O japão também foi atingido pela crise de 2008/2009

TÓQUIO, 8 Mar 2012 (AFP) -O Japão registrou em 2011 uma queda do Produto Interno Bruto (PIB) e em janeiro um déficit histórico na balança de transações correntes, com o país sofrendo ainda os efeitos do terremoto e do tsunami de 11 de março.

O PIB nipônico retrocedeu 0,2% no quarto trimestre de 2011 na comparação com o período anterior (-0,7% em ritmo anual), e em todo o ano de 2011 caiu 0,7%.

Os resultados, no entanto, ficaram abaixo do previsto. O governo havia calculado que o PIB cairia 0,6% no quarto trimestre de 2011 e -0,9% no conjunto de 2011.

A balança de conta corrente japonesa registrou em janeiro um déficit inédito de 437,3 bilhões de ienes (5,4 bilhões de dólares), com um déficit comercial recorde, provocado em grande parte pelas consequências do terremoto e do acidente nuclear na central de Fukushima.

Um ano antes, em janeiro de 2011, o Japão havia registrado um superávit de quase 550 bilhões de ienes.

A conta de transações correntes é o melhor indicador da situação da economia do país em comparação com o resto do mundo, pois mede os intercâmbios de bens e serviços com o exterior.

A cifra ruim das contas correntes em janeiro de 2012 obedece a uma queda das exportações, em um contexto de redução da atividade econômica internacional.

Esse movimento se deve também à alta das importações, essencialmente em energias fósseis, para compensar a suspensão da atividade de quase todos os reatores nucleares do país, após o acidente de Fukushima.

O Japão teve um déficit comercial de 13,7 bilhões de euros em janeiro passado.

A economia japonesa obteve uma breve recuperação durante o verão, meses depois de ter sido golpeado pela catástrofe de março, que deixou mais de 19.000 mortos. O país, no entanto, foi logo atingido pela crise da dívida na Europa e sofreu com a valorização do iene, além de outros fatores.

Tudo isso confirma a fragilidade e a exposição da terceira economia mundial, que já foi bastante golpeada pelos efeitos da recessão mundial de 2008-2009, segundo os especialistas.

O consumo interno, que origina mais da metade da produção de riqueza nacional, foi também bastante afetado pelo pela tragédia tripla de 11 de março - sismo, tsunami, acidente nuclear.

Contudo, os atrasos na reconstrução das zonas devastadas no nordeste do país serão parcialmente compensados, o que deve dar um certo impulso à economia do país nos próximos meses.

O Banco do Japão espera que o PIB japonês ganhe 2,0% durante o ano orçamentário de abril de 2012 a março de 2013, contra um retrocesso de 0,4% nos 12 meses precedentes.

kap/gca/ref/me/ltl/fp/wm

  • Ewerthon Tobace
  • De Tóquio para a BBC Brasil

28 agosto 2009

O japão também foi atingido pela crise de 2008/2009

Legenda da foto,

O dekassegui Hélio Kazuaki Ueta está de malas prontas para voltar ao Brasil

A crise econômica e o aumento do desemprego no Japão provocaram uma queda recorde de 17,2% no número de imigrantes brasileiros no país.

Segundo dados do Ministério da Justiça do Japão, desde setembro do ano passado, início da crise financeira internacional, 54.709 brasileiros deixaram o país. No final de 2007, havia 316.967 brasileiros registrados no país.

Somente nos seis primeiros meses de 2009, a comunidade brasileira no país encolheu em 41.887 membros, gerando uma queda de 13,4% em relação ao total de 312.582 brasileiros registrados no país no fim de 2008.

“O desemprego gerado pela crise econômica é a principal causa dessa debandada de trabalhadores”, aponta Roberto Maxwell, mestre em Ciências Sociais pela Universidade de Shizuoka e especialista em migrações internacionais.

Em mais de 20 anos, desde o início da chegada dos primeiros imigrantes brasileiros ao país, este foi o segundo registro de queda neste número.

A outra retração aconteceu em 1998, ápice da recessão anterior enfrentada pelo Japão. Na ocasião, cerca de 11 mil brasileiros retornaram ao Brasil, uma queda de quase 5% no número total da população dekassegui.

Índice recorde

O desemprego é justamente o motivo que levou Hélio Kazuaki Ueta, 56, a tomar a decisão de voltar com toda a família para o Brasil.

Ele já começou a fazer as malas e deve embarcar de volta para São Paulo no fim do mês que vem.

