Quais as características do período que ficou conhecido como capitalismo comercial?

A palavra merkantilismus foi concebida e usada pela primeira vez por economistas alemães, no final do século 19. Uma observação um pouco mais atenta nos permite concluir que o termo mercantilismo foi aplicada a um conjunto de práticas já tidas como ultrapassadas.

A caracterização do mercantilismo como um "conjunto de práticas" demonstra a ausência de um plano pré-concebido para a política econômica dos países europeus que, entre os séculos 16 e 18, disputaram fatias do território americano para mantê-las na condição de colônias.

Durante esse período, na Europa, pensava-se a riqueza disponível no mundo como algo que não poderia ser ampliado e, portanto, os Estados absolutistas se empenhavam em assegurar para si a maior porção possível dessa riqueza supostamente limitada.

O ouro e a prata, circulantes na forma de moedas ou trancafiados nos cofres dos reis eram entendidos como sua tradução, daí a verdadeira febre de busca dos chamados metais preciosos principalmente no Novo Mundo.

Expansão comercial

No século 16, o início da colonização da América foi um desdobramento da expansão marítima e comercial, iniciada pelos portugueses no século anterior. Os espanhóis foram os primeiros a encontrar ouro e prata em grande quantidade, em solo americano. Aos portugueses, que haviam dividido o mundo com os castelhanos no Tratado de Tordesilhas, em junho de 1494, restou manter a pujança de sua atividade mercantil através das especiarias do Oriente e do açúcar produzido e exportado pelas capitanias de Pernambuco e da Bahia.

Ingleses, holandeses e franceses, que se empenhavam em invadir terras americanas reivindicadas pelos países ibéricos buscavam manter um saldo positivo em suas balanças comerciais como um meio de atrair para si e estocar metais preciosos.

A forte presença do Estado se fazia sentir através do incentivo à expansão do comércio, de ações armadas na disputa de novos mercados, na regulamentação das atividades mercantis, na concessão de monopólios para a exploração das riquezas das colônias, na taxação de manufaturados importados que pudessem competir com os produtos de seus próprios países - e, como isso, provocar uma evasão do ouro e da prata - além, é claro, da cobrança de impostos sobre o crescente comércio.

Quanto maior o lucro da burguesia, maior a arrecadação do Estado; quanto maior a diferença entre os valores exportados e os que se importava, maior o volume de ouro e prata mantido no país.

Exclusivo metropolitano

O monopólio do comércio das colônias americanas - também chamado exclusivo metropolitano - por grupos mercantis metropolitanos era, portanto, uma forma de manter um fluxo contínuo de riquezas da América para a Europa, promovendo o que Karl Marx, no século 19, chamou de acumulação primitiva do capital.

No decorrer do século 18, a Revolução Industrial, na Inglaterra, colocou em xeque a lógica que vinha norteando a política econômica do restante da Europa. Cabe ainda lembrar que as práticas mercantilista não foram aplicadas da mesma maneira por todos os Estados da Europa.

Cada um atuava de acordo com o que lhe fosse mais viável, privilegiando mais determinado setor. Por trás do comércio da Inglaterra e da Holanda, havia uma crescente atividade manufatureira que dava consistência ao seu comércio e lhes rendia superávit na troca com matérias-primas compradas de outros países ou de suas próprias colônias.

Na França de Luís 14, o ministro Jean Baptiste Colbert, promoveu uma reforma das estradas e dos portos para facilitar a circulação de mercadorias e incentivou a produção de artigos de luxo que, apesar de seu pouco volume, custavam caro e asseguravam a entrada de moedas de ouro e prata.

Mercatilismo espanhol e português

Já os espanhóis, pioneiros na exploração de ouro e prata na América, e os portugueses que vieram a descobrir o ouro apenas no apagar do século 17, após meio século de decadência da economia açucareira, não estabeleceram prioridades para o desenvolvimento de manufaturas nem reduziram os gastos de seus governos.

Quando suas reservas de metais nobres entraram em declínio, tornaram-se dependentes da exportação de matérias primas em troca de tecidos, ferragens e até de comida vinda de países com setores produtivos mais dinâmicos.

