Revolução de 1932 liderada pela oligarquia paulista que exigia nova Constituição

O antagonismo surgido entre as for�as pol�ticas de S�o Paulo que haviam apoiado Get�lio Vargas na vitoriosa Revolu��o de 1930, que destituiu o presidente Washington Lu�s e acabou com a chamada Rep�blica Velha, foi o estopim inicial que culminou com o 9 de julho.

O poder em S�o Paulo inicialmente deveria estar nas m�os dos integrantes do Partido Democr�tico (PD), que desde 1926, quando foi criado, era ferrenha oposi��o ao Partido Republicano Paulista (PRP). O PRP era representante da velha oligarquia, que congregava os grandes latifundi�rios paulistas e estava no comando dos destinos do Estado bandeirante desde a proclama��o da Rep�blica, atrav�s da chamada elei��o de bico de pena, na qual s� os candidatos perrepistas sa�am vitoriosos.

A grave crise do caf� a partir de 1929, quando do crack da bolsa de valores de Nova York, atingiu a economia brasileira e em especial a paulista, que vivia essencialmente da produ��o cafeeira. O governo federal nada fez de concreto em defesa dos produtores, e muitos passaram a aderir � oposi��o, que apoiava a candidatura de Get�lio Vargas � presid�ncia da Rep�blica contra a do presidente do Estado de S�o Paulo, J�lio Prestes, que tinha o aval de Washington Lu�s e de todo o Partido Republicano em quase todo o pa�s.

Com a deposi��o de Washington Lu�s em 24/10/1930, Get�lio Vargas assumiu o poder como chefe do governo provis�rio, e prometeu elei��es limpas e uma nova Constitui��o para o pa�s. Em S�o Paulo, com a queda do PRP, deveria assumir o governo paulista o professor Francisco Morato, mas ele resolveu aguardar a chegada de Get�lio, que vinha com suas for�as militares do sul do Brasil, em dire��o ao Rio de Janeiro.

Mas, por diverg�ncias, assumiu o banqueiro Jos� Maria Whitaker, que permaneceria no posto por apenas duas semanas, deixando-o por ter sido nomeado ministro da Fazenda. Em seu lugar ficou o jornalista Pl�nio Barreto, diretor de O Estado de S. Paulo, que permaneceria por pouco tempo no cargo, somente 20 dias.

Descontentamentos na vida paulista

Com as disc�rdias pol�ticas surgidas e com o apoio dos integrantes da Legi�o de Outubro, entidade que congregava a corrente tenentista - fundada pelo general Miguel Costa, famoso por integrar a coluna que levou seu nome e a de Lu�s Carlos Prestes nos anos 1920 -, Get�lio acabou nomeando o capit�o Jo�o Alberto Lins de Barros, natural de Pernambuco e pessoa totalmente estranha � pol�tica paulista.

Sua atua��o � frente do governo de S�o Paulo causou s�rios problemas e descontentamentos na vida paulista. Ele aguentou no cargo por exatos nove meses, quando foi exonerado por Vargas, que nomeou para o seu lugar o desembargador do Tribunal de Justi�a paulista Laudo Ferreira de Camargo, que n�o tinha nenhuma experi�ncia pol�tica. Mas a intromiss�o indevida do governo federal na escolha de nomes de seu secretariado o levou � ren�ncia do posto tr�s meses e meio depois de ter assumido.

Para o seu lugar o indicado foi o coronel positivista Manuel Rabelo, que contava com o apoio do comandante da 2� Regi�o Militar, sediada em S�o Paulo, general Pedro Aur�lio de G�es Monteiro, e do pr�prio Miguel Costa, que comandava a mil�cia paulista. Rabelo permaneceria tamb�m menos de quatro meses no cargo.

Finalmente, em 7/3/1932, Get�lio Vargas resolveu nomear um novo interventor federal em S�o Paulo. O escolhido foi o ex-ministro da Agricultura do governo Hermes da Fonseca e embaixador aposentado, o paulista Pedro de Toledo, de 71 anos de idade, que se encontrava afastado de qualquer atividade pol�tica e administrativa h� v�rios anos.

