Qual o contexto histórico da música A Carne?

22 de novembro de 2017 AS MULHERES QUE DIZEM NÃO, CLIPES, SINA ARTÍSTICA 2,650 Views

No dia 20 de Novembro, Dia Nacional da Consciência Negra. Elza Soares, uma das maiores vozes do Brasil,  para celebrar a data lançou um clipe novo de “A Carne”, música que fala muito de racismo e veio de 2002 com o álbum “Do Cóccix Até o Pescoço”.

“A carne mais barata do mercado foi a carne negra. Não é mais a carne negra. Eu sou negra. Minha mãe é negra. Minha voz é negra. O Brasil é Negro”, disse em depoimento ao lançar o clipe.

O vídeo foi feito com direção do Coletivo MOOC. Confira todos os créditos no vídeo no youtube, a seguir a letra:

A CARNE

A carne mais barata do mercado é a carne negra
A carne mais barata do mercado é a carne negra
A carne mais barata do mercado é a carne negra
A carne mais barata do mercado é a carne negra
A carne mais barata do mercado é a carne negra

Que vai de graça pro presídio
E para debaixo do plástico
Que vai de graça pro subemprego
E pros hospitais psiquiátricos

A carne mais barata do mercado é a carne negra
A carne mais barata do mercado é a carne negra
A carne mais barata do mercado é a carne negra
A carne mais barata do mercado é a carne negra
A carne mais barata do mercado é a carne negra

Que fez e faz história
Segurando esse país no braço
O cabra aqui não se sente revoltado
Porque o revólver já está engatilhado
E o vingador é lento
Mas muito bem intencionado
E esse país
Vai deixando todo mundo preto
E o cabelo esticado

Mas mesmo assim
Ainda guardo o direito
De algum antepassado da cor
Brigar sutilmente por respeito
Brigar bravamente por respeito
Brigar por justiça e por respeito
De algum antepassado da cor
Brigar, brigar, brigar

A carne mais barata do mercado é a carne negra
A carne mais barata do mercado é a carne negra
A carne mais barata do mercado é a carne negra
A carne mais barata do mercado é a carne negra
A carne mais barata do mercado é a carne negra

Qual o contexto histórico da música A Carne?

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Qual o contexto histórico da música A Carne?
Essa frase faz parte da música “Carne”, composição de Marcelo Yuca, Seu Jorge e Ulisses Cappelletti, muito conhecida pela interpretação de Elza Soares.

Ao ler apenas o título do artigo, muitos pensarão: lá vem mais “mimimi” (nova forma de desqualificar o sofrimento do outro).  Portanto, seguem dados e números oficiais que confirmam algumas frases contidas na música e, se ainda assim houver dúvidas sobre a dimensão do racismo no Brasil, procure saber quem mais está morrendo por Covid nesse momento.

Que vai de graça pro presídio…

No Brasil a limpeza social acontece de várias formas. Uma delas ocorre pelo sistema judiciário, onde se condena mais e com penas mais severas à população negra em comparação aos brancos. Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2020, das 748.009 pessoas privadas de liberdade em 2019, 66% eram negras e 32,3 brancas e estes números estão aumentando, principalmente no números de pessoas negras. Diversos estudos apontam que a origem desse maior números negros vão deste o não acesso a políticas públicas como educação, emprego e renda, moradia, cultura, esporte até a impossibilidade de contratar um advogado, por exemplo, para se defender.  Dito isso, fica explícito que o direito à uma defesa ampla e justa tem cor e renda no Brasil.

E para debaixo do plástico…

Se os negros e negras são os que mais sofrem com o encarceramento e recebem as penas mais severas, entre os mortos esse perfil não muda. Ainda segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2020 nas mortes que ocorrem numa intervenção policial, as balas que não são perdidas, encontram mais corpos negros e cada vez mais de crianças negras, para um grupo de 100 mil habitantes há 4,2 mais chance de morrer e de um branco é em torno de 1,5 chances de morrer. Assim como morrem mais negros nas abordagens policiais, nas mortes de policias, apesar de haver maior número de policiais brancos, são os negros que também morrem mais (Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2020). Por fim, as mulheres sofrem de todas formas (raça, gênero e vulnerabilidade socioeconômica). Em 2019, dos feminicídios registrados 66,6% eram negras, mortas por serem mulheres, mulheres negras.

