Quando ocorreu a primeira participação de mulheres na história dos Jogos Olímpicos?

Quando ocorreu a primeira participação de mulheres na história dos Jogos Olímpicos?
Foto: Reprodução/Instituto Reação

Se hoje a participação das mulheres nas Olimpíadas é algo comum, é porque houve muita luta e esforço para que esse espaço fosse conquistado. Nascido na Grécia Antiga, os Jogos Olímpicos não permitiam nem mesmo a presença de público feminino. Atualmente, as mulheres estão presentes em todas as modalidades e, em 2021, na edição de Tóquio, o percentual da participação feminina atingiu um número recorde de 49%, segundo dados publicados pelo COI (Comitê Olímpico Internacional).

A conquista do direito de competir

Em 1896, após a 1ª Olimpíada da Era Moderna, ocorreu um protesto feito pela atleta Stamati Revithi. Um dia depois da corrida oficial masculina, ela realizou todo o percurso da maratona em resposta à proibição das mulheres nas modalidades olímpicas. Já o primeiro registro da participação feminina nos Jogos Olímpicos aconteceu em 1900, em Paris. Com a presença limitada em provas de tênis e golfe – porque não tinham contato físico – as vencedoras não ganhavam medalhas, apenas certificados. Foi por isso que, em 1917, a francesa Alice Melliat fundou a FEFI (Federação Esportiva Feminina Internacional), que conquistou seu objetivo em 1936, quando as mulheres foram oficialmente incluídas como atletas olímpicas.

No Brasil, o Decreto-Lei 3199/41, assinado pelo presidente Getúlio Vargas, tornou ilegal que mulheres praticassem certas modalidades esportivas. O fim do decreto ocorreu oficialmente em 1979, mas apenas em 1983 a regulamentação foi feita. Assim, 38 anos se passaram para que as medalhas conquistadas por atletas brasileiras fossem entregues.

O gradual de porcentagem da participação feminina nos jogos cresceu durante os anos, principalmente no século XXI. Além disso, na edição de Londres, em 2012, as mulheres competiram em todas as modalidades e estavam presentes como participantes em todos os países, algo que não tinha acontecido em nenhuma outra Olimpíada.

Mulheres históricas

Maria Lenk é considerada a pioneira da natação moderna. A atleta foi a primeira brasileira e sul-americana a competir nos Jogos Olímpicos de 1932. Outro marco histórico feito pela nadadora se realizou quatro anos depois, quando foi a primeira mulher a utilizar o nado borboleta. Em 1964, Aída dos Santos, única mulher da delegação brasileira, superou a falta de uniforme, tênis e técnico e conquistou o quarto lugar inédito no salto em altura.
Também em 1964, Larissa Latynina, representante da União Soviética, tornou-se a mulher com mais medalhas na história dos Jogos Olímpicos. A ginasta subiu no pódio 18 vezes em três edições.

O primeiro pódio feminino do Brasil veio em 1996, com Sandra Pires e Jaqueline Silva, na categoria vôlei de praia. As atletas disputaram a medalha de ouro com mais duas brasileiras, Adriana Samuel e Mônica Rodrigues. A carioca Rafaela Silva foi a primeira atleta na história do judô brasileiro a alcançar o título de campeã mundial e olímpica. Seu feito aconteceu em 2016, nas Olimpíadas doRio de Janeiro.

A participação da mexicana Enriqueta Basilio marcou um momento histórico diferente dos demais nas Olimpíadas. A velocista foi a primeira mulher a acender a pira, na abertura dos Jogos do México, em 1968.

Igualdade nas Olimpíadas

Todo o esforço realizado por atletas femininas ao longo dos anos e a conquista do seu espaço no esporte vai desde os diversos pódios adquiridos até a importância da luta e seu impacto em todas as esferas sociais. Hoje, a participação percentual feminina é muito próxima à masculina, mas ainda assim o preconceito e a desigualdade no mundo esportivo persistem.