Por n�o ter v�nculos pol�ticos com nenhuma das fac��es, sua escolha tamb�m n�o agradou as v�rias correntes partid�rias paulistas. Antes de sua posse, no dia do anivers�rio da cidade de S�o Paulo, em 25/1/1932, houve na pra�a da S� um gigantesco com�cio no qual uma multid�o, com in�meras faixas, clamava por uma Constituinte e a volta da democracia no Brasil.

23 de maio e o MMDC

As diverg�ncias pol�ticas em S�o Paulo continuaram no m�s de maio. Quando da mudan�a do secretariado estadual, o ministro da Fazenda, Oswaldo Aranha, foi enviado a S�o Paulo como emiss�rio de Vargas, e sua presen�a na capital foi tida como inger�ncia no governo paulista.

Um com�cio de protesto foi organizado na pra�a do Patriarca, em 23/51932, que foi seguido por uma passeata pelas ruas de S�o Paulo. Um grave incidente ocorrido na porta do comando da For�a P�blica, no qual sa�ram feridos v�rios manifestantes, provocou uma revolta entre os participantes, que passaram a atacar jornais governistas.

N�o satisfeitos, os populares resolveram atacar a sede do Partido Popular Paulista (PPP), a antiga Legi�o Revolucion�ria de S�o Paulo, que apoiava o governo de Get�lio Vargas, localizada perto da pra�a da Rep�blica. Em altos brados, os manifestantes, alguns armados, tentaram invadir o pr�dio, inclusive ateando fogo no hall do edif�cio. O Corpo de Bombeiros, chamado para debelar as chamas, foi recebido com hostilidade e obrigado a retornar ao quartel. Os que se encontravam no pr�dio, sentindo-se amea�ados, reagiram a bala.

O confronto na pra�a da Rep�blica, al�m de feridos, resultou tamb�m na morte a tiros de M�rio Martins de Almeida (fazendeiro na cidade de Sert�ozinho, 31 anos), Euclydes Bueno Miragaia (auxiliar de cart�rio em S�o Paulo, 21 anos), Dr�uzio Marcondes de Souza (ajudante de farm�cia na capital, de apenas 14 anos) e Ant�nio Am�rico de Camargo Andrade (comerci�rio em S�o Paulo, 30 anos).

Com as siglas de seus nomes formou-se o MMDC, uma sociedade secreta, organizada no dia 24/5. Em 10/8/1932, pelo Decreto 5627-A, foi oficializada pelo governo estadual. Posteriormente, esse tiroteio faria mais uma v�tima: Orlando Oliveira Alvarenga (escrevente, 32 anos), tamb�m baleado em 23/5 e que em consequ�ncia dos ferimentos morreria no dia 12/8.

Vargas, preocupado com a grave crise em S�o Paulo, nomeou como comandante da 2� Regi�o Militar o coronel Manoel Rabelo, e determinou o envio de tropas do Ex�rcito para a capital paulista.

A epopeia do 9 de julho

O 9 de julho de 1932, um s�bado, foi uma noite fria de inverno. A capital paulista ainda n�o tinha completado o seu primeiro milh�o de habitantes " o que iria ocorrer alguns meses depois, quando da virada para 1933. A cidade vivia uma noite calma; a movimenta��o era, como sempre, nos cinemas, teatros e caf�s.

Depois das dez horas da noite, grupos de homens se dirigiram para a regi�o do bairro da Luz, onde se localiza o quartel da ent�o For�a P�blica do Estado (hoje Pol�cia Militar). Na Faculdade de Direito do largo de S�o Francisco, apesar de ser um fim de semana, se concentravam v�rios estudantes.

Por volta das 23 horas, tr�s caminh�es da prefeitura de S�o Paulo chegavam ao pr�dio da velha academia, com uma carga inusitada " armamento, que foi distribu�do rapidamente entre os jovens acad�micos e populares que l� estavam, que logo ap�s come�aram a circular pelas ruas do centro.

Uma das primeiras atitudes desses civis foi ocupar os pr�dios das tr�s emissoras de r�dio existentes na capital, a Educadora Paulista (PRA-E), a Cruzeiro do Sul (PRA-O) e a Record (PRA-R). Pelo microfone da r�dio Record, a voz vibrante do locutor C�sar Ladeira se fez ouvir em todo o pa�s, e a marcha "Paris Belfort", do franc�s Antonin-Xavier Farigaud, tornou-se o hino oficial da Revolu��o.

