sua representatividade mundial, além de desmistificar dogmas extremistas que conduzem algumas minorias ao terrorismo. Vamos entender como funciona essa religião? Entenda também o que foi a Primavera Árabe, uma onda revolucionária de manifestações que ocorreram no Oriente Médio e no Norte da África! Primórdios do islamismo: contexto históricoA palavra Islã tem valor nominal e também verbal, isto é, nomeia e indica ação. Significa submissão, submeter-se; obediência ou ação de obedecer a Deus (Allah, em árabe). Datado do século VII da era cristã, período de início do calendário islâmico (distinto do calendário gregoriano, o que seguimos), o marco inicial do islamismo se dá pela figura de Maomé (Muhammad, em árabe), profeta que teria recebido do anjo Gabriel os princípios básicos que norteiam a fé islâmica. As profecias de Maomé foram organizadas no Alcorão (ou Corão), o livro sagrado do islamismo. O profeta, que era analfabeto, começa a receber as revelações aos 40 anos de idade, após uma vida quase toda como mercador. Conta-se que esse processo durou 23 anos. Esse é apenas o primeiro de diversos pontos que fazem os muçulmanos atribuírem valor divino aos dogmas que sustentam a religião e que estão no Alcorão. Muçulmanos defendem que Maomé foi o mensageiro final do Islã, ou seja, não o único, mas o último de uma sucessão de mensageiros que foram enviados por Deus. A fé islâmica não desconsidera outros nomes, inclusive o de Jesus Cristo, a quem consideram simplesmente como um profeta. No que se refere a Maomé, ele foi quem trouxe a profecia final, isto é, através dele Deus completou sua mensagem à humanidade. Dessa forma, muçulmanos não contestam a existência de outras mensagens profetizadas à humanidade como as dos Livros de Abraão, da Torá de Moisés, dos Salmos de Davi e do Evangelho de Jesus Cristo. No entanto, muitos estudiosos, historiadores e eruditos, entre muçulmanos, judeus e cristãos, não asseguram a originalidade dessas escrituras. Eles concordam que todas provêm da mesma fonte – Deus, mas, dadas tantas alterações e traduções, perdeu-se o conteúdo original. Por isso, os muçulmanos defendem que o Alcorão, revelado e mantido em sua forma original, em árabe, traz a mensagem final, preponderante e imutável, corrigindo qualquer lacuna, equívoco e erros humanos penetrados na difusão de outras escrituras. Pilares da religião muçulmana: as 5 leis fundamentaisDe acordo com a fé muçulmana, no ano de 610, o profeta Maomé recebeu mensagens de um anjo que lhe ensinou todos os fundamentos da nova religião. A partir disso, a religião muçulmana consolida 5 leis fundamentais que são reunidas no Alcorão, são elas: 1. Proclamação de féTrata-se da Shahada, que é o testemunho do muçulmano de que ninguém merece ser adorado, a não ser Allah (Deus), e que Maomé é seu mensageiro. Qualquer pessoa que fizer essa declaração se torna muçulmana. Não é necessário que haja formalidade ou celebração. 2. OraçãoRitualisticamente, os muçulmanos fazem oração, a Salah, 5 vezes ao dia. A Salah preza pela manutenção da fé islâmica e pela reafirmação da submissão a Deus. 3. Caridade compulsóriaO terceiro pilar é a Zakah, uma espécie de caridade que vai além do caráter facultativo e beneficente que a palavra pressupõe, pois é tida como uma obrigação do muçulmano que detém melhor condição financeira de prestar apoio aos carentes e necessitados. Tal obrigação equivale a 2,5% anuais do patrimônio individual. 