Christophe Dubi, diretor-executivo do COI, afirmou, em uma coletiva de imprensa na Argentina, que uma das principais metas é trabalhar na igualdade de gênero. Em 2024, na edição de Paris, a recomendação de um projeto feito pelo Comitê é que exista o mesmo número de vagas oferecidas para homens e mulheres e também a mesma quantidade de disputas por medalhas.


As Olimpíadas já acabaram, mas você já se perguntou como as mulheres conseguiram conquistar a marca de 48,8% de participação nos Jogos Olímpicos de Tóquio? Algo que deveria ser natural, ter mulheres no esporte, mas que na verdade foi uma grande luta para que elas conseguissem espaço neste evento.

A primeira edição dos Jogos em 1896 não teve nenhuma participação de mulheres; a edição de 1900, que ocorreu em Paris, teve 2,2% de mulheres. E essa participação de mulheres aconteceu em discordância à vontade de Pierre de Coubertin, criador do COI, que tinha uma frase conhecida sobre sua opinião em relação ao assunto: “É indecente ver mulheres torcendo-se no exercício físico do esporte”. (PINHEIRO, 2020, online).

A participação e a aceitação de mulheres no esporte é um fato recente. A incorporação das mulheres nos Jogos Olímpicos aconteceu gradualmente como consequência de uma luta feita por elas próprias. Isso se principiou a partir do aumento da conscientização e do avanço de um papel mais ativo que elas começaram a efetuar na segunda metade do século XIX e ao longo do século XX (MIRAGAYA, 2007).

Nos tempos da Grécia Antiga, a justificativa para a proibição das mulheres nas Olimpíadas era a de que elas:

deveriam andar cobertas dos pés à cabeça para não serem vistas; logo, elas não podiam participar de competições esportivas porque elas teriam que se expor. Além disso, acreditava-se que o corpo feminino era condicionado para a maternidade (MIRAGAYA, 2007, p. 02).

A primeira Olimpíada da Antiguidade catalogada é de 776 a.C. Só homens podiam competir, mas determinadas mulheres podiam assistir. Estas deveriam ser jovens e solteiras em busca de marido (MIRAGAYA, 2007). Já as mulheres casadas, caso assistissem aos Jogos eram condenadas a pena de morte. Apenas Pitonisa de Demeter, que era casada, possuía autorização para assistir às Olimpíadas (LUZENFICHTER, 1996).

Na Antiguidade, as mulheres já foram feitas de prêmios para os vencedores das corridas de charrete ou biga. Ademais, apenas participaram de forma indireta como competidoras e somente em alguns jogos, como proprietárias de cavalos (MIRAGAYA, 2007).

As Olimpíadas da Antiguidade perduraram 12 séculos e foram dissolvidas em 193 pelo imperador de Roma Teodósio II (LUZENFICHTER, 1996). Em 1894, o barão Pierre de Coubertin propôs o renascimento dos Jogos Olímpicos e fundou o Comitê Olímpico Internacional (COI) para organizar e estruturar as regras das Olimpíadas (MIRAGAYA & DACOSTA, 2006). O Barão decidiu continuar a tradição da Antiguidade e deixou as mulheres fora das quadras e das arenas esportivas (MIRAGAYA, 2007). Quando questionado sobre essa decisão, Coubertin respondeu que “uma olimpíada com mulheres seria impraticável, desinteressante, inestética e imprópria” (TOZZE, 2021).

Uma mulher grega pobre quebrou protocolos em 1896. Stamata Revithi fez o mesmo trajeto de 42 km da maratona no dia seguinte. A última volta ela teve que fazer fora do estádio porque sua entrada foi proibida. Stamata terminou a “corrida menos de duas horas atrás do vencedor (em 4 horas e meia) e foi mais rápida que alguns de seus adversários masculinos” (MIRAGAYA, 2007, p. 05). Ela foi a primeira mulher a buscar inclusão nos Jogos Olímpicos.