Concomitantemente, tropas regulares armadas com fuzis eram vistas sendo transportadas por caminh�es por diversas vias da cidade. Aqueles que retornavam para suas resid�ncias se assustavam com aquela movimenta��o militar. Por volta da meia-noite a mil�cia paulista ocupou o imponente edif�cio dos Correios e Tel�grafos, localizado na esquina da avenida S�o Jo�o com o vale do Anhangaba�, e logo depois a sede da Companhia Telef�nica.

A maior movimenta��o era na sede da 2� Regi�o Militar, localizada na ch�cara do Carvalho, antiga propriedade da fam�lia Silva Prado, afastada do centro da cidade. O comandante da 2� RM, general Jos� Lu�s Pereira de Vasconcellos, rec�m-nomeado para o posto, estava a caminho de S�o Paulo, vindo de trem do Rio de Janeiro, e tomou conhecimento das ocorr�ncias na capital quando se encontrava na cidade de Lorena, no vale do Para�ba.

Na aus�ncia do comandante, assumiu as tropas federais em S�o Paulo, designado pelo general Isidoro Dias Lopes, o coronel Euclydes Figueiredo (pai do ex-presidente da Rep�blica Jo�o Baptista Figueiredo).

Um comunicado do comando da 2� Regi�o Militar foi transmitindo por interm�dio das esta��es de r�dio: "De acordo com a frente �nica paulista e com a un�nime aspira��o do povo de S�o Paulo e por determina��o do general Isidoro Dias Lopes, o coronel Euclydes Figueiredo acaba de assumir o comando da 2� Regi�o Militar, tendo como chefe do Estado-Maior o coronel Palim�rcio de Rezende. A oficialidade da regi�o assistiu incorporada, no quartel general, a posse do coronel, nada havendo ocorrido de anormal. Reina em toda a cidade intenso j�bilo popular e o povo se dirige em massa aos quart�is, pedindo armas para a defesa de S�o Paulo".

Proclama��o de Quita�na

A ades�o das guarni��es militares do Ex�rcito, inclusive do 4� Regimento de Infantaria, sediado no quartel de Quita�na, no ent�o distante bairro de Osasco, com seu poderoso armamento pesado de canh�es, foi total na madrugada do dia 10/7. Ainda na noite do dia 9/7 foi divulgada uma proclama��o, assinada pelo general Isidoro Dias Lopes e pelo coronel Euclydes Figueiredo.

"Ao povo paulista: Neste momento, assumimos as supremas responsabilidades do comando das for�as revolucion�rias, empenhadas na luta pela imediata constitucionaliza��o do pa�s. Para que nos seja dado desempenhar, com efici�ncia, a delicada miss�o de que nos investiu o ilustre governo paulista, lan�amos um veemente apelo ao povo de S�o Paulo, para que nos secunde na a��o primacial de manter a mais perfeita ordem e disciplina em todo o Estado, abstendo-se e impedindo a pr�tica de qualquer ato atentat�rio dos direitos dos cidad�os, seja qual for o cr�dito pol�tico que professem. No decurso dos acontecimentos que se seguir�o, n�o encontrar� a popula��o melhor maneira de colaborar para a grande causa que nos congrega do que dando na delicada hora que o pa�s atravessa mais um exemplo de ordem, serenidade e disciplina caracter�sticas fundamentais da nobre gente de S�o Paulo."

Reunido no pal�cio dos Campos El�seos desde a noite anterior com seu secretariado, o interventor federal Pedro de Toledo encaminhou telegrama ao chefe do governo provis�rio, presidente Get�lio Vargas, apresentando seu pedido de ren�ncia do cargo. Com o apoio do Ex�rcito, da For�a P�blica e do povo, ficou decidido aclamar Pedro de Toledo como governador do Estado, em manifesta��o marcada para o dia 10/7, em frente ao largo do Pal�cio (P�tio do Col�gio), onde se localizava a sede do governo do Estado desde o tempo do Imp�rio.

