A duração ideal do tratamento de manutenção do Transtorno Bipolar a longo prazo ainda é incerta [1]. De forma geral, recomenda-se que o tratamento seja continuado indefinidamente ao longo de várias décadas, ou mesmo por toda a vida [2,3]. O tratamento de manutenção com psicofármacos deve ser indicado/oferecido para todos os pacientes com diagnóstico de Transtorno Bipolar, especialmente aqueles com história de episódio maníaco ou com história de sintomas depressivos graves [2,4,5]. Deve-se conversar com o/a paciente a respeito dos riscos e benefícios do tratamento farmacológico de manutenção a longo prazo – se o/a paciente tiver história de poucos episódios de sintomas não graves, estiver assintomático (estável) e tiver desejo de cessar o tratamento, pode-se tentar redução gradual dos fármacos e monitorar ativamente por pelo menos 2 anos a presença de sinais e sintomas de episódios de humor – tal monitoramento pode ser realizado na APS [1]. Deve-se mostrar claramente ao paciente que o Transtorno Bipolar é uma condição geralmente de curso crônico e progressivo, cuja história natural pode ter recidivas frequentes e, por vezes, episódios graves com riscos importantes associados, inclusive suicídio [2,4,6]. Fatores de risco para recorrência de episódios de sintomas de humor são idade mais precoce de início de doença, ocorrência de sintomas psicóticos, ciclagem rápida, maior quantidade de episódios, ansiedade comórbida e uso de substâncias psicoativas [2]. O objetivo do tratamento de manutenção do Transtorno Bipolar é a redução dos sintomas residuais, a prevenção de novos episódios agudos (depressivos, maníacos ou hipomaníacos), redução do risco de suicídio associado e melhora na funcionalidade e qualidade de vida [2,4]. O tratamento de manutenção deve ser iniciado o mais precoce possível, de preferência sem intervalo entre o tratamento agudo e o de manutenção, e quando efetivo, tem potencial de reverter o déficit cognitivo associado à cronicidade do transtorno e preservar a plasticidade cerebral, melhorando o prognóstico [2]. Como primeira escolha para o tratamento de manutenção recomenda-se o uso do mesmo esquema terapêutico utilizado para o manejo bem sucedido do episódio agudo. Apesar disso, alguns fármacos são considerados preferenciais para o uso crônico, por apresentarem evidências mais consistentes de eficácia e menor incidência de efeitos colaterais. Tais fármacos são Lítio, Ácido Valpróico, Quetiapina e Lamotrigina; outras opções nesse contexto são Aripiprazol, Risperidona e Olanzapina [2,4,5]. O tratamento deve ser realizado com a menor quantidade de fármacos possível, de preferência em monoterapia, em dose efetiva para o caso específico, levando em conta os intervalos de dose considerados terapêuticos (Quadro 1). Entretanto, em alguns casos pode ser necessária a associação entre um estabilizador de humor (Lítio ou Ácido Valpróico) e um antipsicótico atípico (Quetiapina, Olanzapina, Risperidona ou Aripiprazol) [2,4,5] . Os antidepressivos geralmente devem ser utilizados apenas no tratamento agudo de episódios depressivos, para alguns casos selecionados, como adjuvantes a estabilizadores de humor ou antipsicóticos. Apesar disso, alguns pacientes têm piora de sintomas após retirada do antidepressivo utilizado agudamente, e podem necessitar manter fármaco antidepressivo adjuvante no tratamento de manutenção. [2,3,5] Quadro 1. Medicamentos e doses para o tratamento de manutenção.
Fonte: Adaptado de Yatham et al. (2018) Post (2020) e Dynamed (2020) [3,4,6]. O lítio e o ácido valpróico fazem parte do Componente Básico da Atenção Farmacêutica, sendo sua aquisição e fornecimento competência dos municípios. Os fármacos quetiapina, lamotrigina, olanzapina e risperidona fazem parte do Componente Especializado da Atenção Farmacêutica, cuja aquisição e fornecimento é competência dos estados, podendo ser obtidos desde que cumpridos os critérios especificados pelo Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas do Transtorno Afetivo Bipolar do tipo I [7]. Também recomenda-se a realização de psicoterapia adjuvante para todos os pacientes, se disponível, especialmente nos primeiros meses após um episódio agudo, com o objetivo de prevenir recaídas e aumentar a adesão ao tratamento farmacológico. Entretanto, a psicoterapia pode não estar disponível, assim como alguns pacientes optam por não realizar acompanhamento psicoterápico [3,4,6]. Referências:
Como citar este documento: Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia. TelessaúdeRS (TelessaúdeRS-UFRGS). Como é realizado e qual a duração do tratamento de manutenção do Transtorno Bipolar? Porto Alegre: TelessaúdeRS-UFRGS; Fev 2021 [citado em dia, mês abreviado e ano]. Disponível em: https://www.ufrgs.br/telessauders/perguntas/como-e-realizado-e-qual-duracao-do-tratamento-de-manutencao-do-transtorno-bipolar/. |