4. O jejum do RamadãRamadã é o nono mês do calendário islâmico e deve ser passado em jejum pelos muçulmanos saudáveis. Sawm, o jejum, consiste na completa abstenção de comida, bebida e atividades deleitosas (como sexo, jogos e diversões) do nascer ao pôr-do-sol. 5. Peregrinação à MecaEntre os dias 8 e 13 do mês de Dhu al-Hijja, último do calendário islâmico, os muçulmanos celebram o Hajj. Trata-se da peregrinação que, ao menos uma vez na vida, todo muçulmano que goze de condições físicas e financeiras deve fazer à cidade sagrada, Meca, na Arábia Saudita. A tradição remonta a Abraão, considerado o “pai de todos os profetas”. Todos os anos, milhões de muçulmanos vão à Meca durante o evento. Em 2018, na semana de início, o governo saudita já indicava expectativa de 2,3 milhões de peregrinos. Sunitas e XiitasMuito se fala a respeito de sunitas e xiitas, duas correntes majoritárias que, após a morte do profeta Maomé, travaram conflitos durante anos por conta de divergências quanto ao califado (sucessão de Maomé), o que envolvia até assassinatos de líderes. A sucessão de Maomé é a grande diferença entre os grupos. Sunitas elegeram Abu Bakr, amigo e conselheiro do profeta, como seu sucessor. Xiitas nunca concordaram, pois defendiam o respeito à linhagem familiar, em que Ali Bin Abu Talib, primo e genro de Maomé, seria seu sucessor imediato. Os sunitas representam a maioria entre os muçulmanos e são mais flexíveis (em comparação aos xiitas) às atualizações na interpretação de dogmas da Suna (daí deriva o nome Sunita), livro suplementar ao Alcorão que traz relatos sobre ações de Maomé, e da Sharia, a Lei Islâmica, em consonância com as transformações da humanidade e com a evolução das civilizações. Por outro lado, xiitas representam um grupo tradicionalista minoritário, que defende a manutenção da interpretação tradicional do Alcorão e da Sharia. Não é incomum nos depararmos com notícias mundiais sobre violência e atentados envolvendo conflitos entre esses dois grupos.
Países muçulmanos: influência ou lei?O islamismo representa maioria populacional no Oriente Médio e é tido como fator preponderante em quase todas nações da região, além de algumas da África, da Ásia e do sul da Europa. Há países de maioria populacional muçulmana, mas com um Estado laico, e outros que adotam a teocracia, regime de governo em que ações políticas e jurídicas são submetidas a dogmas religiosos. A influência do islamismo e sua relevância para os países islâmicos é enorme e bastante complexa, pois envolve questões histórico-culturais dentro de um contexto de divergências e conflitos. Nesse quadro, há de se considerar repúblicas e monarquias. Irã (República Islâmica do Irã) e Paquistão (República Islâmica do Paquistão) são exemplos de repúblicas islâmicas teocráticas, sendo a primeira mais rígida, submetida à influência do clero islâmico, de maioria xiita, enquanto Paquistão, por sua vez, admite alguma tolerância e converge mais com a democracia. Em se tratando de monarquia islâmica teocrática, por sua relevância, destaca-se a Arábia Saudita (Reino da Arábia Saudita), voltada ao islamismo sunita, marcada por intolerância religiosa a qualquer manifestação não-islâmica. A Turquia (República da Turquia) é um exemplo de Estado laico. Sua constituição prevê liberdade religiosa, embora seja um país de maioria muçulmana, estimada entre 96% e 99% da população. Não há monarquia islâmica que seja Estado laico. O mais próximo disso que podemos encontrar é o Bahrein (Reino do Bahrein), uma monarquia islâmica que é relativamente tolerante com outras manifestações religiosas, pois conta com templos cristãos, judaicos e hindus, sem registros de conflitos. Veja também nosso vídeo sobre liberdade religiosa!