Rea��o federal

No Rio de Janeiro, as not�cias chegaram ao amanhecer do domingo, dia 10/7. Get�lio Vargas, informado da verdadeira rebeli�o paulista, convocou uma reuni�o de emerg�ncia com todo o minist�rio no Pal�cio do Catete, sede do governo federal. O general Pedro Aur�lio de G�es Monteiro foi ent�o nomeado comandante das tropas governamentais que iriam combater os revoltosos.

Dentro do governo da Rep�blica a situa��o era confusa, com problemas em v�rias �reas. Get�lio tinha sido informado de que havia apenas 4.700 carabinas, mas no dia seguinte, para al�vio dos governistas, chegou nova informa��o dando conta de que as tropas federais dispunham de fato de 180 mil armas. Em seu di�rio, Get�lio Vargas lamentou a atitude e as trai��es, inclusive do interventor Pedro de Toledo, ao qual, indignado, o presidente qualificou de "a velha m�mia que exumei do esquecimento".

A data marcada para o in�cio do movimento seria o dia 14/7, data m�xima da Revolu��o Francesa. Mas a atitude do general Bertholdo Klinger, comandante da circunscri��o militar do Mato Grosso, ao enviar uma carta desaforada ao ministro da Guerra, general de divis�o Augusto Ign�cio Esp�rito Santo Cardoso (tio-av� do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso), precipitou os acontecimentos. Ao tomar conhecimento do teor da missiva, Klinger foi exonerado do comando e reformado administrativamente pelo governo.

Essa atabalhoada e intempestiva postura custaria muito caro para os revolucion�rios. O general Klinger se viu obrigado a deixar o comando e com isso n�o p�de contar com a ades�o de sua tropa � causa paulista, para desapontamento de todos. De avi�o, chegou sozinho � capital de S�o Paulo, mas mesmo assim assumiu o comando das tropas constitucionalistas e passou a orientar as opera��es militares em dire��o ao Rio, abandonando outros setores.

Guerra civil

Uma das primeiras medidas tomadas pelo governo federal foi determinar o bloqueio de todos os portos paulistas, inclusive o de Santos, com navios da Marinha de Guerra. Apesar da precipita��o da revolta, o governo federal teve tempo de organizar e receber ades�o de outros estados da Federa��o, alguns inicialmente comprometidos com os paulistas.

No domingo, dia 17/7, em companhia do ministro da Guerra e auxiliares de governo, das Casas Civil e Militar, Get�lio Vargas foi at� a zona de guerra na divisa dos estados do Rio de Janeiro e S�o Paulo, onde visitou as tropas em opera��es. Vargas tamb�m esteve no quartel general em Barra Mansa, onde o general G�es Monteiro e seu estado-maior informaram da situa��o e dos planos de a��o.

No dia seguinte, as tropas mineiras tomaram a cidade de Passa Quatro e o t�nel entre Rio de Janeiro e S�o Paulo, na linha da Estrada de Ferro Central do Brasil, abrindo um flanco para a cidade de Cruzeiro. No sul, as tropas legalistas ga�chas e paranaenses, sob o comando do general Waldomiro Lima, ocuparam Itarar� e no dia 24/7, Faxina (hoje Itapeva).

Na capital de S�o Paulo e em diversas cidades do interior a mobiliza��o foi total, com a ades�o da popula��o, que voluntariamente colaborou sem medir esfor�os. Nada menos que 200 mil homens se apresentaram para lutar, mas n�o havia armas para todos; somente perto de 30 mil puderam efetivamente ser aproveitados.

Maior movimenta��o militar

A mulher paulista participou ativamente, n�o s� costurando uniformes, como tamb�m nas cozinhas, em enfermarias, e na confec��o dos conhecidos capacetes de a�o. O Instituto de Pesquisas Tecnol�gicas (IPT) tamb�m ajudou efetivamente com o Movimento Constitucionalista, elaborando e fabricando armamentos, como a cria��o de tanques lan�a-chamas e at� do famoso trem blindado.

