Contribuição da Revolução Industrial para o surgimento da Sociologia

Por que uma ciência da sociedade?

A Sociologia surgiu na Europa no século XIX, a partir de uma intensa tentativa dos indivíduos em interpretar a sociedade contemporânea que passava por intensas mudanças sociais. Todas as transformações ocorridas no século XIX foram herdeiras de importantes revoluções ocorridas no século anterior. Daí podemos dizer que o Iluminismo, a Revolução Francesa e a Revolução Industrial, cada um no seu quadrado, foram importantes fatores históricos que impulsionaram representa a mudança de um campo da experiência humana.

O Iluminismo, por exemplo, foi um movimento filosófico e representou a mudança no campo das ideias, da mentalidade. Como seu próprio nome nos indica, o propósito do pensamento iluminista era iluminar a realidade, trazer a luz. No entanto, que luz era essa? A luz da razão. O projeto comum dos iluministas era racionalizar todos os aspectos da existência humana, do conhecimento à vida social, da política às práticas religiosas.

Já a Revolução Francesa está mais relacionada com transformações políticas, certamente. Com efeito, o que os revolucionários promoveram não foi apenas uma mudança de governo, a passagem de um rei para outro. O que mudou foi a própria maneira como se enxergava o poder. Mais do que o ocupante de um cargo, foi o próprio modo de fazer política que se transformou. Para o bem ou para o mal, o fim do absolutismo representou o início de uma nova era na história da política, na qual esta passou a se ver cada vez mais separada da religião e na qual se tornou predominante acreditar que o fundamento da autoridade do Estado está na vontade do povo.

A Revolução Industrial foi o evento histórico mais importante do século XVIII europeu, a industrialização mudou radicalmente a economia e consolidou definitivamente o capitalismo como sistema econômico reinante. Pela primeira vez na história a produção econômica deixava de ser manual e artesanal, passando a ser baseada no uso de máquinas. Assim, naturalmente, não apenas a produção se tornou muito maior e mais rápida, como a própria tecnologia passou a ter uma evolução muito mais intensa, que acompanhamos até hoje. A própria organização social se modificou em função da indústria. Afinal, as fábricas funcionavam nas cidades e para lá se dirigiram em massa os trabalhadores, ocasionando um grande inchaço populacional.

Consolidação da Sociologia

Em poucas décadas, a Europa mudou radicalmente suas ideias, seu modo de fazer política e sua vida econômica. Era uma sociedade completamente diferente daquela que existia anteriormente. Diante de um aparente caos tão generalizado, era natural que alguns homens procurassem construir uma ciência da sociedade. Sua pergunta era: “Afinal, o que está acontecendo aqui? O que houve com nossa sociedade?”. A sociologia surgiu no século XIX porque nunca uma sociedade havia passado por mudanças tão intensas. Essas mudanças exigiam uma explicação. Não à toa, alguns autores dizem que a sociologia é a “ciência da crise”. De fato, ela é filha da crise da sociedade europeia.

Vale lembrar da importância que teve para o surgimento da Sociologia, já no século XIX, a corrente de pensamento criada por Augusto Comte (1798 - 1857) denominada de Positivismo.  Em linhas gerais, essa corrente de pensamento defendia que a ciência era o único conhecimento útil a ser buscado pela humanidade, ou seja, que o caminho do progresso dependia necessariamente da aplicação da metodologia científica.  Nesse sentido, os fenômenos sociais também deveriam ser analisados, segundo Comte, a partir dos métodos rigorosos da ciência.  Assim, teve surgimento a Sociologia com estudo científico acerca das sociedades.

Origens e surgimento da Sociologia

Contribuição da Revolução Industrial para o surgimento da Sociologia



Origens da Sociologia

Por Cristiano das Neves Bodart

 “O mundo Moderno depende da Sociologia para ser explicado, para compreender-se. Talvez se possa dizer que sem ela esse mundo seria  mais confuso, incógnito” (IANNI, 1989, p.1).