O resultado foi a perda da capacidade de acumulação do capital, que fluía principalmente para a Inglaterra, onde foi continuamente investido na manufatura e, dessa forma, contribuiu para o desencadeamento da Revolução Industrial.

O sistema capitalista é adotado em quase todo o mundo e começa a dar seus primeiros sinais de existência no século XV, com o enfraquecimento do sistema feudal. Há um certo consenso entre os estudiosos de que o capitalismo está hoje em sua terceira fase – capitalismo financeiro -, as duas primeiras foram comercial e industrial.

Apesar de nos referirmos ao capitalismo como um sistema econômico, é fundamental ter em mente que o modo de produção vai interferir diretamente em aspectos políticos, sociais e econômicos, ou seja, o sistema vai influenciar na organização de todos os aspectos de uma sociedade.
Nesse texto, vamos explicar como o capitalismo surgiu e suas fases. Achou interessante? Então vem com a gente!

Quando o sistema capitalista começou?

O sistema capitalista começa a surgir com a decadência do sistema de produção vigente até então: o feudalismo. O feudalismo teve início no século V e durou até o século XV, quando o capitalismo começou a tomar forma. Você talvez se lembre das características do sistema feudal, mas vamos relembrar como ele funcionava e como o capitalismo começou a surgir no final desse período.

O feudalismo era um sistema de organização econômica, política e social vigente na Europa Ocidental da Idade Média, baseado na posse de terras e em estamentos. Estamentos eram classes sociais estáticas – não havia mobilidade -, isso significa que as pessoas nasciam e morriam pertencendo à mesma classe social.
As três classes no sistema feudal eram: nobreza, o clero e os servos.

  • Nobreza: era a classe mais alta, composta pelos proprietários de terras, os chamados senhores feudais. Os feudos eram grandes terras, concedidas pelo rei aos senhores feudais e onde estes tinham o poder absoluto; cada senhor feudal determinava as regras dentro dos seus feudos.
  • Clero: composto pelos membros da Igreja Católica – instituição mais poderosa do feudalismo. Nesse momento, a igreja não tinha apenas a função de evangelizar, ela exercia poderes na política e era grande proprietária de terras.
  • Servos: eram os trabalhadores dos feudos, eles não tinham direito à salários, trabalhavam em troca de lugar para viver e alimentação.

A produção no feudalismo era caracterizada pela autossuficiência. Os feudos produziam o que seria consumido no local, não havia comércio, tampouco moedas. Quando havia intercâmbio de mercadorias, trocavam-se produtos por produtos, e não produtos por dinheiro. Porém, com o crescimento populacional, o desenvolvimento das cidades e das atividades comerciais, surge a moeda para facilitar as trocas e ampliam-se as fontes de renda.

Nesse momento surgem as feiras livres, que eram espaços onde as pessoas levavam seus produtos para comercializar – muito semelhantes às feiras que existem até hoje. Com o desenvolvimento da atividade comercial surge uma nova classe econômica chamada burguesia. Assim, se antes tínhamos uma sociedade de classes sociais estáticas, o surgimento da burguesia vem quebrar essa organização econômica e social, pois permitiu a mobilidade social daqueles que passaram a desenvolver atividades comerciais.

O comércio, diferente da organização feudal, estruturava-se no trabalho livre e assalariado. Essa mudança foi um dos principais acontecimentos para a transição da Idade Média para a Idade Moderna e da decadência do feudalismo e início da primeira fase do capitalismo.

Quais as características do período que ficou conhecido como capitalismo comercial?

Fases do sistema capitalista

Primeira fase do sistema capitalista: Capitalismo Comercial (Século XV – XVIII)

A fase do capitalismo comercial é também chamada de pré-capitalista. Naquele momento ainda não havia industrialização e o sistema estava baseado em trocas comerciais. O modelo econômico adotado nesse período foi o mercantilismo, que tinha como principais características:

  • o controle estatal da economia – o Rei controlava o mercado;
  • o protecionismo – proteção do mercado interno;
  • o metalismo – acúmulo de metais preciosos;
  • e a balança comercial favorável – mais exportação do que importação.