As Olimpíadas de 1908, tiveram a presença de atletas femininas, convocadas para demonstrações de ginástica (MIRAGAYA & DACOSTA, 2006). Importante destacar que o patrocínio sempre foi um aspecto determinante para que as mulheres atletas conseguissem participar dos Jogos Olímpicos. Isso porque não são todas as mulheres que têm o apoio de patrocinadores e dos comitês locais. Em razão disso, torna-se complicado para muitas mulheres viajarem para os lugares de competição (MIRAGAYA, 2007).

Como o COI se negava a inserir o atletismo feminino nas Olimpíadas, a francesa Alice de Milliatt instituiu a Fédération Sportive Féminine Internationale (Federação Esportiva Feminina Internacional) e realizou os primeiros Jogos Olímpicos Femininos no ano de 1922 (DREVON, 2005 apud MIRAGAYA, 2007). Os Jogos aconteceram também em 1926, 1930 e 1934, intitulados como The Women’s World Games (Jogos Femininos Mundiais) (MIRAGAYA, 2007).

Os Jogos Femininos fizeram um grande sucesso entre o público e isso fez com que o COI fosse pressionado para incorporá-los às Olimpíadas. O que aconteceu depois de extensas negociações (MIRAGAYA & DACOSTA, 2006). Porém, devido a crença de que a mulher era frágil e um ser que procriava, ela foi excluída de algumas modalidades, como as de força. “E somente aos poucos as equipes femininas de esportes coletivos foram introduzidas nos Jogos Olímpicos” (MIRAGAYA, 2007, p. 08).

Após a inclusão das mulheres nos Jogos, começou o debate sobre quem iria controlar o esporte feminino. As mulheres foram novamente segregadas, devido ao pensamento de que posições de comando teriam que ser exercidas por homens. Assim, elas não puderam ficar à frente do controle da própria atuação no esporte internacional e nacional (MIRAGAYA, 2007).

Depois da Segunda Guerra Mundial e com a entrada da União Soviética e de outros países do bloco do Leste nos Jogos Olímpicos, as mulheres começaram a conquistar mais espaço nas Olimpíadas. Isso visto que os países novos participantes dos Jogos não discriminavam suas atletas; na verdade, elas recebiam investimentos sociais e materiais. Dessa forma, o número de mulheres nas Olimpíadas aumentou de 385 em 1948 para 518 em 1952 (SCHNEIDER, 1996 apud MIRAGAYA, 2007).

Portanto, o número de participação de mulheres nos Jogos Olímpicos tem aumentado. A primeira edição dos Jogos em 1896 não teve nenhuma participação delas, a edição de 1900, que ocorreu em Paris, teve 2,2% de mulheres (PINHEIRO, 2020). Em 2000, na edição de Sydney, as mulheres eram 38,3 % do total de competidores (MIRAGAYA, 2007). Assim, sua participação continuou crescendo. Em Londres, 2012, elas representavam 44,2%. No Rio, em 2016, 45,5%. E, em Tóquio, chegaram a ser 48,8%. A partir de Londres, as mulheres começaram a concorrer em todas as modalidades olímpicas (ZALCMAN, 2020). Abaixo, um gráfico ilustrando o aumento da participação das mulheres nos Jogos Olímpicos.

  • Quando ocorreu a primeira participação de mulheres na história dos Jogos Olímpicos?

    O gráfico mostra o histórico da proporção de mulheres e o crescimento da participação nas Olimpíadas (Gráfico: Pedro Catunda)

Yoshiro Mori, ex-presidente da Comissão Organizadora dos Jogos Olímpicos de Tóquio fez uma afirmação sexista, semelhante ao que dizia Pierre de Coubertin. Ele disse: “As reuniões levam muito tempo em conselhos com muitas mulheres”, alegando que mulheres falam muito. Yoshiro recebeu muitas críticas, pediu desculpas e disse que não iria renunciar, porém, uma semana depois ele renunciou ao cargo (TOZZE, 2021).

No lugar dele foi empossada uma presidenta: Seiko Hashimoto. Seiko afirmou que o comitê seria formado com 40% de mulheres. Ela conseguiu um total de 42%. Essa mudança no comitê demonstrou a importância dos jogos serem organizados com representatividade para que tenha igualdade no número de atletas (TOZZE, 2021).