 Que vai de graça pro subemprego

Do não acesso a uma educação de qualidade, aos que não conseguem seguir na escola em virtude da pobreza, da necessidade de ajudar a família, do racismo institucional arraigado também na escola, a desigualdade social no Brasil é bem diferente entre negros e brancos. Segundo o IBGE no Relatório “Desigualdades sociais por cor ou raça no Brasil” em 2018 em todas as categorias do mercado de trabalho (desocupadas ou subutilizada) a população negra e parda parda formam o maior grupo. E não pense que o nível educacional altera muito este percentual, em 2018 uma pessoa negra formada na universidade ganhava 45% menos que uma pessoa branca também formada. A maior diferente salarial está entre a mulher negra e um homem branco, ela recebia em 2018 menos da metade do salário de um homem branco.

E o vingador é lento. Mas muito bem intencionado

Quando a escravidão de pessoas negras deixou de ser lei no Brasil há pouco tempo atrás, essa grande massa de pessoas foram deixadas à mingua pelo Estado. Para termos uma ideia, até o fim da escravidão o acesso à terra era livre pois o trabalho era realizado por trabalhadores cativos. Porém, no momento em que esses trabalhadores se tornaram “livre” o acesso à terra passou a ser cobrada, retirando assim qualquer possibilidade de moradia e trabalho para quem sempre se sustentou nela. Para os recém libertos não foi dado nada, nem terra, nem trabalho…. Nenhum direito. A eles coube a periferia, os subempregos, a violência e a morte, da mesma forma até hoje.

Esperando o que mulheres do meu país. As matriarcas. Vamos à luta, vamos à luta
Precisamos de liberdade, paz, paz

E para quem ainda não pesquisou sobre qual grupo está mais morrendo em virtude da Covid 19, respondemos, a população negra segundo a Associação Brasileira de Saúde Coletiva – ABRASCO, a mais vulnerável, a que mais precisa do Estado, a que está em maior número na linha de frente, que não tem possiblidade do trabalho remoto, que vivem sem saneamento, água tratada. É preciso que as pessoas que fazem o Estado se movimentar percebam que são políticas públicas diferenciadas, considerando esse abismo de desigualdades, que promoverão mudanças, garantindo melhor condição e qualidade de vida a todas e todos.

Lucineia Soares. Economista, Mestra em Política Social e Doutora em Sociologia

Analista econômica, social e política de Mato Grosso.

O que a música a carne retrata?

"A Carne" explora o tema do racismo e da estrutura social brasileira, dizendo, de uma maneira crítica, que o negro é menos importante diante da sociedade brasileira.

O que significa dizer que a carne mais barata do mercado é a carne negra?

A extraordinária Elza Soares, que nos deixou recentemente, escreveu seu nome na história da MPB com muitas obras, dentre elas A Carne, um verdadeiro grito social que no seu refrão “A carne mais barata do mercado é a carne negra” retrata a realidade das pessoas negras no Brasil e até no mundo.

Qual o motivo para a composição dessa canção a carne?

Resposta: É sobre o racismo estrutural e impregnado no "senso crítico" das pessoas que cometem esse tipo de agressão/preconceito, sendo intencional ou não. Além de expor sobre as lutas diárias da comunidade negra em busca de respeito, direitos básicos e espaço na sociedade.

Qual é a intenção da letra ao afirmar que a carne mais barata do mercado é a carne negra?

O Brechando acompanhou o protesto de perto e perguntamos: “Por que a carne mais barata do mercado é a carne negra?”, em alusão à uma música composta por Seu Jorge, que questiona o aumento dos assassinatos aos negros em comparação aos brancos.