A mulher muçulmanaHá correntes muçulmanas ultraconservadoras que entendem a mulher como um ser inferiorizado do qual o homem faz uso e do qual deve cuidar, como mostra o versículo da surata (nome dado a cada capítulo) do Alcorão que é intitulada “As mulheres”:
Vale apontar a poligamia, união conjugal de uma pessoa com diversas outras, o que o Alcorão permite apenas aos homens, que podem ter até 4 esposas, desde que tenham condições de mantê-las e de tratá-las igualmente. Soma-se a isso a questão da punição às mulheres, pois o próprio livro sagrado da religião islâmica corrobora a aplicação de castigo por deslealdade, o que pode ser levado em consideração até mesmo em tribunais sob forte influência da lei islâmica. Geralmente, em países islâmicos, há considerável restrição à liberdade em diversos aspectos, a se destacar o que se refere aos direitos das mulheres. Podemos apontar, por exemplo, a obrigatoriedade do uso de indumentárias que cubram a cabeça e o restrito direito ao trabalho formal em países como Arábia Saudita, Afeganistão, Irã, Síria e Sudão, podendo resultar em severas punições àquelas que desobedecerem. Em 2018, a Arábia Saudita, último país que proibia mulheres ao volante, começou a emitir habilitação para mulheres. Os impactos da relação entre o islamismo e a mulher envolvem uma série de aspectos que, sobretudo aos olhos ocidentais, confundem o que se deve à lei, à influência religiosa ou a ambas, dada a complexidade que engendra essa discussão. Veja também nosso vídeo sobre os direitos das mulheres!
Não sabemos com certeza se as raízes da questão são as escrituras do Alcorão e a Sharia ou se o verdadeiro problema é a forma como as palavras são interpretadas e postas em prática. Nesse sentido, cada país carrega suas peculiaridades culturais. A Politize! abordou 7 direitos das mulheres negados ao redor do mundo! Extremismo, jihadismo e terrorismoVocê pode ter a sensação de que jihadismo e terrorismo são sinônimos, mesmo porque às vezes até a televisão costuma deixar essa impressão. Porém, Jihad significa penitência, luta, esforço. Se remetermos aos primórdios dos dogmas islâmicos, isso teria natureza puramente espiritual, isto é, seria a busca do muçulmano pela plena submissão aos preceitos da religião, de acordo com o Alcorão. No entanto, correntes extremistas que pregam o jihadismo radical ganharam força desde a década de 1970, tanto no Egito, quanto na Guerra do Afeganistão. Nessa interpretação, Jihad é a luta armada e irredutível contra qualquer manifestação que não seja o regresso ao “verdadeiro islã”, desconsiderando, inclusive, a democracia. Daí surge a ideia de “Guerra Santa”. A exemplo de grupos terroristas como o Estado Islâmico (ISIS) e a Al-Qaeda, existem extremistas defensores da guerra violenta como necessária para a manutenção da lei islâmica. Há, por outro lado, muitos muçulmanos ponderados, que relutam em utilizar o termo jihadismo, justamente, por conta da associação incorreta que tem ocorrido entre um dogma religioso e uma violência praticada por pessoas e correntes islâmicas consideradas “pervertidas” pelos muçulmanos não radicais, isto é, pessoas que desvirtuam a fé muçulmana. Aqui na Politize!, já falamos sobre o Hamas, grupo de palestinos sunitas, que há décadas não reconhece o Estado de Israel e defende a criação de um único Estado Palestino. De fato, o Alcorão menciona a palavra jihad como luta contra os descrentes ou infiéis, mas não há clareza que aponte se seria combate de caráter físico ou ideológico. A interpretação cabe a quem lê. Em diversas crenças e religiões há distorções interpretativas de dogmas, afinal a interpretação, assim como a fé, é sempre subjetiva. O crescimento global do islamismoEstima-se que a população mundial já passa de 7,6 bilhões de habitantes, dos quais aproximadamente 2,2 e 1,6 bilhões correspondem, respectivamente, aos cristãos e aos muçulmanos, as duas religiões com o maior número de adeptos no mundo. Veja o mapa mundial dos muçulmanos, publicado