A crença naquele momento era de que a riqueza disponível no mundo não poderia ser aumentada, apenas redistribuída. Assim, os países buscavam a acumulação de riquezas por meio da proteção da economia local e acúmulo de metais decorrente das trocas comerciais que realizavam com outros países. Foi nesse período que nações europeias exploraram os recursos de suas colônias, como aconteceu aqui nas Américas.

Segunda fase do sistema capitalista: Capitalismo Industrial (Século XVIII – XIX)

A passagem do capitalismo comercial para o capitalismo industrial se deu em meio à revoluções tecnológicas e políticas. A Revolução Industrial se inicia na Inglaterra em 1760, e tem como seu marco principal a introdução da máquina a vapor na produção, o que deu início à transição de uma produção manufatureira para uma produção industrial.

A produção industrial tornava-se necessária, pois com o crescimento demográfico e expansão das cidades era necessário que os produtos fossem criados e distribuídos com mais eficiência e escala.

As revoluções também tiveram um caráter político. Em 1789 inicia-se a Revolução Francesa, movimento que buscava o fim da organização política, social e econômica vigente na época; que oferecia privilégios a pequenas parcelas da população e concedia poucos direitos ao povo.

Nessa fase do capitalismo, o poder passou para as mãos da burguesia, que começou a crescer com a intensificação do comércio. A economia durante o período do capitalismo industrial estava baseada no liberalismo econômico. Essa corrente de pensamento – cujo principal pensador foi Adam Smith – defendia o Estado mínimo e a não intervenção estatal na economia. Segundo seus defensores, a lei de oferta e procura e a competição do mercado, garantiriam melhores resultados para a sociedade como um todo.

O modo de produção vigente nos séculos de capitalismo industrial permitiram o aumento da produtividade, a diminuição dos valores das mercadorias e a acumulação de capital; por outro lado, esses avanços só foram possíveis a partir de condições precárias de trabalho, jornadas de trabalho muito altas, diminuição dos salários e aumento do desemprego.

Você se lembra das críticas do filme Tempos Modernos?

Quais as características do período que ficou conhecido como capitalismo comercial?
Cena do filme Tempos Modernos

Terceira fase do sistema capitalista: Capitalismo Financeiro (Século XX)

O capitalismo financeiro se inicia no século XX, depois do final da Segunda Guerra Mundial. Essa nova fase tem seu início quando bancos e empresas se unem para obter maiores lucros. É nesse momento que surgem as empresas multinacionais e transnacionais, e se fortalecem as práticas monopolistas. Esse modelo, vigente até hoje, é baseado nas leis das instituições financeiras e dos grandes grupos empresariais presentes no mundo todo.

É um período caracterizado por elevada concorrência internacional, monopólio comercial, evolução tecnológica, globalização e elevadas taxas de urbanização. É chamado de capitalismo financeiro, pois as grandes empresas passaram a vender parcelas de seu capital na bolsa de valores, e a partir de então, passou-se a produzir riqueza por especulação. Nesse momento, a acumulação do capital chegou a níveis nunca vistos antes.

Em decorrência das políticas liberais, em 1929, o sistema capitalista vive uma das piores crises econômicas da história. Por conta de uma produção em excesso nos Estados Unidos e da redução da demanda por produtos desse país, as empresas perderam valor e houve a quebra da bolsa de valores.

Para salvar o mercado, o Estado teve que intervir na economia e a partir de então adotou-se o sistema econômico Keynesiano, que defendia a intervenção do Estado na economia para evitar crises e garantir o consumo e o emprego. Esse sistema é também chamado de Welfare State, ou Estado de bem-estar social.

A partir dos anos 1980, o keynesianismo perde forças e a ideia de Estado mínimo e pouca participação estatal na economia retorna. Assim como os liberais, os defensores do neoliberalismo, defendem que as próprias regras do mercado vão garantir o crescimento econômico e o desenvolvimento social.

O neoliberalismo foi implantado no Brasil e em diversos países da América Latina, seguindo as proposições do que se estabeleceu no Consenso de Washington – uma proposta neoliberal para o desenvolvimento dos países da região.