Este trem poderia ter tido um papel preponderante na Revolu��o se tivesse sido feito antes. Como elemento surpresa, poderia ter ido at� a ent�o capital federal levando tropas e depondo o governo federal, com apoio de militares que serviam em quart�is cariocas e eram solid�rios � causa paulista. Essa verdadeira guerra civil foi a maior movimenta��o militar havida em territ�rio brasileiro em toda a sua hist�ria.

No dia 23/7, em um quarto do Hotel La Plage, no Guaruj� (ent�o pertencente ao munic�pio de Santos), ap�s ter conhecimento de que avi�es estavam atacando posi��es em terra e no mar, o grande brasileiro Alberto Santos Dumont, deprimido, p�s termo a sua vida, deixando o pa�s de luto. As autoridades policiais de S�o Paulo acobertaram que o inventor havia cometido suic�dio; somente ap�s o fim da Revolu��o Constitucionalista � que foi autorizada a divulga��o dessa triste informa��o.

Mas a luta continuava. Os constitucionalistas invadiram nos primeiros dias do movimento as cidades mineiras de Guaxup�, Pouso Alegre e Tr�s Cora��es, que foram retomadas pelas tropas de Minas Gerais no dia 24/7. Por causa da demora na mobiliza��o e na ofensiva, as tropas revolucion�rias acabaram sendo obrigadas a agir somente na defensiva, e em poucos dias o territ�rio paulista foi cercado em todas as suas divisas.

O governo federal, com o apoio e solidariedade dos interventores dos outros Estados, recebeu notadamente do norte do pa�s milhares de soldados de tropas regulares, tanto do Ex�rcito como das pol�cias estaduais. Alguns estados, como o Rio Grande do Sul, mandaram volunt�rios para combater os revoltosos. A ofensiva das tropas federais conseguiu, em 27/7, atravessar o rio Para�ba e tomar a cidade de S�o Jos� do Barreiro, apreendendo material militar e fazendo in�meros prisioneiros, e tamb�m bateram os paulistas na serra da Mantiqueira e invadiram S�o Paulo pelo sul de Minas.

Avia��o militar

Os paulistas possu�am uma avia��o militar pertencente � For�a P�blica, baseada no Campo de Marte. Uma das proezas dos pilotos paulistas foi lan�ar sobre a cidade do Rio de Janeiro, para a surpresa da popula��o carioca e do pr�prio governo, panfletos no qual explicavam a raz�o da Revolu��o Constitucionalista. Estudantes na capital federal, em conluio com outros interessados, resolveram praticar atentados; as autoridades policiais, em repres�lia, realizaram v�rias pris�es.

Ainda n�o existia o Minist�rio da Aeron�utica, e a avia��o militar do governo central era constitu�da pela avia��o militar do Ex�rcito e outra da Marinha de Guerra. Os avi�es legalistas " conhecidos como vermelhinhos, em virtude de sua cor ", ap�s serem armados com bombas, atacaram diversos pontos do Estado de S�o Paulo. Um dos ataques foi, no dia 29/7, � usina hidroel�trica de Cubat�o, a Henry Borden, que fornecia energia el�trica para S�o Paulo.

A situa��o n�o era nada tranquila entre as hostes governamentais. Ao receber uma correspond�ncia de Get�lio Vargas, em 6/8, na qual informava as dificuldades de natureza pol�tico-militar, o general G�es Monteiro, sentindo-se desprestigiado e achando que faltava confian�a por parte do governo, pediu demiss�o do cargo de comandante das tropas legalistas. De pronto, o presidente negou o pedido.

No sul, as tropas do general Waldomiro Lima estavam em situa��o calamitosa, sendo atacadas por avi�es constitucionalistas, e n�o dispunham de armamentos pr�prios para combat�-los.

Em 9/8, Areias, no vale do Para�ba, foi ocupada, e Queluz foi cercada. A cidade de Cruzeiro foi a pr�xima visada pelas tropas governamentais, fazendo os revoltosos paulistas recuarem. No dia seguinte, as cidades de Queluz e Silveiras foram evacuadas, obrigando os constitucionalistas a formarem uma linha de resist�ncia em Cachoeira Paulista.

