Em 17 de junho de 2016, participei do vernissage da mostra dedicada à importância histórico-cultural dos hebreus em Veneza, cuja sede foi o Palácio Ducal veneziano. Como apreciadora da história e da cultura hebraica, não podia deixar de escrever sobre a importância da presença dos hebreus na história de Veneza, principalmente pela comemoração, em 2016,
dos 500 anos de fundação do gueto hebraico veneziano, o primeiro gueto da Europa. 🕎 A importância da presença dos hebreus na história de Veneza: comércio, ciência, cultura, etc.
Homenagem ao gueto mais antigo da EuropaOrganizada em ocasião dos quinhentos anos de instituição do Gueto de Veneza, a mostra “Venezia, gli ebrei e l’Europa 1516-2016” (Veneza, os hebreus e a Europa 1516-2016, tradução livre) descreveu os processos que foram a base da criação, realização e das transformações do primeiro “recinto” do mundo destinado aos hebreus. Ao mesmo tempo, o panorama se alargou, envolvendo as relações estabelecidas com o resto da cidade e com outros quarteirões hebraicos (e não só), italianos e europeu para destacar a riqueza dos vínculos entre os hebreus de Veneza e os hebreus e a sociedade civil nos diferentes períodos da sua longa permanência na laguna, na área vêneta e na área europeia e mediterrânea. Tours privados com guia brasileira na Itália 10 Posts View Posts A intenção foi, na verdade, uma maior consciência das diversidades culturais existentes na Veneza cosmopolita do início do século XVI e da mistura das habilidades, conhecimentos, costumes que constituem até hoje o seu principal patrimônio. “Contrato matrimonial hebraico”, 1723. Museu Correr, Veneza. Imagem: Visit Muve.🕎 Hebreus em Veneza, uma cidade cosmopolitaNão foi somente um trabalho de pesquisa sobre a área específica dos três guetos (Novo, Velho e Novíssimo), mas também uma reflexão sobre as trocas culturais e linguísticas, as habilidades artesanais e as profissões que a comunidade hebraica dividiu com a população cristã e as outras minorias presentes em um centro mercantil de importância extraordinária. O arco cronológico tomado em consideração foi além da queda da República e a abertura das portas por ordem de Napoleão Bonaparte: a mostra também considerou o papel dos hebreus na idade da assimilação e no curso do século XX. Relação entre a República Vêneta e as comunidades estrangeiras no século XVINas primeiras décadas do século XVI, a República Vêneta tinha colocado em ato uma estratégia urbana de acolhimento, oferta de garantias e, contemporaneamente, de vigilância, mais ou menos rígida, também para com outras comunidades nacionais e religiosas, importantes para as próprias atividades econômicas como as pessoas do Norte (com o Fondaco dei Tedeschi), os gregos ortodoxos (com a concessão de se construir uma igreja e um colégio pagos por eles próprios) e, pouco a pouco, os albaneses, os persianos, os turcos. Os hebreus contribuíram para o enriquecimento de VenezaOs hebreus, como as outras minorias, eram “preciosos” para a Sereníssima (como se lê em alguns documentos): as suas magistraturas, alguns nobres e o próprio doge Leonardo Loredan, que era ‘príncipe” no momento do decreto instituído (29 de março de 1516), eram perfeitamente conscientes da situação. “Retrato do doge Leonardo Loredan” de Vittore Carpaccio, 1501-1505. Museu Correr, Veneza. Imagem: Visit Muve.Apesar disso, Veneza, que tinha permitido aos hebreus presentes no seu próprio território – quando a Europa também os estava caçando depois dos notos decretos de expulsão da Espanha (1492) e de Portugal (1496) – de entrar na cidade como refugiados de guerra, após as dramáticas consequências da liga dos Cambrais e da derrota de Agnadello, logo se pôs o problema de como tratar a minoria hebraica. 🕎 1516-2016: 500 anos do Gueto Hebraico de Veneza, o primeiro gueto da EuropaA escolha de não expulsar os hebreus, mas de mantê-los dentro do gueto, foi vivida como o mal menor e o fechamento, uma evidente discriminação, terminou por se transformar também em uma defesa útil porque os hebreus, sujeito politicamente fraco fora dos muros, tornaram-se autônomos no interior do gueto, quase proprietários de suas ações e, em muitos casos, bem mais que tantos moradores e súditos que viviam à completa mercê do doge, do príncipe, do papa ou do rei. Hazzer = guetoEm Veneza, este Hazzer (palavra hebraica para definir o recinto), Gueto – tomado em sentido negativo em toda a Europa como realidade física e como termo – transformou-se pouco a pouco em uma instituição quase por si, “um escudo”, como escreve Riccardo Calimani: “Nobile al banco” de Giovanni Grevembroch (1731-1808). Biblioteca do Museu Correr, Veneza. Imagem: Visit Muve. Cosmopolita no seu interior – onde vieram a conviver hebreus alemães e italianos, hebreus levantinos, do oeste e portugueses – o Gueto de Veneza foi, assim, uma realidade fortemente permeável, em constante interação com o externo e in primis com a cidade lagunar, esta última extraordinariamente multinacional e multiétnica, por convicção ou pragmatismo. 📍 Como chegar ao Gueto Hebraico de VenezaDa estação ferroviáriaCaminhar em direção à Lista di Spagna + atravessar a Ponte delle Guglie + virar à esquerda: seguir as indicações para o gueto. São cerca de quize minutos de caminhada. Da Praça de São MarcosPegar a rua principal que leva à Strada Nuova e prosseguir até Rio Terà S. Leonardo + seguir as indicações para o gueto. São cerca de quarenta e cinco minutos de caminhada. A Bíblia hebraica na arte italiana 👇O que significa a palavra “gueto”? **Esta postagem contém links de parceiros afiliados. Saiba mais sobre a Política de Monetização do blogue. Temas relacionados
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