Guerra Fria e a vitória do sistema capitalista

Apesar de ser adotado em grande parte do mundo hoje, a hegemonia do sistema capitalista esteve em disputa durante décadas após a Segunda Guerra Mundial. O outro sistema econômico era o comunismo, que defendia o fim da propriedade privada em prol da construção de uma sociedade mais justa e igualitária.

Ao longo do conflito, Estados Unidos – defensor do capitalismo – e União Soviética – defensora do comunismo – disputavam a hegemonia mundial e buscavam o apoio de outros países para fortalecer seu posicionamento ideológico.

Foi chamada Guerra Fria, pois não houve embate militar direto entre esses dois países, era um conflito ideológico sustentado por uma guerra armamentista. Ambos os países foram investindo em materiais e tecnologias bélicas e o equilíbrio entre essas forças foi o que impediu que ataques entre eles de fato acontecessem.

Com o final da Guerra Fria e a vitória do capitalismo como sistema hegemônico, grande parte dos países que estavam do lado da União Soviética começaram a implementar o capitalismo.

Capitalismo informacional

O capitalismo informacional não é uma nova fase do capitalismo, mas um novo momento da fase do capitalismo financeiro. O conceito de capitalismo informacional foi discutido pela primeira vez por Manuel Castells, em seu livro Sociedade em rede, publicado em 1996 e está relacionado à revolução tecnológica dos últimos tempos.

O capitalismo informacional é caracterizado pela globalização e pelos avanços nas tecnologias de informação, na aceleração e crescimento dos fluxos de informações, pessoas, capitais e mercadorias. Segundo esse autor, essas transformações tecnológicas mudam nossas práticas culturais e sociais e constroem uma nova estrutura social.

O sistema capitalista e sua história

Nesse texto explicamos para você o que é o sistema capitalista, como ele foi surgindo em paralelo à decadência do feudalismo no século XV e as fases pelas quais ele passou até os dias de hoje.

A primeira delas foi a do capitalismo comercial, também chamada de mercantilismo; em seguida tivemos o capitalismo industrial, que se iniciou com a revolução industrial na Inglaterra; e por fim, o capitalismo financeiro, caracterizado por grande concentração de capital nas mãos dos bancos e das grandes empresas.

Agora, que tal conferir o infográfico que fizemos para te ajudar a entender a origem do capitalismo de uma maneira mais divertida ainda?

Quais as características do período que ficou conhecido como capitalismo comercial?

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Referências do texto:
Brasil Escola – O que é capitalismo?
Toda matéria – Capitalismo
Toda matéria – Fases do capitalismo
Toda matéria – Neoliberalismo
Sua pesquisa – Guerra Fria
Uol Educação – Mercantilismo
Pressbook – The 3 phases of capitalism


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Quem escreveu este conteúdo?

Quais as características do período que ficou conhecido como capitalismo comercial?

Talita de Carvalho

Formada em Economia pela UFPR e mestranda em Planejamento Territorial na UDESC. Acredita que pessoas bem informadas constroem uma sociedade mais justa.

Quais são as características do capitalismo comercial?

Características do capitalismo comercial ou mercantil Surgimento da moeda como valor de troca. Produção de manufaturas. Divisão Internacional do Trabalho. Mercantilismo como sistema econômico.

Qual foi o período do capitalismo comercial?

Primeira fase do sistema capitalista: Capitalismo Comercial (Século XV – XVIII) A fase do capitalismo comercial é também chamada de pré-capitalista. Naquele momento ainda não havia industrialização e o sistema estava baseado em trocas comerciais.

O que é capitalismo quais são as suas características?

O Capitalismo é um sistema econômico no qual o principal objetivo se dá pela obtenção do lucro e da proteção da propriedade privada. O acúmulo de capital, tanto pelos governos quanto pelos indivíduos, é representado na forma de bens e dinheiro.

Como era o capitalismo comercial?

O capitalismo comercial, também chamado de pré-capitalismo ou capitalismo mercantil, é considerado o primeiro modelo de capitalismo adotado no mundo após a crise do feudalismo. Nesse período ainda não existia uma forte industrialização nos países da Europa, sendo quase inexistente.