“Sei que a situação não vai melhorar e, mesmo que isso aconteça, não teria chance de voltar ao mercado de trabalho por causa da idade e do pouco conhecimento do idioma japonês”, justifica o brasileiro, que ficou sete anos no país e há quase um ano não consegue emprego fixo.

“Fiz alguns bicos nesse período e também recebi seguro-desemprego”, conta.

Ueta diz acreditar que a situação no Brasil também não está tão boa. Sem previsão de conseguir um emprego por lá também, ele pensa em virar fotógrafo e abrir um negócio próprio.

“Acho que a recuperação econômica do Brasil vai ser mais rápida que a do Japão”, opina ele.

Segundo dados divulgados pelo governo do Japão nesta sexta-feira, o índice de desemprego no país é o pior desde o fim da Segunda Guerra.

Ele subiu 0,3 pontos percentuais em julho, e chegou a 5,7%. O número bateu o recorde anterior, registrado em abril de 2003, que foi de 5,5%.

Ajuda do governo

Muitos dos que estão voltando agora ao Brasil deram entrada no esquema de ajuda para regresso oferecido desde abril deste ano pelo governo japonês a imigrantes peruanos e brasileiros.

Esse auxílio contempla cada imigrante com um valor de cerca de US$ 3 mil. Seus dependentes ganham mais US$ 2 mil cada.

No entanto, um dos requisitos é que ele não volte ao Japão por um período mínimo de três anos.

De 1º de abril até o início de agosto, um total de 9.762 pedidos haviam sido feitos para receber essa ajuda. A grande maioria, segundo o Ministério da Justiça, de brasileiros.

Mas o número de solicitações é bem baixo em relação à quantidade que já deixou o país. Para Maxwell, isso acontece porque os brasileiros ainda acreditam numa melhora da situação econômica, o que possibilitaria uma volta rápida às linhas de montagem das fábricas japonesas.

“Além disso, essa ajuda é muito pouca. Ninguém quer correr o risco de chegar ao Brasil, não conseguir emprego lá também e ainda não ter como voltar ao Japão por causa da condição de ter de esperar três anos para tentar retornar”, sugere.

Estabilização

Apesar dos dados negativos, essa redução no número de brasileiros que vive no Japão tende a se estabilizar agora no segundo semestre.

“Acredito que não vai haver outra enxurrada de brasileiros deixando o Japão, mesmo com o fim do período de recebimento do seguro-desemprego”, opina Maxwell.

Dados do Ministério da Justiça comprovam essa tendência. No primeiro trimestre deste ano, o saldo da diferença de entradas e saídas do país foi de 27.304 negativos. Já de abril a junho, a diferença negativa foi de 14.583.

“As pessoas que voltaram no início do ano começaram a dar notícias aos que ficaram sobre a situação no Brasil, que também não está nada fácil”, justifica Maxwell. “Por isso, muitos vão tentar ficar aqui até quando der, mesmo que passem por dificuldades financeiras”, diz.

As agências de viagem também confirmam a tendência de queda no número de saídas. Segundo a Alfainter, empresa especializada em viagens para América do Sul, as reservas de passagens são bem menores neste segundo semestre em relação ao primeiro.

Porque a economia do Japão caiu?

Dois aspectos foram marcantes nessa crise: a prolongada crise no setor bancário e a baixa taxa de resposta macroeconômica a estímulos, provavelmente insuficientes, de políticas fiscais e monetárias.

Como se explica a crise econômica japonesa?

Os preços dos imóveis no Japão subiram exageradamente, transformando-se nos mais altos do mundo. Essa bolha especulativa – financeira e imobiliária – estourou no início da década de 1990. Os preços das ações e dos imóveis despencaram, fazendo a crise se propagar pela economia como um todo.

O que é um milagre japonês?

O Milagre econômico japonês (高度経済成長 Kōdo keizai seichō) foi o fenômeno econômico ocorrido no Japão de crescimento econômico recorde após a Segunda Guerra Mundial, impulsionado primeiramente pela assistência dos Estados Unidos e consolidado pelo intervencionismo do governo japonês, em particular por meio de seu ...

O que provocou a crise econômica no Japão entre o final do século 20 e 21?

Tentando desinflar a especulação e manter a inflação sob controle, o Banco do Japão aumentou drasticamente as taxas de empréstimo interbancário no final de 1989. Esta política causou a explosão da bolha e a quebra do mercado de ações japonês.