A estimativa é que nas Olimpíadas de Paris, em 2024, as mulheres alcancem 50% do número de atletas participantes, alcançando assim a igualdade de gênero numérica (REDE DO ESPORTE, 2020). Esse marco numérico é uma grande conquista, assim como uma vitória para os direitos das mulheres, entretanto, sabe-se que só a conquista numérica não muda a cultura sexista que ainda as oprime. Por exemplo, a roupa que elas devem usar em algumas modalidades olímpicas, algumas falas preconceituosas que ainda são ditas e a falta de investimento e patrocínio que também sofrem. Apesar disso, a cada edição dos Jogos Olímpicos, as mulheres estão conquistando espaço e lutando por mais respeito e igualdade.

REFERÊNCIAS:

LUZENFICHTER, A. (1996). Women and Olympism. International Olympic Academy. Paper presented at the 36th International Session for Young Participants – IOA Report, Ancient Olympia.

MIRAGAYA, A. & DACOSTA, L. (2006). The Process of Inclusion of Women in the Olympic Games. Tese de doutorado, Universidade Gama Filho.

MIRAGAYA, Ana. As Mulheres Nos Jogos Olímpicos Participação E Inclusão Social. 2007 Disponível em: http://www.sportsinbrazil.com.br/capitulos/as_mulheres_jogos_olimpicos.pdf. Acesso em: 27 out. 2021.

PINHEIRO, Giovana. Persona non grata: o histórico das mulheres nas olimpíadas. o histórico das mulheres nas Olimpíadas. 2020. Disponível em: https://www.olimpiadatododia.com.br/curiosidades-olimpicas/250498-historico-mulheres-nas-olimpiadas/. Acesso em: 26 out. 2021.

REDE DO ESPORTE. Jogos Olímpicos terão igualdade de gênero na distribuição de vagas pela primeira vez. 2020. Disponível em: http://rededoesporte.gov.br/pt-br/noticias/paris-2024-tera-igualdade-de-genero-na-distribuicao-de-vagas-pela-primeira-vez-na-historia. Acesso em: 29 out. 2021.

TOZZE, Humberto. Os marcos da inclusão feminina nos Jogos Olímpicos ao longo dos anos. 2021. Disponível em: https://revistamarieclaire.globo.com/Mulheres-do-Mundo/noticia/2021/07/nem-sempre-olimpiadas-foram-lugar-de-mulher-aqui-os-marcos-da-inclusao-feminina-nos-jogos.html. Acesso em: 27 out. 2021.

ZALCMAN, Fernanda. Crescimento e igualdade: teremos uma rainha em tóquio. teremos uma rainha em Tóquio. 2020. Disponível em: https://www.olimpiadatododia.com.br/olimpiada/219270-crescimento-e-igualdade-teremos-uma-rainha-nos-jogos-olimpicos-toquio/. Acesso em: 26 nov. 2021.

Quando foi a primeira participação de mulheres nos Jogos Olímpicos?

A primeira participação de mulheres nos jogos olímpicos ocorreu em 1900, quatro anos depois da estreia do evento, quando apenas 22 mulheres foram admitidas num total de 997 atletas – o que significa que representavam 2,2% do grupo.

Em que ano e onde houve a primeira participação das mulheres nas Olimpíadas?

As Olimpíadas de 1932, em Los Angeles, não foi realizada a prova de 800 metros. Em 1936, em Berlim, as mulheres foram incluídas oficialmente como atletas olímpicas, assim a FEFI foi dissolvida, pois conquistou seu objetivo.

Quando as mulheres começaram a participar de esportes?

No ano de 1900 ela, acompanhada de mais 10 mulheres, foi até Paris para participar da primeira edição dos Jogos Olímpicos da era Moderna. Ela reivindicou junto ao COI (Comitê Olímpico Internacional) a permissão da entrada das mulheres em diversas modalidades, pedido esse que foi acatado de forma não oficial.