As tropas de S�o Paulo, na frente leste, bombardearam de suas linhas de defesa. Nesse mesmo dia 14/8, sigilosamente, um emiss�rio do general Klinger chegou ao Rio de Janeiro com uma carta ao ministro da Marinha, com uma proposta de armist�cio, no mesmo teor em que fora apresentada pelo ex-ministro da Justi�a Maur�cio Cardoso, que posteriormente foi recusada, mas ainda acrescentava a exig�ncia da sa�da de Vargas do poder. Essa correspond�ncia deixava patente as diverg�ncias com os civis paulistas e ainda desejava um entendimento entre os militares para um governo militar em S�o Paulo.

Uma grave preocupa��o de Get�lio Vargas foi com o governo franc�s que, apesar de ter recebido do governo brasileiro os valores referentes � compra de armamentos, protelava o envio dessa aquisi��o, sob a alega��o de fins humanit�rios. Dos EUA, tamb�m haviam sido comprados armamentos e avi�es, mas a �nica informa��o que o governo do Brasil tinha era que cinco avi�es haviam sido embarcados por via mar�tima para o Rio de Janeiro.

A paz

No dia 22/8, � travado o mais importante combate na regi�o sul, em Buri. Na capital federal, o general G�es Monteiro, em palestra com Vargas e com o ministro da Guerra, general Esp�rito Santo Cardoso, no Pal�cio do Catete, descreveu as defici�ncias da organiza��o, as falhas do Ex�rcito, a escassez de material e a situa��o d�bia do governo mineiro, cujas for�as policiais n�o queriam atacar o territ�rio paulista.

Em reuni�o ministerial na sede do governo, na noite de 25/8, foram discutidas e reiteradas as condi��es para a paz, j� apresentadas por Mauricio Cardoso e pelo ministro da Marinha, Prot�genes Guimar�es: 1) deposi��o das armas pelos rebeldes; 2) novo governo civil e paulista; 3) anistia; e 4) Constitui��o provis�ria at� que a futura Constituinte votasse a definitiva.

A situa��o do lado dos paulistas foi se complicando e, em 31/8, a cidade de Itapira foi tomada por tropas do governo federal vindas de Minas Gerais, grande n�mero soldados paulistas foi feito prisioneiro e apreendido todo o material b�lico. Uma semana depois foram ocupadas Mogi Mirim e Mogi Gua�u.

Em uma carta recebida pelo ministro da Marinha, o coronel Bras�lio Taborda, chefe da coluna sul das tropas paulistas, confessou tacitamente a derrota e "ofereceu" ao ministro a chefia do governo provis�rio no lugar de Get�lio...

Em Bel�m do Par�, em 6/9, quando da chegada dos prisioneiros do forte de �bidos, houve uma rebeli�o na capital, e no dia seguinte estourou um levante por parte da Pol�cia Civil paraense. Esses dois motins foram sufocados por tropas leais ao interventor, major Joaquim de Magalh�es Barata, e os envolvidos acabaram presos.

Entre os dias 10 e 11/8, Amparo foi tomada por tropas federais, e foi apertado o cerco a Silveiras e � zona do t�nel, no vale do Para�ba. Finalmente, o governo central recebeu dez toneladas de p�lvora e trotil h� muito tempo encomendados e angustiosamente aguardados. No dia seguinte, G�es Monteiro encaminhou a Get�lio um relat�rio no qual explanou sua ideia de reagrupamento das for�as e de aumento das tropas do Ex�rcito para 100 mil homens.

Mais cidades retomadas

No dia 15/8, as tropas federais ocuparam a cidade de Lorena e a f�brica de p�lvora de Piquete. As tropas constitucionalistas, ao recuar, destru�ram o que puderam, al�m de levar todos os g�neros aliment�cios dispon�veis. Quem sofreu foram os habitantes das zonas abandonadas, que ficaram sem recursos. A linha de defesa paulista ficou estabelecida na esta��o de Engenheiro Neiva, entre Lorena e Guaratinguet�.

Combates no Rio de Grande do Sul terminaram com a vit�ria das tropas leais aos governos federal e estadual. Foi preso Borges de Medeiros, ex-governador do Estado, que encabe�ava o movimento constitucionalista no Estado sulista.

Em Minas Gerais, o ex-presidente da Rep�blica Arthur Bernardes tamb�m foi detido, ap�s manifestar publicamente seu apoio aos paulistas. Os dois seriam transferidos para o Rio de Janeiro, ficando confinados na ilha do Rijo, no meio da ba�a da Guanabara.