em 2009 pela Pew Research Center, que mostra o tamanho de cada país baseado na quantidade de população muçulmana presente nele: Estudos dessa organização apontam que, ainda no século XXI, a religião muçulmana terá a maior representatividade no mundo em número de fiéis. Com exceção da América Latina, o crescimento global de muçulmanos caminha a passos largos. Isso se deve não necessariamente à grande taxa de natalidade dentro desse grupo, mas sobretudo ao alto número de convertidos pela influência de imigrantes nos países. Nos Estados Unidos, por exemplo, apesar das políticas anti-imigração do ex-presidente Donald Trump durante o seu mandato, o islamismo continuou com o seu espaço conquistado e se manteve em significativo crescimento. Inclusive, tem ganhado força a evidência de crescimento da religião muçulmana à frente do próprio crescimento populacional mundial, o que já foi apontado pela Pew Research Center, que analisou o crescimento global de algumas religiões e estimou que o islamismo será a maior religião do mundo em 2070. Veja que o gráfico representa os muçulmanos crescendo mais que o dobro do crescimento da população mundial, o que reforça o que apontamos sobre o número de convertidos e a influência de imigrantes em diversas regiões. A mesma organização apontou que, entre 2007 e 2017, houve um crescimento de 2,35 milhões para 3,45 milhões de muçulmanos, nos EUA. Considerando o advento e as projeções de crescimento global do islamismo, é inegável a relevância do assunto. Somos livres para termos (ou não) nossas crenças, mas será que associar muçulmanos ao terrorismo e bomba, por exemplo, não é xenofobia? Lembre-se: ser muçulmano não é uma nacionalidade, raça ou etnia, mas a crença em Allah e nos conceitos da religião muçulmana explicados ao longo deste texto. Copa do Mundo e cultura IslâmicaEm 2022, a sede da Copa do Mundo é o Catar, país que tem como religião oficial o Islamismo e manifesta majoritariamente a corrente sunita, com cerca de 68% da população seguindo essa doutrina. Aliás, a principal fonte de legislação é o charia, um sistema legal que incorpora o direito civil e o direito islâmico. Por isso, muitas leis específicas do país são questionadas em algumas regiões do mundo, como, por exemplo, o fato de que em alguns tribunais, o testemunho de mulheres pode valer até metade do testemunho de um homem. Diante disso, em 2022, o mundo tem voltado seus olhos para o Catar, o palco da Copa do Mundo, e também para a cultura islâmica. A própria FIFA demonstrou estar receosa em relação às restrições de direitos no país, sobretudo aos direitos de homossexuais e mulheres. E aí, você conseguiu compreender o que é o islamismo? Após a leitura do texto, o que você acha do Catar ser o país-sede da copa? Deixe sua opiniãonos comentários! Referências:
Em que país vivem os muçulmanos?O chamado “mundo árabe” – grupo de países considerados como tal – reúne um total de 22 países, a saber: Arábia Saudita, Argélia, Barein, Catar, Comores, Djibuti, Egito, Emirados Árabes Unidos, Iêmen, Iraque, Jordânia, Kuwait, Líbano, Líbia, Mauritânia, Marrocos, Omã, Palestina, Somália, Sudão, Síria e Tunísia.
O que e um país muçulmano?Quais são os países islâmicos? A maior parte dos países muçulmanos — isto é, aqueles onde a maioria da população professa a fé islâmica — estão no Oriente Médio e Norte da África.
Qual e a diferença entre árabe e turco e muçulmano?Essa confusão se dá porque a religião islâmica foi criada pelo povo árabe, e entre esse povo o islamismo ganhou muitos adeptos. No entanto, devemos lembrar que nem todo muçulmano (ou islâmico) é árabe. Os turcos, os iranianos e os afegãos são povos muçulmanos, mas não árabes. Isso porque não falam a língua árabe.
Quais são os países com maior número absoluto de muçulmanos no mundo?Os quatro países em que há o maior número absoluto de muçulmanos – Indonésia, Índia, Paquistão e Bangladesh – estão além das “fronteiras do mundo árabe”.
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