A sociologia origina-se num período de “dupla revolução” – a Francesa e a Industrial (HOBSBAWM, 1977, p.15). As condições criadas por essas revoluções, mais a centralização da razão, despertaram diversos estudiosos para a necessidade de explicar a realidade social de forma racional e científica.

Havia, no século XIX, uma demanda por explicações científicas – as explicações teleológicas não mais eram suficientes para explicar a realidade social; situação desencadeada pelo iluminismo. Uma  desmistificação do mundo estava em curso, a as questões sociais não ficariam de fora dessa onda.

A sociologia é fruto do mundo moderno. Surge no século XIX, “época em que já se revelam mais abertamente as forças sociais, as configurações de vida, as originalidades e os impasses da sociedade civil, urbano-industrial, burguesa ou capitalista (IANNI, 1989, p.1).

Para Ianni (1989, p.1), nessa época os “personagens” mais típicos do mundo moderno estavam ganhando suas características, dentre eles destacamos as classes sociais (burguesa e proletária), os movimentos sociais, os partidos políticos, o mercado capitalista, a tecnologia, a vida urbana, o lucro, a revolução e contra-revolução, o estado e a nação. Esses “personagens” estiveram presentes nas primeiras análises sociológicas.  Karl Marx, por exemplo, debruça-se, dentre outros objetos, sobre as novas relações sociais entre as duas classes e sobre o capitalismo. Max Weber, dedicou-se a muitos temas, dentre eles destacamos o estado e a burocracia. Simmel, preocupou-se, dentro outras coisas, em estudar a vida urbana.

É importante compreender que, embora o século XIX seja identificado como período de origem da Sociologia, notaremos prenúncios ainda em períodos anteriores, tais como nos estudos de Rousseau, Hobbes, Hegel, Ricardo, Adam Smith, Condorcet e Montesquieu. Embora haja uma multiplicidade de correntes nos trabalhos dos referidos estudiosos, alguns até contraditórios uns aos outros, foi o conjunto de tais ideias que criaram condições epistemológicas para o desenvolvimento da Sociologia (IANNI, 1989, p. 1-2), a qual também apresenta, desde sua origem, uma multiplicidade de perspectiva da realidade estudada.

A partir das contribuições de filósofos anteriores ao século XIX, o a razão passou a ser vista como capaz de explicar os fatos e os dilemas da sociedade que se desenvolvia. A matéria prima para o desenvolvimento da Sociologia foram as condições de vida propiciadas pela Revolução Industrial e Francesa. Essas duas situações foram de extrema importância para o desenvolvimento dessa ciência social.

Estava em curso o desenvolvimento da sociedade nacional, urbano-industrial, burguesa, de classes. Com a dissolução, lenta ou rápida, da comunidade feudal, emergia a sociedade civil. Essa ampla transformação concretiza-se em processos sociais de âmbito estrutural, tais como: “ — industrialização, urbanização, divisão do trabalho social, secularização da cultura e do comportamento, individuação, pauperismo, lumpenização e outros. Esse é o palco do trabalhador livre, formado com a sociedade moderna (IANNI, 1989, p.4).

É nesse vasto cenário que se desenvolve os primeiros estudos sociológicos. As primeiras tentativas de estudar a realidade social de forma científica. Dentre os estudiosos desse contexto destacamos Saint-Simon, Karl Marx, Tocqueville, Comte, Burke, Spencer, Feuerbach. Posterior a esses estudiosos, o empenho, na maioria dos estudos, continuou sendo em compreender e explicar as transformações causadas pela modernidade. Dentre esse esforço destacamos Durkheim, Mauss, Weber, Simmel, Tönnies,  Mannheim, Myrdal, Merton, Parsons, Lazarsfeld, Bourdieu, Nisbet, Gouldner, Barrington Moore Jr., Schutz, Adorno, Giddens e outros.

Auguste Comte foi o primeiro a utilizar-se do termo “Sociologia” (antes disso ele usava o termo “Física Social”), porém esta se consagrou definitivamente como ciência social após a publicação da obra “As regras do método sociológico”, de Emile Durhkeim, em 1895 e, a sua definição do objeto da Sociologia como “coisa”. Trata-se do trabalho mais importante de Durkheim, “pois estabeleceu as regras que devem ser seguidas na análise dos fenômeno” (LAKATOS; MARCONI, 2010; COSTA, 2005, p. 72).