Enquanto prosseguiam as conversa��es para o fim das hostilidades, no dia 29/9 chegava ao porto do Rio o navio alem�o General Os�rio, trazendo da Europa material b�lico para reequipar as tropas do governo federal. O cerco se fechava sobre S�o Paulo.

No dia 30/9, as tropas da For�a P�blica de S�o Paulo se recusaram a obedecer �s ordens do general Klinger. Este, sabedor da impossibilidade de continuar a luta, tentou mais uma vez um acordo para a cessa��o da rebeli�o. O comando da pol�cia paulista, em entendimento direto com o general G�es Monteiro, apresentou ent�o uma f�rmula de paz, que foi aceita � revelia dos l�deres do movimento revolucion�rio.

T�rmino das hostilidades

Finalmente, no dia 2/10/1932, terminou a Revolu��o Constitucionalista, quando foi deposto o governo do Estado, chefiado por Pedro de Toledo, pelo coronel Herculano de Carvalho, comandante geral da pol�cia paulista, que assumiu o poder interinamente at� a chegada das autoridades federais.

Com o fim do conflito, Get�lio Vargas nomeou como comandante da 2� Regi�o Militar o general Waldomiro Lima, que assumiu tamb�m o cargo de governador militar em S�o Paulo. Todos os 77 cabe�as da Revolu��o Constitucionalista foram encaminhados presos para o Rio de Janeiro, e posteriormente exilados na Europa. O n�mero de v�timas do conflito at� hoje � uma inc�gnita, mas calcula-se que perto de 2 mil homens morreram no conflito, al�m de milhares de feridos, inclusive civis.

A situa��o econ�mica do Brasil, que j� n�o era boa, desde a crise da Bolsa de Valores de Nova York, em 1929, complicou-se gravemente quando a Uni�o foi obrigada a gastar uma vultosa verba que n�o tinha na compra de armamentos e com o deslocamento e a manuten��o das tropas federais. O d�ficit no or�amento foi de mais de um trilh�o de contos de r�is, o maior da hist�ria do Brasil at� ent�o. Somente quando da entrada do Brasil na Segunda Grande Guerra, em 1942, � que essa cifra foi ultrapassada.

Apesar de ter perdido a luta por falta de armas e de estrutura, os paulistas acabaram vitoriosos politicamente, j� que poucos meses depois, em 3/5/1933, foram realizadas as elei��es para a Constituinte, que elaborou uma nova Carta Magna para o Brasil. Com a sua promulga��o, em 16/7/1934, houve o retorno da t�o esperada democracia.

*Ant�nio S�rgio Ribeiro, advogado e pesquisador, � diretor do Departamento de Documenta��o e Informa��o da Assembleia Legislativa do Estado de S�o Paulo.

Qual foi a Revolução de 1932 liderada pela oligarquia paulista que exigia nova Constituição?

A Revolução Constitucionalista foi um movimento armado iniciado em 9 de julho de 1932, liderado pelo estado de São Paulo, que defendia uma nova Constituição para o Brasil e atacava o autoritarismo do Governo Provisório de Getúlio Vargas.

Qual foi a exigências dos paulista durante a Revolução Constitucionalista de 1932?

Resumo da Revolução Constitucionalista de 1932 Os insurgentes exigiam do Governo Provisório a elaboração de uma nova Constituição e a convocação de eleições para presidente.

Quais foram os resultados da Revolução de 1932?

O resultado foi um levante militar que derrubou Washington Luís da presidência, impediu a posse de Júlio Prestes e levou Getúlio Vargas à presidência. A posse de Vargas se deu em um Governo Provisório que anulou a Constituição de 1891 e deu início a uma série de transformações no país.

Quais os objetivos da Revolução Constitucional de 1932?

A Revolução Constitucionalista de 1932 foi uma revolta ocorrida no estado de São Paulo contra o governo de Getúlio Vargas. As elites paulistas buscavam reconquistar o comando político que haviam perdido com a Revolução de 1930, pediam a convocação de eleições e a promulgação de uma Constituição.