Uma vez reconhecida como ciência, a Sociologia não se cristalizou em sua abordagem, método, técnica ou objeto. Na verdade, “a sociologia guarda a peculiaridade de pensar-se continuamente, de par-em-par com a reflexão sobre a realidade social” (IANNI, 1989, p. 2). Max Weber, por exemplo, ao contrário de Durkheim apontou que o objeto de estudo das ciências Sociais deveria ser a “Ação Social” e não os “Fatos Sociais” de Durkheim. As definições do objeto da sociologia não pararam por ai. Podemos citar autores contemporâneos, tais como Giddens que aponta que o objeto da Sociologia é, principalmente, a sociedade moderna industrial (GIDDENS, 1984, p. 16). Florestan Fernandes, defendeu de forma mais ampla, que a Sociologia deveria estudar os “Fenômenos Sociais”, cujo conceito estava relacionado “a atividade (ou comportamento) cuja manifestação, generalidade e repetição dependem, indireta ou diretamente, de condições externas ou internas dos organismos” (FERNANDES, 1970, p.19).

A Sociologia apresenta-se, desde sua origem, como uma ciência que ao mesmo tempo que pensa a sociedade, reflete-se sobre a si mesma, desconstruindo-se e reconstruindo-se ao mesmo tempo. Isso, contrariamente do que possa parecer, torna essa ciência cada vez mais rica e forte para pensar a realidade social.

Referências Bibliográficas

COSTA, Cristina. Sociologia: Introdução à ciência da sociedade. 3ª ed. São Paulo: Moderna, 2005.

LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Sociologia Geral. 7ª ed. São Paulo: Atlas, 2010.

FERNANDES, Florestan. O que é a sociologia? [1959]. In: _____. Elementos de sociologia teórica. São Paulo/Rio de Janeiro: Edusp/Companhia Editora Nacional, 1970. pp. 19-32.

GIDDENS, Anthony. Sociologia: questões e problemas. In: _____. Sociologia: uma breve porém crítica introdução. Trad. A. Oliva e L. A. Cerqueira. Rio de Janeiro: Zahar, 1984 [orig. ingl. 1982]. pp. 9-27.

IANNI, Octavio. A sociologia e o mundo moderno. Tempo Social, São Paulov. 1, n. 1, pp. 7- 27, 1989.

Como citar esse texto:

BODART, Cristiano das Neves. Blog Café com Sociologia. 2013. Disponível em:. Acesso em: dia mês ano.

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Como surgiu a sociologia na Revolução Industrial?

A Sociologia surgiu na Europa no século XIX, a partir de uma intensa tentativa dos indivíduos em interpretar a sociedade contemporânea que passava por intensas mudanças sociais. Todas as transformações ocorridas no século XIX foram herdeiras de importantes revoluções ocorridas no século anterior.

O que a Revolução Industrial significou para o pensamento da sociologia?

Resposta verificada por especialistas. A Revolução Industrial tornou mais complexas as relações sociais, tendo sido uma das principais "causas" do desenvolvimento da sociologia enquanto ciência na Europa no Século XIX. Dito de outro modo, ela significou a "racionalização" do pensamento social.

Como podemos relacionar a Revolução Industrial e o surgimento da sociologia como ciência?

Resposta: A ideia de uma ciência voltada para o estudo das sociedades e os fenômenos sociais surgiu inicialmente com Augusto Comte nas suas observações dos novos fenômenos sociais que surgiam em meio à Revolução Industrial, estabelecendo-se mais tarde propriamente como “Sociologia” com os trabalhos de Émile Durkheim.

Qual a importância da Revolução Industrial para a sociedade?

Foi um acontecimento extremamente importante para a humanidade, pois mudou o processo produtivo, ou seja, os produtos deixaram de ser manufaturados e passaram a ser maquino faturados, o permitiu uma produção em massa, permitindo assim colocar mais e mais produtos no mercado e a preços muito mais atrativos.